sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Vida de Pablo - Capítulo 3

Capítulo anterior disponível em: http://www.tribodomouse.com.br/2007/09/vida-de-pablo-captulo-2.html

Aquilo tinha sido demais. “Micro-management” era algo que Pablo já estava até esquecendo que existia. Mas León, além de ser grosseiro, arrogante e aparentemente não ter conhecimento técnico suficiente para ser líder de projeto na Bogus, agora ia micro-gerenciar as tarefas da equipe. Aí já era demais.

Pablo tinha perdido 10 minutos para se livrar das perguntas de León a respeito da situação das tarefas e detalhes da implementação, e não faziam nem 2 horas que ele havia lhe passado o trabalho. Isso era ridículo.

Uma semana mais tarde, Pablo estava perto de finalizar o trabalho. Era apenas quarta-feira e o prazo final era sexta-feira, portanto haveria tempo suficiente para revisar e garantir que tudo estava certo, e ainda por cima para tomar uns cafés na cozinha e fazer umas fofocas. Pablo havia se virado com León na base do “enrolation”, ou melhor dizendo, devido à sua boa capacidade de comunicação. Aliás, essa cena é comum: o pseudo-gerente-supervisor-lead-ou-seja-lá-o-que-for faz de conta que está cobrando o time e mantendo todos na linha, e os membros da equipe fazem de conta que reportam status corretamente e que suas tarefas ocupam realmente a quantidade de tempo esperada. É uma coisa fantástica, um jogo de faz-de-conta em que um é mais cara-de-pau do que o outro. Mas ninguém põe fim ao jogo, é uma regra tácita e o mais júnior dos funcionários aprende ela em segundos. Pablo odiava esse tipo de situação imatura, mas tinha que jogar o jogo por força do ambiente.

Aliás, por falar em força do ambiente, àquela altura Pablo já havia identificado direitinho algumas figuras clássicas dentro da equipe. O Jones era o incendiário. Xingava a empresa e os superiores constantemente. Fazia fofoca de todo mundo, era preciso ter cuidado com ele. Dizia toda semana que estava procurando coisa melhor para ele, que não ia ficar em uma empresa dessas muito tempo. Mas já estava ali faziam 5 anos. Ele mesmo havia motivado muita gente a sair com aquele papo todo. Mas Jones virava um gatinho na frente da gerência. Fazia elogios, comentários construtivos, era interessado nas reuniões de time. Depois, só entre nós, era puro veneno. Que figura.

A Jocasta era o pavão do time. Estava sempre falando dela mesmo e de como ela já tinha feito isso na vida, de como já tinha estudado aquilo, de como tinha experiência. Na hora de fazer mesmo, de colocar a mão na massa, passava o trabalho para os outros. Era boa mesmo no Powerpoint, embora seu inglês fosse meia-boca-de-baixo. Mas ela tinha estudado em Londres, tá? Nem preciso dizer quem era a queridinha dos gerentes...

Naquela sexta-feira, dia da entrega de sua tarefa, Pablo estava um pouco cheio daquele ambiente e resolveu que ia fazer alguma coisa. Procurou Victor, seu gerente desde a saída de Rick (e também gerente de León) e pediu para conversar a sós. Victor concordou e marcou uma conversa para às 10:00, depois da reunião de time.

Pablo começou a montar sua estratégia: “na reunião de time eu apresento a minha tarefa pronta, mostro o meu bom trabalho e preparo o terreno para a conversa com o Victor, daí meto a boca no trombone e mostro que posso contribuir em escopo maior”.

“É a minha chance”, pensou Pablo, confiante.

* Confira o capítulo final na próxima sexta-feira.

Reggie, the Engineer.
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