quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Suba o Morro às Vezes

Quando você pára o carro para trocar os pneus, você não espera que o mecânico “dê uma olhadinha” no seu ar-condicionado; nem que verifique se o filtro de combustível está limpo. O que você espera é que ele troque os pneus e pronto.

Hoje em dia, no estágio em que os serviços estão, praticamente inexiste o “faz-tudo” – aquela eletrônica que conserta televisão de tubo (CRT), televisão de Plasma, iPod, batedeiras e, quem sabe, até aquele aspirador de pó velho que não funciona há mais de um ano. Os estabelecimentos desse tipo que existiam acabaram percebendo que não conseguiam fazer todo o serviço com uma qualidade boa. Alguns ainda tentaram uma sobre-vida, mas nós mesmos (os usuários desse serviço) ficamos extremamente desconfiados de lugares assim e os abondonamos. Sem público, eles fecharam. Praticamente não existem mais...

O que venho falar nesse post hoje é que percebo que essa mentalidade inundou todas as organizações e todas as pessoas de tal forma que, mesmo quando um generalista ainda faz todo o sentido hoje, temos um grande problema em encontrá-lo. Temos um problema de mentalidade.

No mundo da informática, não espero que o gerente seja um generalista – ele deve ser a pessoa que dirige aquele setor (e suas aplicações) e que construa planos de melhoria em relação ao retorno para o negócio. Por assim dizer, ele deveria se “especializar” nessa abordagem.

O generalista no mundo de TI hoje deveria ser o arquiteto de sistemas. O grande problema, ao meu ver, é que mesmo os arquitetos sentem-se mal em ser generalistas e tentam se especializar em alguma coisa.

- Veja bem, Sr. Gerente, sou um arquiteto Java, especializado em WebSphere e MQ. Além do mais, não entendo muito da estratégia de negócio relacionada a esse sistema.

Ora, isso não é um arquiteto! No máximo, é um desenvolvedor pleno, e olhe lá!

O problema é que o arquiteto real, aquele que entende do negócio da sua aplicação e busca construir o melhor framework baseado em suas interligações e no plano de crescimento tanto do sistema quanto da empresa, está em extinção. E não estou falando apenas do arquiteto técnico, estou falando dos três níveis de arquiteto que uma empresa pode ter (arquiteto de projeto, arquiteto de aplicação e Enterprise Architect).

Com a extinção de verdadeiros arquitetos, sobra ao gerente fazer esse papel. Ele é que deve subir no morro e olhar as aplicações e o negócio de cima para definir o que deve ser construído. Mas é aí que mora o problema: os gerentes e diretores estão se mostrando mais e mais incompetentes nessa área, seja por falta de tempo ou por falta de habilidade técnica. Geralmente, no meio do morro, visualizando apenas 10% do que deveriam ver, acabam caindo e, muitas vezes, por medo, nunca mais voltam lá.

Infelizmente, a culpa é da gerência. Se não conseguem fazer isso, devem setar o rumo certo e treinar novos arquitetos, provavelmente provenientes do seu time de desenvolvimento. Ou, se a empresa é pequena demais para isso, devem subir eles mesmo ao topo do morro e visualizar o que está ocorrendo, nem que seja ao custo de repriorização e delegação de outras tarefas.

Se ninguém fizer isso, a área de TI vai ficar cada vez mais complicada e, com certeza, cada vez mais estressante.

Dr. Zambol
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