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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Velho e o Golfe

Eu tentava esconder o desconforto, estava nitidamente fora do meu ambiente. Apesar disso, não havia como negar, o clube era fantástico. O golfe sempre esteve nos meus planos esportivos, só não esperava começar a praticar antes dos cinquenta anos. Encontrei-o já no meio do gramado. Boné, óculos escuros, calça cáqui, indumentária completa. Fui recebido com aquele sorriso largo e com o entusiasmo de costume.
- Pronto para o jogo?
- Nunca joguei. Bom, já fui em um driving range e em um minigolfe de shopping, mas acredito que isso não conta.
Ele respondeu bem humorado:
- Talvez isso não possa ser qualificado como experiência, mas tenho certeza que você aprende rápido. Me acompanhe pelo gramado então.
Entre uma tacada e outra começamos a nossa conversa. Expliquei o que estava tirando o meu sono no momento:
- Estamos em período de planejamento de desempenho. A empresa está definindo os objetivos e metas para o próximo ano e tenho que cascateá-los para minha equipe.
- Conheço bem o processo, essa é uma das suas atribuições mais importantes dentro de uma organização.
- É justamente isso que me preocupa. Ainda não me sinto seguro para discutir o planejamento com a minha equipe. A pergunta é: Como garantir que estou fazendo a coisa certa? Que estou desafiando o time o suficiente?
Como de costume ele mudou de assunto:
- Sabe por que eu gosto do Golfe? 
- Não.
- Em essência o Golfe é um esporte que você joga contra você mesmo. No fim do dia, o objetivo é completar o percurso com o melhor número de tacadas possível. O adversário é apenas um detalhe que torna o jogo mais divertido.
- Visão interessante, não havia me dado conta disso.
- O mesmo vale para desempenho dos seus funcionários. A empresa define as metas, mas o que realmente importa é o quanto cada indivíduo se desenvolve. O papel do líder é esclarecer isso para as pessoas, e o planejamento de desempenho apenas a ferramenta. Pegue um exemplo simples, a área de vendas. Seu melhor vendedor faturou R$1.0000,00 no último ano, a meta dele para o próximo ano precisa se maior, isso vai mantê-lo motivado, focado na melhoria do seu "jogo".
- Entendo, isso faz todo sentido.
- Não foi idéia minha. Você acredita que durante um jogo de golfe que o Jack, que também é apaixonado pelo esporte, me contou o segredo do sucesso dele?
Jack Welch! Ele se referia ao executivo do século pelo primeiro nome.
- Reuna profissionais talentosos ao redor de um objetivo comum, coloque um desafio acima da capacidade deles, saia da frente e os deixe trabalhar.
- Simples assim?
Ele não respondeu, estava concentrado no campo quando chegamos ao green. A bola estava a uns vinte e cinco metros do buraco. Não era uma tacada fácil. Ele ajeitou o taco e golpeou com carinho. A bola aproveitou a inclinação do terreno e foi rolando tranquila até cair no buraco. E terminou com um sorriso:
- Simples assim.

[]s
Jack DelaVega

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por uma vida menos ordinária


Levamos uma vida passiva com a correria do dia a dia. Quando nos acomodamos no trabalho, nas amizades, na família ou em qualquer outra área da vida, às vezes sem perceber, ligamos o botão automático e simplesmente vivemos. Vivemos o trabalho entediante, as amizades superficiais, a família desunida, e então aceitamos a chamar tudo isso de normal, até porque ninguém tem uma vida perfeita.

Todos sabem que ninguém tem uma vida perfeita, mas poucos se lembram que a vida é um exercício constante de aperfeiçoamento, como qualquer outra prática que diminui seu rendimento quando se diminui a constância.

É difícil comandar a rotina sem deixar que o motor automático assuma de vez em quando, até porque geralmente quando permitimos isso é porque achamos que a viagem esta fluindo tranquilamente. O perigo está quando nos esquecemos de voltar ao controle manual, bem como quando esquecemos dos ventos que por ventura passam a soprar outras rotas que não imaginávamos um dia seguir.

Sou altamente adepta a reflexões profundas sobre o sentido de tudo aquilo que me cerca. Não é constante, justamente por causa da rotina agitada, mas faço questão que seja periódica.

Qual foi o último grande feito o qual sentiu orgulho de si em ter realizado em seu trabalho?

Quais das tuas amizades lhe agregam de verdade?

Qual o sentido e o espaço que a família representa em sua vida atualmente?

Perguntas como estas são fundamentais nesse processo de reflexão. Aos desacostumados, tais exercícios poderão parecer maçantes no início, mas garanto que o hábito brevemente o tornará fácil e agradável.

"Fazer o melhor possível no momento atual nos colocará no melhor lugar possível no próximo momento" (Oprah Winfrey)

domingo, 24 de abril de 2011

A Felicidade numa Casca de Noz

Nessa páscoa passei boa parte do meu tempo em uma casa onde 6 velhinhas - todas irmãs - vivem sob um mesmo teto no município de Sobradinho.

A alegria era contagiante. Todas aposentadas, falavam (sem parar) de histórias de suas vidas - trabalho, brigas diárias entre elas, casamentos, funerais e outras diversas peripécias que passaram ao longo de suas vidas.

Todas já estão aposentadas. A mais velha tem 85 anos e sente-se muito bem ainda. Reclama muito quando as irmãs deixam cair talheres no chão.

- Mas será que é sempre assim !? Não tem força nessa mão? Mas vá prestar atenção no que faz....

A mais nova, na flor dos seus 67 anos, despeja energia fazendo tortas, costurando e fazendo doações aos mais necessitados.

Durante a minha estada lá, dois outros irmãos - os únicos irmãos-homem vivos (a familia tinha ao todo 12 irmãos, que hoje conta com 10 vivos) apareceram por lá. Também eram velhos, um com 78 e o outro com 82. E como era marca daquela familia, também eram humildes, esbanjavam alegria e tinham uma infinidade de histórias bonitas para falar de seu passado.

Uma coisa todos tinham em comum: tinham passado bastante dificuldade. Algumas vezes tinham estado perto de passar fome, outras vezes tiveram que suportar um trabalho extremamente duro a ponto de adoecer devido a ele. Mas todos, sem nenhuma exceção, sabiam porque tinham passado por aquilo e haviam encarado o trabalho como temporário - uma forma de garantir o sustento quando não tivessem mais saco ou condições de trabalhar (para os outros).

Dizer se esse pensamento (trabalho deve ser encarado como temporário - uma forma de garantir o próprio sustento e o sustento de seus filhos e dependente quando você não quiser ou não conseguir mais trabalhar) é certo ou errado é uma questão filosófica que poderia ocupar um livro inteiro e mesmo assim não chegar a conclusão nenhuma. É certo que algumas pessoas - notadamente as que já podiam parar de trabalhar hoje por essa regra (multimilionários, por exemplo) - buscam no trabalho algumas outras coisas.

Seja como for, saí com alguns pensamentos que gostaria de compartilhar com vocês:

  1. A segunda parte do pensamento que resumi em negrito ("uma forma de garantir o próprio sustento e o sustendo de seus ...") pode (e deve) ser discutida, mas não há como discutir o estado temporal do trabalho, já que a própria vida tem um início e um fim;
  2. Encarar o trabalho dessa forma torna alguns obstáculos do dia-a-dia, mesmo que sejam duros, mais fáceis de serem encarados, pois atingir um objetivo nobre como esse (sustento futuro de seus dependentes) justificaria tropeços que temos que enfrentar em nossa vida corporativa.
  3. A grande maioria das pessoas esquece-se em muitos momentos o objetivo maior do porque está trabalhando - seja esse que citei ou não. Por isso mesmo, acaba se estressando por coisas pequenas e idiotas se comparadas com o grande objetivo final.
Se não ficou clara minha mensagem, deixe-me repetir sucintamente. Se você não tem certeza absoluta daquilo que almeja levantando-se todos os dias as 7 horas da manhã para só voltar as 18, 19 horas da tarde, tire o dia de folga amanhã. É INACEITÁVEL essa situação. Entenda o que você almeja com o seu trabalho. O que você espera construir para você, seus filhos ou a comunidade após sua terminar sua contribuição como mão-de-obra ativa? O que você almeja ter quando se aposentar?

Sabendo essa resposta, tenho certeza que seu trabalho diário será mais fácil. Ao menos mais fácil depois que você corrigir o rumo e apontar as velas para a direção correta. Objetivo de vida e felicidade andam juntos - não deixe a peteca cair por preguiça de gastar algumas horas nesse exercício.

Lembre-se: o maior agente de sua felicidade é você mesmo. Não reclame do azar ou do patrão chato que você teve que "arruinou sua carreira". Isso geralmente é apenas uma desculpa para justificar erros de planejamento em sua vida. Encare o objetivo de sua vida de frente, passando por cima de pedras pequenas, mesmo que machuquem um pouco o pé, e empurrando obstáculos maiores. Sua felicidade não tem preço.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

De onde vem o Coelho? - Reedição

Eu estava bastante nervoso quando a minha esposa chegou em casa. Fui logo disparando:
- Caímos em contradição.
- Como assim?
- Com o coelho, com a Carol.
- Peraí, te acalma e explica direito essa história.
- Ela me perguntou como que o Coelho da Páscoa chegava até a nossa casa. Com o Papai-Noel é fácil, afinal ele tem um trenó. Por que ninguém nunca pensou nisso para o Coelho da Páscoa?
- E o que você disse?
- Pulando né. Coelho pula.
- Chiiii, vai dar problema.
- Pois é, percebi. Ela disse que você falou que ele vem de avião. Logo avião...
- Achei óbvio, se ele vem de longe deve pegar um avião.
- Grande idéia. Já viu um coelho andando de avião. O que ele apresenta para fazer o check-in? Um passaporte da Coelhândia?
- Engraçadinho. Mas isso não resolve o nosso problema, o que vamos fazer agora?
- Acho que ainda dá para remendar, é só falar que ele vem de avião até Curitiba e dali em diante ele vem pulando.
- Tá bom, então o Coelho pode pegar avião, mas se recusa a pegar um táxi?
- Talvez ele esteja tentando ter uma vida mais saudável, tenha que pular dois quilômetros por dia por orientação médica. Ou simplesmente esteja com medo de pegar táxi, estão roubando muito notebook em táxi hoje em dia.
- Não sei não, se não encontrarmos uma história melhor ela vai desconfiar.

Esse diálogo de fato ocorreu lá em casa. E a minha preocupação, absurda, é de que a minha filha de três anos descubra que o Coelho da Páscoa não existe. No tempo dos meus pais era tudo mais fácil, não tinha essa maldita internet, para se comunicar com o Papai Noel só por carta e o Coelho da páscoa nem isso tinha. Aposto que no ano que vem minha filha já estará "Googoling" Coelho e Papai-Noel e desmascarando essa farsa toda. Ou pior ainda, seguindo os dois no Twitter.

Um colega que tem uma filha de cinco anos me contou que a abordagem da menina é um pouco diferente. 
- Papai, podemos ir à loja comprar os ovos de páscoa que o Coelho vai entregar?
Óbvio, em um mundo cada vez mais plano o Coelho não é mais responsável por produzir ou mesmo vender os ovos. Ele simplesmente entrega. Como a Nike ele apenas coloca a sua marca nos ovos, que são produzidos em qualquer lugar, provavelmente na China ou no Vietnã. 

O que mais me assusta nessa história é o impacto da tecnologia nas atividades banais do dia-a-dia, como a entrega dos ovos de páscoa. É impossível negar o impacto da era da informação na diminuição da fantasia. Sinceramente, espero que ainda estejamos fazendo isso daqui a cinquenta anos, mas se não inventarem um coelho robô num futuro próximo a fantasia da Páscoa está seriamente ameaçada.

[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Amo Muito Tudo Isso

- A sensação de fazer parte de algo maior.

- O cheiro do cafezinho passado, cedo de manhã.

- A simples idéia, ou pretensão, de fazer a diferença na vida de alguém.

- O feedback positivo, aquele que é dado de coração, do tipo: Cara, ontem você realmente fez a diferença.

- Uma discussão apaixonada, onde as pessoas defendem ferrenhamente suas idéias, com a confiança de que todos estão apenas querendo o melhor para a empresa.

- O brilho nos olhos daqueles apaixonados pelo que fazem.

- As brincadeiras nas reuniões, que me lembram um pouco do tempo de colégio, quando eu sentava no fundo da aula, e, apesar de prestar atenção em tudo, não esquecia de me divertir.

- O feedback construtivo, aquele dado de coração, do tipo: Velho, você vacilou ontem, esperava mais de você.

- Olhar para trás, depois de um ano de trabalho, e me ver capaz de fazer coisas que eu antes achava impossíveis.

- Olhar para frente, imaginando as possibilidades fantásticas para onde esse caminho pode me levar.

- Trabalhar com gente melhor do que eu, que me tornam, inevitavelmente, uma pessoa melhor. 

- As noites viradas, os fins de semana trabalhado, quando eles vem junto da sensação de dever cumprido.

- Os colegas que comecei a chamar de amigos.

- Aqueles dias em que eu penso: E eles ainda me pagam para fazer isso?

- As 18hs da sexta-feira, e saber, que apesar de adorar meu trabalho, voltar para casa, para quem se ama, é o que faz tudo isso fazer sentido.

[]s
Jack DelaVega

domingo, 10 de abril de 2011

E.A. - Entusiastas Anônimos



Andava com pressa pela calçada. Local emputecidamente lotado de pessoas incapazes de aplicar o mínimo esforço necessário para mover seus corpos no ângulo que os permitam seguir seus caminhos sem se confrontarem brutalmente com outros seres. Isso sem contar mendigos, pregadores da palavra de Deus, e mais perigosamente, os vendedores-de-sei-lá-o-que que te abordam, quase como uma ameaça, tentando lhe oferecer uma coisa ou de origem duvidosa ou inútil. Nesse dia fui pego por um deles.

- Olá senhora, será que eu poderia ter um minuto da sua atenção?

Andava ao meu lado enquanto falava.

- Na verdade agora não. Estou com um pouco de pressa.
- Vai ser muito rápido, eu prometo senhora.

Desta vez não estava mais ao meu lado, mas sim na minha frente e, consequentemente, impedindo meu deslocamento.

- Ok, diga.
- Estou aqui para falar sobre o E.A., a senhora já o conhece?
- Certamente não. Continuo com pressa.
- Entusiastas Anônimos. Nossa sede fica no segundo andar deste prédio. Gostaria de convidá-la para conhecê-lo. Hoje começa mais um grupo novo.
- E por que dentre tantas pessoas nessa bendita calçada, você foi achar que justamente eu deveria conhecer um grupo desses?
- A senhora está vestindo uma roupa social, mais precisamente terno e calça preta em um calor de trinta graus ao meio dia. Está também de salto alto andando rapidamente por essa calçada esburacada, equilibrando uma pilha de papéis em um braço e sua bolsa nada pequena no outro. Ainda assim demonstrava uma expressão tímida de contentamento e determinação. Você tem todas as características de um entusiasta anônimo.

Fiquei muda por um minuto.

- Quanto tempo leva caso me interessasse em assistir essa reuniãozinha ai?
- Uns quarenta minutos no máximo.
- Ok, vai. Leve-me até lá.

Ao entrar, percebi que a reunião já havia começado e uma senhora que me parecia ser a líder fazia a abertura para os outros participantes, todos sentados em roda. Discretamente fui me acomodando em uma das cadeiras.

- Sejam bem vindos ao Clube dos Entusiastas Anônimos. Agora vocês fazem parte de um grupo vitorioso de pessoas que aceitaram se mostrar aos seus semelhantes, para juntos superarmos essa barreira imposta pela sociedade em excluir aqueles que são verdadeiramente satisfeitos profissionalmente, e cujo trabalho nem sempre é bem visto pela maioria. Meu nome é Fátima, sou Chefe de Jornal Mural. Não faço as matérias, mas tenho muito prazer em organizá-las nos vinte murais espalhados pela empresa. Agora gostaria que cada um de vocês fizesse o mesmo. Apresentem-se e não sintam medo de expressar seus profundos sentimentos por suas funções. Quem começa?

- Eu amo mexer em planilhas de Excel! Formatar, corrigir, filtrar. Sou Head de Listas e meu nome é Alfredo.
- Sou Ana. Finalmente consegui o emprego dos meus sonhos. Sou operadora em uma empresa de Contact Center! Sempre achei o máximo usar aqueles headsets.

Assim todos se apresentaram até que chegou minha vez. Não sabia bem o que falar até que decidi deixar as palavras surgirem naturalmente.

- Olá, meu nome é Maria. Sou vendedora. Fixo baixo, comissão razoável. Trabalho pelo desafio e gosto da idéia de poder me superar a cada venda conquistada. Sempre compartilhava minhas vitórias porque acho que é pra isso que elas servem. Mas ai percebi que o pessoal lá da empresa caçoava de mim, então passei a comemorar sozinha, às vezes ia até o banheiro só pra poder dar um sorriso mais largo sem chamar atenção. Acho que é isso.

- Ok, muito obrigada a todos vocês pelos depoimentos. Disse Fátima.
- Acabamos nos estendendo e por isso acredito que iniciaremos as discussões da primeira pauta só na semana que vem. Não faltem. Como eu disse, todos aqui são vitoriosos por já terem dado o primeiro passo. Sonho com o dia em que este clube deixará de ser anônimo e todas as pessoas entenderão que satisfação profissional é muito mais do que altos salários, cargos com nomes bonitos e grandes posições hierárquicas, mas até lá precisaremos trabalhar muito. Ah, estudem sobre a Pirâmide de Maslow. É sobre ela que falaremos na semana que vem.

Sai de lá atônita. Ansiosa e curiosa para a próxima semana. Desci as escadas com um sorriso que não cabia em mim. Quase na calçada e distraída, esbarrei com um homem que ia subir. Olhou com cara feia e ainda se sentiu ofendido com minha alegria. Lembrei então que tinha voltado à vida real. Fechei a cara e continuei com a minha pressa.

Revolução Industrial 2.0?

Você já ouviu falar da Foxconn? Não? Deixe-me então fazer uma pergunta diferente. Você já ouviu falar do Mac Mini, do iPod, do iPad, do PlayStation 2 e 3, do XBox 360, do Wii e de placas-mãe da Intel? Pois bem - todos esses produtos são produzidos pela Foxconn. E a variedade de coisas produzidas pela Foxconn não para aí: diversos componentes eletrônicos de empresas como Dell e HP, celulares da Motorola e outras gigantes do mercado internacional também são fabricados lá. Do mercado mundial de 150 bilhões de dólares de eletrônicos, 40% é da Foxconn.

Os números impressionam, mas não é devido a eles que a Foxconn ficou conhecida. Em 2010, 14 funcionários cometeram suicídio. Somado com os outros 3 suicídios dos últimos 5 anos na empresa, tem-se o número tão divulgado de 17 suicídios na Foxconn. Dezessete em meia década não impressiona tanto (a taxa dos adolescentes em países desenvolvidos é mais do que o dobro disso). Além disso, o suicídio é a décima causa de morte no mundo - a cada ano 1 milhão de pessoas suicidam-se e outras 10 a 20 milhões tentam tirar a vida sem sucesso, sendo a principal causa de morte de adolescentes e adultos até 35 anos.

O que impressionou o mundo foram basicamente dois fatores:
  1. Quatorze suicídios apenas em 2010 - um número realmente expressivo;
  2. Os suicídios tinham cunho de protesto pelo número de horas trabalhadas e pela pressão exercida para cumprir turnos maiores do que 60 horas semanais. Além do trabalho monótono (sentado o dia inteiro montando componentes eletrônicos), para ir ao banheiro você precisa levantar a mão e esperar para que alguém substitua o seu lugar na linha de montagem (não parece familiar com o que você leu sobre a revolução industrial?)
Uma auditoria mostrou realmente turnos forçados de mais de 12 horas diárias para alcançar metas irreais e um outro conjunto de fatores como dormir e viver dentro do campus (os funcionários dormem dentro da empresa em quartos coletivos, pois muitos moram longe e não teriam condições de voltar para casa ou mesmo nem possuem casa perto da cidade nem teriam condições de alugar qualquer moradia) e baixos salários como o grande vilão.

Como se não fosse suficientemente triste, para o padrão Chinês a Foxconn é uma das melhores empresas do gênero para se trabalhar, com dormitórios modernos e limpos e planos nem comparáveis com outras fábricas do gênero. Entretanto, os números das outras empresas ainda nem subiu à superfície, pois a pressão para mudança da globalização seria maior ainda.

A Foxconn tentou de tudo para diminuir as taxas de suicídio: instalou redes gigantes em cada ponto possível de suicídio (hoje a fábrica por fora mais parece uma grande rede de pescar peixes) e aumentou os salários em 2011. Infelizmente, a pressão internacional para que os suicídios parassem não está em sincronia com o mercado financeiro, que logo após o aumento de salários, fez as ações despencarem mais uma vez em 16%, pois o aumento de salários fez com que as margens - já bastante curtas - fossem ainda mais reduzidas, com o perigo de deixar a empresa no vermelho.

As redes parece terem dado efeito - não houve mais relatos de suicídio na planta chinesa, mas o aumento salarial teve o efeito oposto. Afinal, o que o mercado quer da empresa então? Que tome ações reais para conter o suicídio ou que coloque "redes" apenas para não assustar mais o consumidor ocidental?

Todo mundo hoje sabe que não há como sustentar 7 bilhões de pessoas vivendo um consumismo parecido com o dos EUA. Nem o planeta tem os recursos naturais para tanto nem há como produzir tanta coisa sem uma mudança radical no processo fabril. Países em desenvolvimento, entretanto, estão começando a consumir mais e mais, o que forçará que mais Foxconn's sejam criadas. Será esse o modelo da nova revolução industrial? Pessoas com turnos de trabalho insalubres a ponto de cometer suicídio e o mercado financeiro pressinando salários cada vez mais baixos em fábricas ao redor do mundo? Se não for esse o modelo, como conseguiremos manter o aumento estratosférico do consumismo mundial? A robotização não é trivial e o horizonte não é otimista nesse sentido - o ser-humano ainda parece ser uma peça-chave não tão fácil de ser substituída em diversos setores fabris.

Olhando e falando com diversos colegas, sinto que a carga de trabalho aumenta ano após ano - não só aqui no Brasil, mas em países como Índia, Inglaterra e Estados Unidos - onde está a maioria das pessoas com quem conversei sobre o assunto. Nós da Tribo do Mouse, esperamos que seja apenas uma sensação e que o mundo não esteja indo nessa direção. Seria muito triste regredir nesse sentido. O sangue dos 17 trabalhadores da Foxconn que tiraram suas próprias vidas está em cada um de nós - que consumimos e queremos aparelhos cada vez mais baratos para saciar nossa sede de gadgets e aparelhos não tão essenciais para a nossa sobrevivência. A consciência do estrago do consumismo exacerbado tem que estar em cada gerente, em cada diretor, em cada ser-humano.

Infelizmento, o caminho é difícil e contraditório. Gerentes de venda são pagos para incentivar o consumo irracional. As metas de vendas às vezes exigem que os turnos de trabalhos aumentem de tempos em tempos, ano após ano. Gerentes de produção, talvez não tão diretamente, vivem um conflito muito parecido, pois são forçados a atingir metas de produção para atender a demanda. Gerentes de TI, ainda mais indiretamente, vivem o mesmo conflito. Se pararmos para analisar, a grande maioria do setor privado vive um sentimento barroco muito parecido nesse sentido. Onde isso irá parar? E qual a solução? Se a Foxconn aumentar mais ainda os salários ou contratar muito mais pessoas, pode entrar num caminho sem volta, que levará a empresa à falência pois gigantes como a Apple e a Motorola mudarão o contrato da fabricação dos iPods e iPads, por exemplo, para outras empresas que mantenham o mesmo preço baixo. Essas novas empresas, por sua vez, irão crescer, tornar-se outra gigante como a Foxconn e ter os mesmos problemas no futuro, reiniciando o ciclo mais uma vez. Aliás se a Foxconn falir, uma coisa é certa: 450 mil pessoas desempregadas certamente irão se suicidar em muito maior escala do que os míseros 17 que já perderam suas vidas.

O balanço não é fácil, mas todo líder tem que ter essa consciência, não somente com sua familia, mas com sua equipe: o ser-humano deve estar sempre em primeiro lugar, seja qual for a área que você atuar. Os fins nunca justificam os meios.

Se sempre tomarmos a decisão pensando no melhor para todos, sempre existe uma solução. O problema é que ela pode ser mais radical e trágica do que se pensa em um primeiro momento, mas verdadeiros líderes estão aí exatamente para isso: tomar decisões que ninguém tem coragem de tomar.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Entrevistas Surreais

A companhia ficava em um daqueles condomínios empresariais, com vários prédios. A portaria ligou informando que o candidato já estava lá. Mandaram entrar, a entrevista seria com a Ana. Dez minutos, quinze minutos, nada do candidato. Ligam para a portaria, mas ele não estava mais lá. Celular desligado. Meia hora, quarenta e cinco minutos, nada do sujeito. O que teria acontecido? Uma hora depois conseguiram contato pelo celular.
- Alô, Bruno? Aqui é a Ana, gostaria de saber o que aconteceu.
- Oi Ana, o que você precisa, ficou alguma dúvida da entrevista?
- Entrevista? Que entrevista? Você nunca apareceu?
- Como assim? Estava aí falando com você até agora pouco.
Conversa de louco. No final descobriram que o sujeito havia entrado na empresa errada, que casualmente tinha uma Ana que estava precisando de gente. Ela até se desculpou por não ter recebido a marcação da entrevista, mas conversou com ele por quase uma hora. Pena que o perfil não bateu...

Já na finaleira da entrevista o candidato dispara:
- Gostaria de saber se essa vaga é para seis ou oito horas diárias.
Pergunta estranha, nesse ramo todo mundo trabalha para caramba.
- Oito, você tem algum problema com isso?
- Não, problema não, mas se existir a possibilidade de trabalhar menos eu prefiro, atualmente eu trabalho seis.
- Deixa eu entender, hoje você trabalha seis por opção ou por necessidade da empresa.
O candidato então confidenciou:
- Por opção. Sabe o que é... Eu não gosto muito de me estressar.
Será que esperava uma resposta do tipo:
- Esse é exatamente o perfil de profissional que estamos procurando!

O recrutador chegou na recepção procurando pelo candidato que se chamava Jorge, mas percebeu, confuso, que apenas uma mulher aguardava sentada. Estranho, avisaram que o candidato já estava lá. Decidiu perguntar, afinal, nunca se sabe:
- Jorge?
A mulher se levantou, apresentando-se:
- Oi, eu sou a esposa do Jorge. Ele ficou doente hoje, mas eu vim em seu lugar. Estou com o currículo dele aqui comigo e posso responder qualquer pergunta que vocês tenham a respeito do meu marido.

[]s
Jack DelaVega

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quatro Anos de Luta

Quatro anos atrás eu enviava um e-mail para dois colegas, amigos que compartilhavam uma visão parecida dos problemas que enfrentávamos dentro da empresa, o texto era algo mais ou menos assim:

“Pessoal:
Fiquei me sentindo mal (pra não dizer um merda), depois de todas as discussões que tivemos semana passada sobre RH, Gerenciamento e outros assuntos correlatos. Acho que em algum ponto deixei de tomar ações que realmente acredito para jogar o Corporate Game”.

Tive então a ideia de começar um Blog, para falarmos sobre assuntos gerais de RH, discutirmos nossos pontos de vista. Gostaria de ter vocês escrevendo também, contrapondo visões diferentes e experiências.

So, are you in or what?”

Esse foi o início do que chamaríamos mais tarde de Tribo do Mouse. Ao longo dessa jornada aprendi muito, cresci como pessoa e profissional, e, fico contente em constatar, que depois de todo esse tempo o conteúdo do primeiro e-mail permanece relevante. Mais do que isso, os valores e amizade permanecem fortes como no primeiro dia.

Porém, percebemos que já é hora de fazer a pergunta novamente, de trazer mais gente que compartilhe os mesmos valores e visão. Começa conosco essa semana a Beatriz Carvalho, abaixo segue uma mini-bio dela:

Beatriz é formada em Relações Públicas e worklover assumida. Acredita na comunicação e no relacionamento como estratégias de negócio, por isso atua há 4 anos com pós-venda. Atualmente coordena a área de atendimento de um clube de relacionamento corporativo em São Paulo. Considera-se muito sortuda por ter tido a oportunidade de estar em contato com grandes profissionais, já em seu início de carreira, que lhe ensinaram o real significado da expressão “ir além”. Por este motivo, tomou pra si que sua missão será passar este conhecimento adiante, e então esperar que a cadeia de valor se estenda a outras cabeças pensantes e questionadoras.  


E mais gente boa vem por aí, fiquem com a gente que esse é só o começo.

Um grande abraço da Tribo do Mouse.