segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Mais uma tranquila manhã de Segunda Feira

Bolívar já estava sem paciência. Nove e meia da manhã e nada do sujeito. Ligou para o celular, nada, desligado. Ficou sabendo que eles ficaram trabalhando no fim de semana para deixar as coisas em ordem para Segunda Feira, mas como ele mesmo gostava de dizer:
- Não quero saber se o pato é macho, eu quero é ovo.
Se vocês querem trabalhar no fim de semana para botar em dia o trabalho que deveriam ter feito durante a semana, por mim tudo bem. Mas na segunda quero todo mundo aqui as oito.
Onde já se viu? Passam o dia na internet, por isso não terminam o trabalho. Cambada de vagabundos!!
No meu tempo, lembrou, não tinha isso. Primeiro que sempre entregava minha parte em dia, foi por isso que virei gerente. E se tivesse que trabalhar fim de semana, azar. Sábado é dia útil e Domingo é ponto facultativo já dizia seu antigo chefe.
Procurou o resto do time. Estavam todos lá, uns com olheiras, com cara de sono.
- Vocês sabem do Anderson? - A pergunta não foi dirigida para ninguém em especial.
- Olha, a última vez que eu falei com ele foi ontem de madrugada, saímos daqui por volta das duas, mas ele ficou um pouco mais para terminar a parte dele.
Só falta agora eles quererem que eu fique com pena, pensou.
- Deixa eu conferir o celular dele, porque ele não está atendendo. Pelo que eu sei, ele está com o pager essa semana, se der algum problema como é que a gente faz? Vocês tem que ter mais responsabilidade, isso aqui não é brincadeira.
Pensou em começar um discurso, mas olhou no Blackberry, já estava quase na hora da sua próxima reunião. Tentou mais uma vez o celular, a última chance. Se for pra chegar depois das dez é melhor que nem venha mais.

Anderson deixou o escritório por volta das quatro e quinze da manhã de Segunda Feira. Mais um daqueles longos fim de semana trabalhando. Tudo para deixar o sistema funcionando para quando o pessoal chegar. Foi sofrido, é verdade, mas bem feito. Mesmo que as coisas não tenham ocorrido 100% como planejado, tudo deve estar ok para a manhã seguinte.
Ele entrou na Freeway em direção a sua casa pouco depois das quatro e quinze. A pista estava escura e tranquila, totalmente diferente do tráfego louco dos fins de tarde. O rádio alto para ajudar na luta contra o sono, tocava Metálica, o álbum preto. E, talvez por uma ironia do destino, foi justamente quando tocava "Mr. Sandman" que aconteceu.

Foi tudo muito rápido, em um segundo ele estava contando as listras da estrada e acompanhando a batida da música, e num piscar de olhos depois, descendo o barranco que separa as pistas e batendo o carro contra a árvore. Antes de perder a consciência, seu último pensamento foi:
- Se der algum problema, quem vai cuidar do pager amanhã de manhã?

[]s
Jack DelaVega