segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Trabalho Duro

Às duas e quinze da tarde ele voltou para o escritório, mas não bateu o ponto. Cabelo molhado, olhar cansado, sorriso nos lábios. O almoço tinha sido bom.

A maioria das empresas de TI não cobra ponto dos funcionários, porque, tipicamente, todo mundo da área trabalha feito condenados. Bater ponto é justamente o sonho da maioria desses profissionais, já imaginou ganhar hora-extra? Mas naquela empresa era diferente. Diziam que ainda não havia se adaptado aos novos tempos. Mas o fato é que os funcionários, em sua grande maioria, batiam ponto. No caso dele, em relação ao atraso de hoje, iria dizer para o chefe que esqueceu o crachá em casa.

Sentou em sua mesa, destravou a estação. O código estava lá esperando, implacável.

Muitas pessoas acham que programação é uma coisa difícil. Para ele não era. Difícil mesmo devia ser Advogado, ganhar a vida enrolando os outros, ou Dermatologista, só de pensar em um pé cheio fungos tinha vontade de vomitar.

Estava colocando os fones de ouvido para começar a trabalhar, mas antes olhou no relógio. Duas e Meia, hora do cafezinho. Ficou batendo papo até as três, papo de cafezinho é sagrado. O primeiro a sair é geralmente mal visto pelos colegas, taxado de Caxias. Além do mais, corre o risco de se tornar objeto das conversas.

Voltou para a mesa. Olhou a Internet.
“Justiça proíbe avó de dar doces aos netos”,
“Prefeito diz que foi abduzido pelo diabo e renuncia”
“Britânico é condenado por fazer sexo com bicicleta”

O telefone tocou.
- Hã, Hã. Ok, Ok. Hmm, deixa eu ver. Ok. Estou mandando.
Olhou o código, trocou duas linhas. Compilou, testou.

Sentiu um perfume no ar, não precisou virar para saber que era Fabiana passando. Haviam tão poucas mulheres no escritório que o ambiente chegava a ser insalubre. Maldita profissão, deveria ter feito Educação Física, ou Publicidade. Já pensou, Personal Trainer? Isso que é vida.

As quatro e meia apareceu o chefe.
- Preciso falar contigo.
- Já vou, estou só terminando, mais cinco minutos.
- Agora. Na minha sala.
O que foi que eu fiz dessa vez, pensou? O chefe não estava com cara boa, mas isso não era novidade. O chefe nunca estava de cara boa mesmo.
- O que você fez pro Tobias?
- Tobias da FretNet?
- Isso.
- Ele estava com um problema em um dos relatórios. De uma olhada, acho que corrigi para ele. Porque? Algo errado?
- Ele acabou de me ligar. Te encheu de elogios, disse que estava a três meses tentando resolver esse problema e ninguém conseguia solucionar. Disse que ficou impressionado com os resultados.
- Hã, legal.
- Parabéns! Continua assim, precisamos de mais pessoas com iniciativa como tu. Se eu tivesse mais funcionários assim, minha vida seria muito mais fácil.

Voltou pra mesa, olhou no relógio. Cinco da tarde.
Mais trinta minutos, mais trinta minutos.

[]s
Jack DelaVega