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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Suportanto o Suporte - Reedição

Como estou de férias nessa e na próxima semana, reedito para vocês um texto bastante antigo, do início do nosso blog, que gosto muito. Fala sobre o suporte e a qualidade de vida.

Espero  que gostem.

Dr. Zambol
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Era o dia de seu casamento. Nerdito Sofrenildo estava bastante feliz. Agitado, mas feliz. De origem humilde, teve que se desenvolver por conta própria. Aos 17 anos já programava em Pascal. Aos 25 tinha um emprego como desenvolvedor em uma grande empresa em Porto Alegre.

Quando conheceu Delphi, aos 34 anos de idade, sua vida mudou. OO era o máximo para ele. Sabia de cor todos os patterns do GoF e do Martin Fowler. Para completar, no mesmo ano conheceu Adabasa, sua noiva atual. Algo lhe tocou fundo quando ouviu seu nome.

Mas a vida de Nerdito nunca foi fácil e ainda estava como desenvolvedor pleno em uma empresa de médio porte em Porto Alegre, mesmo com os seus 40 anos de idade e mais de 20 anos de experiência em TI.

Mas desculpe-me, fugi do tema central desse Post – seu casamento. Lá estava ele, a 3 horas do casamento, já com Smoking prontinho quando o celular toca. O visor mostra 000. Ele está acostumado com isso. Deve ser de Portugal.

Quando desliga o celular, fica preocupado. O problema no software que ele cuida está fazendo um super-mercado inteiro ficar parado. Ele é o único que entende dessa parte. Apavorado, não sabe o que faz. O SLA (Service Level Agreement) é de 10 minutos para começar a trabalhar em problemas críticos como esse.

Uma cãibra estomacal lhe toma repentinamente. Sabe que é uma decisão difícil, mas tem consciência que precisa desse emprego para viver. Larga tudo e vai para a empresa. O bug é mais complexo do que acreditava inicialmente e o faz ficar em conferência com Portugal durante 5 horas.

Quando desliga o telefone, verifica que há 27 ligações não atendidas. Liga para sua noiva. Em prantos, ela diz que tudo está acabado. Ele não entende o porquê – estava apenas fazendo o seu trabalho.

Parece brincadeira, mas histórias como essa são comuns hoje em dia (não no dia do casamento, é claro). Alguns perdem o sono atendendo chamados em plena madrugada. Outros, no momento que estão prontos para viajar no fim-de-semana, recebem uma ligação e precisam cancelar tudo. Parece que nossa área está mais vivendo para trabalhar do que trabalhando para viver. Falo isso com propriedade, acreditem. Além dos meus chamados, sou às vezes acordado pelos chamados da minha namorada – que também é responsável por uma área de informática em uma grande empresa de Porto Alegre.

Há uns 5 anos atrás, quando proferi uma palestra na ULBRA para uma turma de fonoaudiologia, uma psicóloga já me indicava: “A qualidade de vida em TI está diminuindo a cada dia”. Essa frase hoje não pára de martelar em minha cabeça, pois preciso fazer que todos do meu time se sintam confortável com suporte.

Será possível? Será que não extrapolamos o limite? Será que perdemos a consciência que o trabalho é apenas um meio e como assim ele deve ser tratado?

O que sei é que, como gerentes de pessoas, é mais do que nosso dever - nossa obrigação como seres humanos - prezar pela qualidade de vida de cada funcionário. E acreditem – é muito fácil falhar nesse sentido e sobrecarregar desumanamente alguém.

Pobre Nerdito – no dia de suporte, não teve suporte de ninguém....

Dr. Zambol
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Uma Hora por Dia

De vez em quando isso acontece. Uma pessoa, aparentemente sem muito esforço, fica milionária. Mark Frind é uma dessas pessoas.

Depois de sair da escola técnica, em 1999, foi trabalhar em uma loja on-line. Com a bolha ponto-com, passou de emprego a emprego, trabalhando em diversas start-ups que não deram certo. Na maior parte de 2002, ficou desempregado – e preocupado.

Em seu tempo livre começou a trabalhar por pura diversão em um algoritmo para encontrar números primos em progressão aritmética – um velho problema matemático que necessita de muita computação. Em 2002 concluiu seu hobby, encontrando 23 números primos – a maior seqüência jamais encontrada. Foi citado em diversos artigos e ganhou um prêmio.

Em 2003, preocupado em perder novamente seu emprego em mais uma start-up prestes a fracassar, decidiu que precisava dominar ASP .NET. Para fazer isso, tinnha que encontrar algo que fosse desafiante o suficiente. Foi assim que nasceu o Plenty of Fish, um site de relacionamentos.

Hoje, seu site é o maior site on-line de relacionamento – como também um dos sites com mais pageviews do mundo – 1,6 bilhões por mês. O maior fator de sucesso do site é seu algoritmo, que permite casar pessoas com similaridades com uma exatidão bem grande. Além disso, é totalmente gratuito.

Sua equipe cresceu muito. Está com três pessoas. Ano passado, ainda era só ele. Fatura atualmente 10 milhões de dólares ao ano, com uma margem de lucro maior do que 50%. Hoje em dia trabalha em torno de uma hora por dia. Diz que, nesse tempo, consegue fazer tudo o que é necessário. No restante do tempo, passeia com a namorada e tira algumas sonecas.

Quem o vê hoje, pode até pensar que ele chegou lá por pura sorte, pois realmente Mark é uma pessoa simples e se dá ao luxo de trabalhar apenas poucas horas por semana.

Mas não se engane com as aparências. Nada vem de graça – nem o privilégio de trabalhar apenas uma hora por dia.

Dr. Zambol
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Líder Especialista

Interessante como às vezes a gente sabe de uma coisa há muito tempo, mas precisa de um beliscão, um estalo, para ter consciência daquilo.

Outro dia estava conversando com um executivo amigo meu sobre a crise, o futuro próximo, carreira, etc. E em um momento da conversa ele me garantiu que, em geral, os profissionais altamente especializados vão estar em posição privilegiada quando a economia começar a se recuperar. O que ele me explicou a seguir fez todo o sentido para mim e na verdade eu percebi que eu não só concordava com aquilo mas havia baseado boa parte do meu plano de carreira em premissas nesse sentido.

Basicamente estávamos conversando sobre caminhos de carreira que levam a uma posição executiva, e concordamos que o modelo parece estar mudando. O mais normal até um tempo atrás era um aspirante a executivo rodar pelos mais diversos departamentos de uma empresa até ter experiência e amplitude de conhecimento do negócio suficiente para galgar um cargo de chefia. Uma vez alcançada uma posição gerencial, deveria-se então aumentar o escopo de trabalho, o que frequentemente envolvia novas trocas de funções (de vendas para marketing, por exemplo), trocas de local (transferir-se da filial regional para a matriz) ou mesmo trocas de indústria (de bens duráveis para serviços). Tudo isso na ambição de tornar-se um gerente de uma unidade de negócio ao invés de um simples gerente de pessoas, ou gerente de 'gerentes'. Daí para a frente, o céu é o limite.

Mas o mundo está mudando, e com certeza essas posições executivas hoje envolvem mais responsabilidade e mais risco, principalmente. Hoje as mudanças de cenário acontecem muito rapidamente e demandam um conhecimento específico cada vez maior dos líderes. Apenas boa capacidade gerencial e liderança podem não ser o bastante. O líder generalista está dando lugar ao líder especialista. A idéia é que um maior conhecimento específico sobre uma determinada área de negócio propicia uma capacidade de julgamento mais apurada, e um entendimento maior do que pode ou não dar certo.

Hoje, a maioria dos departamentos de RH (das grandes empresas, pelo menos) têm métricas para identificar os profissionais de alto potencial. E imagino que identificar um profissional de alto potencial normalmente tem a ver com identificar aqueles que têm lastro para serem promovidos (funcionalmente falando) no mínimo uns 2 níveis. O que provavelmente vai mudar nessa história é que esses departamentos de RH vão precisar manter no radar também os melhores especialistas dentro da empresa. Quem são as pessoas que mais entendem do negócio, nos mais variados departamentos. São os 'experts'. E esses caras vão começar a brigar de igual para igual por posições de liderança com todos os outros gerentes senior.

Portanto, nesses tempos de crise, aproveite para pensar no que você é especialista. Qual área da sua indústria você domina como ninguém mais. E invista nisso. O tempo para movimentações para a área gerencial baseadas puramente na 'inércia' podem estar acabando.

Reggie, the Engineer.
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As Pessoas e o Futuro

É muito interessante como a economia mundial anda em círculos. Em novembro de 2001, na edição 1726 da veja, Stephen Kanitz publicou uma história muito interessante que aconteceu durante o seu MBA em Harvard.

Ele conta que durante uma das aulas, o cenário apresentado era o seguinte:  você, um diretor de uma fábrica de geladeiras com boas expectativas de crescimento decide duplicar a fábrica. No meio da construção da nova planta economistas americanos prevêem uma recessão. Para evitar o pior, a diretoria decide cortar os gastos em 20 milhões de dólares, sendo sua missão determinar onde e como isso deve ocorrer.

Após ser chamado para dar uma parecer inicial, um dos alunos começa relatando que primeiramente mandaria embora 620 funcionários não-essenciais, economizando 12 milhões de dólares. Também postergaria os gastos com publicidade e 95% dos gastos em projetos sociais, com a visão de que se deve pensar primeiramente na sobrevivência da própria empresa antes de se pensar em projetos sociais.

Após a exposição o professor olhou para o aluno e gritou:
- Levante-se s saia da sala.
- Desculpe professor, eu não entendi, disse ele meio aflito.
- Eu disse para sair desta sala e nunca mais voltar. Eu disse: PARA FORA! Nunca mais ponha os pés aqui em Harvard.

Todos os alunos ficaram bastante surpresos e assustados. Entretanto, antes do aluno sair da sala, o professor fez seu último comentário:

-Agora vocês sabem o que é ser demitido. Ser demitido sem mostrar nenhuma deficiência ou incompetência, mas simplesmente porque um bando de prima-donas em Washington meteu medo em todo mundo. Nunca mais na vida demitam funcionários como primeira opção. Demitir gente é sempre a última alternativa.

A história de Kanitz é muito interessante não somente pelo conteúdo, mas porque acabamos nos esquecendo facilmente disso.

A maior lição que tiro quando leio essa história, que como mencionei anteriormente está na veja de novembro de 2001 (mais de 7 anos atrás) é que a história se repete muitas vezes e parece que nunca aprendemos com ela. Estamos no meio de uma grande crise agora – mas não será a primeira nem a última, muito menos a pior. Quem faz a empresa funcionar são as pessoas e por isso são o maior valor de uma empresa. Realmente, pensar em demissão como primeira opção pode ser um grande tiro no pé. Aliás, se existiam tantos funcionários “não-essenciais” porque não foi enxugado antes então? Será que só pensamos em empresa ágil quando estamos com a corda no pescoço?

Outro ponto muito importante a se considerar e se ter em mente é que “Previsões são Apenas Previsões”. E uma outra história ilustra muito bem isso.

Na segunda guerra mundial, o economista americano Kenneth Arrow (um dos fundadores da teoria econômica neo-clássica e que ganharia o prêmio Nobel em 1972) liderou um grupo de pesquisadores cuja missão era realizar previsões meteorológicas, que serviriam como base para decisões estratégicas em relação a movimentação de tropas em campos de batalha. Como as previsões meteorológicas daquele tempo tinham um grau de acerto muito baixo, muitos
 pesquisadores do grupo questionaram a razão de enviá-las, pois tinham praticamente o mesmo valor de qualquer outro chute. A resposta do comando-geral foi clara: “eu sei que as previsões estão longe de serem exatas e contêm muitos dados errados, mas temos que continuar recebendo-as apenas para fins de planejamento”.

O que está acontecendo, entretanto, é que as previsões do mercado ou até mesmo boatos estão sendo usados por nós mesmos para planejar quando trocar de emprego ou até mesmo quando ter um filho – decisões essenciais para nossa vida. Será que estamos usando os dados de forma correta? Será que não deveríamos utilizar essas informações apenas para planejamento e não parar nossa vida devido a elas? Afinal, quantas previsões erradas já vivenciamos? Não comprar um novo carro agora talvez seja uma decisão que certamente possa ser baseada em previsões desse tipo, mas o limite talvez seja bem próximo disso...

Se pensarmos bem, temos apenas uma vida para viver. Se nos perdermos no gigantesco volume de informações que escutamos todos os dias, estaremos apenas seguindo um script pré-determinado e não escrevendo nosso próprio.

E uma coisa é certa: grandes pessoas escrevem grandes roteiros de vida, geralmente completamente diferente da média da população – que apenas seguiu a maré ou imitou o que vizinho ao lado fez.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Call Center dos Infernos

Você já experimentou ir ao McDonald's e pedir um Big Mac sem cebola? Faça o teste. Essa experiência ilustra como grandes empresas tratam exceções aos seus processos. O que irá acontecer é que, depois de 20 minutos de espera, você receberá um Big Mac parcialmente esbugalhado. Como o processo de elaboração não prevê a criação de um sanduíche sem cebola ele foi feito com cebola, que foi removida no final do processo.

Vivi uma odisséia kafkaniana em função de um problema parecido. Tentava transferir minha assinatura da NET de Porto Alegre para Curitiba. Impossível, transferência de estado é algo que não existe para a NET. Pensei até em descrever os detalhes dessa epopéia Dantesca em um post mas desisti ao constatar que teria que criar um blog só para isso. Algo como www.InfernoéaNET.com.br. Aposto que teria mais assinantes do que a Tribo do Mouse.

Pois bem, depois de muito tempo de espera nos call centers, repetir a mesma história centenas de vezes, vários tipos de atendentes, estúpidos e prestativos, estúpidos não prestativos(honestamente já não sei o que é pior). Estava a ponto de desistir quando, em uma conversa de bar, a solução apareceu. Um colega comentava dos problemas enfrentados pela área de operações da sua empresa e na sua explanação a culpa toda era do pessoal do Comercial. 
- Jack, você sabe como é, o Comercial vende sem saber se a gente tem condições de entregar e o problema estoura onde? Na área de operações, que não ganha por comissão e tem que pagar o pato do cliente insatisfeito, a quem foi prometido o impossível.
Eureka! Craqueei o Código de Da Vinci!

Ainda com o álcool na cabeça entrei no site da NET na opção "Novo Assinante" e solicitei o serviço para Curitiba. Em menos de 24hs estava surfando na web e assistindo ao Cartoon Network em casa. Na semana seguinte tratei de cancelar o serviço de Porto Alegre que já estava suspenso e a multa de cancelamento não foi cobrada pois, afinal, eu continuava assinante. 

Por que cargas d'água eu continuei com a NET depois desse sofrimento todo? Sou um rato! E me envergonho disso.
O atendimento deles é horrível, me tratam como lixo, mas custa a metade de qualquer solução Tripe-Play(Internet, fone e TV a cabo) do mercado. Isso me leva seguinte conclusão: se uma empresa tem um diferencial de preço tão competitivo assim ela pode se dar ao luxo de tratar o cliente como lixo.

Em tempo, estive visitando essa semana uma das empresas que presta serviço de Call Center para a NET. Não me contive e bati a foto ao lado do aviso estampado no banheiro. Convenhamos, tem alguma coisa errada com a sua empresa quando você precisa lembrar os funcionários que não se deve mijar no chão. 

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Executivo

Esses dias, em uma conferência numa cidadezinha perto de Londres, estive há 4 metros de um grande executivo. Já havia o escutado diversas vezes em vídeos da Internet ou pela TV, mas nunca estivera tão perto...

Sabendo que o “salário” dele girava em torno dos 10 a 15 milhões de dólares anuais, fiquei pensando o que seria necessário para ser aquele executivo e como ele havia chegado lá. Estaria eu andando lento com minha carreira já que ainda estou a milhares de quilômetros de uma posição parecida? Quais as chances de conseguir isso? Gostaria eu de estar lá?

Vou começar pela última pergunta, pois me parece a mais fácil de ser respondida.

Muitas pessoas, talvez para se contentarem com a posição que hoje ocupam, preferem minimalizar e dizer coisas como “essas pessoas são muito estressadas”, “elas têm muita responsabilidade e isso as torna infelizes”, “elas ganham tanto dinheiro que esquecem a família e os amigos” ou “elas não dormem direito”.

Para mim, independentemente das frases acima conterem alguns valores dignos de consideração, é uma análise muito superficial para qualquer tomada de decisão. Ora, qualquer um de nós possui responsabilidades diárias. Quem já chegou a líder de time, gerente ou diretor, sabe que a sua cabeça está a perigo e que os seus próprios atos definirão o seu futuro. Se você tomar uma decisão errada e deixar uma área inteira de uma fábrica parada, você sofrerá as conseqüências cabíveis por aquela decisão equivocada. Depois de alcançar um certo nível de responsabilidade, essa verdade se torna muito marcante e presente no dia-a-dia. Se você for capaz de executar aquela função bem, não vejo nenhum problema.

Quanto a trabalhar demais na posição de executivo, não sejamos ingênuos. Conheço alguns garçons que trabalham dia-e-noite incansavelmente, provavelmente muito mais horas do que eu. Também conheço bons programadores que certamente trabalham mais do que aquele executivo. Não é a posição que define o quanto você irá trabalhar ou se estressar, mas a empresa, a forma que você encara o trabalho e a vida, e o quão preparado você já está para desempenhar aquela posição.

Pensando nesses termos, minha resposta é: sim, quero ser aquele executivo, pois me considero capaz de fazer mais coisas do que faço hoje e embora saiba que terei mais responsabilidades, sei que vou ter mais pessoas me apoiando para que as coisas aconteçam. Talvez não aceitasse essa posição hoje, pois teria que trabalhar 18 horas por dia para entender as coisas que não estou acostumado a fazer hoje, e mesmo assim talvez tomasse decisões erradas que poderiam levar à minha demissão. Talvez tenha que subir ainda um nível político para estar preparado para tal desafio, mas certamente quero chegar lá.

Virando o pensamento para saber se estou parado na carreira porque estou a milhares de quilômetros de distância dele, alguns pontos são dignos de consideração. Algumas dessas carreiras de super-executivos começam cedo, depois de saírem de faculdades bastante conhecidas e de terem uma carreira brilhante no início, logo estão alocados como diretores. Se pegam uma empresa que está crescendo bastante, mais rápido então conseguem crescer. No fim, como tudo na vida, é uma questão de oportunidade: oportunidade de ter nascido numa família com dinheiro o bastante para bancar os estudos em universidades famosas (ou conseguir uma das poucas e concorridas bolsas de estudos), oportunidade de estar em um mercado que cresce rápido, etc.

Ora, a análise deve levar em conta todo o contexto da minha vida até agora e, honestamente, considerando a minha idade, o local onde nasci, as oportunidades que tive até agora e as escolhas que fiz em minha vida, estou tranqüilo em dizer que não estou muito atrás da minha expectativa. Sim, gostaria de estar um nível acima do que estou agora, mas o mais importante é que já estou trabalhando para isso e sei onde devo melhorar, o que fazer e quais meus timelines.

E você? Já fez a análise de onde você quer chegar, o que falta para alcancçar o próximo passo e a data limite para isso?

Afinal, isso é o que importa. Mortais só conseguem trilhar um passo de cada vez.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

7 Flechas

Era o que dizia na entrada do beco. "7 Flechas", seguido de uma seta, que bem podia ser uma flecha. Nada promissor, pensou Diego, mas, contrariando todas as suas convicções, havia chegado até aqui. Era um homem desesperado. O terreiro ficava dentro de um barracão, com o interior ainda pior que o lado de fora. Lá dentro sentiu um cheiro forte de esterco de galinha e alguma coisa cozinhando, que não conseguiu identificar bem. Havia marcado uma hora com Seu Casemiro, e foi encaminhado até ele, pontualmente às 22hs.
A despeito de todos os estereótipos Seu Casemiro não era um afro-brasileiro. Seus olhos azuis e os cabelos brancos, outrora loiros, denotavam uma descendência Italiana ou Germânica. Porém, seu jeito de falar era característico de um bom Pai-de-Santo:
- Sunsê pode se sentar.
Diego sentou no banquinho desconfortável em frente ao velho mandingueiro.
- Sunsê está aqui por conta de mulher, quer ajuda no amor não é?
Mau começo, por que ele não fica quieto e pergunta qual o meu problema? Assim nos poupa o constrangimento.
- Na verdade não.
- Hmm, então é por causa do Jogo. Veio pedir para eu ajudar a fazer o seu irmão parar de Jogar.
Só se for para fazer o meu irmão parar de jogar futebol. Ele está acabando com a zaga do nosso time na pelada do fim de semana. Até que não é má idéia, mas não estou aqui para isso hoje.
- Não, hoje não.
- Intão o problema é com trabalho.
Finalmente, na terceira tentativa. Assim até eu acerto. 
- Pois é Pai Casemiro, o meu problema é com o meu chefe. Adoro a empresa que trabalho, adoro o que faço, mas nos últimos seis meses esse novo chefe tem tornado a minha vida um inferno. Já tentei de tudo, fazer o que ele pede, conversar, consultar com o RH, mas não tem saída. Ele simplesmente não é uma pessoa racional. Estou desesperado.
- Hmm, misefê quer que a gente feche os caminhos dele?
- Fechar talvez não seja a palavra certa, será que o Sr. consegue só dar uma obstruída? Na verdade o melhor mesmo seria fazer com que ele siga o seu caminho, o mais longe possível do meu.
- Intindi. Bom, a gente trabalha aqui com seguinte escala:
Então o velho deixou por um momento o sotaque de lado e encarnou o melhor dos vendedores.
- Alimentos não perecíveis são para trabalhos pequenos, tipo pipoca e cachaça. Para trabalhos médios o indicado são animais de duas patas, o mais comum é o uso de galinhas, mas podemos usar patos ou até gansos conforme o caso. E, finalmente, trabalhos fortes, o melhor mesmo são animais de quatro patas, que variam de cabrito a bezerro, dependendo da necessidade.
Diego levou menos de um segundo para tomar a decisão.
- Pois é, acho que não é hora de economizar. Vamos tocar com o bezerro então.
- Misefê fez uma boa escolha. Vamos jogar o caminho desse sujeito para bem longe do seu.
Ele deixou o local desconfiado, não acreditava em mandinga, mas já estava sem opções e, afinal, mal não podia fazer. Passou próximas semanas na ansiedade de que algo acontecesse, chegou a cogitar fazer uma ligação para o Seu Casemiro e pedir o dinheiro de volta, mas preferiu não se indispor com um pai-de-santo. Foi quando um colega lhe abordou no cafezinho, com o maior sorriso do mundo:
- E aí, você já soube do Rubens?
O coração de Diego palpitou e foi difícil esconder a ansiedade quando ele fez a pergunta:
- Não soube. O que aconteceu? Ele foi demitido?
- Que nada, está sendo transferido. Vai ser o novo diretor da nossa filial em Nova York. Casa e despesas pela empresa, e ainda ganhando em dólar. O mais estranho foi como tudo aconteceu. Parece que ele estava concorrendo ao cargo com outros dois candidatos, mas que era o azarão. No final do processo um dos candidatos sofreu um ataque cardíaco e o outro foi descartado porque teve uma discussão sem sentido com o presidente. Que loucura né?
- Loucura...
Diego estava perplexo, sentindo um misto de alívio e indignação.
Maldito velho mandingueiro! 
Realmente, com trabalho de animal de quatro patas não se brinca. 

[]s
Jack DelaVega

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Trabalhando de Casa

Finalmente me levanto da cama após bater no despertador umas 3 vezes. Segunda-feira é fogo... Abro a janela do quarto e me deparo com uma paisagem predominantemente branca. "Droga, a previsão do tempo acertou", penso. Não neva forte, mas imagino que o suficiente para fazer uma bagunça.

Tomo banho, me arrumo rápido, dou mais uma olhada pela sacada. Agora a neve é um pouco mais forte. Abro a janela e saio na rua para sentir o "clima". É, não dá. Hoje o negócio vai ser trabalhar de casa.

Eu não tenho carro, as coisas aqui funcionam de maneira diferente. Me desloco basicamente usando a minha bicicleta, transporte público ou andando à pé mesmo. Por isso, sempre que o tempo não está muito amigável, acabo optando por trabalhar de casa (mesmo que tempo "amigável" na Irlanda tenha uma conotação completamente diferente do Brasil).

Ligo o laptop, consulto minha agenda. Tenho bastante tempo durante a manhã, primeira reunião somente às 11:00 e as principais tarefas já iniciadas na sexta-feira. Tomo então um café da manhã decente (já tinha tomado aquele "meia-boca" antes de decidir trabalhar de casa), ligo a TV na BBC e sento para ler os emails.

Às 10:30, com um pouco de tempo livre, resolvo dar uma caminhada. O lado ruim de trabalhar de casa é que você não sai de casa. Saio a caminhar na neve fofa que se acumula nas calçadas. As ruas estão desertas. Caminho durante uns 10 minutos e volto para casa.

Confiro o número que tenho que discar para entrar na reunião (não me lembro qual foi a última vez que fiz uma reunião em uma "sala de reuniões" propriamente dita). Por sorte, essa conferência tem um número gratuito para Dublin. Pego o celular e digito o número. Integrantes da minha equipe espalhados pela Índia, Reino Unido, França e Irlanda debatem um plano de ação para a semana. Em 25 minutos estamos prontos.

Hora do almoço. Agora o escritório faz realmente falta. Cozinhar o próprio almoço é definitivamente uma coisa que não estou acostumado a fazer durante a semana. Perco tempo escolhendo coisas na geladeira e efetivamente cozinhando. Seria muito mais fácil ter dado um pulo na cafeteria para pegar aquele sanduíche de galinha com bacon, mas nem tudo são flores.

Depois do almoço, preciso urgentemente conversar com um cara nos Estados Unidos. Procuro o número dele, mas não tenho o celular, apenas o ramal interno do escritório. Hora de apelar: disparo um software no laptop que me conecta ao meu ramal da empresa. Dali, posso discar qualquer número, como se estivesse sentado em minha mesa. Falo com ele e em 5 minutos resolvemos a situação.

São 4 da tarde e meu celular toca. É o meu gerente, preocupado com o planejamento do projeto que estamos iniciando. Comento sobre o mau tempo e ele diz que em Londres está a mesma coisa, neve para todo lado. Ele me diz que semana que vem estará na Irlanda. Já não é sem tempo, fazem 4 meses que não nos vemos.

O dia já vai escuro lá fora, e não me resta mais nada para fazer. Ligo para minha esposa e combino de encontrar ela na esquina quando estiver chegando. Preciso sair de casa mais uma vez. Odeio passar o dia todo infurnado em casa.

Trabalhar de casa é bom. As maravilhas do trabalho intelectual são... uma maravilha. Mas acho que nunca estamos satisfeitos. Nunca.

Reggie, the Engineer.
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