terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Grandes Executivos - Nem Tudo É Como Parece


O ano é 2010. O mês é Janeiro. Como em mais uma manhã eu acompanho as notícias no Twitter. Me chama a atenção uma notícia sobre a troca de executivos em uma grande empresa no Brasil.

Ah, os grandes executivos... Figuras fascinantes essas, não?

Aquele cara de meia-idade (sim leitoras, infelizmente a imagem que temos quase nunca inclui mulheres), paletó-e-gravata, cabelo bem acertado, barba bem-feita. Aquele sujeito que madruga cedo da manhã todo dia, toma um café da manhã saudável - ovos, torrada com geléia e suco de laranja, provavelmente, e parte para o escritório, onde com certeza ocupa uma cadeira de espaldar alto de couro em frente a uma escrivaninha de madeira de lei. Nem preciso falar da vista. Basta ao grande executivo girar suavemente o assento de sua real cadeira para deparar-se com um dia ensolarado iluminando um cenário como a 5a Avenida, a praia de Copacabana ou a Tower Bridge (sim, para um grande executivo mesmo Londres tem dias ensolarados).

Claro que antes de chegar efetivamente no escritório, o grande executivo já fez a sua dose de exercício diária. Êta gente saudável essa. Com certeza ele correu, porque o esporte dos grandes executivos é corrida. Executivo que não corre não é executivo. Quarenta minutos de corrida pela manhã, na academia do condomínio ou fora - aí fico em dúvida, mas não importa.

O dia de trabalho é longo, 10 horas é bobagem. A rotina é corrida, entre reuniões importantíssimas em longas salas acarpetadas e visitas a unidades de negócio e clientes. Me lembra a rotina de um membro de família real. Tudo muito importante, tudo parte de uma rotina fundamental para a corporação. No final de cada dia de trabalho, esse super-herói da vida no escritório volta para o seu lar, onde a sua linda família o espera para um suculento jantar. A esposa, os três filhos e os cachorros de raça. Claro, o grande executivo ainda encontra tempo para um cálice de vinho do Porto, uma baforada de charuto (não todo dia, pois faz mal) e uma leitura de alguma obra literária "cult" em sua biblioteca particular - à meia-luz, obviamente.

A cada final de mês o grande executivo recebe o seu gordo contra-cheque. Nada mais merecido afinal sua devoção à causa é total. Felizmente ele encontrará ao final de sua jornada - quando ainda estiver em plena forma física, uma pacata e merecida aposentadoria. Ele então aproveitará mais o tempo com a esposa e os filhos já crescidos, jogando golfe e tomando sol.

Dá ou não dá vontade de ser um grande executivo? O cara tem que se esforçar, mas a vida é boa. Ou não?

Corta para a realidade. O ano é 2010, o mês é Janeiro, e o grande executivo é Mário Anseloni, ex-presidente da HP Brasil. Como todo grande executivo, a sua saída de uma das maiores empresas de TI do Brasil e do mundo gera muito burburinho no mercado.

Até aí nada de novo. Eu aqui pensando se o Mário corre o quilômetro abaixo de 5:00'' ou não, pela idade dele, sei lá. Mas então me deparo com o site da revista Exame, onde os comentários para a reportagem que discorre sobre a saída dele da HP Brasil estão abertos ao público (link no final do post). Rá. Surpresa. Os ex-comandados de Mário parecem não ter esquecido dele, e enchem o site da revista com exclamações como "já vai tarde", ou "só chegou aqui porque era apadrinhado", e outros que-tais.

Um a um os balõezinhos imaginários que circundam a minha cabeça com a imagem de Mário, um grande executivo, vão estourando. Não o conheço e não tenho como dizer se os comentários a respeito dele são verdadeiros ou não. Mas a essa altura a imagem do grande executivo já está desfeita. Ele também é de carne e osso, também faz besteira, vai ver nem come pão com geléia no café da manhã - no máximo um Nescauzão. Vai ver nem corre na esteira pela manhã, deve ser adepto de uma pelada na quadra de salão da Igreja do bairro.

Corta para a realidade novamente. Tenho que parar com essa figuração sobre grandes executivos. Nem tudo é como parece.

Reggie, the Engineer.
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Leia a matéria no site da Revista Exame com os comentários sobre a saída de Mário Anseloni da HP do Brasil.