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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Superação do Vagabundo que Nunca Foi Vagabundo - Reedição

De vez em quando alguém sai da curva normal e aumenta o desvio padrão de qualquer estudo estatístico sobre o ser-humano.

Foi assim que Ubirajara Gomes da Silva, que morou 12 anos nas ruas do Recife, dormindo embaixo de um pé de manga e usando um banco de praça como armário, passou no concurso de escriturário do Banco do Brasil em 2008, com um salário inicial de R$942,90 mais gratificação de 25%. Para quem ganhava em torno de dois reais por dia, o novo salário, cujo valor bruto é de quase R$1.200,00 é uma dádiva.

O ex-mendigo tem 1,74m e chegou a pesar 50 quilos. Todos os dias, com um real, passava no mercadinho e comprava uma pequena fatia de bolo-de-rolo e um copo de coca-cola. Para estudar, tinha que fazer uma opção, pagar o acesso à internet ou comer. Algumas vezes, preferiu estudar, à despeito da fome - e foi assim que tomou conhecimento desse e de mais outros 4 concursos e passou na posição 136 do concurso do Banco do Brasil.

Deixando a história de superação de lado, que daria pano para muito texto pelo extraordinário do fato, o que mais me impressiona na história de Bira, como é chamado, é a percepção que as pessoas tinham dele. Em suas próprias palavras em uma entrevista a uma rede televisão, comentou que "vivia dormindo, era muito sonolento, minha pressão caía, e o pessoal falava, 'ele só quer dormir. É a vida que ele quer'. O pessoal me chamava de preguiçoso, de doido...". Taxistas da praça, que agora sentem falta do "louco" que só dormia e lia tudo o que passava nas mãos e no chão, também o viam como um preguiçoso, um vagabundo.

O que ninguém talvez tenha se dado conta na época (hoje é fácil realizar essa análise) é que com pouco açúcar no sangue e sempre com fome, não há cristão que consiga manter-se elétrico e sorridente. O sono era uma pura conseqüência da fome e... do próprio esforço de escolher estudar a comer.

A façanha de Ubirajara só ficou conhecida porque ele superou toda e qualquer expectativa e foi aprovado em um concurso público, passando de indigente a classe-média. Não fosse esse pequeno detalhe, o esforço, o trabalho, a dedicação, muitas vezes acompanhada de fome, não seriam percebidas. Seria apenas mais um mendigo - daqueles que lhe pedem esmola nas sinaleiras e você faz um sinal de negativo. Ninguém iria saber da sua capacidade e do seu esforço.

Hoje, depois do ocorrido, já praticamente uma celebridade na cidade, as pessoas o admiram. "É um exemplo de pessoa". Provavelmente essa mesma pessoa, não fosse o tão famoso detalhe de ter passado no concurso, o teria chamado de vagabundo naquela época, pois só queria dormir.

Percepção é tudo. Sendo você líder ou não, lembre-se de analisar a situação como um todo, de forma imparcial. Seu funcionário ou colega pode ter fracassado em uma tarefa ou em um projeto por uma centena de fatores, alguns muitas vezes ocultos.

O verdadeiro líder é aquele que entende, que estende à mão ao Bira e pergunta porque ele dorme tanto. O verdadeiro líder senta-se ao lado de Bira e conversa com ele. O verdadeiro líder repreende Bira quando ele talvez escolha erroneamente gastar o real excedente que tinha ganho a mais no dia com um outro copo de coca, ao invés de comprar algo mais nutritivo.

O verdadeiro líder pode até, por descuido, abandonar o Bira, mas nunca, nunca mesmo, o chamará de vagabundo porque o viu dormindo em um banco da praça sem entender todo o contexto antes.

Dr. Zambol
--

Babacas e Babaquinhas

Foi por e-mail, às 18:30 da tarde, que Gustavo ficou sabendo que a sua professora não trabalhava mais na escola. O e-mail chegou, na verdade, para mãe do Gustavo. Um simples e-mail, que não explicava coisa nenhuma. Sacangem com o guri, e ele gostava tanto da professora.

Indignada a mãe foi tomar satisfação na escola. O que teria acontecido?

De acordo com a coordenadora, durante a aula duas meninas não paravam de incomodar, conversavam freneticamente atrapalhando os colegas. Depois de inúmeros pedidos a professora solicitou que elas fossem para sala da direção. Elas se recusaram, agarrando-se às carteiras. Começaram então a xingar e botar a língua. Com ajuda de um assistente a professora finalmente conseguiu remover as meninas da sala e encaminhá-las a direção.

Resultado: As mães das alunas ameaçaram processar a escola por conta da "agressão" sofrida pelas filhas caso a professora não fosse demitida, o que de fato ocorreu.

Seria difícil fazer juízo do que realmente aconteceu não fosse o depoimento do próprio Gustavo, um dos guris mais gente boa que eu conheço e meu parceiro de videogame:
- Tio Jack, não dá para aguentar as duas mesmo, elas ficam o tempo todo atrapalhando a aula e nunca deixam a professora explicar. Além do mais a Tia não fez nada, não machucou elas, só tirou das carteiras e levou para a coordenação.

Dias depois, em uma festinha de aniversário, as mães se gabavam do feito, chamando as filhas de "Meninas Super-poderosas". E aí eu me pergunto:
- O incidente do Neymar com o treinador é surpresa?

Escreva o que eu estou dizendo, sempre que você encontrar um babaca que se acha o dono do mundo, um daqueles sujeitos que acreditam que tem mais direitos que você, pode ter certeza, ele teve um pai babaca.

[]s
Jack DelaVega

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Projeto de Carreira

É uma expressão comum no meio organizacional, tópico certo em entrevistas de emprego:
- Qual o seu projeto de Carreira? 

Até aí, nada de novo, cada um de nós tem ou deveria ter um projeto de carreira. O que a maioria das pessoas não faz é justamente tratar a carreira como um projeto. Refiro-me a definição clássica de projeto:  “Um empreendimento temporário para criação de um produto único”. 

Toda carreira é única, e, ainda que dure quase uma vida, temporária. Além dessas características, um projeto pode ser descrito da seguinte maneira:
- Possui um propósito claro e definido.
- Possui dependências externas e internas.
- É elaborado progressivamente.
- Está em um ambiente de conflito, pois modifica a realidade existente.

Percebeu onde eu quero chegar? O mesmo pode ser dito em relação à nossas carreiras, Gerenciamento de Projetos e Gestão de Carreira são coisas que deveriam andar de mãos dadas, mas que normalmente ficam separadas. Vamos pegar como referência o framework de gerenciamento de projetos apresentado pelo PMI (Project Management Institute), organização mundial mais importante na área. O PMI divide o Gerenciamento de Projetos em disciplinas, áreas de conhecimento. Dentre elas estão: Escopo, Tempo, Custos e Riscos, todas com direta aplicabilidade na gestão de carreira conforme apresentado abaixo:

Escopo: Onde você quer chegar? Quais são os objetivos do seu projeto de carreira? Como traduzir esses objetivos em tarefas SMART(Específicas, Mensuráveis, Atingíveis, Relevantes e de Tempo Determinado). 

Tempo: Como desenvolver o cronograma do seu "Plano de Carreira"? Tão importante quanto planejar é acompanhar a execução desse plano, definir "marcos", checar sua evolução e fazer os ajustes de curso necessários. Um plano sem datas vira conversa de botequim.

Custos: Todo projeto envolve custos. Como estimá-los e assegurar que o projeto terá um retorno de investimento? Em quanto tempo um determinado investimento em carreira se paga? São análises básicas a serem feitas antes de se optar por um MBA ou qualquer qualificação que envolva desembolso financeiro.

Riscos: Empreendimentos envolvem riscos e com a carreira não é diferente. Quais são os riscos envolvidos em uma determinada opção profissional? Você conhece o seu "apetite para risco"? Como ponderar o "escore de risco" associado a cada escolha?

O ferramental que responde as perguntas acima está no Gerenciamento de Projetos. Esse texto é apenas uma introdução sobre o assunto, espero desenvolver melhor essas idéias nas próximas semanas, detalhando a aplicabilidade de cada uma dessas ferramentas no planejamento de carreira. Termino com uma frase que adoro do escritor americano E.B White:

“Eu acordo pela manhã todo o dia determinado a mudar o mundo...
Algumas vezes fazer o planejamento diário é um pouco difícil.”

[]s
Jack DelaVega

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dicionário de Eufemismos Corporativos

Frases que ouvimos todos os dias, mas muitas vezes não nos damos conta do real significado. 

- Concordo que o Raul possui limitações, mas você tem que entender que ele começou empresa junto como seu Jorge e é da inteira confiança dele:
O Raul é um incompetente, mas tem as costas quentes com o dono da empresa.

- Estamos nos re-organizando em função das flutuações do mercado, tomando as decisões certas agora para que a companhia possa crescer no futuro.
Estamos demitindo a rodo. Honestamente, não sei onde essa empresa vai parar

- Espero que você receba isso de maneira positiva. Não sei se é fato, mas a percepção dos seus colegas é que você é uma pessoa difícil de trabalhar.
Você é um mala!

- Desculpe chefe, mas a equipe decidiu que não vamos convidar nenhum gestor para esse churrasco.
Você é um mala, chefe!

- Horário? Não temos horário fixo aqui, trabalhamos focados no cumprimento dos objetivos.
Nem sonhando você vai conseguir terminar suas tarefas no horário do expediente, prepare-se para levar trabalho para casa e abdicar de qualquer vida social.

- Não é que eu não acredite que você esteja pronto para uma promoção, mas o fato é que se eu fizer isso cedo demais corro o risco de queimar você na empresa.
Eu não acredito que você esteja pronto para uma promoção

- Salário é apenas uma das inúmeras variáveis do nosso pacote de retenção:
Não pagamos bem, mas tem uma máquina de expresso na cafeteria.

- Você sabe com quem está falando? 
Com um babaca com mania de grandeza.

- Seu currículo é bom, mas acredito que você esteja over-qualified para essa posição.
Não sou bobo de contratar você, com essa qualificação em seis meses tiraria o meu lugar.

- Valorizamos a iniciativa dos funcionários, contanto que esteja sempre alinhada com os objetivos da alta gestão.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

- Concordo, mas...
Discordo.

- Gostei da sua idéia, mas tenho uma sugestão para torná-la ainda melhor.
Vou mudar uma vírgula e vender essa idéia como minha.

- Nosso target na call é pegar o feedback do VP sobre o Business Plan e fazer o follow-up dos action itens para conversão do pipeline do quarter.
Trabalho em uma multi-nacional que já criou um dialeto próprio.

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Destino às Vezes é Apenas uma Palavra Usada como Desculpa - Reedição

Jean-Dominique, em seus ávidos 43 anos, editor de uma grande revista de moda, na volta para casa passa mal e desmaia. A ambulância é chamada, que o leva para o hospital. Vítima de um grave AVC, entra em coma. Vinte dias mais tarde ele acorda, e descobre incrédulo que está com a raríssima síndrome de locked-in. A síndrome de locked-in é uma das coisas mais horripilantes na área da medicina: o paciente encontra-se plenamente consciente, com total capacidade mental, mas não consegue mexer nenhum músculo fora os olhos. A síndrome tem esse nome porque a pessoa está presa dentro do próprio corpo - não consegue se mexer, não consegue se comunicar, não consegue nada. Apenas consegue piscar os olhos. É muito pior que a tetraplegia.

Essa história é real. Ela ocorreu com Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle.Eu li essa história há muitos anos atrás, na revista Seleções, na sessão de livros. Essa semana, com a intenção de comprar o livro do assunto, pesquisei na internet e me lembrei de alguns detalhes do que havia lido. A história é simplesmente fascinante.

Como desgraça pouca é bobagem, Jean-Dominique em pouco tempo desenvolve um problema no olho direito e perde-o. Portanto, se antes possuía dois olhos para realizar uma comunicação primitiva com o mundo exterior através de piscadelas, agora só possui o olho esquerdo.

Decidido em continuar a achar um sentido para sua vida, com a ajuda de uma fonoaudióloga, que recita as letras do alfabeto francês na ordem que mais ocorrem e espera a piscadela dele indicando que aquela é a letra que ele quer utilizar, Jean-Dominique escreve um livro inteiro, publicado no Brasil com o nome de O Escafandro e a Borboleta, contando a experiência de se manter encarcerado dentro de seu próprio corpo.

Existem várias lições que podemos tirar da história de Jean-Dominique. Mas destaco duas que têm tudo a ver com o ambiente corporativo.

A primeira é a mais batida: persistência e perseverança diante de dificuldades hercúleas. Mesmo batida, é vendo casos como o de Jean-Dominique que nos damos conta o quanto às vezes nos deixamos vencer por problemas relativamente simples. O segredo é mais do que claro: achar a motivação para superar o problema a ser enfrentado. No caso de Jean-Dominique, a superação da situação que se encontrava foi motivada pela chance de contar ao mundo o que uma pessoa sente ao ficar encarcerado em seu próprio corpo; pela chance de se comunicar com o mundo inteiro mesmo tendo grandes dificuldades de se comunicar com a sua esposa ao seu lado. É esse tipo de atitude que diferencia os vencedores das pessoas comuns. No livro Outliers, de Malcolm Gladwell, o autor faz uma relação bastante interessante do quanto as pessoas que vencem na vida demoram na média duas a três vezes mais para desistir de um problema do que uma pessoa comum. A explicação é mais do que lógica: no processo de insistir na solução do problema, você não apenas estimula o cérebro e cria novas conexões, mas também aprende exponencialmente muito mais do que quem desiste no início dos problemas.

A segunda lição foi não aceitar o encarceramento, prisão, ostracismo ou seja lá que nome você queira dar. É muito comum nos pegarmos reclamando de nosso emprego: "não tem mais como aguentar mais isso - é uma empresa ridícula" ou "eles nos tratam como palhaços!". Se você realmente pensa desse modo, adivinhe!? Você tem duas pernas e um cérebro plenamento funcional. Então pare de reclamar e mude logo de emprego! Mas tenha certeza que você se sente realmente assim e não é apenas uma reação exagerada, o que também é muito comum.

Seja como for, o que não é aceitável é estar infeliz onde se trabalha. O trabalho não foi feito para ser um fardo. Passamos mais tempo no trabalho do que em qualquer outra atividade da vida. Portanto, ser infeliz no trabalho significa necessariamente ser infeliz na vida. Não deixe isso acontecer. Batemos sempre nessa tecla aqui na Tribo do Mouse . E continuaremos batendo porque parece que o óbvio continua sendo visto apenas como um sonho, um ideal: "felicidade no trabalho".

Jean-Dominique realmente não aceitou a situação. Tentou se livrar de todas as formas de sua prisão, fazendo o máximo de coisas que lembrassem uma vida normal. Quando chegou ao seu limite de tentativas e viu que não teria jeito, decidiu "sair do seu emprego", pois aquilo já não lhe bastava. Infelizmente para ele, "sair do emprego" significava morrer. Mas decisão difícil era fichinha para ele. Pela leitura do livro,vê-se que, embora não completamente convencido, a decisão de desistir foi consciente - e morrer foi o seu prêmio.

Você que está agora no seu trabalho lendo esse post, lembre-se que para você mudar os rumos das coisas em sua vida felizmente não implica em desistir da vida. Basta uma pitada de entendimento do que se realmente quer do futuro, outra pitada de entendimento do que lhe faz feliz e uma grande porção de coragem e amor-próprio. Ninguém vai tomar essa decisão por você. Se realmente você está infeliz ou em algum lugar que não condiz com seus planos de futuro, monte agora mesmo um plano para sair dessa prisão que você mesmo se meteu e execute o primeiro passo nessa semana.

E faça logo antes que a vida decida por você que é tarde demais.

Dr. Zambol
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Morte Pede Passagem

Deitado, imóvel, via aquelas dezenas de pessoas à sua volta chorando. Não sabia que morrer era assim. Não sabia que ainda veria as pessoas depois "do acontecido". Ainda mais com a visão da sua própria perspectiva, como se os seus olhos ainda funcionassem.

"Cadê aquelas visões de cima, onde se vê todo mundo, inclusive o nosso próprio corpo, que os mortos sempre vêem nos filmes?" pensou. "Que porcaria de visão é essa?". A visão que tinha de dentro do caixão realmente era muito limitada pelas laterais altas do caixão onde se encontrava. Muitas das pessoas que estavam sentadas estavam completamente tapadas pela maldita lateral do caixão.

"Quem será que comprou esse caixão com esse veludo cor de vinho dentro? Que coisa mais cafona!", pensou irritado Marcos Schnizel, o diretor de produção de uma grande empresa de construção de aviões.

Sua morte tinha sido rápida e praticamente indolor. Um grande aneurisma havia se rompido após o churrasco de domingo. Sentiu uma forte dor de cabeça, mas logo a visão ficou turva e a próxima coisa que se lembra era "abrir" os olhos já dentro daquele caixão.

Marcos era workaholic. Tinha conseguido reduzir em 75% as falhas na produção, mesmo com um aumento no volume de aviões montados na ordem dos 40% no último ano. Era reconhecido em toda a empresa como uma pessoa brilhante, cheio de ideias e sempre muito motivado.

Foi quando viu um dos seus gerentes sêniors se aproximar dele. Olhou para ele com os olhos marejados e disse como se soubesse que Marcos estava lá para ouvir:

- Você foi um grande chefe Marcos. Não vou esquecer nunca de ti. Mais do que um mentor, você me mostrou o que é ser um bom líder. Vai em paz amigão! Você foi o melhor chefe que tive!

"Paulo, Paulo. Eu tô te ouvindo cara. Tu também é um excelente profissional! Tu vai se dar muito bem. Espero que tu me substitua na posição de diretor. Ah, e vê se finaliza aquele processo de ..."

Mas Paulo havia ido embora já. Marcos se deu conta que podia ver e ouvir, mas não era escutado. Ninguém sabia que ele estava ali, presenciando tudo como se ainda estivesse vivinho da silva.

Então um outro funcionário seu se aproxima:

- Marcos, a gente trabalhou dez anos juntos. Tu me contratou estagiário e me promoveu até a gerência. Devo tudo o que sou profissionalmente a ti. Espero que tenha sido indolor e que vá para o céu direto. Tu merece...

Mesmo morto, Marcos sentia uma emoção muito forte ouvindo aquilo tudo. Não podia terminar sua vida melhor. Bom, na verdade sua vida já havia terminado, mas aquele fechamento e aquelas confissões são coisas que só morto se escuta mesmo.

E não parou por aí. Marcos aquela noite contou 22 pessoas que trabalhavam direta ou indiretamente com ele que passaram pelo seu caixão, olharam para ele, e comentaram qualidades que nem sabia que tinha e demonstraram sentimentos por ele que nunca havia percebido. Algumas daquelas pessoas ele até tinha certeza que não gostavam dele. A morte lhe provou o contrário.

Realmente, o velório de Marcos estava indo de vento em popa. Marcos estava emocionado. Não chorava porque não tinha mais lágrimas, mas estava muito emocionado e convicto que tinha acertado na vida.

- Ai meu amor - falou sua esposa, com a voz embargada - porque você ficou tão distante de mim e do seu filho nos últimos 5 anos? Não sei se te conheço bem mais. Não sei quem você foi bem nesses últimos anos. Era só empresa. Só sabia falar e pensar nisso. Mesmo na janta estava sempre com o seu blackberry ligado e respondendo e-mails. Por que meu amor?

"Lúcia, eu fiz isso por nós, pela educ..."

- Eu não precisava de metade do nosso dinheiro. Precisava era de ti. Precisava era de um pai presente na criação do nosso filho, que tanto sente a tua falta. Mas sei que tu não fez por mal. Vai em paz meu amor.

Marcos estava abismado. Dois minutos atrás era o morto mais feliz do mundo. Agora queria morrer....Bem, queria sair daquela situação e desfazer tudo aquilo. Queria viver novamente. Foi quando então viu seu filho de 8 anos.

- Pai, te amo. Pena que a gente não jogou aquela partida de futebol que a gente ficou de fazer no verão passado. E nem brincou novamente de "túnel de vento" que eu tanto gostava. Tu tinha prometido pai. Não quero que tu vai embora. Não quero, não quero...

Aos berros, seu filho foi acolhido pela avó, que levou-o para fora para acalmá-lo.

Marcos estava atordoado. O que tinha feito errado? Tentava ver sua esposa e filho. Queria ver como estavam. Mas as bordas...as bordas do caixão o cegavam. Não conseguia vê-los. Imerso em pensamento do que tinha feito errado, viu Paulo chegar ao seu lado novamente e começar a fechar a tampa do caixão.

"Não, não. Espera. Quero ver meu filho ainda! Onde ele está?"

CLICK! Escuridão total.

Foi o último som e a última coisa que Marcos viu.

Pobre Marcos. Um grande diretor. Um pai e um marido ausente.

Dr. Zambol
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