quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Simplesmente Exausto...

A campainha tocou. Ele olhou no relógio. Eram 11:30. Tinha dormido as 9:30 devido a um problema em produção no sistema que comandava a esteira da fábrica de brinquedos onde trabalhava, uma multinacional gigante. Não acreditou que alguém estava tocando a campainha aquela hora.

Virou-se para o lado e dormiu novamente. Mas a campainha persistia em tocar. E cada vez um apito mais longo era ouvido.

Levantou-se ainda zonzo. Tinha trabalhado durante 30 horas seguidas e, quando finalmente conseguia chegar em casa e dormir um pouco, alguém o atrapalhava. Nem conseguia pensar direito.

Abriu a porta.

- Carlos. Que loucura! Que bobagem você fez? A fábrica está parada! Você sabe quantos brinquedos deixam de ser produzidos a cada hora nessa época de natal? 4 mil! Vão nos arrebentar!

- Bom dia para você também Bolívar!
Bolívar foi entrando na casa, mesmo sem ser convidado. Como um senhor feudal, olhou para o vassalo de cima para baixo e continuou.

- Que incompetência é essa? Você precisa voltar para lá e arrumar isso agora! Nossa empresa depende desse contrato de off-shore!

- Bolívar, quando saí de lá tudo estava funcionando. Os brinquedos estavam sendo enviados para a Fedex sem nenhum problema. E, na verdade, o que ocasionou a falha toda foi a queima do storage. O que houve agora?

- Não sei. Alguma coisa com o módulo de separação de caixas na esteira. Eles acham que pode ser conseqüência ainda da troca do SAN.

- Gostaria muito de ajudar. Mas não tenho condições de fazer alguma coisa agora. Estou esgotado mentalmente e nem consigo pensar normalmente. Além do mais, hoje à noite é a formatura do meu filho.

- Pode ir esquecendo a formatura, esse problema é sério.

- Porque você não colocou as duas pessoas a mais que lhe pedi há três meses atrás? Essa hora, como era meu plano, um da nossa equipe estaria monitorando e resolvendo o problema.

- Ahhh, bem, veja Carlos, trabalhamos com um budget muito apertado, não podia contratar mais ninguém. Mas isso não vem ao caso agora. Preciso que você volte lá agora!

Realmente, Carlos tinha sido deixado sozinho. Mesmo depois de insistentemente pedir duas pessoas na equipe, foi deixado sozinho cuidando do sistema mais crítico da companhia. Sabia que o contrato era milionário e que aquela história de budget apertado era balela pura. Tinha visto o contrato e sabia que o que queriam eram maximar os lucros da forma mais burra que existe. O resultado estava ali, na sua frente.

Carlos tinha um currículo impecável, com várias certificações em .NET e um conhecimento técnico de causar inveja a qualquer um. Com o mercado aquecido do jeito que estava, não tinha outra opção.

- Bolívar, vou pedir licença para dormir. Ligo para a fábrica antes de ir na formatura do meu filho, logo depois de me acordar para ver o que posso fazer. Peço que você saia agora. Estou muito cansado.

- Não estou acreditando nisso! Se você não sair desse apartamento agora, você não precisa ligar mais, pois não terá mais emprego depois que acordar.

- Que assim seja.

Fechou a porta. Voltou para cama ainda meio zonzo. Sorriu. O que não tinha tido coragem de fazer há meses foi a única solução. Graças a Deus tinha passado por aquilo hoje para que tivesse certeza que, sim, precisava procurar uma empresa moderna para se trabalhar. Pensou na Semco. Por que não? Anotou no caderno para ligar para as empresas do Semler no dia seguinte.

- Vida nova!

Virou-se e dormiu. Seu filho precisava dele inteiro naquele dia.

Dr. Zambol

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