quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Analisando o Entrevistador

O Blackberry vibra no bolso de Roberta, psicóloga do RH. O visor lhe avisa que está na hora de mais uma entrevista para preencher a última vaga aberta no setor de Bolívar.

As duas últimas semanas foram cansativas. Diversas entrevistas para preencher 3 vagas abertas, sendo duas de programador e uma de gerente. As duas vagas de programação tiveram uma procura muito grande, mas os entrevistados em sua maioria não possuía os conhecimentos necessários. Somente após entrevistar mais de 20 candidatos é que finalmente haviam contratado dois excelentes técnicos.

Mas agora faltava a vaga de gerente – e essa parecia ser a mais difícil. Não devido ao conhecimento em si, mas devido ao próprio Bolívar, uma pessoa extremamente difícil de lidar. E esse novo gerente iria reportar para ele...

A reunião começa com as apresentações e perguntas de praxe. Roberta então começa finalmente com as perguntas que realmente interessam.

- Como você lida com disavenças em sua equipe? Você pode nos contar um exemplo real?

- Eu sempro tento conciliar. Por exemplo, certa vez, em um projeto com o governo Tailandês, boa parte da minha equipe acreditava que a melhor solução era fazer a solução em um projeto Web, em Java. Mas o líder e o arquiteto acreditavam que a melhor solução era um Smart Client em .NET. Isso estava causando muita confusão. O time estava completamente insatisfeito e dividido. Se não intervisse, certamente o projeto seria um fracasso.

- E o que você fez? Perguntou Roberta.

- Eu escolhi um representante de cada lado e dei 2 dias para cada um criar uma apresentação sobre os prós e contras de sua solução. Eles iriam apresentar a todo o time e, após as apresentações, iríamos fazer uma mesa redonda. Só havia uma regra: deveríamos nos focar no problema, não em paixões ou crenças sem base. E fui bem claro – disse que não aceitaria argumentos desse tipo.

- E como foi?

- Tudo ocorreu bem. No fim, realmente a melhor solução era Web, e o time todo concordou com isso.

Foi quando Bolívar começou a falar:

- Mas como você se deu ao luxo de esperar dois dias?

- Achei muito melhor fazer o planejamento bem, conitnuou o candidato, do que tomar uma decisão precipitada e ter que mudar tudo depois.

- E se eles nãochegassem a um consenso naquele dia?

- Eu queria a melhor solução, pois era um projeto que duraria 5 meses. Portanto, me daria ao luxo de esperar mais alguns dias.

A entrevista continuou, com perguntas comportamentais e técnicas. Na hora da revisão, o candidato deixa a sala e somente Roberta e Bolívar ficam na sala.

- Achei ele muito fraco. Não sabe se impor. Não quero ele, Roberta.

- Mas Bolívar, é o melhor candidato que encontramos até agora. E é muito qualificado. Quanto a não saber se impor, não concordo com o seu ponto. Ele fez uma análise de risco e tomou uma decisão.

- Mas não vai ser assim aqui. Ele não tem espaço na minha equipe.

Foi nesse ponto que Roberta percebeu que realmente Bolívar tinha razão. O candidato não se encaixava no time de Bolívar. Ele era bom demais para esse time. Na verdade, não sabia como Bolívar era gerente sênior: não tinha habilidade com pessoas e gerava muita confusão – algumas confusões em seu time tinham uma única saída: a demissão do funcionário. Que pena. Pena que ela não estava na hora que entrevistaram o Bolívar. Pena que tanta gente qualificada, precisando de emprego, sofresse na mão daquele gerente. Pena que Bolívar tinha tanta força com a diretoria. Pena que ela não tinha força nenhuma.

- Ok, vou marcar a próxima entrevista então, disse Roberta, olhando para baixo.

Quando viu a porta se fechar atrás de Bolívar, ligou para a empresa de recursos humanos que estava lhe enviando os currículos. Mas o objetivo da ligação era outro: ia pedir um novo emprego para ela. Estava cheia daquele ambiente.

Dr. Zambol.
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