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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Fim de Ano da Tribo

A Tribo do Mouse lhe deseja um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de alegrias e realizações. Retornamos no dia 7 de janeiro, com muitas novidades e cheios de história para contar.

Abraços da Tribo do Mouse (Jack, Reggie e Zambol)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A Piada da Terceirização em TI

O assunto de hoje é tabu. Afinal, terceirização é uma prática extremamente difundida nos últimos anos em todo o planeta. Recentemente participei de um processo de seleção e contratação de um fornecedor de consultoria e terceirização em TI. O projeto está andando no momento com excelentes resultados. Quando comparo ao que estava acostumado a ver no Brasil, nossa, quanta diferença.

Pra variar, no Brasil as coisas começam erradas. Quer ver? Pense na primeira razão que lhe vem à cabeça para o uso de terceirização.

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três.

Aposto que a razão que você pensou tem a ver com redução de custos, certo?

Pois é, esse é o mito. A principal razão para terceirização deveria ser a concentração de esforços na atividade-fim da empresa. Melhoria da qualidade das atividades-meio e uma consequente redução de custo deveriam vir a seguir.

Fico me lembrando principalmente dos diversos processos de terceirização na área de TI que participei. O pensamento no lado de quem contrata quase sempre era: “vamos trocar x funcionários com carteira assinada por y ‘recursos’ PJ; assim economizaremos uma banana de dinheiro”.

Por outro lado o pensamento no lado de quem fornece quase sempre é: “a Bogus precisa de 10 ‘recursos’ Java para semana que vem; vamos fazer um esforço extra de contratação, fechamos os contratos PJ durante essa semana e jogamos os caras lá o mais rápido possível”. São as empresas “chupa-cabra” como gosto de chamar. E existem várias...

Sinceramente, tem alguma chance de dar certo? Existe algum conhecimento sendo transferido da empresa prestadora de serviços para a empresa que está terceirizando? Existe algum valor sendo agregado pelo prestador de serviço além da simples e ilusória redução de custo? Sim, ilusória. Porque basta um dos “recursos” PJ entrar na justiça contra a empresa contratante (o que na prática no Brasil acontece muito, e sinceramente, não é nada mais do que o direito do funcionário, apesar de alguns gaviões ameaçadores acharem o contrário) e a economia de meses vai por água abaixo. Fora os outros prejuízos que permanecem escondidos atrás de contratos como esses, até serem descobertos quando já é tarde demais.

E na visão do “recurso”, como são as coisas? Tem muita gente que adora, afinal o salário líquido PJ é normalmente maior do que na carteira assinada. Mas e a incomodação de manter uma empresa? Tem político por aí justificando o aquecimento econômico no Brasil baseado no fato de que nunca tivemos tantas pequenas empresas registradas como nos últimos anos. É o clássico caso de “massageamento estatístico”. Voltando às pessoas, como é se sentir um “terceiro”? Se sentir um “recurso”? Seria totalmente justificada uma revolução em massa apenas pelos termos pejorativos usados. O que dizer então das condições de trabalho, da insegurança quanto ao futuro, da falta de perspectiva à médio-longo prazo?

Não estou aqui para pregar contra a terceirização em TI. Seria até estúpido. Mas a maneira como rodamos esse modelo de negócio no Brasil merece um puxão de orelha. É ruim para quem contrata e é ruim para quem trabalha. Ah, só não é ruim para quem fornece os “recursos”...

Bom era isso, iniciei o ano com polêmica, encerro com polêmica. Um forte abraço a todos (ou quase todos), um feliz Natal e um 2008 de muita saúde e realizações.

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Pré-Ocupação

É época de natal. Inevitavelmente acabamos por fazer uma análise de como foram os últimos 365 dias: quais nossos sucessos e quais nossos fracassos. Infelizmente, a maioria das pessoas tende a focar mais nos fracassos - não porque são masoquistas, mas porque geralmente é aquilo que mais lhes marca.

No meu exercício pessoal, dei uma rápida olhada para esse ano e tive uma certeza mais clara do
que nunca: se eu não aproveitar o dia que estou vivendo - exatamente esse dia - preocupações e
planos que não deram certo acabam consumindo com a minha felicidade.

Por que tive essa certeza clara esse ano? Porque nunca tive tantas incertezas como nesse ano. A
maioria de cunho profissional: "muda aqui", "altera ali", "demite de lá", "quero três nomes",
"muda essa área", "não conta pro time", "teu chefe agora é esse", "não tenho culpa se o teu
diretor não faz nada, sou só um VP", "não posso", "não quero". Nossa...Mas quando a incerteza
tornou-se maior do que tudo, e que percebi que não teria controle algum sobre isso, foi que
consegui me reerguer. Lembrei das palavras de um dito apócrifo: "a preocupação é tão eficaz
quanto tentar resolver uma equação matemática mascando chiclete". Parece estranho na primeira vez que se ouve, mas preocupação nunca resolveu nada nesse mundo - ações sim.



Sei que o assunto é batido. Mas é incrível que você só se dá conta disso e aceita quando não tem controle nenhum da situação. Talvez o segredo seja esse - estar em um dos extremos: ou resolve logo tomando uma ação ou não se preocupa. Quem sabe?

O que quero para o ano que vem? Segue uma pequena listinha, aposto que é parecida com a sua:



* Paz (sim, inclui falta de preocupação)
* Saúde
* Segurança
* Amor
* Liberdade Editorial (hehehe, esse é de sacanagem pro Hugo Chavez, um ex-prestador de serviço de publicidade do site)

Na minha re-erguida, dei uma lida em meus mestres. E sabe o que encontrei? Uma preciosidade de Ernest Hemingway. Segue o trecho de sua autoria que tem tudo a ver com a idéia que quero passar nesse texto.

"Estou em situação que eu queria prolongar pela minha vida inteira. E há de ser assim, só que
minha vida inteira está resumida no agora. Não existe nada mais além do agora. Não há ontem, não há amanhã. Só há agora – e se o agora é de só dois dias, então, minha vida é de só dois dias e
tudo mais guardará a mesma proporção. E se esses dois dias forem uma grande vida, eu vivi uma grande vida, porque a extensão das grandes vidas não se mede com o metro dos anos, e sim com o da intensidade."

Desejo um bom natal e um ano novo repleto de alegria a todos, de coração.

Dr. Zambol
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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A quem interessar possa...

Às vezes a gente erra. Para não entrar em contradição com tudo aquilo que acredito e que tem me motivado a tocar a Tribo em frente junto com Jack e Zambol, quero assumir um erro. Fui inocente, "guri" como se diz no sul. Prego sem estopa. O fato de não trabalharmos com revisão às vezes contribui para que beiremos os limites da educação e da ética. Não pode acontecer. Não gosto de soco abaixo da linha da cintura e, se foi o caso, peço desculpas.

Mas paro por aí.

Porque, por outro lado, aqui está um autor de blog. Quem não gosta do calor que saia da cozinha. Me reservo o direito de ter as opiniões que quizer e traduzí-las aqui da forma que bem entender. Não peço que apreciem o que penso, apesar do ego. Mas eu penso, e continuo pensando.

O Curso Pré-Vestibular Unificado tem um slogan genial que diz "Você é o resultado das suas escolhas". Todos nós somos. Eu e você inclusive. Eu fiz a minha, e não estou mudando de idéia no momento...

Reggie, the Engineer.
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O que não é preciso para se ter sucesso

Lá estava Larry em mais um dia de trabalho. Como de costume, as primeiras atividades do dia são pegar um café bem forte e ler as notícias de esportes, de TI e de economia, nessa ordem. O esporte não reservava nada interessante naquele dia, então pulou direto para seus sites preferidos sobre TI. Foi quando uma notícia lhe chamou a atenção.

A manchete falava sobre um conhecido seu no mercado de TI, o Touca. A noticia mencionava o sucesso que a empresa de Touca estava obtendo. Larry estava apavorado com a notícia. Ele havia trabalhado com Touca antes, e sua opinião era nua e crua: Touca era um total incompetente.

Mas a vida é estranha, e enquanto Larry lutava a sua batalha pessoal diária contra as frustrações, tentando atingir o sucesso que acreditava merecer, Touca estava nas manchetes. Touca era a estrela. Larry era mais um leitor anônimo.

Para variar, essa história do meu amigo Larry é baseada em fatos reais. Sempre que penso nessa história reflito sobre o que realmente é ter sucesso profissional para mim. Certamente a minha definição de sucesso profissional é diferente da de Larry, da de Touca e da sua. Portanto é muito difícil falar sobre o que leva alguém a ter sucesso profissional.

Por outro lado, essa história de Larry vale para pensamos nas coisas que aparentemente não são extremamente necessárias para se obter sucesso profissional. Sem pensar em ninguém especificamente, vamos polemizar um pouco e desfazer alguns mitos:

1 – Para se ter sucesso, não é preciso ser competente.
2 – Para se ter sucesso, não é preciso ser honesto.
3 – Para se ter sucesso, não é preciso planejamento.
4 – Para se ter sucesso, não é preciso trabalhar duro.
5 – Para se ter sucesso, não é preciso ter boas recomendações.

Não concorda? Bom, mas infelizmente é verdade.

Há muitos anos atrás, trabalhei com um líder de projeto que me ensinou muitas coisas. Uma das frases dele que eu mais gostava era: “Meu Deus, eu queria ter nascido um pouco mais burro”. A moral dessa frase é que a ignorância pode ser uma benção em algumas situações. Exatamente como no filme Matrix, algumas pessoas optam pela pílula azul, outras pela pílula vermelha. Não há dúvida de que a situação mais confortável é manter-se dentro da Matrix, alheio à crueldade do mundo real.

Não será esse o segredo para o sucesso? Larry não concorda, vai continuar tentando do seu jeito.

Reggie, the Engineer
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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Uma espiada no futuro... – Parte 2

Outro dia li um artigo interessante sobre performance de organizações. Os autores pesquisaram nada menos do que 230 empresas ao redor do mundo nos últimos 4 anos, totalizando mais de 100.000 empregados entrevistados. Eles estavam interessados em descobrir quais práticas gerenciais realmente contribuem para uma melhoria de performance da organização como um todo.

Apenas pela relevância estatística o artigo já é interessante. Mas as descobertas dos pesquisadores é que mais chamam a atenção. Apesar de simples, elas mostram o quanto estamos caminhando para a tal revolução nos modelos de gerenciamento, conforme temos falado aqui em alguns posts (Bolsa, Uma espiada no futuro..., UGES 1990).

1) A maior parte dos executivos usa da sua experiência e conhecimento pessoal para determinar as estratégias gerenciais que utilizarão para alcançar os resultados nas suas organizações. O problema é que essa experiência e conhecimento baseia-se, em média, na vivência dentro de 2 a 3 empresas no passado. O artigo salienta que a capacidade de usar 2 ou 3 experiências para obter sucesso em qualquer outra realidade é privilégio de muito poucos. Conclusão? Existe um indício forte de que em uma realidade cada vez mais competitiva, as empresas precisarão fazer uso efetivo da sua inteligência coletiva, principalmente para a definição de estratégias. Como disse o Jack esses dias, uma leitura de The Wisdom of the Crowds ajudar a entender a figura.

2) O uso de incentivos pontuais como recompensas financeiras e reconhecimento mostrou-se o artifício de motivação menos efetivo. Os três fatores que mais motivam os empregados em empresas de sucesso são: líderes carismáticos, valores e cultura da empresa, e oportunidades de crescimento.

3) O uso dos chamados “contratos de performance”, ou planos de metas individuais periódicos para os empregados, mostrou-se bastante ineficaz quando comparado a outras ferramentas para promoção de responsabilidade e autonomia dos funcionários. Ficou bem atrás de uma prática extremamente simples mas que a maior parte das empresas falha em aplicar: uma estrutura clara e formal de papéis e responsabilidades.

4) O modelo de liderança chamado “comando e controle” foi rankeado como o mais ineficiente. Nesse modelo, ainda muito popular, o líder diz o que os comandados devem fazer e posteriormente verifica se eles o fizeram. Esse modelo ficou bem atrás do modelo “patriarcal”, no qual existe a figura do líder forte e rigoroso, mas que cuida como um pai dos seus comandados. E também apareceu bem rankeado um modelo moderno de liderança, a chamada “liderança comunitária”, onde todos (inclusive os líderes) colocam a “mão na massa”, onde delegação de tarefas acontece de maneira verdadeira e os empregados tem autonomia para seguir com suas idéias e tomar decisões (“empowerment”).

Não há nenhuma novidade muito grande nessas descobertas, a maior parte das pessoas que vive em ambiente de escritório tem ouvido falar sobre algumas dessas coisas. Mas ver em um artigo científico, baseado em números, preto no branco, que empresas onde práticas como as citadas acima comprovadamente têm performance superior às outras nos ajuda a entender que realmente essas práticas vieram para ficar por um bom tempo.

E você? Pronto para trabalhar em um ambiente de liderança comunitária?

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Suba o Morro às Vezes

Quando você pára o carro para trocar os pneus, você não espera que o mecânico “dê uma olhadinha” no seu ar-condicionado; nem que verifique se o filtro de combustível está limpo. O que você espera é que ele troque os pneus e pronto.

Hoje em dia, no estágio em que os serviços estão, praticamente inexiste o “faz-tudo” – aquela eletrônica que conserta televisão de tubo (CRT), televisão de Plasma, iPod, batedeiras e, quem sabe, até aquele aspirador de pó velho que não funciona há mais de um ano. Os estabelecimentos desse tipo que existiam acabaram percebendo que não conseguiam fazer todo o serviço com uma qualidade boa. Alguns ainda tentaram uma sobre-vida, mas nós mesmos (os usuários desse serviço) ficamos extremamente desconfiados de lugares assim e os abondonamos. Sem público, eles fecharam. Praticamente não existem mais...

O que venho falar nesse post hoje é que percebo que essa mentalidade inundou todas as organizações e todas as pessoas de tal forma que, mesmo quando um generalista ainda faz todo o sentido hoje, temos um grande problema em encontrá-lo. Temos um problema de mentalidade.

No mundo da informática, não espero que o gerente seja um generalista – ele deve ser a pessoa que dirige aquele setor (e suas aplicações) e que construa planos de melhoria em relação ao retorno para o negócio. Por assim dizer, ele deveria se “especializar” nessa abordagem.

O generalista no mundo de TI hoje deveria ser o arquiteto de sistemas. O grande problema, ao meu ver, é que mesmo os arquitetos sentem-se mal em ser generalistas e tentam se especializar em alguma coisa.

- Veja bem, Sr. Gerente, sou um arquiteto Java, especializado em WebSphere e MQ. Além do mais, não entendo muito da estratégia de negócio relacionada a esse sistema.

Ora, isso não é um arquiteto! No máximo, é um desenvolvedor pleno, e olhe lá!

O problema é que o arquiteto real, aquele que entende do negócio da sua aplicação e busca construir o melhor framework baseado em suas interligações e no plano de crescimento tanto do sistema quanto da empresa, está em extinção. E não estou falando apenas do arquiteto técnico, estou falando dos três níveis de arquiteto que uma empresa pode ter (arquiteto de projeto, arquiteto de aplicação e Enterprise Architect).

Com a extinção de verdadeiros arquitetos, sobra ao gerente fazer esse papel. Ele é que deve subir no morro e olhar as aplicações e o negócio de cima para definir o que deve ser construído. Mas é aí que mora o problema: os gerentes e diretores estão se mostrando mais e mais incompetentes nessa área, seja por falta de tempo ou por falta de habilidade técnica. Geralmente, no meio do morro, visualizando apenas 10% do que deveriam ver, acabam caindo e, muitas vezes, por medo, nunca mais voltam lá.

Infelizmente, a culpa é da gerência. Se não conseguem fazer isso, devem setar o rumo certo e treinar novos arquitetos, provavelmente provenientes do seu time de desenvolvimento. Ou, se a empresa é pequena demais para isso, devem subir eles mesmo ao topo do morro e visualizar o que está ocorrendo, nem que seja ao custo de repriorização e delegação de outras tarefas.

Se ninguém fizer isso, a área de TI vai ficar cada vez mais complicada e, com certeza, cada vez mais estressante.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Simplesmente Exausto...

A campainha tocou. Ele olhou no relógio. Eram 11:30. Tinha dormido as 9:30 devido a um problema em produção no sistema que comandava a esteira da fábrica de brinquedos onde trabalhava, uma multinacional gigante. Não acreditou que alguém estava tocando a campainha aquela hora.

Virou-se para o lado e dormiu novamente. Mas a campainha persistia em tocar. E cada vez um apito mais longo era ouvido.

Levantou-se ainda zonzo. Tinha trabalhado durante 30 horas seguidas e, quando finalmente conseguia chegar em casa e dormir um pouco, alguém o atrapalhava. Nem conseguia pensar direito.

Abriu a porta.

- Carlos. Que loucura! Que bobagem você fez? A fábrica está parada! Você sabe quantos brinquedos deixam de ser produzidos a cada hora nessa época de natal? 4 mil! Vão nos arrebentar!

- Bom dia para você também Bolívar!
Bolívar foi entrando na casa, mesmo sem ser convidado. Como um senhor feudal, olhou para o vassalo de cima para baixo e continuou.

- Que incompetência é essa? Você precisa voltar para lá e arrumar isso agora! Nossa empresa depende desse contrato de off-shore!

- Bolívar, quando saí de lá tudo estava funcionando. Os brinquedos estavam sendo enviados para a Fedex sem nenhum problema. E, na verdade, o que ocasionou a falha toda foi a queima do storage. O que houve agora?

- Não sei. Alguma coisa com o módulo de separação de caixas na esteira. Eles acham que pode ser conseqüência ainda da troca do SAN.

- Gostaria muito de ajudar. Mas não tenho condições de fazer alguma coisa agora. Estou esgotado mentalmente e nem consigo pensar normalmente. Além do mais, hoje à noite é a formatura do meu filho.

- Pode ir esquecendo a formatura, esse problema é sério.

- Porque você não colocou as duas pessoas a mais que lhe pedi há três meses atrás? Essa hora, como era meu plano, um da nossa equipe estaria monitorando e resolvendo o problema.

- Ahhh, bem, veja Carlos, trabalhamos com um budget muito apertado, não podia contratar mais ninguém. Mas isso não vem ao caso agora. Preciso que você volte lá agora!

Realmente, Carlos tinha sido deixado sozinho. Mesmo depois de insistentemente pedir duas pessoas na equipe, foi deixado sozinho cuidando do sistema mais crítico da companhia. Sabia que o contrato era milionário e que aquela história de budget apertado era balela pura. Tinha visto o contrato e sabia que o que queriam eram maximar os lucros da forma mais burra que existe. O resultado estava ali, na sua frente.

Carlos tinha um currículo impecável, com várias certificações em .NET e um conhecimento técnico de causar inveja a qualquer um. Com o mercado aquecido do jeito que estava, não tinha outra opção.

- Bolívar, vou pedir licença para dormir. Ligo para a fábrica antes de ir na formatura do meu filho, logo depois de me acordar para ver o que posso fazer. Peço que você saia agora. Estou muito cansado.

- Não estou acreditando nisso! Se você não sair desse apartamento agora, você não precisa ligar mais, pois não terá mais emprego depois que acordar.

- Que assim seja.

Fechou a porta. Voltou para cama ainda meio zonzo. Sorriu. O que não tinha tido coragem de fazer há meses foi a única solução. Graças a Deus tinha passado por aquilo hoje para que tivesse certeza que, sim, precisava procurar uma empresa moderna para se trabalhar. Pensou na Semco. Por que não? Anotou no caderno para ligar para as empresas do Semler no dia seguinte.

- Vida nova!

Virou-se e dormiu. Seu filho precisava dele inteiro naquele dia.

Dr. Zambol
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Trabalho Duro

Às duas e quinze da tarde ele voltou para o escritório, mas não bateu o ponto. Cabelo molhado, olhar cansado, sorriso nos lábios. O almoço tinha sido bom.

A maioria das empresas de TI não cobra ponto dos funcionários, porque, tipicamente, todo mundo da área trabalha feito condenados. Bater ponto é justamente o sonho da maioria desses profissionais, já imaginou ganhar hora-extra? Mas naquela empresa era diferente. Diziam que ainda não havia se adaptado aos novos tempos. Mas o fato é que os funcionários, em sua grande maioria, batiam ponto. No caso dele, em relação ao atraso de hoje, iria dizer para o chefe que esqueceu o crachá em casa.

Sentou em sua mesa, destravou a estação. O código estava lá esperando, implacável.

Muitas pessoas acham que programação é uma coisa difícil. Para ele não era. Difícil mesmo devia ser Advogado, ganhar a vida enrolando os outros, ou Dermatologista, só de pensar em um pé cheio fungos tinha vontade de vomitar.

Estava colocando os fones de ouvido para começar a trabalhar, mas antes olhou no relógio. Duas e Meia, hora do cafezinho. Ficou batendo papo até as três, papo de cafezinho é sagrado. O primeiro a sair é geralmente mal visto pelos colegas, taxado de Caxias. Além do mais, corre o risco de se tornar objeto das conversas.

Voltou para a mesa. Olhou a Internet.
“Justiça proíbe avó de dar doces aos netos”,
“Prefeito diz que foi abduzido pelo diabo e renuncia”
“Britânico é condenado por fazer sexo com bicicleta”

O telefone tocou.
- Hã, Hã. Ok, Ok. Hmm, deixa eu ver. Ok. Estou mandando.
Olhou o código, trocou duas linhas. Compilou, testou.

Sentiu um perfume no ar, não precisou virar para saber que era Fabiana passando. Haviam tão poucas mulheres no escritório que o ambiente chegava a ser insalubre. Maldita profissão, deveria ter feito Educação Física, ou Publicidade. Já pensou, Personal Trainer? Isso que é vida.

As quatro e meia apareceu o chefe.
- Preciso falar contigo.
- Já vou, estou só terminando, mais cinco minutos.
- Agora. Na minha sala.
O que foi que eu fiz dessa vez, pensou? O chefe não estava com cara boa, mas isso não era novidade. O chefe nunca estava de cara boa mesmo.
- O que você fez pro Tobias?
- Tobias da FretNet?
- Isso.
- Ele estava com um problema em um dos relatórios. De uma olhada, acho que corrigi para ele. Porque? Algo errado?
- Ele acabou de me ligar. Te encheu de elogios, disse que estava a três meses tentando resolver esse problema e ninguém conseguia solucionar. Disse que ficou impressionado com os resultados.
- Hã, legal.
- Parabéns! Continua assim, precisamos de mais pessoas com iniciativa como tu. Se eu tivesse mais funcionários assim, minha vida seria muito mais fácil.

Voltou pra mesa, olhou no relógio. Cinco da tarde.
Mais trinta minutos, mais trinta minutos.

[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Uma História de Pressão Que Deu Certo

Quem conhece a história do Wal-Mart sabe que é uma companhia incrível. Polêmica, mas incrível.

Como a maioria dos grandes casos de sucesso no mundo, ela cresceu porque não tinha outra alternativa. Não foi um movimento de gênio, nem uma coisa planejada. Ou era isso ou talvez ela perderia inclusive o que tinha na época.

Pois bem, para voltar a ser competitiva, ela tinha que fazer algo diferente. Com quase todas as empresas comprando dos mesmos atacadistas, ficava muito difícil fazer a diferença. Foi então que fizeram o primeiro passo da virada: decidiram comprar diretamente do fabricante e enviar tudo para o centro de distribuição. A lógica era a seguinte: iriam gastar 3% para manter seus próprios centros de distribuição, mas economizariam 5% comprando diretamente do fabricante.

Mas se o plano fosse só esse, teria dado errado também. Decidiram que a margem deveria crescer com base em duas coisas: conseguir fabricantes cada vez mais baratos (agora que eram independentes de atacadistas) e ter uma tecnologia que possibilitasse a redução desse custo, cada vez mais.

Começa então a fase da pressão. Ou fornecedores conseguem preços mais baratos ou são varridos do mercado. Eles têm que se adaptar a essa ciranda e, por isso mesmo, muitos abrem fábricas na China para tornarem-se mais competitivos. Nessa fase ainda, alguns excessos são realizados pela Wal-Mart em prol da eficiência, como trancar funcionários à noite nas lojas e possibilitar trabalho a imigrantes ilegais. Mas logo aprenderam depois de alguns processos judiciais e alguns outros prejuizos de imagem.

O resultado quase todos conhecem: o Wal-Mart tornou-se o maior varejista do mundo, com números que beiram a loucura. Por exemplo, 2,3 bilhões de caixas com os mais diversos produtos passam pelos centros de distribuição e são levados para as lojas a cada ano. Ou o que você acha de vender 400 mil computadores HP no natal – em um único dia? Pois é, esses são os números da pressão que deu certo, depois de alguns pequenos ajustes no caminho.

Onde quero chegar hoje? Quero dizer que, apesar de tudo isso, os executivos do Wal-Mart colocam a informática como um dos principais fatores de sucesso. O primeiro deles seria o controle do centro de distribuição – saber onde exatamente estão as caixas, para onde irão, etc. Certamente o Wal-Mart não seria o que é hoje sem isso. O segundo, e mais impressionante, foi colocar a informação do que é vendido aos fabricantes. A pressão não poderia ser unilateral – o Wal-Mart também deveria ajudar os fabricantes. No caso, a informação servia para que todos controlassem o número de peças que deveriam fabricar. O sistema de TI do Wal-Mart possibilita que quando você sai com uma cadeira do super-mercado, o fabricante seja avisado que mais uma cadeira será necessária, em tempo real. O Wal-Mart não usou a área de TI - ela tinha uma parceria e recebia idéias inovadoras dessa área.

Então, caros amigos de TI, os tempos mudaram e mudam cada vez mais rápido. Hoje, TI praticamente não é um setor à parte, mas sim parte integrante do business. Se você ainda está só se preocupando em como implementar o requisito da melhor maneira possível em Java, talvez você tenha perdido essa onda. Você deveria estar se preocupando é se o requisito faz sentido e em validá-lo e escrevê-lo.

Dr. Zambol
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terça-feira, 20 de novembro de 2007

A Tribo Cresce!

Há pouco mais de 8 meses atrás, criamos este fórum para expôr as nossas idéias e tentar agregar algo de novo ao dia-a-dia de quem trabalha em ambientes de escritório, especialmente aqueles que lidam com TI. Miramos longe, mas estávamos cientes da dificuldade do caminho.

No início, leitores confundiam-se com amigos e parentes. Mas o tempo foi passando e a palavra foi se espalhando. Com o tempo, um público numeroso e fiel passou a nos acompanhar toda segunda, quarta e sexta. Embora não estivéssemos preparados, conquistamos até mesmo fãs!

Com muito entusiasmo, anunciamos que essa história está apenas começando. A Tribo cresce! A partir dessa semana, passamos a integrar a área de blogs do Baguete, conhecido portal de notícias gaúcho. Estaremos com isso atingindo um público cada vez maior. Nossa responsabilidade aumenta, mas aumenta também nossa esperança de contagiar mais pessoas com nossa paixão pela área e nosso inconformismo característico.

Aos que estiveram conosco desde o início, muito obrigado e continuem comentando! Aos que chegam, boa leitura!

Tribo do Mouse
Jack DelaVega
Reggie, the Engineer
Dr. Zambol

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mundos e Fundos - Final

A instalação do sistema, ao longo do fim de semana, foi relativamente tranquila; e na Segunda-feira todo o time estava a postos para suportar o Cliente durante as primeiras semanas de uso. Durante a manhã receberam algumas chamadas, uma coisinha aqui e ali que não estava adequada ou funcionando, mas nada significativo. Daniel estava eufórico, as primeiras horas tinham sido realmente promissoras. Carlos, por sua vez, já esperava um bom resultado, o que o preocupava na verdade era a "maldita funcionalidade de última hora", mas até o momento ninguém havia falado nisso. Foi logo depois do almoço que o telefone tocou com más notícias.
- Opa, Carlos?
- Sim.
- Carlos, estamos testando o "Reconciliamento Fiscal", mas parece que não está funcionando.
Ainda bem, se funcionasse é que eu ficaria assustado, pensou. Mas agora não tinha mais volta, ainda estavam a pelo menos duas semanas de terminar esse trabalho. Iniciou a "Operação Enrola Cliente" que eles haviam combinado.
- Hmm, deixa eu ver com o pessoal aqui e já te retorno.

No outro dia pela manhã, ligou de volta para o cliente.
- Oi, aqui é o Carlos, sobre o problema com o módulo de Reconciliamento. Tu pode me dizer que versão de Linux vocês estão utilizando no servidor de arquivos?
- Linux no servidor de arquivos? Deixa ver com o nosso pessoal de TI, porque sou do financeiro.
- Pois é, a gente precisa saber isso, se é um SuSe, um Red Hat, Solaris, ou qualquer outro sabor. Além disso eu preciso a versão e o número de compilação do kernel.
- Hmm, tá, sabor... Suse, kernel. - Repetiu perdido o cliente perdido - Vou pedir pro pessoal te ligar com essas informações.
Logo depois o sujeito da TI retorna a ligação com as informações para Carlos.
- Ah, então é por isso que não está funcionando, vamos precisar recompilar para SuSe. Amanhã instalamos pra vocês.

No dia depois da prometida instalação, liga novamente o cliente. Dessa vez com a voz alterada e com o cara de TI junto na linha.
- Ainda não está funcionando. Vocês realmente resolveram o problema?
- Estranho, deveria estar funcionando. Me diz uma coisa, qual é o padrão de rede de vocês?
- Padrão de Rede?
- É, vocês usam 802.11a, 802.11b, 802.11g ou 802.11n?
- Não temos wireless aqui, é uma rede cabeada. O que isso tem a ver com o problema?
- Ah, cabeada é? Tu pode me dizer que cor é o cabo? Azul, verde, vermelho...

E foi assim por duas semanas. Não precisa dizer que o cliente enlouqueceu com os resultados. Na Sexta-feira da outra semana, véspera de instalarem a solução verdadeira, o cliente chamou uma reunião convocando Ícaro, Daniel e Carlos. Já no aperto de mão foi possível perceber que ele não estava contente.
- O trabalho de vocês deixou muito a desejar. Estamos a duas semanas tentando fazer o "Reconciliamento Fiscal" funcionar, e tudo que recebemos são desculpas esfarrapadas da sua equipe. Dá até impressão que esse módulo foi entregue sem funcionar.
Ícaro tomou a dianteira.
- Estamos trabalhando para fazer o módulo funcionar, mas pelo que eu ouvi houveram alguns problemas de configuração. De qualquer jeito, na segunda entregamos a solução funcionando para vocês.
Daniel e Carlos estavam ambos de cabeça baixa. O Cliente não esboçou reação positiva.
- Isso é o mínimo que esperamos. Em todo caso, toda experiência foi muito decepcionante para a nossa empresa. Posso adiantar que esse foi o primeiro e último projeto que fazemos com vocês.
- Mas vocês tem que entender... - Tentou Daniel.
- Não temos que entender nada, estamos sendo literalmente "enrolados" por vocês nas duas últimas semanas. Fico me perguntando porque vocês concordaram com a alteração do escopo para adicionar o "Reconciliamento Fiscal", se não teriam condições de entregar. Vocês deveriam ter solicitado uma renegociação do prazo.
Carlos lançou um olhar fulminante para Daniel, mas aí já era tarde demais.

Três meses depois estava tudo acabado. Carlos estava em um novo emprego, por sorte o mercado tinha alta demanda por técnicos como ele. Do emprego passado ficou a lição de seguir os seus princípios e brigar pelo que acredita. Se deixar levar pelo oportunismo, nunca mais. Daniel, mudou para outro estado, segundo ele o mercado não estava bom para gerentes de projeto por aqui. Já Ícaro ainda amargava a perda do contrato. Vida de empresário nessa área não é fácil, da próxima vez iria acompanhar os resultados mais de perto.

Parte 1 disponível em Mundos e Fundos
Parte 2 disponível em Mundos e Fundos - Parte Dois

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

“Por que você não cala a boca?”

Essa semana virei fã do Rei Juan Carlos, da Espanha. Muita gente deve ter acompanhado a repercussão da discussão envolvendo ele, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acontecida na sessão plenária da última Cúpula Ibero-Americana (veja o vídeo aqui).

Calma, calma, calma!! Antes que me acusem de qualquer coisa, quero antecipar que esse post não tem nenhuma conotação política, podem continuar lendo.

Analisando a atitude do Rei fora do contexto, e deixando para trás as questões políticas, o que aconteceu foi uma pessoa perder a paciência com a maneira como a outra se comportava frente a um debate. Nesse sentido, fica difícil discordar que o presidente venezuelano estava comportando-se de maneira pouco polida, e o Rei quis fazer valer o direito do primeiro-ministro espanhol de se manifestar.

Agora explico porque virei fã do Rei Juan Carlos. Eu sou uma pessoa tímida (tenho até vergonha de dizer isso). Um nerd, introvertido, fazer o quê. Ouço muito mais do que falo, sou muito equilibrado, é da minha natureza. Mas muitas vezes me comporto assim de maneira intencional. Como por exemplo, em uma discussão no ambiente do escritório. Você já participou de uma discussão dessas? Um choque radical de idéias, um conflito mesmo? Ou até mesmo uma discussão pesada, beirando os limites da educação exigida em um ambiente de trabalho? Eu já passei por essas e outras. Mas sempre tento me manter dentro dos meus padrões. Até porque acho que se uma pessoa está errada, a melhor coisa a fazer é deixar ela falar mesmo, dar explicações, justificar. Na réplica você terá mais argumentos para desbancar ela. Esse é o meu jeito.

Certo ou errado, a questão é que a grama do vizinho é sempre mais verde. E às vezes eu queria agir como o Rei ao lidar com falastrões, e quem sabe mesmo dizer algo do tipo “ok, você já falou bastante, agora cale a boca!”. Outro dia estava fazendo uma apresentação técnica e alguém que nem conheço começou a fazer perguntas totalmente descabidas, ignorantes mesmo. Eu pacientemente contextualizei as questões e demonstrei logicamente que a manifestação do sujeito era estúpida. Droga, fui ensinado, treinado para ser assim (quem estudou computação sabe que é verdade). Eu deveria mesmo era ter mandado o cara calar a boca dele.

Acho que é por isso que gosto tanto quando o Donald Trump manda um participante calar a boca no Aprendiz. Ou por isso que gosto tanto da cena em que o Dr. Evil (Mike Myers) passa 2 minutos mandando o filho calar a boca no filme do Austin Powers.

Ok, ok, acho que saí fora da minha casinha de nerd. Obviamente nunca vou conseguir fazer algo parecido, talvez seja mais certo assim mesmo. Não se preocupem, se quiserem me xingar nos comentários por esse post, eu vou escutar pacientemente.

Reggie, the Engineer.
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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Mundos e Fundos - Parte Dois

Parte 1 disponível em http://www.tribodomouse.com.br/2007/11/mundos-e-fundos.html

Da sua sala, Ícaro, um dos sócios da empresa, podia sentir a agitação do escritório. Considerava esse projeto seu filho, sua maior realização na companhia. Conseguiram vencer uma concorrência acirrada ganhando por meia dúzia de reais, o que deixou a margem de lucro lá embaixo. Mas como o cliente era grande, bastava que garantissem um bom trabalho que certamente outros projetos viriam. Daí a importância na execução, tudo deveria sair perfeito. Agora, faltando pouco para a instalação, as coisas pareciam estar correndo bem. Foi uma boa idéia contratar Daniel como gerente de projeto para dar uma organizada na casa. O cliente ainda estava reclamando de alguns requisitos, mas segundo Daniel isso era coisa pouca e não iria impactar a qualidade da entrega.
Depois era correr para galera. Cancun já não parecia mais tão longe.

Carlos não estava tranquilo, mas já viveu momentos piores. Faltando duas semanas para a entrega as coisas estavam correndo bem com o projeto, iriam entregar um produto de qualidade. Exceto por aquela maldita funcionalidade de última hora. Quanto a isso Carlos ainda não estava seguro da decisão tomada.
Sua conversa com Raul, logo após a discussão com Daniel ainda estava na cabeça. Naquele dia, logo que retornou a sua mesa, Raul já estava lá esperando.
- E aí? Como foi?
- O cara é um idiota, disso eu já tenho certeza.
- Nada de novo até aí. - Falou Raul como sarcasmo habitual.
- Mas ele tem um ponto. Qualquer atraso na entrega implica em impacto para o nosso bônus.
- Tudo bem, mas foi ratiada do Comercial, eles é que não definiram o escopo direito.
- Concordo contigo, porém, tu acha que se a gente entrar em uma negociação contratual vamos receber o bônus?
- OK, então qual é a alternativa?
- Vamos fazer algo meia boca, só para cumprir tabela. O Daniel espera ganhar tempo com isso, jogando a bola para mão do Cliente. Ele acredita que eles vão levar umas semanas para testar tudo, até lá a gente libera um "patch" resolvendo o problema.
- Vamos fazer uma "Perna de Anão" então? - Raul adorava essa expressão, por mais politicamente incorreta que fosse.
- Exatamente. Vamos dar uma de "João sem braço", "Se Fazer de Louco", e rezar para tudo dar certo.
- Não concordo muito com essa abordagem, mas tu que manda. You're the boss!
Carlos não gostava do que estava fazendo, mas agora não tinha mais volta. Só mais algumas semanas para ver o resultado. Queria acreditar no sucesso do plano de Daniel, porém quanto mais pensava, menos esperança tinha de que iriam se dar bem no final.

Daniel por sua vez, estava cada vez mais afastado de Carlos e da equipe de projeto. Sabia que havia começado com o pé esquerdo. Seu desempenho na reunião inicial, prometendo mundos e fundos para o cliente sem alinhar antes com a equipe, negava alguns dos seus princípios. Lembrou dos seus tempos de desenvolvedor e de quanto repudiava gerentes que faziam isso, e sentiu um pouco de vergonha. Porém ele também estava em uma situação delicada, sua contratação tinha sido condicionada à resultados, o que se traduzia em: Sanar os problemas do projeto e Assegurar o pagamento do bônus. Havia feito com contrato de risco com seus empregadores, e estava disposto a lançar mão de todos os recursos disponíveis para cumpri-lo.
Apesar de eticamente questionável, seu plano era prática comum na indústria de software. Eu te engano que defino os requisitos, tu me engana que vai me entregar no prazo, e assim a gente vai. Surpresa mesmo é quando um projeto é entregue no prazo, escopo e custos planejados. Acreditava que teria boas chances de sucesso com ele, era só o time de projeto fazer a sua parte e deixar a política e o trabalho sujo com ele. Colocou os fones de ouvido e começou a revisar o cronograma de instalação.
No iPod tocava "Duas Tribos" da Legião, e parecia que o Renato cantava para ele o refrão:
"É o bem contra o mal,
E você de que lado está?"

Conclui na próxima Segunda.
[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Analisando o Entrevistador

O Blackberry vibra no bolso de Roberta, psicóloga do RH. O visor lhe avisa que está na hora de mais uma entrevista para preencher a última vaga aberta no setor de Bolívar.

As duas últimas semanas foram cansativas. Diversas entrevistas para preencher 3 vagas abertas, sendo duas de programador e uma de gerente. As duas vagas de programação tiveram uma procura muito grande, mas os entrevistados em sua maioria não possuía os conhecimentos necessários. Somente após entrevistar mais de 20 candidatos é que finalmente haviam contratado dois excelentes técnicos.

Mas agora faltava a vaga de gerente – e essa parecia ser a mais difícil. Não devido ao conhecimento em si, mas devido ao próprio Bolívar, uma pessoa extremamente difícil de lidar. E esse novo gerente iria reportar para ele...

A reunião começa com as apresentações e perguntas de praxe. Roberta então começa finalmente com as perguntas que realmente interessam.

- Como você lida com disavenças em sua equipe? Você pode nos contar um exemplo real?

- Eu sempro tento conciliar. Por exemplo, certa vez, em um projeto com o governo Tailandês, boa parte da minha equipe acreditava que a melhor solução era fazer a solução em um projeto Web, em Java. Mas o líder e o arquiteto acreditavam que a melhor solução era um Smart Client em .NET. Isso estava causando muita confusão. O time estava completamente insatisfeito e dividido. Se não intervisse, certamente o projeto seria um fracasso.

- E o que você fez? Perguntou Roberta.

- Eu escolhi um representante de cada lado e dei 2 dias para cada um criar uma apresentação sobre os prós e contras de sua solução. Eles iriam apresentar a todo o time e, após as apresentações, iríamos fazer uma mesa redonda. Só havia uma regra: deveríamos nos focar no problema, não em paixões ou crenças sem base. E fui bem claro – disse que não aceitaria argumentos desse tipo.

- E como foi?

- Tudo ocorreu bem. No fim, realmente a melhor solução era Web, e o time todo concordou com isso.

Foi quando Bolívar começou a falar:

- Mas como você se deu ao luxo de esperar dois dias?

- Achei muito melhor fazer o planejamento bem, conitnuou o candidato, do que tomar uma decisão precipitada e ter que mudar tudo depois.

- E se eles nãochegassem a um consenso naquele dia?

- Eu queria a melhor solução, pois era um projeto que duraria 5 meses. Portanto, me daria ao luxo de esperar mais alguns dias.

A entrevista continuou, com perguntas comportamentais e técnicas. Na hora da revisão, o candidato deixa a sala e somente Roberta e Bolívar ficam na sala.

- Achei ele muito fraco. Não sabe se impor. Não quero ele, Roberta.

- Mas Bolívar, é o melhor candidato que encontramos até agora. E é muito qualificado. Quanto a não saber se impor, não concordo com o seu ponto. Ele fez uma análise de risco e tomou uma decisão.

- Mas não vai ser assim aqui. Ele não tem espaço na minha equipe.

Foi nesse ponto que Roberta percebeu que realmente Bolívar tinha razão. O candidato não se encaixava no time de Bolívar. Ele era bom demais para esse time. Na verdade, não sabia como Bolívar era gerente sênior: não tinha habilidade com pessoas e gerava muita confusão – algumas confusões em seu time tinham uma única saída: a demissão do funcionário. Que pena. Pena que ela não estava na hora que entrevistaram o Bolívar. Pena que tanta gente qualificada, precisando de emprego, sofresse na mão daquele gerente. Pena que Bolívar tinha tanta força com a diretoria. Pena que ela não tinha força nenhuma.

- Ok, vou marcar a próxima entrevista então, disse Roberta, olhando para baixo.

Quando viu a porta se fechar atrás de Bolívar, ligou para a empresa de recursos humanos que estava lhe enviando os currículos. Mas o objetivo da ligação era outro: ia pedir um novo emprego para ela. Estava cheia daquele ambiente.

Dr. Zambol.
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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mundos e Fundos

Trabalhar em consultoria não é fácil, prestação de serviços de TI é trabalho ingrato como poucos. Normalmente o que acontece é que quem vende o projeto promete, invariavelmente, mais do quem executa é capaz de entregar. No final a pressão acaba sempre no time de projeto, que tem que virar noites, fins de semana e feriados para executar o impossível. Isso quando não trazem um salvador da pátria para resolver o problema. Foi exatamente o que aconteceu no último emprego de Carlos. O Comercial vendeu um projeto com custo e cronograma apertados e se "esqueceu" de fazer uma definição clara do que seria entregue. Faltando um mês para a entrega o Cliente se deu conta que não iria receber uma funcionalidade crítica, subiu nas tamancas e convocou uma reunião urgente convidando até o Papa.

De um lado da linha telefônica estão Carlos, o líder técnico do projeto, responsável por implementar a mágica vendida pelo Comercial, seu colega Raul, o arquiteto da solução, e Daniel, o gerente de projetos trazido as pressas para organizar a bagunça e garantir a entrega. Do outro lado o Cliente já está com a voz alterada.
- Bom, vocês tem que entender que essa funcionalidade é crítica para a gente, sem ela 80% dos ganhos com a implantação desse novo sistema vão por água abaixo.
Carlos toma a dianteira para explicar a situação:
- Entendemos isso. Nosso ponto é que não temos condições de entregar o sistema com esse requisito na data planejada. Não vem ao caso encontrar culpados agora, mas o fato é que isso não fazia parte do nosso escopo original.

Na janela do IM Raul bipava Carlos:
- Vai ser casca implementar isso, precisamos de uma re-arquitetura total. Duas semanas de trabalho, chutando por baixo.

Carlos completava o seu raciocínio no telefone:
- Como eu estava dizendo, entendemos a criticidade, mas precisamos de uma extensão no prazo. Vamos precisar de pelo menos mais um mês.

IM (Raul -> Carlos): - Boa, em um mês a gente entrega com certeza, isso nos dá algum tempo caso alguma coisa dê errado.

Mas a resposta do cliente não foi animadora.
- Isso é simplesmente inaceitável. Todo o nosso planejamento de vendas para o próximo trimestre está baseado no fato de que teremos o novo sistema no ar em trinta dias. Vamos perder muito dinheiro caso isso não aconteça.

Foi então que Daniel falou pela primeira vez:
- Vamos entregar sim, como parte do acerto original. Em 30 dias vocês terão exatamente o que precisam. Vou trabalhar com o nosso time para fazer isso acontecer. Podem ficar tranquilos.

IM (Raul -> Carlos): O que?
IM (Carlos -> Raul): O que? Fazer acontecer? Esse cara tá louco!!!

Depois de encerrada a reunião, Carlos foi direto na mesa de Daniel, que parecia extremamente ocupado com seus e-mails.
- Preciso Falar contigo.
Daniel nem levantou os olhos do monitor para encarar Carlos.
- Depois, agora não posso.
- Agora!

Pegaram uma sala de reunião. Carlos já estava bufando, sem fazer a melhor questão de disfarçar o que estava sentindo.
- Qual parte do "Não temos condições de entregar o sistema com esse requisito na data planejada" tu não entendeu?
- Ah, - Desdenhou Daniel. - Vocês de desenvolvimento são sempre assim. Nunca dá, nunca dá, mas no final acaba sempre dando. É só dar um apertada no time aqui e ali, trabalhar mais uns dois fins de semana e tu vai ver que terminamos esse negócio rindo.

Carlos não acreditou que estava ouvindo aquilo. Ele já havia trabalhado com gente incompetente antes, mas Daniel ganhava de goleada.
- Vem cá tchê. Em que mundo tu vive? Tu tem noção do que está falando? Estamos discutindo uma mudança radical no nosso Design. Não tem como fazer no prazo estabelecido. Além do mais já temos trabalho planejado para todos os fins de semana até a entrega.
Mas Daniel estava impassível.
- Vamos aplicar o método NASCO e tudo vai ficar bem.
- NASCO?
- Isso, vamos fazer alguma coisa "Nas Coxas", entregamos uma solução meia boca para eles, eles vão levar pelo menos umas duas semanas para testar tudo, enquanto isso a gente termina como tem que ser.
- Cara, não sei de onde tu vem, mas para mim já é clara a maneira que tu trabalha. E esse definitivamente não é o meu estilo.
- Tu tem alguma sugestão melhor? Vai querer perder o bônus por atraso na entrega? Faz o que eu tô te falando que no final tudo vai dar certo.

Carlos saiu da sala perplexo com as palavras de Daniel, afinal também estava contando com o dinheiro do bônus. Lembrou do seu herói, o João do Santo Cristo:
"Essas palavras vão entrar no coração.., Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Continua...

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dilbert e a Mudança

Outro dia meu amigo Dr. Zambol tocou brevemente no assunto re-organização interna de empresas. Eu gostaria de voltar ao assunto.

Não sei se já falei aqui, mas um dos meus ídolos é um cara chamado Scott Adams, o escritor e cartunista criador do personagem Dilbert. Tenho muito respeito por ele, porque além de ter um currículo invejável (ele realmente entende o que critica) e ser um excelente escritor, ele deu voz e embasamento aos milhões de pessoas que, como nós, vivem o dia-a-dia de escritórios. Sem Scott Adams, os empregados que vêem coisas erradas em suas realidades de trabalho não passariam de reclamões de plantão, tipos que nunca ficam satisfeitos com nada. Mas a era pós-Dilbert é diferente. Faça a experiência. Uma vez ouvi uma barbaridade em uma reunião de trabalho e comentei sobre uma tirinha do Dilbert onde aquele tipo de idéia havia sido ridicularizada. Não demorou muito para a conversa mudar de rumo e a idéia ser descartada. Scott Adams deu-nos os referenciais teóricos que precisávamos.

Vez por outra, quando algo muito diferente acontece no trabalho, eu consulto a minha bibliografia de referência primária: O Princípio Dilbert. Durante os últimos dias, foi a vez de dar uma olhada no que o Scott Adams diz sobre mudança dentro das empresas. Não sei se vocês já passaram por isso, mas desde a invenção da re-engenharia, virou quase que moda grandes empresas usarem profundas re-estruturações internas como forma de superar períodos de dificuldades. Não que eu ache isso totalmente errado ou seja contra mudanças, pelo contrário. Sou adepto da mudança, acho ela saudável, nos deixa mais espertos e preparados. Mas a mudança pela mudança é estúpida. A mudança com agenda oculta não traz resultados. E não sou eu quem diz isso. Estou embasado.

Sobre re-organizações internas, Scott Adams diz coisas como (traduções minhas, não oficiais):

- “Até parece que a razão pela qual os consumidores odeiam nossos produtos é o fato do nosso departamento se chamar X ao invés de Y”.

- “Na próxima re-estruturação interna, peça a todos os empregados para levantarem-se de suas cadeiras, darem um girinho e sentarem-se novamente. É bem menos traumático do que mudar nomes de departamentos e relocar pessoas, e o resultado é praticamente o mesmo”.

O tom de sarcasmo é óbvio, mas nos faz refletir. Muito provavelmente quem comanda esse tipo de mudança não quer apenas alterar nomes de departamentos e trocar pessoas de lugar, com mínima alteração efetiva sobre as tarefas diárias do nível operacional da empresa. Claramente as intenções devem ser outras, e devem ser boas. Mas as empresas, como as pessoas, fazem escolhas. A diferença é que para uma empresa, dependendo do seu tamanho, é muito complicado voltar atrás em algumas escolhas. De qualquer forma, normalmente existem falhas nesses processos de mudança. Seja de comunicação, seja de “empowerment”, seja de julgamento. E o resultado fica extremamente comprometido por causa dessas falhas.

Pra quem olha “de baixo”, parece um tanto estúpido às vezes.

Reggie, the Engineer.
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terça-feira, 23 de outubro de 2007

A Última Palestra

Pessoal:
Para que ainda não ouviu falar, Randy Pausch é um Dr. em Realidade Virtual da Carnegie Mellon, diagnosticado com um Câncer terminal e que tem apenas mais seis meses de vida. Essa é a última palestra dele, na qual ele fala de suas realizações, sonhos e lições de vida. Tudo com muito bom humor e uma visão positiva, que passa longe de qualquer sentimentalismo barato.

Website:
http://www.cs.cmu.edu/~pausch/
Última Palestra : http://wms.andrew.cmu.edu/001/pausch.wmv

O vídeo tem aproximadamente uma hora e meia, mas é simplesmente obrigatório. Vale a pena deixar de ver a novela ou a um jogo de futebol para assistir. Infelizmente não encontrei nenhuma versão legendada.
Abraços da Tribo do Mouse

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Proposta Irrecusável


“Arnaldo, vamos com calma” falou Bolívar, dirigindo-se ao centro da sala. Ele percebeu que a situação não era boa e teria que agir para não enfrentar um motim. Precisava tirar a razão de Arnaldo para diminuir a clara influência que ele estava impondo sobre os outros membros do time. Pensou um pouco e falou:

- Vocês continuem o trabalho. Não faria o menor sentido 17 pessoas se mobilizarem em uma situação dessas. Eu vou ligar para o hospital e ver o que podemos fazer pelo Anderson. Enquanto isso, mantenham o foco em colocar a fábrica de volta no ar. Não quero ninguém fazendo burrada.

Pensamentos voltaram a percorrer a mente das pessoas da sala. A maioria voltou à sua zona de conforto. Realmente, a abordagem do Bolívar parecia ser a mais sensata, não adiantaria nada sair correndo sem nem saber se poderiam mesmo ajudar o Anderson. Voltar ao trabalho era mais fácil.

Mas Arnaldo continuava de sangue quente. Mais uma vez ele estava vendo na sua frente a clássica situação do gerente que de vez em quando corre atrás para solucionar um problema que ele mesmo criou em primeiro lugar. Bolívar havia esfriado os ânimos do time com aquela atitude, mas Arnaldo sabia que o acidente de Anderson era apenas a gota d’água. Ele não aguentava mais aquele gerente que não protegia sua equipe, fazia tudo o que o cliente pedia – no sentido mais negativo da expressão, e vivia afastando a equipe das tarefas mais importantes, elencando prioridades que beneficiavam apenas a ele mesmo. Será que aquelas pessoas achavam que aquele ambiente de trabalho era normal? Será que apenas porque trabalhavam com informática era normal virar quase todo final-de-semana e viver correndo atrás das datas de entrega? Não existiria uma maneira de serem apenas funcionários normais como o restante da empresa?

Para Arnaldo, a resposta era obviamente sim. E isso passava necessariamente por Bolívar. A sua incompetência e amargura haviam levado a equipe até ali. Ele tinha que agir. Tinha que aproveitar a situação. Os ânimos tinham que continuar quentes. Levantou-se e foi até a mesa de Bolívar.

- Bolívar, estou saindo. Vou no hospital ver como o Anderson está.
- Arnaldo, já falei que vou cuidar disso. Já consertou o problema da fábrica? Aposto que não. Volte ao trabalho e pare de bancar o herói.
- Acho que você não ouviu direito. Eu disse que estou saindo. Não pedi a sua opinião. De agora em diante gostaria que você me tratasse como um adulto. O problema na fábrica não exisiria não fosse por você. O erro acontece na funcionalidade que você quis “dar de presente” para o pessoal da fábrica na última quinta-feira. Provavelmente por termos codificado aquilo na correria do final-de-semana e entregue sem testar suficientemente, a aplicação deve estar cheia de bugs. Mas isso você já deve saber, duvido que seja tão burro.
- Voce está louco de falar comigo assim Arnaldo!?! Quer ser demitido, é isso?

Àquela altura, toda a sala já assistia ao espetáculo.

- Me demita. Sem mim para arrumar as coisas pra você talvez fique claro para a empresa o tamanho da sua incompetência, e com sorte você também levará um belo chute no traseiro em breve.

Arnaldo virou as costas e foi embora. Quase não ouviu os aplausos dos integrantes do time e também perdeu a cara incrédula de Bolívar. Rumou para o hospital, onde seu amigo Anderson estava internado.

Chegando lá, constatou que Anderson, apesar da gravidade do seu estado, felizmente já havia saído do estado de coma. Estava consciente e conversava com dificuldade. Conversaram um pouco e Anderson logo se mostrou preocupado por estar com o pager.

- A propósito, se a fábrica está parada, como o Bolívar liberou você para vir aqui? – perguntou Anderson.
- Digamos que eu me inspirei no Don Corleone. Fiz-lhe uma proposta que ele não pôde recusar.

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Mau Tempo à Vista...

Bolívar convoca todo o time para uma reunião urgente.

- Pessoal, temos um grande problema. A fábrica de remédios L2 está parada devido a um problema no módulo de Shipping. E finalmente descobri onde está o Anderson: no hospital. O que nos leva a um problema maior ainda. Estamos sem Pager. Quero uma linha aberta com a fábrica agora e a atenção de todos até a solução do problema.

- Como assim no hospital? O que houve? Pergunta Arnaldo, o melhor amigo de Anderson.

- Não tenho maiores detalhes e, para ser sincero, não temos tempo para isso agora. Todos de volta ao trabalho!

O cérebro humano funciona de uma forma muito estranha. E todas as 17 pessoas daquela sala percorreram pensamentos diferentes. A maioria se colocava no lugar de Anderson, que havia ficado até mais tarde na noite passada e havia dirigido naquele estado – depois de ter virado duas noites seguidas. É, a maioria sentia medo. Medo da situação que aquele clima havia criado. Um clima onde o resultado o esforço não valia nada e a falta de planejamento fazia com que nunca se alcançasse algo bom. É claro que na hora que pensavam em si mesmos naquela situação, as experiências pelas quais cada um havia passado na vida alteravam em muito o sentimento, que variava desde a culpa até uma saudade do pai.

Uma pequena parte daquele grupo levou seu pensamento para outro lado: o da indiferença. Fosse momentânea ou não, a indiferença nessas pessoas fazia com que elas se focassem exclusivamente no trabalho que precisava ser feito. “O que ocorreu eu não posso mudar. Tenho que cuidar do que precisa ser feito. Agora não há tempo para nada”. Bolívar ficaria extasiado se conseguisse ler o pensamento deles. Era desse tipo de profissional que ele precisava.

Arnaldo não. Estava em outra categoria e fase de pensamentos. Estava com ódio. Depois de ligar para o Hospital, descobriu que Anderson estava com traumatismo craniano e se encontrava em coma. O estado dele era “estável”, segundo os médicos. Ódio do que era submetido naquela empresa. Ódio por ter que explicar 20 vezes a mesma coisa para Bolívar, que por sua vez não fazia nada para ajudar a equipe – muito pelo contrário, só atrapalhava retirando e incluindo escopo sem organização alguma. Ódio de se dar conta só agora que aquilo não valia a pena. Os últimos 6 meses tiveram apenas dois fins-de-semana livres.

Sabia que era seu dever fazer alguma coisa. Sabia que era hora de fazer alguma coisa. Olhou em volta e todos já haviam voltado aos seus lugares, uns pensativos, outros nem tanto. Bolívar, por sua vez, estava em seu aquário tradicional.

- Pessoal, falou em voz alta para todos, não sei se todos conhecem essa história, mas vou contar igual. Pesquisadores da Rússia decidiram fazer uma pesquisa junto a pacientes terminais. Era para ser algo simples – os pesquisadores deveriam entrevistar os pacientes que tinham os dias contados e fariam perguntas sobre a vida. Entre as perguntas, estavam coisas como “Do que você mais se arrepende na vida?”, “O que você faria se descobrisse que não irá morrer em breve?”, “Você estava pronto para ouvir uma notícia com a que seu médico lhe deu?”. Nenhuma das pessoas que se encontravam naquela situação falou do trabalho – nem bem, nem mal. Entre as coisas que mais se arrependiam estava não ter abraçado mais o seu filho. Viajar e amar estavam entre as respostas do que elas iriam fazer se descobrissem que não iriam morrer. E praticamente nenhuma pessoa estava pronta para morte, principalmente porque havia arrependimentos e coisas a ser resolvidas ainda. Mas ninguém tocou em trabalho, nem para reclamar. Parece que era algo muito insignificante para ser lembrado naquele momento.

Enxugou a lágrima que começava a escorrer de seus olhos e continuou.

- Queria ao menos uma vez fazer a coisa certa. Não tem sentido a gente trabalhar se não for para construir algo bom. E esse algo bom pode ser feito agora. Fiquei sabendo que o Anderson tem sangue AB+. Ele é receptor universal. E precisa muito de sangue. Todos aqui podem colaborar. Se não for para doar sangue, que seja para ajudar com alguma despesa. Ele sempre foi um cara legal, um bom líder. Não queria deixar ele à sorte do destino. Poderia ser qualquer um de nós, sabemos disso. Esses dias quase bati o carro voltando para casa depois de ficar 20 horas seguidas trabalhando aqui, nessa mesma sala em que estamos. Se todos sairmos juntos, não há como ninguém nos culpar. Quem pode ser culpado, sou eu, e estou pronto para isso.

O silêncio sepulcral representava o sentimento presente naquela sala. E a cara de incredulidade de Bolívar, que havia escutado boa parte do discurso, entregava que estava ainda em choque, não conseguia acreditar naquilo.

É. O cérebro humano pode até trabalhar de maneira estranha. Mas às vezes funciona, e bem.

Dr. Zambol.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Mais uma tranquila manhã de Segunda Feira

Bolívar já estava sem paciência. Nove e meia da manhã e nada do sujeito. Ligou para o celular, nada, desligado. Ficou sabendo que eles ficaram trabalhando no fim de semana para deixar as coisas em ordem para Segunda Feira, mas como ele mesmo gostava de dizer:
- Não quero saber se o pato é macho, eu quero é ovo.
Se vocês querem trabalhar no fim de semana para botar em dia o trabalho que deveriam ter feito durante a semana, por mim tudo bem. Mas na segunda quero todo mundo aqui as oito.
Onde já se viu? Passam o dia na internet, por isso não terminam o trabalho. Cambada de vagabundos!!
No meu tempo, lembrou, não tinha isso. Primeiro que sempre entregava minha parte em dia, foi por isso que virei gerente. E se tivesse que trabalhar fim de semana, azar. Sábado é dia útil e Domingo é ponto facultativo já dizia seu antigo chefe.
Procurou o resto do time. Estavam todos lá, uns com olheiras, com cara de sono.
- Vocês sabem do Anderson? - A pergunta não foi dirigida para ninguém em especial.
- Olha, a última vez que eu falei com ele foi ontem de madrugada, saímos daqui por volta das duas, mas ele ficou um pouco mais para terminar a parte dele.
Só falta agora eles quererem que eu fique com pena, pensou.
- Deixa eu conferir o celular dele, porque ele não está atendendo. Pelo que eu sei, ele está com o pager essa semana, se der algum problema como é que a gente faz? Vocês tem que ter mais responsabilidade, isso aqui não é brincadeira.
Pensou em começar um discurso, mas olhou no Blackberry, já estava quase na hora da sua próxima reunião. Tentou mais uma vez o celular, a última chance. Se for pra chegar depois das dez é melhor que nem venha mais.

Anderson deixou o escritório por volta das quatro e quinze da manhã de Segunda Feira. Mais um daqueles longos fim de semana trabalhando. Tudo para deixar o sistema funcionando para quando o pessoal chegar. Foi sofrido, é verdade, mas bem feito. Mesmo que as coisas não tenham ocorrido 100% como planejado, tudo deve estar ok para a manhã seguinte.
Ele entrou na Freeway em direção a sua casa pouco depois das quatro e quinze. A pista estava escura e tranquila, totalmente diferente do tráfego louco dos fins de tarde. O rádio alto para ajudar na luta contra o sono, tocava Metálica, o álbum preto. E, talvez por uma ironia do destino, foi justamente quando tocava "Mr. Sandman" que aconteceu.

Foi tudo muito rápido, em um segundo ele estava contando as listras da estrada e acompanhando a batida da música, e num piscar de olhos depois, descendo o barranco que separa as pistas e batendo o carro contra a árvore. Antes de perder a consciência, seu último pensamento foi:
- Se der algum problema, quem vai cuidar do pager amanhã de manhã?

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Vida de Pablo – Capítulo Final


Capítulo anterior disponível em: http://www.tribodomouse.com.br/2007/10/vida-de-pablo-captulo-3.html

Eram 8:50 da manhã. Faltavam 10 minutos para a reunião semanal com o time do projeto. León, como líder da equipe, conduzia a reunião, mas Victor, sendo o gerente da área, acompanhava as coisas de perto. A reunião começou e Pablo estava ansioso, queria mostrar o que havia feito nas últimas duas semanas, deixando claro que estava em um nível diferente dos demais e preparando o terreno para a conversa das 10:00 com Victor.

Pablo tinha tido muito pouco tempo para pensar na conversa com Victor. Mas sabia de coração o que dizer. Pretendia falar sobre a sua visão de como organizar e liderar um time. A situação atual não podia estar certa. Gente fazendo que trabalha, gente fazendo que cobra, gente fazendo que planeja. Funcionários sem tarefas mas sendo cobrados por chegar no horário. Funcionários com imenso potencial sendo sub-aproveitados. Incompetentes liderando e sendo promovidos. Decisões sendo tomadas sem envolver o time. Informações sendo ocultadas. Desmotivação geral. Queria apontar essas coisas erradas que via na empresa e se colocar à disposição para ajudar a melhorá-las.

- “Pablo!?”, a voz de León interrompeu bruscamente os pensamentos de Pablo, que já voavam altos.
- “Hã? Sim?”, respondeu Pablo gaguejando.
- “Falei com você! Pode nos falar sobre o status da sua tarefa que deveria ser entregue hoje?”, resmungou León.
- “Ah sim, claro. Terminei tudo já na quarta-feira, então fiquei revisando os requisitos com a Jocasta, fiz alguns testes a mais e mostrei para ela. Acho que estamos com as telas em um nível bem bacana, posso enviar para o time de testes e acho que não teremos problemas”, concluiu Pablo, confiante.

“Tenho só um comentário”, manifestou-se Xinsun, depois de um breve silêncio. Xinsun era outra figura clássica de uma organização. Um programador muito bom, mas que dava um dedo para apontar os defeitos dos outros, sempre na última hora. Chinesinho chato ele. “Ontem eu vi seu código no repositório, então resolvi revisar. Vi que você usou Ajax em todas as telas. Acho que isso foge do nosso padrão, não estávamos usando Ajax nesse tipo de tela. É só um comentário”, concluiu Xinsun, sempre sorrindo.

- “Não podemos fazer nada fora do padrão”, vociferou León. “Você vai ter que refazer tudo, e por isso vamos atrasar mais ainda o projeto. Pessoal, vamos ter mais cuidado, parece que vocês gostam de trabalhar no final-de-semana”.
- “Mas você que me disse para usar Ajax, León”, murmurou Pablo, bastante irritado pela situação mas meio trancado pela sua introspecção.
- “Eu lhe disse para seguir o padrão, esperava que você tivesse maturidade para procurar os outros colegas de equipe. Bom, paciência pessoal. Mais uma vez não atingiremos a entrega e vocês como time estão agora a 10 meses sem atingir as metas”, respondeu León.

Pronto, com essa frase de León, Pablo agora era o carrasco do time. “Que maldito líder de equipe esse!”, pensava Pablo. “Parece que fez de propósito para me testar! E agora, com que cara fico na frente do Victor? Com que moral vou falar com ele agora?”. Pablo estava muito abalado.

“Pessoal, antes de encerrarmos a reunião, quero fazer um comunicado”, falou Victor, quando todos já se levantavam. “Como vocês sabem, desde que o Rick saiu eu estou de gerente de vocês, mas isso era temporário. Quero comunicar oficialmente hoje que o León está assumindo a gerência da área, e o Xinsun é o nosso novo líder de projeto. Uma salva de palmas para eles!”.

Que alegria. Era tudo o que Pablo precisava ouvir agora.

Pablo ficou lá, sentado na cadeira, pensando sobre a sua vida, sobre os seus ideais, sobre o seu futuro, sobre a sua felicidade...

- “Sr. Pablo?”, a voz o interrompeu. “Deseja parar a entrevista por alguns instantes? Fiz-lhe uma pergunta mas o senhor ficou pensativo...”, questionou a voz feminina.
- “Ah, sim, vamos parar um pouco. De repente me vieram lembranças do passado, coisas que me aconteceram e me ajudaram a forjar os valores que hoje faço questão de implantar e manter vivos na empresa”, respondeu Pablo.
- “Bom, então certamente são coisas que contribuíram para que o senhor ganhasse esse prêmio de empresário do ano. Vamos fazer um break e depois falamos mais sobre isso”, completou a entrevistadora.

Pablo hoje é um empresário de sucesso, eleito empresário do ano. Dono de uma grande empresa na área de Tecnologia da Informação, ele ficou famoso nos últimos anos pelas mudanças que promoveu no ambiente de trabalho. Sua empresa esta a três anos no topo da lista das melhores para se trabalhar. Ele acredita fundamentalmente nas pessoas e em dar condições para que elas exercitem o melhor de si dentro da organização. Sem espaço para “bullshit”. Ele é casado com Gloria (lembram dela?) desde os tempos da Bogus e tem 2 filhos.

Para Pablo, não há nada como um dia após o outro.

Reggie, the Engineer.
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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Vida de Pablo - Capítulo 3

Capítulo anterior disponível em: http://www.tribodomouse.com.br/2007/09/vida-de-pablo-captulo-2.html

Aquilo tinha sido demais. “Micro-management” era algo que Pablo já estava até esquecendo que existia. Mas León, além de ser grosseiro, arrogante e aparentemente não ter conhecimento técnico suficiente para ser líder de projeto na Bogus, agora ia micro-gerenciar as tarefas da equipe. Aí já era demais.

Pablo tinha perdido 10 minutos para se livrar das perguntas de León a respeito da situação das tarefas e detalhes da implementação, e não faziam nem 2 horas que ele havia lhe passado o trabalho. Isso era ridículo.

Uma semana mais tarde, Pablo estava perto de finalizar o trabalho. Era apenas quarta-feira e o prazo final era sexta-feira, portanto haveria tempo suficiente para revisar e garantir que tudo estava certo, e ainda por cima para tomar uns cafés na cozinha e fazer umas fofocas. Pablo havia se virado com León na base do “enrolation”, ou melhor dizendo, devido à sua boa capacidade de comunicação. Aliás, essa cena é comum: o pseudo-gerente-supervisor-lead-ou-seja-lá-o-que-for faz de conta que está cobrando o time e mantendo todos na linha, e os membros da equipe fazem de conta que reportam status corretamente e que suas tarefas ocupam realmente a quantidade de tempo esperada. É uma coisa fantástica, um jogo de faz-de-conta em que um é mais cara-de-pau do que o outro. Mas ninguém põe fim ao jogo, é uma regra tácita e o mais júnior dos funcionários aprende ela em segundos. Pablo odiava esse tipo de situação imatura, mas tinha que jogar o jogo por força do ambiente.

Aliás, por falar em força do ambiente, àquela altura Pablo já havia identificado direitinho algumas figuras clássicas dentro da equipe. O Jones era o incendiário. Xingava a empresa e os superiores constantemente. Fazia fofoca de todo mundo, era preciso ter cuidado com ele. Dizia toda semana que estava procurando coisa melhor para ele, que não ia ficar em uma empresa dessas muito tempo. Mas já estava ali faziam 5 anos. Ele mesmo havia motivado muita gente a sair com aquele papo todo. Mas Jones virava um gatinho na frente da gerência. Fazia elogios, comentários construtivos, era interessado nas reuniões de time. Depois, só entre nós, era puro veneno. Que figura.

A Jocasta era o pavão do time. Estava sempre falando dela mesmo e de como ela já tinha feito isso na vida, de como já tinha estudado aquilo, de como tinha experiência. Na hora de fazer mesmo, de colocar a mão na massa, passava o trabalho para os outros. Era boa mesmo no Powerpoint, embora seu inglês fosse meia-boca-de-baixo. Mas ela tinha estudado em Londres, tá? Nem preciso dizer quem era a queridinha dos gerentes...

Naquela sexta-feira, dia da entrega de sua tarefa, Pablo estava um pouco cheio daquele ambiente e resolveu que ia fazer alguma coisa. Procurou Victor, seu gerente desde a saída de Rick (e também gerente de León) e pediu para conversar a sós. Victor concordou e marcou uma conversa para às 10:00, depois da reunião de time.

Pablo começou a montar sua estratégia: “na reunião de time eu apresento a minha tarefa pronta, mostro o meu bom trabalho e preparo o terreno para a conversa com o Victor, daí meto a boca no trombone e mostro que posso contribuir em escopo maior”.

“É a minha chance”, pensou Pablo, confiante.

* Confira o capítulo final na próxima sexta-feira.

Reggie, the Engineer.
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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Recrutamento de profissionais em TI recebe críticas

Hoje foi um dia de críticas contra processos de recrutamento na área de TI. Em um artigo publicado no Baguete, o estudante Eduardo Tomedi critica o uso de estagiários de TI como mão-de-obra barata.

“Atualmente o que vejo nas empresas de RH, é muitas (SIC) vagas em que o candidato precisa ter experiência de no mínimo um ano, ou que domine totalmente uma linguagem de programação…”

“…exigem que o estagiário seja um profissional completo, são as que têm a remuneração mais baixa de acordo com a função. Estas empresas usam o estágio como forma de ter mais um funcionário, mas este sem encargos tributários, se o mesmo tivesse carteira assinada…”

“…Existem várias empresas nessa situação, e muitos estudantes sem conseguir seu espaço no mercado devido a essa prática errada das empresas de ter mão de obra barata...”


Veja o artigo na íntegra aqui http://www.baguete.com.br/artigosDetalhes.php?id=359 .

No mesmo Baguete, o colunista Mauricio Renner fala de um leitor que lhe escreveu um e-mail reclamando de práticas de contratação de empresas do setor.

“…Meu leitor, que preferiu o anonimato, diz que apesar de jovem, já tem cinco anos de experiência como gestor de projetos, inglês fluente, visto de negócio para os Estados Unidos e experiência com documentações da Sarbannes-Oxley. Toda essa qualificação foi obtida no atendimento de uma multinacional americana, com direito a viagens a Nova Iorque e tudo…”

“…A queixa do meu hiper-qualificado missivista é que as empresas grandes nem recebem ele para uma entrevista, pois ele ainda não terminou a faculdade…”

Confira a coluna na íntegra aqui http://www.baguete.com.br/colunasDetalhes.php?id=2546 .

Acreditem, nós entendemos vocês... por isso estamos aqui.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Ouvindo a Si Mesmo

Olho pro lado. Vejo se ninguém nota minha cara. Não sei. O faxineiro passou por aqui e me olhou com uma cara de pena. Mas não dá nada. Não é ele que não pode saber que estou completamente desmotivado. É minha equipe.

Sento-me quieto, com a cabeça baixa. Tenho algumas tarefas para despachar. Tento me manter o mais isolado possível. Num momento de turbulência como esse, o melhor a fazer é continuar focado no seu trabalho diário – coisa que estou tendo muita dificuldade nas últimas duas semanas.

Dizem que será a maior reestruturação da empresa em toda a sua história. Minha preocupação aumenta a cada dia. Meu futuro aqui dentro parece bastante incerto.

De repente, o que eu mais temia acontece.

- Zambol, tem um tempinho? Queria falar contigo.

- Mas é claro – digo energicamente, tentando não transparecer meu desânimo.

Quanto entramos na sala, Marcão fala:

- Estou inseguro. Tem algum perigo nessa reorganização de eu trocar de posição? Sair do país? Ser demitido?

- Eu queria, antes de qualquer coisa, te dizer que pouco sei do que está ocorrendo. Está tudo ainda no nível de vice-presidente – não chegou nada em mim ainda. Trocar de posição é uma possibilidade, não vou te dizer que não. Mas não esquece que somos as únicas pessoas com conhecimento no mundo para suportar essa aplicação. Sair do país e ser demitido, sinceramente, são opções que descarto. Não posso te dar uma certeza de 100%, pois estaria mentindo, mas te garanto que a lógica joga completamente contra essas opções.

Tomo um ar e continuo.

- Mas não te preocupa. És um cara de valor – não só pra companhia, mas para a tua equipe e para mim. Vem fazendo consistentemente um bom trabalho. Tenho certeza que continuará agregando valor para a empresa em qualquer situação, qualquer lugar que tu fores aqui dentro. E não te preocupa com coisas que estão fora do teu controle. Além de não fazer bem, não resolve nada – só atrapalha o teu dia-a-dia.

Não sei quanto ao Marcão. Mas no fim daquele papo, eu estava muito mais leve.

Será que o cara da faxina mandou o Marcão me perguntar aquilo?

Dr. Zambol.
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terça-feira, 2 de outubro de 2007

Pesquisa Salarial

Pessoal:
Segue o link para uma pesquisa salarial da área de TI, divulgada pelo IDG. É sempre bom analisar o mercado.

http://idgnow.uol.com.br/carreira/2007/05/16/idgnoticia.2007-05-15.0155019574/

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Tribo do Mouse

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A Vida de Pablo - Capítulo 2

Capítulo anterior disponível em: http://www.tribodomouse.com.br/2007/09/vida-de-pablo-captulo-1.html

O dia já começou ruim para Pablo. Uma cochilada a mais na hora de levantar fez ele se atrasar. Tinha uma reunião às 8:00 da manhã com León, seu novo líder de projeto. Eram 8:05 e Pablo estava recém chegando de carro no estacionamento da Bogus.

“Qual parte de ‘8:00 na minha mesa’ você não entendeu?”, vociferou León ao encarar Pablo exatamente às 8:11 da manhã. “Puxa, muito prazer em conhecê-lo também”, pensou Pablo. Mas Pablo só pensava essas coisas, não era o tipo do cara que se metia em conflitos. Ele havia planejado essa primeira conversa com seu novo líder de projeto na noite anterior, então começou a colocar o plano em prática. A primeira parte da estratégia era falar sobre a sua experiência e pontos-fortes, para mostrar a León que podia ser um membro importante da equipe.

- “Bom León, como você sabe eu estou há um mês na Bogus, estava trabalhando com o Rick e sou especialista em...”
- “Não temos tempo para esse tipo de coisa, preciso lhe passar algumas tarefas que já deveriam estar prontas e tenho que entrar em uma reunião mais importante às 8:30”, atropelou León, abruptamente.

Pablo ficou ali parado, de boca entre-aberta, enquanto León falava e rabiscava anotações e diagramas em uma folha de papel. Pablo mirava León enquanto tentava raciocinar qual parte de sua estratégia havia dado errado. Será que ele não deveria entrar nesse tipo de assunto com León? Afinal ele não era seu gerente, era apenas seu novo líder de projeto. Ou será que León era mesmo aquele tipinho grosseiro, arrogante e ainda por cima incompetente e traíra (nossa, combinação bombástica!) que haviam lhe contado. Pablo, alimentando a sua frustração e massacrando a sua auto-estima, continuava refletindo: como é ruim quando você vem como um cachorrinho, demonstrando submissão e pedindo um afago e recebe um grito e um chute, ouvindo que outras coisas são ‘mais importantes’ do que as suas aspirações. Enquanto isso León agitava o seu corpo e não parava de rabiscar na sua frente. Pablo só enxergava aquele “blá, blá, blá” em câmera-lenta.

- “Entendeu?”, perguntou León.
-“Humm, ã, o quê? Ah... sim, claro”, balbuciou Pablo.
- “Perfeito, então me entregue isso aí na sexta-feira da outra semana. Ah, e não esquece de usar Ajax em todas as telas, nós precisamos disso”.

Pablo pegou as anotações e rumou para a sua mesa, cabisbaixo. Ok, a Bogus não era uma empresa grande, líder de mercado? Multi-nacional estrangeira, onde o trabalho intelectual é valorizado? Onde ele conseguiria alcançar suas aspirações de carreira? Business 2.0, 5 camisetas promocionais por ano, etc-e-tal? Não era por isso que ele tinha ido trabalhar lá? Afinal o salário nem era lá tudo isso. Sinceramente, baseado nessa primeira interação com o tal do León, pela maneira como o cara tratou ele, pela maneira como o projeto claramente estava sendo mal-conduzido, não parecia exatamente o cenário que estava se desenhando na frente dele. Ele olhou de novo as anotações em um pedaço rasgado de papel e lembrou das aulas da faculdade: “Planejamento é coisa séria, gente”.

Bom, mas fazer o quê? Começar uma batalha campal e tentar girar uma engrenagem que tem a inércia de mais de 30.000 funcionários no mundo todo? Certamente muitos já haviam se deparado com problemas semelhantes e não seria Pablo quem iria consertá-los. Resolveu focar-se nas suas tarefas, já passavam das 9:30 da manhã e ele teria menos de duas semanas para terminar aquilo tudo.

Eis que Pablo sente uma presença atrás de si e não demora a ouvir a voz baforando o seu cangote: “Como estão as coisas? Algum progresso? Estás usando Ajax?”. Era León, mãos na cintura, em forma de açucareiro.

“Calma, isso tudo deve valer à pena... lembre-se das 5 camisetas promocionais por ano”, pensou Pablo consigo mesmo.

* Confira o penúltimo capítulo na próxima sexta-feira.

Reggie, the Engineer.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A Vida de Pablo – Capítulo 1


Pablo era um cara legal. Não chamava muita atenção, era introvertido, mas um cara legal. Era um profissional da área de TI, havia se formado há alguns anos atrás. Na verdade bem poucos anos atrás, mas Pablo tinha entrado em umas de dizer que tinha mais anos de experiência do que realmente tinha. Mentira mesmo, não tem outra explicação. No currículo eram 3 anos a mais de experiência do que na realidade. E vinha fazendo aquilo há tanto tempo que tinha enganado até a si mesmo. Não tinha namorada, mas estava apaixonado pela Gloria. Bom, mas isto eu conto depois.

O Pablo estava completando um mês no novo emprego. Ninguém havia cumprimentado ele por isso naquele dia, mas também, ele mal conhecia 4 ou 5 colegas de trabalho àquela altura. Pablo estava trabalhando na Bogus, uma seguradora multinacional. Mais especificamente, ele havia sido contratado como programador de computadores sênior, embora achasse que tinha capacidade de sobra para ser líder de projeto. Naquele um mês de trabalho havia feito pouco mais do que realizar treinamentos obrigatórios e participar de reuniões em que o chamavam pelo nome errado.

Dá para imaginar como o emprego do Pablo era emocionante. A Bogus era uma empresa gigantesca, com mais de 30.000 funcionários no mundo inteiro. Tinha um setor de TI enorme também, embora não fosse muito valorizado dentro da empresa. Mas a empresa era grande e Pablo estava feliz, havia finalmente conseguido um emprego em uma organização de porte, depois de anos (OK, nem muitos anos assim) trabalhando para empresas pequenas. A Bogus era daquelas empresas que distribuem umas 5 camisetas promocionais por ano para os funcionários. Isso é coisa de empresa grande, sabe. Tão grande que de vez em quando tem que fazer campanha de marketing interno para os funcionários não esquecerem o nome da empresa. Assim era a Bogus. O Pablo mesmo já tinha ganhado uma camiseta em um mês de empresa. Nada mal para o guarda-roupa surrado de um pós-nerd.

Naquele dia, logo cedo, o gerente de Pablo chegou até a sua mesa. Rick era aparentemente um gerente legal, Pablo estava gostando de trabalhar com ele. “Pablo, podemos conversar um minuto?”. Foram para uma sala de reunião e Rick explicou a Pablo que algumas mudanças estavam acontecendo na empresa. Rick estava se desligando da Bogus e Pablo seria transferido para o setor de seguros de automóveis. Iria trabalhar com León a partir da próxima semana.

Pablo suou frio. Conhecia a reputação de León, uma figurinha carimbada no mercado. Havia ouvido todo tipo de comentários ruins a respeito dele. León era um dos funcionários mais experientes da empresa, e agora seria seu líder de projeto.

Ao voltar para a sua mesa, Pablo acessa seus e-mails e lê uma mensagem nova: “Preciso lhe passar umas tarefas atrasadas. Me encontre amanhã às 8:00 na minha mesa. Grato, León”.

Feliz primeiro mês de trabalho, Pablo.

* Continua na próxima sexta-feira.

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Sucesso do Fracassado

Mário tem um pequeno problema nas mãos – seus dedos não se formaram como deveriam. Sua mão esquerda tem dois dedos e sua mão direita, nenhum. Isso o impede de fazer muitas coisas. Mesmo tomar um café quente pode ser um problema se não estiver perto de sua caneca térmica, que o permite segurar com as duas mãos tranquilamente. Obviamente teve muita dificuldade na adolescência, sendo excluído do grupinho dos “legais”. Hoje vive bem. Possui um emprego de supervisor de um grande atacado e, depois de alguns relacionamentos frustrados, vive uma vida tranqüila e feliz. Não ganha o salário dos seus sonhos, mas está em paz consigo mesmo e vive muito bem, obrigado.

Régis nasceu com uma doença rara. Suas duas pernas são paralisadas e atrofiam mais e mais a cada dia. Ele sabe que um dia terá que amputa-las. Teve muita dificuldade quando adolescente, principalmente com as meninas, que tinham vergonha de ficar com ele. Mas isso desenvolveu em Régis uma inteligência emocional altíssima. Só de olhar para a pessoa ele sabe quem é boa índole e quem não é. Por essa mesma razão hoje é casado com Paula, uma mulher sensacional. É contador em uma multinacional, com um salário que lhe permite todo ano fazer o que mais gosta – passar todo o mês de fevereiro com sua esposa em Santa Catarina. Como não pode ter filhos, está pensando em adotar um menino pobre no próximo ano.

Alexandre nasceu com 4 quilos – um lindo garoto. Seus pais, de classe-média baixa, lhe ensinaram desde pequeno que com esforço se consegue tudo. Sempre fez bastante sucesso com as meninas, chegando a ter três namoradas ao mesmo tempo. E sempre trabalhou muito. Começou como estagiário em uma grande empresa de ferramentas. No turno da noite, o emprego de garçom lhe garantia o sustento necessário. Logo foi subindo de cargo na empresa de ferramentas a ponto de conseguir, depois de cinco anos, largar seu emprego de garçom à noite. Mas o turno da noite não ficou livre não. Aficcionado pelo sucesso, trabalhava de 12 a 14 horas por dia. Talvez por isso mesmo, a empresa lhe tenha dado o cargo de gerente de área – um cargo nunca nem imaginado para alguém oriundo de uma família tão humilde.

Um dia, em uma visita à filial de Florianópolis, passando pela praia da Daniela, Alexandre vê seu amigo de escola, Mário. Eles haviam estudado juntos o primeiro grau. Atreveu-se a parar.

- Mário, é você? Lembra de mim? Do colégio Ceará?

- Mas é claro. Você continua igual! Como estão as coisas? Esse é o meu amigo, o Régis. Na verdade estou veraneando na casa dele.

- Sente-se aí, fala Régis a Alexandre, apontando para uma cadeira vazia ao lado. Relaxe um pouco!

E pela primeira vez, em anos, Alexandre, sentindo-se acolhido e, claro, depois de algumas cervejas, começa a falar da sua trajetória e de quanto sentia falta de sair com amigos, de ter uma pessoa a quem se apoiar. Mário e Régis também compartilharam suas histórias de vida. Quando viram, a conversa tinha entrado noite adentro.

- Puxa, vocês dois têm problemas que poderiam impedi-los facilmente de ser feliz. Mas não, estão aí, vivendo a vida do jeito que ela deve ser vivida...

- Aí que você se engana, falou calmamente Régis. Eu e o Mário nascemos assim. Não temos como esconder os nossos problemas e tivemos que enfrentá-los. Os problemas mais difíceis da vida são aqueles que não vemos. Ou pior, que não queremos ver. A vida deve ser encarada como uma aventura. E certamente o emprego é um dos diversos meios para que isso ocorra. Só um meio.

Eu tenho orgulho de ter Régis e o Mário em meu círculo de amizades. Além de enfrentarem os problemas que possuem com grande destreza, são pessoas excelentes. Naquele dia, sem nem saberem disso, mudaram completamente a vida de Alexandre, que saiu daquela casa com um objetivo: sentir-se gente, como há tempos não se sentia.

Dr. Zambol
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