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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Simplesmente Exausto...

A campainha tocou. Ele olhou no relógio. Eram 11:30. Tinha dormido as 9:30 devido a um problema em produção no sistema que comandava a esteira da fábrica de brinquedos onde trabalhava, uma multinacional gigante. Não acreditou que alguém estava tocando a campainha aquela hora.

Virou-se para o lado e dormiu novamente. Mas a campainha persistia em tocar. E cada vez um apito mais longo era ouvido.

Levantou-se ainda zonzo. Tinha trabalhado durante 30 horas seguidas e, quando finalmente conseguia chegar em casa e dormir um pouco, alguém o atrapalhava. Nem conseguia pensar direito.

Abriu a porta.

- Carlos. Que loucura! Que bobagem você fez? A fábrica está parada! Você sabe quantos brinquedos deixam de ser produzidos a cada hora nessa época de natal? 4 mil! Vão nos arrebentar!

- Bom dia para você também Bolívar!
Bolívar foi entrando na casa, mesmo sem ser convidado. Como um senhor feudal, olhou para o vassalo de cima para baixo e continuou.

- Que incompetência é essa? Você precisa voltar para lá e arrumar isso agora! Nossa empresa depende desse contrato de off-shore!

- Bolívar, quando saí de lá tudo estava funcionando. Os brinquedos estavam sendo enviados para a Fedex sem nenhum problema. E, na verdade, o que ocasionou a falha toda foi a queima do storage. O que houve agora?

- Não sei. Alguma coisa com o módulo de separação de caixas na esteira. Eles acham que pode ser conseqüência ainda da troca do SAN.

- Gostaria muito de ajudar. Mas não tenho condições de fazer alguma coisa agora. Estou esgotado mentalmente e nem consigo pensar normalmente. Além do mais, hoje à noite é a formatura do meu filho.

- Pode ir esquecendo a formatura, esse problema é sério.

- Porque você não colocou as duas pessoas a mais que lhe pedi há três meses atrás? Essa hora, como era meu plano, um da nossa equipe estaria monitorando e resolvendo o problema.

- Ahhh, bem, veja Carlos, trabalhamos com um budget muito apertado, não podia contratar mais ninguém. Mas isso não vem ao caso agora. Preciso que você volte lá agora!

Realmente, Carlos tinha sido deixado sozinho. Mesmo depois de insistentemente pedir duas pessoas na equipe, foi deixado sozinho cuidando do sistema mais crítico da companhia. Sabia que o contrato era milionário e que aquela história de budget apertado era balela pura. Tinha visto o contrato e sabia que o que queriam eram maximar os lucros da forma mais burra que existe. O resultado estava ali, na sua frente.

Carlos tinha um currículo impecável, com várias certificações em .NET e um conhecimento técnico de causar inveja a qualquer um. Com o mercado aquecido do jeito que estava, não tinha outra opção.

- Bolívar, vou pedir licença para dormir. Ligo para a fábrica antes de ir na formatura do meu filho, logo depois de me acordar para ver o que posso fazer. Peço que você saia agora. Estou muito cansado.

- Não estou acreditando nisso! Se você não sair desse apartamento agora, você não precisa ligar mais, pois não terá mais emprego depois que acordar.

- Que assim seja.

Fechou a porta. Voltou para cama ainda meio zonzo. Sorriu. O que não tinha tido coragem de fazer há meses foi a única solução. Graças a Deus tinha passado por aquilo hoje para que tivesse certeza que, sim, precisava procurar uma empresa moderna para se trabalhar. Pensou na Semco. Por que não? Anotou no caderno para ligar para as empresas do Semler no dia seguinte.

- Vida nova!

Virou-se e dormiu. Seu filho precisava dele inteiro naquele dia.

Dr. Zambol
--

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Trabalho Duro

Às duas e quinze da tarde ele voltou para o escritório, mas não bateu o ponto. Cabelo molhado, olhar cansado, sorriso nos lábios. O almoço tinha sido bom.

A maioria das empresas de TI não cobra ponto dos funcionários, porque, tipicamente, todo mundo da área trabalha feito condenados. Bater ponto é justamente o sonho da maioria desses profissionais, já imaginou ganhar hora-extra? Mas naquela empresa era diferente. Diziam que ainda não havia se adaptado aos novos tempos. Mas o fato é que os funcionários, em sua grande maioria, batiam ponto. No caso dele, em relação ao atraso de hoje, iria dizer para o chefe que esqueceu o crachá em casa.

Sentou em sua mesa, destravou a estação. O código estava lá esperando, implacável.

Muitas pessoas acham que programação é uma coisa difícil. Para ele não era. Difícil mesmo devia ser Advogado, ganhar a vida enrolando os outros, ou Dermatologista, só de pensar em um pé cheio fungos tinha vontade de vomitar.

Estava colocando os fones de ouvido para começar a trabalhar, mas antes olhou no relógio. Duas e Meia, hora do cafezinho. Ficou batendo papo até as três, papo de cafezinho é sagrado. O primeiro a sair é geralmente mal visto pelos colegas, taxado de Caxias. Além do mais, corre o risco de se tornar objeto das conversas.

Voltou para a mesa. Olhou a Internet.
“Justiça proíbe avó de dar doces aos netos”,
“Prefeito diz que foi abduzido pelo diabo e renuncia”
“Britânico é condenado por fazer sexo com bicicleta”

O telefone tocou.
- Hã, Hã. Ok, Ok. Hmm, deixa eu ver. Ok. Estou mandando.
Olhou o código, trocou duas linhas. Compilou, testou.

Sentiu um perfume no ar, não precisou virar para saber que era Fabiana passando. Haviam tão poucas mulheres no escritório que o ambiente chegava a ser insalubre. Maldita profissão, deveria ter feito Educação Física, ou Publicidade. Já pensou, Personal Trainer? Isso que é vida.

As quatro e meia apareceu o chefe.
- Preciso falar contigo.
- Já vou, estou só terminando, mais cinco minutos.
- Agora. Na minha sala.
O que foi que eu fiz dessa vez, pensou? O chefe não estava com cara boa, mas isso não era novidade. O chefe nunca estava de cara boa mesmo.
- O que você fez pro Tobias?
- Tobias da FretNet?
- Isso.
- Ele estava com um problema em um dos relatórios. De uma olhada, acho que corrigi para ele. Porque? Algo errado?
- Ele acabou de me ligar. Te encheu de elogios, disse que estava a três meses tentando resolver esse problema e ninguém conseguia solucionar. Disse que ficou impressionado com os resultados.
- Hã, legal.
- Parabéns! Continua assim, precisamos de mais pessoas com iniciativa como tu. Se eu tivesse mais funcionários assim, minha vida seria muito mais fácil.

Voltou pra mesa, olhou no relógio. Cinco da tarde.
Mais trinta minutos, mais trinta minutos.

[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Uma História de Pressão Que Deu Certo

Quem conhece a história do Wal-Mart sabe que é uma companhia incrível. Polêmica, mas incrível.

Como a maioria dos grandes casos de sucesso no mundo, ela cresceu porque não tinha outra alternativa. Não foi um movimento de gênio, nem uma coisa planejada. Ou era isso ou talvez ela perderia inclusive o que tinha na época.

Pois bem, para voltar a ser competitiva, ela tinha que fazer algo diferente. Com quase todas as empresas comprando dos mesmos atacadistas, ficava muito difícil fazer a diferença. Foi então que fizeram o primeiro passo da virada: decidiram comprar diretamente do fabricante e enviar tudo para o centro de distribuição. A lógica era a seguinte: iriam gastar 3% para manter seus próprios centros de distribuição, mas economizariam 5% comprando diretamente do fabricante.

Mas se o plano fosse só esse, teria dado errado também. Decidiram que a margem deveria crescer com base em duas coisas: conseguir fabricantes cada vez mais baratos (agora que eram independentes de atacadistas) e ter uma tecnologia que possibilitasse a redução desse custo, cada vez mais.

Começa então a fase da pressão. Ou fornecedores conseguem preços mais baratos ou são varridos do mercado. Eles têm que se adaptar a essa ciranda e, por isso mesmo, muitos abrem fábricas na China para tornarem-se mais competitivos. Nessa fase ainda, alguns excessos são realizados pela Wal-Mart em prol da eficiência, como trancar funcionários à noite nas lojas e possibilitar trabalho a imigrantes ilegais. Mas logo aprenderam depois de alguns processos judiciais e alguns outros prejuizos de imagem.

O resultado quase todos conhecem: o Wal-Mart tornou-se o maior varejista do mundo, com números que beiram a loucura. Por exemplo, 2,3 bilhões de caixas com os mais diversos produtos passam pelos centros de distribuição e são levados para as lojas a cada ano. Ou o que você acha de vender 400 mil computadores HP no natal – em um único dia? Pois é, esses são os números da pressão que deu certo, depois de alguns pequenos ajustes no caminho.

Onde quero chegar hoje? Quero dizer que, apesar de tudo isso, os executivos do Wal-Mart colocam a informática como um dos principais fatores de sucesso. O primeiro deles seria o controle do centro de distribuição – saber onde exatamente estão as caixas, para onde irão, etc. Certamente o Wal-Mart não seria o que é hoje sem isso. O segundo, e mais impressionante, foi colocar a informação do que é vendido aos fabricantes. A pressão não poderia ser unilateral – o Wal-Mart também deveria ajudar os fabricantes. No caso, a informação servia para que todos controlassem o número de peças que deveriam fabricar. O sistema de TI do Wal-Mart possibilita que quando você sai com uma cadeira do super-mercado, o fabricante seja avisado que mais uma cadeira será necessária, em tempo real. O Wal-Mart não usou a área de TI - ela tinha uma parceria e recebia idéias inovadoras dessa área.

Então, caros amigos de TI, os tempos mudaram e mudam cada vez mais rápido. Hoje, TI praticamente não é um setor à parte, mas sim parte integrante do business. Se você ainda está só se preocupando em como implementar o requisito da melhor maneira possível em Java, talvez você tenha perdido essa onda. Você deveria estar se preocupando é se o requisito faz sentido e em validá-lo e escrevê-lo.

Dr. Zambol
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terça-feira, 20 de novembro de 2007

A Tribo Cresce!

Há pouco mais de 8 meses atrás, criamos este fórum para expôr as nossas idéias e tentar agregar algo de novo ao dia-a-dia de quem trabalha em ambientes de escritório, especialmente aqueles que lidam com TI. Miramos longe, mas estávamos cientes da dificuldade do caminho.

No início, leitores confundiam-se com amigos e parentes. Mas o tempo foi passando e a palavra foi se espalhando. Com o tempo, um público numeroso e fiel passou a nos acompanhar toda segunda, quarta e sexta. Embora não estivéssemos preparados, conquistamos até mesmo fãs!

Com muito entusiasmo, anunciamos que essa história está apenas começando. A Tribo cresce! A partir dessa semana, passamos a integrar a área de blogs do Baguete, conhecido portal de notícias gaúcho. Estaremos com isso atingindo um público cada vez maior. Nossa responsabilidade aumenta, mas aumenta também nossa esperança de contagiar mais pessoas com nossa paixão pela área e nosso inconformismo característico.

Aos que estiveram conosco desde o início, muito obrigado e continuem comentando! Aos que chegam, boa leitura!

Tribo do Mouse
Jack DelaVega
Reggie, the Engineer
Dr. Zambol

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mundos e Fundos - Final

A instalação do sistema, ao longo do fim de semana, foi relativamente tranquila; e na Segunda-feira todo o time estava a postos para suportar o Cliente durante as primeiras semanas de uso. Durante a manhã receberam algumas chamadas, uma coisinha aqui e ali que não estava adequada ou funcionando, mas nada significativo. Daniel estava eufórico, as primeiras horas tinham sido realmente promissoras. Carlos, por sua vez, já esperava um bom resultado, o que o preocupava na verdade era a "maldita funcionalidade de última hora", mas até o momento ninguém havia falado nisso. Foi logo depois do almoço que o telefone tocou com más notícias.
- Opa, Carlos?
- Sim.
- Carlos, estamos testando o "Reconciliamento Fiscal", mas parece que não está funcionando.
Ainda bem, se funcionasse é que eu ficaria assustado, pensou. Mas agora não tinha mais volta, ainda estavam a pelo menos duas semanas de terminar esse trabalho. Iniciou a "Operação Enrola Cliente" que eles haviam combinado.
- Hmm, deixa eu ver com o pessoal aqui e já te retorno.

No outro dia pela manhã, ligou de volta para o cliente.
- Oi, aqui é o Carlos, sobre o problema com o módulo de Reconciliamento. Tu pode me dizer que versão de Linux vocês estão utilizando no servidor de arquivos?
- Linux no servidor de arquivos? Deixa ver com o nosso pessoal de TI, porque sou do financeiro.
- Pois é, a gente precisa saber isso, se é um SuSe, um Red Hat, Solaris, ou qualquer outro sabor. Além disso eu preciso a versão e o número de compilação do kernel.
- Hmm, tá, sabor... Suse, kernel. - Repetiu perdido o cliente perdido - Vou pedir pro pessoal te ligar com essas informações.
Logo depois o sujeito da TI retorna a ligação com as informações para Carlos.
- Ah, então é por isso que não está funcionando, vamos precisar recompilar para SuSe. Amanhã instalamos pra vocês.

No dia depois da prometida instalação, liga novamente o cliente. Dessa vez com a voz alterada e com o cara de TI junto na linha.
- Ainda não está funcionando. Vocês realmente resolveram o problema?
- Estranho, deveria estar funcionando. Me diz uma coisa, qual é o padrão de rede de vocês?
- Padrão de Rede?
- É, vocês usam 802.11a, 802.11b, 802.11g ou 802.11n?
- Não temos wireless aqui, é uma rede cabeada. O que isso tem a ver com o problema?
- Ah, cabeada é? Tu pode me dizer que cor é o cabo? Azul, verde, vermelho...

E foi assim por duas semanas. Não precisa dizer que o cliente enlouqueceu com os resultados. Na Sexta-feira da outra semana, véspera de instalarem a solução verdadeira, o cliente chamou uma reunião convocando Ícaro, Daniel e Carlos. Já no aperto de mão foi possível perceber que ele não estava contente.
- O trabalho de vocês deixou muito a desejar. Estamos a duas semanas tentando fazer o "Reconciliamento Fiscal" funcionar, e tudo que recebemos são desculpas esfarrapadas da sua equipe. Dá até impressão que esse módulo foi entregue sem funcionar.
Ícaro tomou a dianteira.
- Estamos trabalhando para fazer o módulo funcionar, mas pelo que eu ouvi houveram alguns problemas de configuração. De qualquer jeito, na segunda entregamos a solução funcionando para vocês.
Daniel e Carlos estavam ambos de cabeça baixa. O Cliente não esboçou reação positiva.
- Isso é o mínimo que esperamos. Em todo caso, toda experiência foi muito decepcionante para a nossa empresa. Posso adiantar que esse foi o primeiro e último projeto que fazemos com vocês.
- Mas vocês tem que entender... - Tentou Daniel.
- Não temos que entender nada, estamos sendo literalmente "enrolados" por vocês nas duas últimas semanas. Fico me perguntando porque vocês concordaram com a alteração do escopo para adicionar o "Reconciliamento Fiscal", se não teriam condições de entregar. Vocês deveriam ter solicitado uma renegociação do prazo.
Carlos lançou um olhar fulminante para Daniel, mas aí já era tarde demais.

Três meses depois estava tudo acabado. Carlos estava em um novo emprego, por sorte o mercado tinha alta demanda por técnicos como ele. Do emprego passado ficou a lição de seguir os seus princípios e brigar pelo que acredita. Se deixar levar pelo oportunismo, nunca mais. Daniel, mudou para outro estado, segundo ele o mercado não estava bom para gerentes de projeto por aqui. Já Ícaro ainda amargava a perda do contrato. Vida de empresário nessa área não é fácil, da próxima vez iria acompanhar os resultados mais de perto.

Parte 1 disponível em Mundos e Fundos
Parte 2 disponível em Mundos e Fundos - Parte Dois

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

“Por que você não cala a boca?”

Essa semana virei fã do Rei Juan Carlos, da Espanha. Muita gente deve ter acompanhado a repercussão da discussão envolvendo ele, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acontecida na sessão plenária da última Cúpula Ibero-Americana (veja o vídeo aqui).

Calma, calma, calma!! Antes que me acusem de qualquer coisa, quero antecipar que esse post não tem nenhuma conotação política, podem continuar lendo.

Analisando a atitude do Rei fora do contexto, e deixando para trás as questões políticas, o que aconteceu foi uma pessoa perder a paciência com a maneira como a outra se comportava frente a um debate. Nesse sentido, fica difícil discordar que o presidente venezuelano estava comportando-se de maneira pouco polida, e o Rei quis fazer valer o direito do primeiro-ministro espanhol de se manifestar.

Agora explico porque virei fã do Rei Juan Carlos. Eu sou uma pessoa tímida (tenho até vergonha de dizer isso). Um nerd, introvertido, fazer o quê. Ouço muito mais do que falo, sou muito equilibrado, é da minha natureza. Mas muitas vezes me comporto assim de maneira intencional. Como por exemplo, em uma discussão no ambiente do escritório. Você já participou de uma discussão dessas? Um choque radical de idéias, um conflito mesmo? Ou até mesmo uma discussão pesada, beirando os limites da educação exigida em um ambiente de trabalho? Eu já passei por essas e outras. Mas sempre tento me manter dentro dos meus padrões. Até porque acho que se uma pessoa está errada, a melhor coisa a fazer é deixar ela falar mesmo, dar explicações, justificar. Na réplica você terá mais argumentos para desbancar ela. Esse é o meu jeito.

Certo ou errado, a questão é que a grama do vizinho é sempre mais verde. E às vezes eu queria agir como o Rei ao lidar com falastrões, e quem sabe mesmo dizer algo do tipo “ok, você já falou bastante, agora cale a boca!”. Outro dia estava fazendo uma apresentação técnica e alguém que nem conheço começou a fazer perguntas totalmente descabidas, ignorantes mesmo. Eu pacientemente contextualizei as questões e demonstrei logicamente que a manifestação do sujeito era estúpida. Droga, fui ensinado, treinado para ser assim (quem estudou computação sabe que é verdade). Eu deveria mesmo era ter mandado o cara calar a boca dele.

Acho que é por isso que gosto tanto quando o Donald Trump manda um participante calar a boca no Aprendiz. Ou por isso que gosto tanto da cena em que o Dr. Evil (Mike Myers) passa 2 minutos mandando o filho calar a boca no filme do Austin Powers.

Ok, ok, acho que saí fora da minha casinha de nerd. Obviamente nunca vou conseguir fazer algo parecido, talvez seja mais certo assim mesmo. Não se preocupem, se quiserem me xingar nos comentários por esse post, eu vou escutar pacientemente.

Reggie, the Engineer.
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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Mundos e Fundos - Parte Dois

Parte 1 disponível em http://www.tribodomouse.com.br/2007/11/mundos-e-fundos.html

Da sua sala, Ícaro, um dos sócios da empresa, podia sentir a agitação do escritório. Considerava esse projeto seu filho, sua maior realização na companhia. Conseguiram vencer uma concorrência acirrada ganhando por meia dúzia de reais, o que deixou a margem de lucro lá embaixo. Mas como o cliente era grande, bastava que garantissem um bom trabalho que certamente outros projetos viriam. Daí a importância na execução, tudo deveria sair perfeito. Agora, faltando pouco para a instalação, as coisas pareciam estar correndo bem. Foi uma boa idéia contratar Daniel como gerente de projeto para dar uma organizada na casa. O cliente ainda estava reclamando de alguns requisitos, mas segundo Daniel isso era coisa pouca e não iria impactar a qualidade da entrega.
Depois era correr para galera. Cancun já não parecia mais tão longe.

Carlos não estava tranquilo, mas já viveu momentos piores. Faltando duas semanas para a entrega as coisas estavam correndo bem com o projeto, iriam entregar um produto de qualidade. Exceto por aquela maldita funcionalidade de última hora. Quanto a isso Carlos ainda não estava seguro da decisão tomada.
Sua conversa com Raul, logo após a discussão com Daniel ainda estava na cabeça. Naquele dia, logo que retornou a sua mesa, Raul já estava lá esperando.
- E aí? Como foi?
- O cara é um idiota, disso eu já tenho certeza.
- Nada de novo até aí. - Falou Raul como sarcasmo habitual.
- Mas ele tem um ponto. Qualquer atraso na entrega implica em impacto para o nosso bônus.
- Tudo bem, mas foi ratiada do Comercial, eles é que não definiram o escopo direito.
- Concordo contigo, porém, tu acha que se a gente entrar em uma negociação contratual vamos receber o bônus?
- OK, então qual é a alternativa?
- Vamos fazer algo meia boca, só para cumprir tabela. O Daniel espera ganhar tempo com isso, jogando a bola para mão do Cliente. Ele acredita que eles vão levar umas semanas para testar tudo, até lá a gente libera um "patch" resolvendo o problema.
- Vamos fazer uma "Perna de Anão" então? - Raul adorava essa expressão, por mais politicamente incorreta que fosse.
- Exatamente. Vamos dar uma de "João sem braço", "Se Fazer de Louco", e rezar para tudo dar certo.
- Não concordo muito com essa abordagem, mas tu que manda. You're the boss!
Carlos não gostava do que estava fazendo, mas agora não tinha mais volta. Só mais algumas semanas para ver o resultado. Queria acreditar no sucesso do plano de Daniel, porém quanto mais pensava, menos esperança tinha de que iriam se dar bem no final.

Daniel por sua vez, estava cada vez mais afastado de Carlos e da equipe de projeto. Sabia que havia começado com o pé esquerdo. Seu desempenho na reunião inicial, prometendo mundos e fundos para o cliente sem alinhar antes com a equipe, negava alguns dos seus princípios. Lembrou dos seus tempos de desenvolvedor e de quanto repudiava gerentes que faziam isso, e sentiu um pouco de vergonha. Porém ele também estava em uma situação delicada, sua contratação tinha sido condicionada à resultados, o que se traduzia em: Sanar os problemas do projeto e Assegurar o pagamento do bônus. Havia feito com contrato de risco com seus empregadores, e estava disposto a lançar mão de todos os recursos disponíveis para cumpri-lo.
Apesar de eticamente questionável, seu plano era prática comum na indústria de software. Eu te engano que defino os requisitos, tu me engana que vai me entregar no prazo, e assim a gente vai. Surpresa mesmo é quando um projeto é entregue no prazo, escopo e custos planejados. Acreditava que teria boas chances de sucesso com ele, era só o time de projeto fazer a sua parte e deixar a política e o trabalho sujo com ele. Colocou os fones de ouvido e começou a revisar o cronograma de instalação.
No iPod tocava "Duas Tribos" da Legião, e parecia que o Renato cantava para ele o refrão:
"É o bem contra o mal,
E você de que lado está?"

Conclui na próxima Segunda.
[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Analisando o Entrevistador

O Blackberry vibra no bolso de Roberta, psicóloga do RH. O visor lhe avisa que está na hora de mais uma entrevista para preencher a última vaga aberta no setor de Bolívar.

As duas últimas semanas foram cansativas. Diversas entrevistas para preencher 3 vagas abertas, sendo duas de programador e uma de gerente. As duas vagas de programação tiveram uma procura muito grande, mas os entrevistados em sua maioria não possuía os conhecimentos necessários. Somente após entrevistar mais de 20 candidatos é que finalmente haviam contratado dois excelentes técnicos.

Mas agora faltava a vaga de gerente – e essa parecia ser a mais difícil. Não devido ao conhecimento em si, mas devido ao próprio Bolívar, uma pessoa extremamente difícil de lidar. E esse novo gerente iria reportar para ele...

A reunião começa com as apresentações e perguntas de praxe. Roberta então começa finalmente com as perguntas que realmente interessam.

- Como você lida com disavenças em sua equipe? Você pode nos contar um exemplo real?

- Eu sempro tento conciliar. Por exemplo, certa vez, em um projeto com o governo Tailandês, boa parte da minha equipe acreditava que a melhor solução era fazer a solução em um projeto Web, em Java. Mas o líder e o arquiteto acreditavam que a melhor solução era um Smart Client em .NET. Isso estava causando muita confusão. O time estava completamente insatisfeito e dividido. Se não intervisse, certamente o projeto seria um fracasso.

- E o que você fez? Perguntou Roberta.

- Eu escolhi um representante de cada lado e dei 2 dias para cada um criar uma apresentação sobre os prós e contras de sua solução. Eles iriam apresentar a todo o time e, após as apresentações, iríamos fazer uma mesa redonda. Só havia uma regra: deveríamos nos focar no problema, não em paixões ou crenças sem base. E fui bem claro – disse que não aceitaria argumentos desse tipo.

- E como foi?

- Tudo ocorreu bem. No fim, realmente a melhor solução era Web, e o time todo concordou com isso.

Foi quando Bolívar começou a falar:

- Mas como você se deu ao luxo de esperar dois dias?

- Achei muito melhor fazer o planejamento bem, conitnuou o candidato, do que tomar uma decisão precipitada e ter que mudar tudo depois.

- E se eles nãochegassem a um consenso naquele dia?

- Eu queria a melhor solução, pois era um projeto que duraria 5 meses. Portanto, me daria ao luxo de esperar mais alguns dias.

A entrevista continuou, com perguntas comportamentais e técnicas. Na hora da revisão, o candidato deixa a sala e somente Roberta e Bolívar ficam na sala.

- Achei ele muito fraco. Não sabe se impor. Não quero ele, Roberta.

- Mas Bolívar, é o melhor candidato que encontramos até agora. E é muito qualificado. Quanto a não saber se impor, não concordo com o seu ponto. Ele fez uma análise de risco e tomou uma decisão.

- Mas não vai ser assim aqui. Ele não tem espaço na minha equipe.

Foi nesse ponto que Roberta percebeu que realmente Bolívar tinha razão. O candidato não se encaixava no time de Bolívar. Ele era bom demais para esse time. Na verdade, não sabia como Bolívar era gerente sênior: não tinha habilidade com pessoas e gerava muita confusão – algumas confusões em seu time tinham uma única saída: a demissão do funcionário. Que pena. Pena que ela não estava na hora que entrevistaram o Bolívar. Pena que tanta gente qualificada, precisando de emprego, sofresse na mão daquele gerente. Pena que Bolívar tinha tanta força com a diretoria. Pena que ela não tinha força nenhuma.

- Ok, vou marcar a próxima entrevista então, disse Roberta, olhando para baixo.

Quando viu a porta se fechar atrás de Bolívar, ligou para a empresa de recursos humanos que estava lhe enviando os currículos. Mas o objetivo da ligação era outro: ia pedir um novo emprego para ela. Estava cheia daquele ambiente.

Dr. Zambol.
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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mundos e Fundos

Trabalhar em consultoria não é fácil, prestação de serviços de TI é trabalho ingrato como poucos. Normalmente o que acontece é que quem vende o projeto promete, invariavelmente, mais do quem executa é capaz de entregar. No final a pressão acaba sempre no time de projeto, que tem que virar noites, fins de semana e feriados para executar o impossível. Isso quando não trazem um salvador da pátria para resolver o problema. Foi exatamente o que aconteceu no último emprego de Carlos. O Comercial vendeu um projeto com custo e cronograma apertados e se "esqueceu" de fazer uma definição clara do que seria entregue. Faltando um mês para a entrega o Cliente se deu conta que não iria receber uma funcionalidade crítica, subiu nas tamancas e convocou uma reunião urgente convidando até o Papa.

De um lado da linha telefônica estão Carlos, o líder técnico do projeto, responsável por implementar a mágica vendida pelo Comercial, seu colega Raul, o arquiteto da solução, e Daniel, o gerente de projetos trazido as pressas para organizar a bagunça e garantir a entrega. Do outro lado o Cliente já está com a voz alterada.
- Bom, vocês tem que entender que essa funcionalidade é crítica para a gente, sem ela 80% dos ganhos com a implantação desse novo sistema vão por água abaixo.
Carlos toma a dianteira para explicar a situação:
- Entendemos isso. Nosso ponto é que não temos condições de entregar o sistema com esse requisito na data planejada. Não vem ao caso encontrar culpados agora, mas o fato é que isso não fazia parte do nosso escopo original.

Na janela do IM Raul bipava Carlos:
- Vai ser casca implementar isso, precisamos de uma re-arquitetura total. Duas semanas de trabalho, chutando por baixo.

Carlos completava o seu raciocínio no telefone:
- Como eu estava dizendo, entendemos a criticidade, mas precisamos de uma extensão no prazo. Vamos precisar de pelo menos mais um mês.

IM (Raul -> Carlos): - Boa, em um mês a gente entrega com certeza, isso nos dá algum tempo caso alguma coisa dê errado.

Mas a resposta do cliente não foi animadora.
- Isso é simplesmente inaceitável. Todo o nosso planejamento de vendas para o próximo trimestre está baseado no fato de que teremos o novo sistema no ar em trinta dias. Vamos perder muito dinheiro caso isso não aconteça.

Foi então que Daniel falou pela primeira vez:
- Vamos entregar sim, como parte do acerto original. Em 30 dias vocês terão exatamente o que precisam. Vou trabalhar com o nosso time para fazer isso acontecer. Podem ficar tranquilos.

IM (Raul -> Carlos): O que?
IM (Carlos -> Raul): O que? Fazer acontecer? Esse cara tá louco!!!

Depois de encerrada a reunião, Carlos foi direto na mesa de Daniel, que parecia extremamente ocupado com seus e-mails.
- Preciso Falar contigo.
Daniel nem levantou os olhos do monitor para encarar Carlos.
- Depois, agora não posso.
- Agora!

Pegaram uma sala de reunião. Carlos já estava bufando, sem fazer a melhor questão de disfarçar o que estava sentindo.
- Qual parte do "Não temos condições de entregar o sistema com esse requisito na data planejada" tu não entendeu?
- Ah, - Desdenhou Daniel. - Vocês de desenvolvimento são sempre assim. Nunca dá, nunca dá, mas no final acaba sempre dando. É só dar um apertada no time aqui e ali, trabalhar mais uns dois fins de semana e tu vai ver que terminamos esse negócio rindo.

Carlos não acreditou que estava ouvindo aquilo. Ele já havia trabalhado com gente incompetente antes, mas Daniel ganhava de goleada.
- Vem cá tchê. Em que mundo tu vive? Tu tem noção do que está falando? Estamos discutindo uma mudança radical no nosso Design. Não tem como fazer no prazo estabelecido. Além do mais já temos trabalho planejado para todos os fins de semana até a entrega.
Mas Daniel estava impassível.
- Vamos aplicar o método NASCO e tudo vai ficar bem.
- NASCO?
- Isso, vamos fazer alguma coisa "Nas Coxas", entregamos uma solução meia boca para eles, eles vão levar pelo menos umas duas semanas para testar tudo, enquanto isso a gente termina como tem que ser.
- Cara, não sei de onde tu vem, mas para mim já é clara a maneira que tu trabalha. E esse definitivamente não é o meu estilo.
- Tu tem alguma sugestão melhor? Vai querer perder o bônus por atraso na entrega? Faz o que eu tô te falando que no final tudo vai dar certo.

Carlos saiu da sala perplexo com as palavras de Daniel, afinal também estava contando com o dinheiro do bônus. Lembrou do seu herói, o João do Santo Cristo:
"Essas palavras vão entrar no coração.., Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Continua...

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dilbert e a Mudança

Outro dia meu amigo Dr. Zambol tocou brevemente no assunto re-organização interna de empresas. Eu gostaria de voltar ao assunto.

Não sei se já falei aqui, mas um dos meus ídolos é um cara chamado Scott Adams, o escritor e cartunista criador do personagem Dilbert. Tenho muito respeito por ele, porque além de ter um currículo invejável (ele realmente entende o que critica) e ser um excelente escritor, ele deu voz e embasamento aos milhões de pessoas que, como nós, vivem o dia-a-dia de escritórios. Sem Scott Adams, os empregados que vêem coisas erradas em suas realidades de trabalho não passariam de reclamões de plantão, tipos que nunca ficam satisfeitos com nada. Mas a era pós-Dilbert é diferente. Faça a experiência. Uma vez ouvi uma barbaridade em uma reunião de trabalho e comentei sobre uma tirinha do Dilbert onde aquele tipo de idéia havia sido ridicularizada. Não demorou muito para a conversa mudar de rumo e a idéia ser descartada. Scott Adams deu-nos os referenciais teóricos que precisávamos.

Vez por outra, quando algo muito diferente acontece no trabalho, eu consulto a minha bibliografia de referência primária: O Princípio Dilbert. Durante os últimos dias, foi a vez de dar uma olhada no que o Scott Adams diz sobre mudança dentro das empresas. Não sei se vocês já passaram por isso, mas desde a invenção da re-engenharia, virou quase que moda grandes empresas usarem profundas re-estruturações internas como forma de superar períodos de dificuldades. Não que eu ache isso totalmente errado ou seja contra mudanças, pelo contrário. Sou adepto da mudança, acho ela saudável, nos deixa mais espertos e preparados. Mas a mudança pela mudança é estúpida. A mudança com agenda oculta não traz resultados. E não sou eu quem diz isso. Estou embasado.

Sobre re-organizações internas, Scott Adams diz coisas como (traduções minhas, não oficiais):

- “Até parece que a razão pela qual os consumidores odeiam nossos produtos é o fato do nosso departamento se chamar X ao invés de Y”.

- “Na próxima re-estruturação interna, peça a todos os empregados para levantarem-se de suas cadeiras, darem um girinho e sentarem-se novamente. É bem menos traumático do que mudar nomes de departamentos e relocar pessoas, e o resultado é praticamente o mesmo”.

O tom de sarcasmo é óbvio, mas nos faz refletir. Muito provavelmente quem comanda esse tipo de mudança não quer apenas alterar nomes de departamentos e trocar pessoas de lugar, com mínima alteração efetiva sobre as tarefas diárias do nível operacional da empresa. Claramente as intenções devem ser outras, e devem ser boas. Mas as empresas, como as pessoas, fazem escolhas. A diferença é que para uma empresa, dependendo do seu tamanho, é muito complicado voltar atrás em algumas escolhas. De qualquer forma, normalmente existem falhas nesses processos de mudança. Seja de comunicação, seja de “empowerment”, seja de julgamento. E o resultado fica extremamente comprometido por causa dessas falhas.

Pra quem olha “de baixo”, parece um tanto estúpido às vezes.

Reggie, the Engineer.
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