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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Gerenciando para Cima

Miguel não cabia em si. Depois de meses de trabalho duro, finalmente veio a recompensa, uma merecida promoção. Iria gerenciar agora grande parte dos seus antigos colegas, responsabilidade que se sentia pronto para assumir. Sua liderança natural sobre a equipe facilitava as coisas e, verdade seja dita, tinha uma boa aceitação do pessoal.

Os primeiros dias na nova função foram de ajustes, afinal, era esperado dele uma mudança de postura. Chefe tem que agir como chefe. Deixou de lado o almoço com os colegas para almoçar com os demais gerentes. Passou a se vestir melhor, abandonando o jeans e a camisa pólo. Seu uniforme agora era calça cáqui e camisa social. Nem mesmo ao “Casual Friday” resolveu aderir, melhor não facilitar nessa hora. Ah, e deixou de usar o crachá no pescoço, gerente que se preza quando usa crachá, usa na cintura.

Mas, para o seu Diretor, continuou a mostrar a mesma postura profissional que o levara a promoção. A palavra do Diretor era lei, e não havia impossível para um sujeito como Miguel. Aos poucos Miguel começou a se comprometer além do limite, simplesmente para atender os desejos do seu chefe, e, quando a pressão apertava, ele simplesmente repassava a bola para o time. Foi então que Carlos o procurou para discutir os problemas com seu último projeto.

- Miguel, posso falar contigo um pouquinho?

- Oi Carlos, qual o problema?

- Cara é o seguinte. É simplesmente impossível a gente entregar o projeto na data que você nos passou. Existem muitas dependências com outros projetos e nem mesmo o fornecedor tem condições de atingir essa data.

Miguel endureceu a face.

- Carlos não tem jeito. O Diretor pediu, a gente tem que fazer. É para isso que a gente está aqui, para fazer acontecer. Dá um jeito rapaz, dá um jeito. Eu é que não vou voltar para o Diretor e dizer que não dá depois de ter me comprometido com uma data.

- Pois é Miguel, mas esse é o problema. Como é que você foi se comprometer com o homem sem falar com a gente antes, sem contra-argumentar?

Carlos estava tranqüilo, falando com o chefe como amigo, mas Miguel não parecia aceitar o feedback.

- Olha Carlos, acho que está na hora de você começar a pensar diferente, senão nunca vai chegar ao cargo de Gerente.

Que paulada! Mas Carlos encarou Miguel com serenidade e falou:

- Bom, se virar gerente significa trair os meus ideais e esquecer o que é certo, eu certamente não estou preparado. Aqui está o meu relatório com uma análise técnica detalhada, explicando porque não podemos entregar na data acordada. Se você não se sentir “confortável” de enviar para o Diretor, eu mesmo posso enviar. O Miguel que eu conhecia teria feito as coisas de maneira diferente.

E deixou a sala.

Miguel ficou parado por alguns minutos apenas olhando para o relatório em cima da mesa. O que iria dizer para o Diretor? Talvez o que o tenha levado até ali não fosse suficiente para levá-lo adiante. Com certeza para ser gerente era preciso mais do que simplesmente colocar o crachá na cintura.

[]s

Jack DelaVega

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Mais Uma sobre Democracia - ou "Pede pra sair!"

Duas semanas atrás, conversamos um pouco sobre a influência crescente das grandes empresas e a consequente queda da democracia. Pois bem, essa semana algumas conversas me proporcionaram mais um exemplo. Segue aqui uma historinha para se pensar no final-de-semana então.

"Mais um belo dia de trabalho na Bogus Inc., aquela multinacional gigantesca, com milhares de empregados ao redor do mundo. Empresinha importante aquela, com faturamento anual maior do que o PIB de muitos países.

De repente, um e-mail do RH para todos os funcionários anuncia a mais nova medida: para fomentar um ambiente de trabalho limpo e saudável, a partir do mês que vem será proibido fumar em todas as dependências da empresa (incluindo escritórios, entornos, estacionamentos, etc).

Paulo lê o email e acha muito bom. Ele não fuma e odeia o cheiro do cigarro. Mais ainda, não consegue conceber como alguém com razoável inteligência pode ter um hábito tão estúpido. Ele não aceita a versão do vício e particularmente acredita que quem usa a desculpa não passa de um ser humano fraco que não tem capacidade nem mesmo de controlar uma mera necessidade física ou mental passageira. Paulo acha a medida um grande passo da empresa no sentido de promover a saúde dos funcionários.

José também vê a medida com bons olhos. Ele é um fumante inveterado há mais de 15 anos, mas envergonha-se disso e enxerga nessa medida uma força a mais para tentar parar. Ainda mais agora que seu primeiro filho chegou. 'Vai ser difícil, mas é a coisa certa a fazer', pensa ele.

Maria é uma liberal convicta. Ela lê o email e começa imediatamente a comentar a notícia com todos ao redor. 'Viram que absurdo?!' exclama ela. Para Maria aquilo é uma ameaça aos direitos mais básicos de um cidadão em uma sociedade dita democrática. Onde fica a liberdade de escolha? Se uma pessoa decide por algo que pode até fazer mal a si mesmo, mas não incomoda os outros, como fumar no intervalo do almoço no estacionamento da empresa, ao ar livre, o problema é dela. Que direito a empresa tem em definir que aquilo é proibido ou não? Qual a próxima medida? Ameaçar os gordos dizendo que a partir do ano que vem serão proibidas pessoas com peso acima do considerado 'saudável'? Proibir fast-food e pizza nos restaurantes corporativos? E a bebida alcóolica? Mais um detalhe: Maria é fumante.

Os dias passam, e os protestos, embora intensos nos primeiros dias subsequentes ao anúncio, lentamente diminuem até praticamente se extinguirem."


Parece que, assim como na relação cidadão-governo, na relação empregado-empresa esses momentos polêmicos lentamente se esvaziam e tudo volta ao normal. Muito provavelmente porque não há diálogo entre essas partes. Se o cidadão reclama, o governo normalmente não responde e o assunto naturalmente morre. Afinal quem responde em nome do governo? São tantos e por isso acaba sendo nenhum. Da mesma forma, se o empregado reclama, a empresa normalmente não responde, e tudo vira história. A saída reside na escolha pessoal de cada um. Já dizia Paulo Francis: "se não aguenta o calor, saia da cozinha". Ou como o Jack disse no seu último post, tem que acreditar, do contrário é melhor abandonar o barco.

Mas em tempo de crise global, quem está preparado para levantar o braço e pedir pra sair?

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ode e Ódio ao Nescau

Sempre fui um fã do Nescau. Para se ter uma idéia, tomo nescau desde que me conheço por gente. E tomo muito - umas 3 ou 4 canecas de leite e Nescau por dia.

Muitos amigos e amigas meus também são fãs. Na praia, era a maior sensação. O Nescafé era desprezado e deixado muitas vezes jogado ao ostracismo. Muitas horas já foram gastas em grandes sessões filosóficas onde discutíamos que o Brasil era o único país que toma tanto Nescau e o quanto isso mudou a nossa geração.

Mas aí é que enrola a história. Depois de uma peregrinação a dois Zaffaris e de falar com a responsável pelos produtos da Nestlé no super-mercado, recebo a notícia bombástica: o Nescau mudou. Agora só vai vir o 2.0, com nova fórmula e nova lata.

Não acreditando no que estava acontecendo, tomei coragem, liguei para os meus parentes relatando o que iria fazer e fiz uma loucura. Fui para o Big, tamanho meu desespero. Desviando dos alucinados atendentes de patins, equilibrando produtos e gritando, atravessei largos corredores em busca da lata perdida. Nada.

Quando cheguei em casa, com a cabeça já no lugar, provei o Nescau 2.0. Dois segundos depois, meus maiores temores se confirmam. Mudou, e muito. Ficou muito parecido com o Toddy.

Mas que diabos? Por que uma empresa iria fazer algo tão idiota? Por que iria trocar uma fórmula que todo mundo gosta? Seria como se Steven Jobs chegasse para a sua turma e falasse que precisa trocar a cara do iPod para ficar parecido com o concorrente, que vende 20 vezes menos. Não consigo conceber a razão de uma coisa dessas ocorrer. Realmente não consigo. Até imagino o diálogo:

- Sr. Presidente, temos uma nova fórmula para o Nescau.
- Nova fórmula?
- Sim, achei que iria ser bom mudá-la.
- Mudar para quê?
- Ué, achei que mudar era bom.
- Hmmm, ok. Deixe-me ver...

Enviei um e-mail indignado ao SAC da Nestlé perguntando as razões disso e reivindicando a volta do velho e bom Nescau 1.0. Comentei que os nerds estavam muito aflitos e que isso não se faz com uma classe já tão sofrida. Infelizmente, ainda não recebi resposta.

Como estratégia de protesto, combinei com meus amigos para comprarem o Toddy, e não o Nescau, já que agora são o mesmo produto. Já imagino o resultado na próxima reunião mensal de metas da Nestlé:

- Senhor, temos um problema na região sul com o Nescau.
- O que houve?
- Diminuímos em 0,00003% as vendas lá.
- Droga, deve ser aquele nerd que escreveu para o SAC e disse que ia fazer um motim. Vou mandar voltar a produzir o Nescau 1.0 imediatamente.

Mais uma vez, não consigo entender a estratégia de mercado por trás disso. Lançar um iPod com novas funcionalidades é uma coisa. Trocar o gosto de um carro-chefe da Nestlé é outro.

Minha esperança é que vire o mesmo fiasco da New Coke, que depois de investir bilhões de dólares na nova fórmula, foi simplesmente odiada pelo público e fez com que a companhia voltasse ao sabor antigo. Hoje, a New Coke praticamente não existe, embora em alguns países a coca-cola normal ainda se chame Classic Coke. Aliás, nem a coca-cola fez a troca da noite para o dia. Deixou os dois produtos rodarem em paralelo. Por que não o Classic Nescau?

Agora me dêem licença. O microondas bipou. Meu leite está quente e esperando pela minha lata de Toddy, novinha em folha.

Dr. Zambol
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segunda-feira, 23 de junho de 2008

É Preciso Acreditar

Acho que todo o adolescente adora filmes de terror, pelo menos comigo foi assim. Mas confesso, com certo saudosismo, que tive a sorte de crescer nos 80, berço de inúmeras pérolas do gênero. Para os mais jovens, foi nos anos 80 que surgiram Freddy Krueger, seu amigo Jason, e o menos famoso mas tão sanguinário quanto, Chucky, o brinquedo assassino. Porém foi um filme de vampiros, um clássico filme de vampiros, que na minha opinião sintetiza o clima dos 80 como nenhum outro.

Em A Hora do Espanto, um jovem descobre que seu vizinho yuppie é na verdade um demoníaco chupador de sangue. É claro que ninguém acredita nele, daí o pânico do rapaz ao tentar convencer os amigos e família que o Nosferatu mora ao lado. A essa altura você deve estar se perguntando, onde diabos esse cara quer chegar? Será que a Tribo ainda fala de carreira e vida no escritório? Calma que eu chego lá.

Em uma das minhas cenas preferidas, o herói tira do bolso um crucifixo para enfrentar o vampiro. Ora, qualquer pessoa sabe que o crucifixo, ainda que espante o vampiro, não é a melhor opção, sendo as estacas, bestas ou arco-e-flechas preferíveis. Mas nessa cena em específico, para espanto do mocinho, o vampiro não se a abala com a exibição do crucifixo, e rebate com sarcasmo:

- Para esse truque funcionar você tem que ter fé.

E esse é meu ponto: Se até para a trivial tarefa de matar um vampiro, é preciso acreditar, que dirá para a condução de nossas carreiras?

Recentemente o Reggie fez menção ao Fim da Democracia em um de seus posts. Foi um belo texto, que gerou bastante discussão. Eu concordo plenamente com o que foi dito lá, e vou mais adiante: As corporações estão tomando parte das responsabilidades dos governos em nossas vidas. Quer você goste ou não, sua empresa tem um papel mais presente na sua vida do que seu governo. Soma-se a isso a necessidade que a pessoas tem de "Pertencer a algum lugar", faz parte da natureza humana vestir a camisa. Pense nas empresas vencedoras do mundo de hoje, Google, Apple, as nacionais Vale e Petrobras. Já reparou o orgulho que os funcionários dessas empresas tem em literalmente "Vestir a Camisa" e espalhar aos quatro ventos onde trabalham? Quando se está em um ambiente assim, quando se acredita na empresa, para bem ou para o mal, a Democracia acaba se tornando uma questão menor. Mas repare, para essa mágica toda funcionar é preciso que se tenha fé, é preciso que você acredite na sua empresa, no seu líder, no seu trabalho, em você.

E você? Acredita?

Se acredita, vou lhe poupar tempo, pode parar de ler o post por aqui.

Ainda está comigo? Tudo bem, não é o fim do mundo, asseguro que tem mais gente nesse barco. Mas pelo menos temos que discutir o assunto. Nesse caso você tem duas opções: Resignar-se e aceitar o sistema, ou buscar alternativas. E convenhamos, para citar o nosso presidente, "Nunca antes nesse país..." o momento esteve mais propício para isso. A exuberância da economia brasileira, com crédito abundante e mercado de consumo em expansão, apresenta um cenário extremamente positivo. Essa é a hora de trocar de empresa, de trocar de profissão, de buscar o empreendedorismo. A hora de deixar de se sujeitar aos ditadores de plantão e perseguir um projeto que você realmente acredite, seja ele onde for. E que tal, para aqueles que estão cansados desse regime ditatorial, tornar-se o próprio Ditador? Qualquer das opções é melhor do que ficar inerte.

Ou você vai ficar parado esperando que as Sanguessugas do Além bebam todo o seu sangue?

[]s

Jack

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O Cara que Ganhava Mais que o Gerente

Joe estava na empresa fazia pouco mais de 1 ano. Havia sido contratado em um período de plena expansão da área de TI na sua cidade. Haviam mais ofertas do que candidatos e obviamente trabalho não faltava. Joe trabalhava nessa pequena empresa de desenvolvimento de software que estava dando todo o gás para comer o almoço de algumas empresas grandes.

Mas esse "gás" todo havia cobrado o seu preço. Apesar de trabalhar apenas há 1 ano na empresa, Joe sentia como se fossem 5. Lembrava que com apenas um mês de empresa já virado o seu primeiro final-de-semana trabalhando. Depois de 3 meses, havia perdido a conta de quantas noites havia virado por causa do projeto. O ambiente nesses casos expele os mais fracos rapidamente. Joe já era um dos funcionários mais antigos no projeto, e por causa disso estava valorizado. Mas ele estava no seu limite e férias não existiam nessa empresa. Não durante um projeto. Não aguentava mais. Olhava para o futuro próximo, sedento por descanso, por calmaria. E não via possibilidade das coisas mudarem.

Decidiu então que iria colocar o plano "terrorismo" em prática.

O plano "terrorismo" é muito famoso, principalmente na área de TI. Ele funciona da seguinte maneira: o funcionário exausto, porém consciente do seu valor, diz ao empregador que recebeu uma "oferta". As duas saídas possíveis para essa situação são: ou o funcionário deixa a empresa e goza de merecido descanso ou recebe um aumento de salário para compensar a "oferta", e aguenta a carga de stress por mais algum tempo.

Joe procurou então Carlos, seu gerente, e aplicou o plano seguindo todas as regras.

- "Carlos, recebi uma oferta, de fora do estado, não tem como deixar de aceitar."
- "Peraí Joe, vamos conversar. Me deixa tentar negociar ao menos."
- "Não tem como Carlos. Me ofereceram 8 mil reais por mês. É quase o dobro do que ganho aqui. Você entende que fica difícil né."
- "Puxa vida. Assim você me quebra as pernas. Mas preciso muito de você aqui. Me dê uns dias, vou ver o que consigo com a diretoria".

Joe saiu da reunião com Carlos aliviado. Tinha certeza que não teriam como cobrir a proposta e em poucos dias estaria na praia, curtindo umas merecidas férias.

Dali dois dias Carlos o chamou de volta.

- "Grande Joe, acho que consegui algo para você."
- "Olha Carlos, a oferta lá é muito boa..."
- "Sei, sei, tá aqui o que a diretoria me autorizou a negociar. Aumentamos o teu salário para 7 mil nos dois próximos meses, e depois passamos a 8 mil em definitivo. O que tu acha?"

Joe suou frio. Aquilo era um salário irreal para o mercado. Ele havia chutado aquele valor estratosférico, quase o dobro do seu já bom salário exatamente para extinguir qualquer possibilidade de negociação. E não é que os caras cobriram? Obviamente que o um lado de Joe ficou extremamente tentado a aceitar. E Joe fraquejou. Um dia depois, aceitou a oferta.

E vibrou quando no mês seguinte viu toda aquela bolada em sua conta.

Mas as coisas na empresa mudavam rapidamente. E Joe ficou sabendo que Carlos estava saindo. No seu lugar, como gerente de Joe, entrou Paulo.

Ao final do terceiro mês após a negociação, quando Joe teria o seu salário aumentado para os 8 mil reais, surpresa. Não havia recebido o aumento como combinado com Carlos. Joe procurou Paulo e explicou a situação. Mas Paulo estava claramente desconfortável com aquilo tudo.

- "Paulo, provavelmente com a saída de Carlos alguém esqueceu de colocar a segunda parte do acordo em prática. Só temos que acertar isso e tudo bem", disse Joe.
- "Mas Joe, 8 mil reais?"
- "Bom, foi o acordo que fizemos na época. Voce pode confirmar com a diretoria, o Carlos disse que havia falado com eles."
- "Não se preocupe, vou confirmar sim. Não sabia nem que você ganhava 7 mil reais, menos ainda que iam aumentar para 8. Isso é bem mais do que eu ganho!"

Aquilo tomou Joe de surpresa. Paulo tinha um problema em lhe confirmar aquele aumento. E o problema era que Joe ganhava mais do que ele.

O tempo passou, Joe recebeu o tal aumento e tudo seguiu o seu rumo. Mas as notícias se espalharam. E Joe passou a ser encarado de forma diferente por seus colegas na empresa. Os mais novatos o olhavam com respeito. Os mais experientes com um pouco de inveja. Tudo porque ele era "o cara".

O cara que ganhava mais do que o gerente.

Reggie, the Engineer.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Tempestade Perfeita

O celular começou a bipar por volta das duas e trinta da madrugada. A mensagem automática enviada de um dos servidores da empresa antecipava problemas. Rodrigo jogou uma água no rosto e foi direto para o Computador. Logou nos servidores para tentar descobrir o que estava acontecendo. As primeiras informações eram inconsistentes, mau sinal. Alguma coisa estava aumentando o trafego nos servidores, o que levaria toda rede a um colapso em alguns minutos. Não demorou muito para constatar que estava sofrendo um ataque de hackers.

Como CSO (Chief Security Officer) de um dos maiores bancos de investimento da América Latina, as responsabilidades de Rodrigo eram imensas. Cuidava de toda a área de segurança dos sistemas de informação da companhia. Isso incluía a confidencialidade dos dados, dentro e fora da empresa, e a garantia de que os sistemas seriam à prova de falhas. Em 98% do seu tempo o trabalho era tedioso, consistindo na criação de políticas e relatórios de segurança corporativa. Os outros 2% eram normalmente noites como essa, onde sua tarefa era responder, da melhor maneira possível, a ataques virtuais. Porém, dos cinco anos à frente da segurança do banco, enfrentou poucas situações em que efetivamente tivesse que entrar em ação, em geral contra garotos de faculdade tentando testar suas habilidades. Mas, dessa vez sabia que estava enfrentando algo diferente, o padrão do ataque era extremamente sofisticado. Estavam sendo atacados por uma BotNet, rede de computadores controlados remotamente, com milhares de nodos. Imediatamente lançou mão de todo o seu arsenal de recursos, na tentativa de identificar e eliminar a ameaça.

Às oito da manhã, Rodrigo já estava lutando contra o ataque por mais de cinco horas. Deixou sua equipe, formada por mais dois técnicos, tomando conta das coisas enquanto rumava para o escritório, onde teria mais recursos para enfrentar o inimigo. O resto da manhã não foi muito diferente, cada vez que conseguia eliminar um conjunto de computadores que estava comprometendo seu sistema, um novo iniciava a operar, levando Rodrigo a começar tudo novamente. Ao meio dia decidiu pedir ajuda, mas para quem? Um dos problemas dessa profissão é que em momentos de crise não existem muitas pessoas a quem recorrer. Buscar recursos externos demonstra fragilidade da empresa ao olhos do mercado. Apenas duas pessoas poderiam efetivamente ajudar. Ligou para a primeira, Jaime "O Cabeça". Conheceu Jaime ainda na faculdade, seguiram a carreira de Segurança da Informação praticamente juntos, mas Jaime decidiu por trabalhar como consultor freelancer. Rodrigo sabia que podia contar com o Cabeça numa situação dessas. Em uma conversa rápida conseguiu a ajuda que precisava, pelo menos por algumas horas.

- Beleza Rodrigo, estou indo aí para te dar um força, mas só posso ficar até às sete, afinal, hoje é dia dos namorados, e a Fernanda me mata se eu der o bolo nela.

Dia dos Namorados, tinha esquecido completamente. Esse comentário o lembrou da segunda pessoa da lista. Havia terminado o namoro com Júlia fazia uma semana. Não fosse por isso, teria ligado imediatamente para ela. Júlia era um dos melhores técnicos de segurança do país. Porém, achou cedo demais para pedir um favor, ainda não estava tão desesperado assim.

Com a ajuda do Cabeça seguiu combatendo o ataque ao longo do dia, minimizando o impacto para a instituição, mas sem uma solução efetiva para o problema. Por volta das nove da noite os ataques ainda persistiam, em menor volume. Em nenhum momento chegaram a comprometer totalmente a operação do banco, mas causaram um impacto considerável. Rodrigo estava exausto, acordado desde a madrugada, lembrou de uma passagem do livro de Amyr Klink, onde ele descreve horas e horas de luta contra a "Tempestade Perfeita", lutando por sua vida amarrado ao deck do Parati.

Foi então que teve mais tempo para pensar no que motivou o evento. Ataques dessa natureza podem ter uma motivação política, a exemplo de um em larga escala feito ano passado à Estônia, deflagrado por hackers Russos em represália à derrubada de uma estátua na capital do país. Essa opção estava descartada, em função do cenário geopolítico nacional. Outra motivação seria estratégica, ou seja, o ataque poderia ter sido deflagrado por um concorrente. Esses eram casos raros, também pouco prováveis. Finalmente, existiam os ataques criminosos, fruto de puro vandalismo, no qual o invasor não se beneficia diretamente do fato, ou efetivamente para ganhos financeiros. Dada a complexidade do ataque, Rodrigo analisou que seria muito trabalho para um simples caso de vandalismo. Mas intrigava o fato de que, se a motivação fosse realmente financeira, já teriam recebido uma nota com o "pedido de resgate". Foi quando uma janela de IM pipocou na sua tela:

- Cansado?

Era a última pessoa com quem ele esperava falar, Júlia, sua ex. Se ao menos ela o tivesse chamado mais cedo, quem sabe poderia prestar alguma ajuda. Resolveu confidenciar o acontecido para ela:

- Você não imagina como, estou acordado desde a madrugada. Estamos sob ataque aqui no banco.

- Na verdade sei exatamente o que você está passando.

E fulminou:

- Isso é pra você aprender. Nunca termine com um hacker uma semana antes do dia dos namorados!


[]s

Jack DelaVega

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Queda da Democracia (ou Por que não fazer diferente?)

Essa fase de escrever livro é muito interessante. Faz a gente pesquisar um bocado, ler, re-ler, refletir, pensar no futuro. Outro dia estava revisando as minhas anotações dos livros que leio e achei uma muito interessante, não sei como não tinha falado sobre ela ainda.

O "post-it" estava colado no livro "Você Está Louco!", do Ricardo Semler (excelente por sinal). Ele dizia:

"A queda da democracia".

Já fazia sentido em 2006, quando livro foi lançado, e faz muito mais sentido ainda hoje, quando o mundo parece estar em uma espiral negativa nos mais variados aspectos (econômico, ambiental, político, etc).

O ponto que o Semler levanta é o seguinte: com a globalização e o foco cada vez maior em crescimento, as empresas gigantescas têm importância maior do que a de muitos países. Se fosse produzida uma lista única dos 100 mais do globo (em receita) contendo empresas e países, 61 componentes seriam empresas e apenas 39 seriam países. Levando-se em conta o fato de que as empresas não são instituições democráticas, poderia-se afirmar que a democracia está na verdade diminuindo.

Tem mais. Vejamos se alguns dos itens abaixo lhe é familiar dentro da sua organização:

  • Planejamentos qüinqüenais;
  • Líderes apontados, nunca escolhidos pelos subordinados;
  • Ausência de processos democráticos para tomada de decisões;
  • Monitoramento dos indivíduos (ponto, filtro de Internet, etc);
  • Abismo entre cúpula e linha de frente (Blackberries, bônus, viagens de 1a classe, etc);

Tudo muito normal certo? Bom, então seja bem-vindo à um ambiente praticante dos mais básicos princípios comunistas.

A analogia é um pouco forçada, mas nos remete talvez ao momento que vivemos. Um momento em que devemos questionar por quê as coisas não são feitas de maneira diferente. Faz sentido um país como o Brasil ser potencialmente auto-suficiente em petróleo e ainda assim ter que importar uma enorme quantidade do exterior? Faz sentido os governos de países europeus pagarem para produtores de leite pararem a produção quando milhões de pessoas morrem de fome nos 4 cantos do planeta? Faz sentido tanto foco em crescimento quando os recursos são cada vez mais escassos? Faz sentido passarmos 1/3 do nosso dia dentro da empresa e não termos acesso a processos mais democráticos? Por que não fazer diferente?

O quê, vocês vêm perguntar para mim?

Reggie, the Engineer.
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Curtas sobre Negociação





  • Princípio "Nunca revele seu ZOPA" (do livro Harvard Business Essentials Guide to Negotiation). ZOPA significa "Zone Of Possible Agreement" (zona de possível acordo), ou seja, é a zona entre seu preço de reserva (menor preço possível) e o preço que a outra pessoa tem em mente. O fato aqui se passa durante uma negociação salarial, em uma empresa nada moderna, muito menos “bacana”. O entrevistado já havia informado que precisava voltar a sua cidade natal (a mesma onde a empresa ficava) por causa da doença de seu pai e que seu salário atual era X. Estratégia completamente errada. Ele tinha acabado de colocar o X no lado errado do ZOPA. O que deveria ser o mínimo, virou o máximo. Saiu com 90% de X e nenhum benefício para sua relocação.

  • Princípios "Defina Sucesso" e "Visão Integral". A separação já estava feita. Faltava o divórcio, que deve ser feito no mínimo um ano depois da separação de corpos (que terminho estranho). Vai entender essa regra - tem leis muito idiotas mesmo. Mas voltemos. Minha ex-mulher me envia um e-mail dizendo que está com pressa e quer que eu faça o divórcio logo. Ora, eu também queria fazer o divórcio logo. Mas eu também quero um milhão de dólares, e pedir pro meu pai ou estalar os dedos nunca me resolveu nada. Como ela sempre foi sovina - nunca querendo pagar por nada - vi uma oportunidade única: meu sucesso seria pagar menos do que o total. Sucesso definido, me certifico com meu advogado se não há como ela pedir por mais bens e ele me certifica que isso é quase impossível depois do trânsito em julgado da separação. Aproveitando da pressa emocional de minha ex, disse que só faria se ela pagasse metade das custas. Ameaças em vão ocorrem: "vou tirar sua casa", "eu sempre gostei do totó, que por sinal ficou contigo". Tsc, tsc. Inútil. Venci a negociação. Visão Integral, aqui, foi conseguir ver todos os pontos de vista. No caso, saber que ela não tinha nada além do blefe e uma vontade emocional de realizar o divórcio o mais rápido possível.

  • Princípio "Empatia" e "Pense Rápido". O comprador queria 2 mil cabos de força para o dia seguinte e mais mil para 15 dias. Era uma compra de última hora, devido a um problema de curto e super-aquecimento elétrico em diversos locais da empresa. O vendedor disse só conseguiria 800 para o dia seguinte, pois já havia ligado para todas as unidades de sua empresa. A venda estava para ser cancelada quando o vendedor, após algumas ligações, faz um acordo com 3 outros fabricantes, concorrentes seus, para conseguir mais 1200 peças para o dia seguinte (cada um conseguiu em torno de 400). Os mil cabos restantes para 15 dias não seriam um problema. Não determinando seu ZOPA, o vendedor disse que teve que fazer acordo com outros fabricantes e que o preço seria 10% maior. Após discussões, chegam a 8% e fecham o acordo. Seu preço de reserva era 6.5% a mais. Saiu vencedor e com o cliente fidelizado (embora o mercado de cabo de força deva ser terrível).

  • Princípio "Maluquice". Roberta, uma senhora de 60 anos, percebe que o diretor do banco está endividado em 100 mil reais. Se ele não conseguir o dinheiro, perderá sua casa. Ela também percebe que Paulo, um apostador milhonário inveterado, está a procura do próximo grande desafio. Procura o diretor do banco e diz que soube que seu pinto mede menos de 1cm. E mais. Que se mostrar a ela que é maior, paga 100 mil reais. Se for menor do que 1 cm, ela ganha. O diretor, ciente de seus dotes (na verdade nem precisava muito), aceita. Como a aposta é alta, ela exige que haja uma testemunha. Ao falar com Paulo, aposta com ele que faz o diretor do banco baixar as calças e mostrar o pinto na frente dela e dele. Se ela conseguir fazer isso, ganha 200 mil reais. Se perder, paga a mesma quantia. Sai do banco com 100 mil reais no bolso e uma visão de um ângulo nada agradável do gerente.

Dr. Zambol
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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Livro da Tribo - Para Onde Vamos

Bom, continuando com o "tira-gosto" do livro, segue a introdução do último capítulo: "Para Onde Vamos".

Para Onde Vamos

Se você chegou até aqui, já sabe quem somos e o que nos move. Talvez nos conheça mais do que muitos de nossos amigos e parentes. Mas o que realmente importa é que talvez você tenha aprendido um pouco mais sobre quem você é e o que lhe move nessa cominhada. Como sabemos que olhar para si mesmo dói, espero que já esteja inteiro e pronto para iniciar um novo capítulo.

Desse momento até o final do livro, gostaríamos de convidá-lo a olhar para a frente. Encarar o horizonte. Onde estamos indo? Qual o nosso futuro? Como as empresas irão gerenciar seus funcionários daqui a 10 anos? E daqui a 100 anos? A colaboração entre as pessoas vai ser ainda a mesma? Aquela coisa monótona de ficar dentro de uma sala de reunião discutindo e discutindo sem se chegar a lugar algum?

Se você não está satisfeito com o rumo que as coisas andam tomando na sua empresa e na influência que isso está tendo em sua vida pessoal, saiba que não é o único. Temos o mesmo sentimento. Assim como você, às vezes temos a certeza que estamos no caminho errado, mesmo sem saber exatamente onde queremos chegar.

Mas é a paixão pelo que fazemos, às vezes essa paixão ingênua, típica daquele garoto de 12 anos apaixonado pela professora, que nos faz querer mudar o rumo das coisas. A boa notícia? É que a prática nos mostrou que pequenas ações, na verdade minúsculas, fazem uma diferença fenomenal no amanhã. E num ambiente tão fosco, como muitas vezes são os escritórios, qualquer brilho se destaca no meio da multidão e é visto muito longe.

Talvez a leitura desse capítulo sirva simplesmente para lhe mostrar que se você faz muitas coisas em paralelo, você não está sozinho. Ou quem sabe sirva para lhe chamar a atenção de três problemas comuns que sempre vemos nas organizações, que por sinal lembram muito a história da China, e lhe propor uma solução. Pode ser que lhe abra um pouco a visão sobre a realidade do feedback. Ou, ainda, lhe dê uma visão melhor sobre o conflito de um técnico e de um gerente.

Mas você também irá encontrar perguntas. Reflexão é um de nossos hábitos prediletos. Sem ela, não há como pensar no futuro. Tente, por exemplo, pensar por que o professor de cursinho é tão melhor que o do colégio. É possível tirar proveito dessa situação em minha vida e minha empresa? Tente então pensar na estratégia do Google, do Yahoo! e da Gillete de dar produtos de graça. Será que você está pronto para usá-la em sua vida profissional e pessoal? Qual o próximo passo?

Certamente, não temos respostas para tudo. Seria muita presunção. O que temos são essas pequenas idéias que você pode aproveitar em seu dia-a-dia; reflexões que esperamos fazer você pensar em um futuro melhor em sua empresa; pequenas ações que comprovaram serem eficientes no mundo corporativo.

Se lhe tirarmos da zona de conforto, se você quiser que o dia seguinte chegue logo para aplicar alguma idéia em seu ambiente de trabalho, nem que seja para esbofetear seu chefe, nosso objetivo terá sido cumprido.

Boa Leitura.

Dr. Zambol
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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Livro da Tribo - Quem Somos

Pessoal:
Essa semana vamos publicar a introdução dos capítulos do nosso livro. O livro está organizado em três capítulos, que são os seguintes:
  • Quem Somos
  • O Que Nos Move
  • Para Onde Vamos

Cada um de nós ficou responsável pela introdução de um deles. Acompanhe por aqui mais novidades sobre o livro. Mas vamos ao texto.

Quem Somos

Meu pai chegou em casa exultante e foi direto me contar as boas notícias. Falou que havia conseguido um estágio para mim no Banco do Brasil. Estávamos em 1986, eu tinha apenas doze anos de idade e milhares de idéias na cabeça, nenhuma delas envolvendo trabalhar em um banco.
- Pai, posso pensar melhor no assunto?
O desapontamento ficou estampado na cara dele. Como assim pensar? Seu argumento era que isso seria uma garantia para o meu futuro. Quem dera ele tivesse a mesma oportunidade quando jovem.
- Sei lá, deixa eu pensar, é que... Trabalhar em um banco... Pra falar a verdade, não está nos meus planos passar a dentro de um escritório.

Ironia do Destino.

Vinte e poucos anos depois, estou sentando em frente ao computador tentando terminar a introdução para o primeiro capítulo do nosso livro, que trata justamente do dia-a-dia no escritório. A despeito dos meus planos de carreira durante a infância, passei praticamente toda a minha vida profissional dentro de um escritório, daí a idéia de escrever sobre esse universo. Quando começamos a discutir o formato do livro, se seria um romance ou uma compilação de textos, se seguiria uma linha narrativa ou simplesmente cronológica, eu sempre tive uma certeza: Precisávamos definir com o livro quem são os integrantes dessa bendita “Tribo do Mouse”. É justamente esse o objetivo do nosso primeiro capítulo.

Mais do que simplesmente, a Tribo dos profissionais de Escritório, que tem a pele pálida devido a iluminação das lâmpadas fluorescentes, esse capítulo apresenta um grupo abrangente de profissionais que compartilham mais do que apenas o mesmo espaço conjugado, os mesmos problemas e ideais. São nerds, românticos, lutadores, inconformados, um pouco ingênuos sim, mas pessoas que amam o que fazem ao ponto de sofrer com isso.

Um bando de Heróis solitários.

Que lutam por um futuro melhor, onde quer que ele esteja. Que sofrem com o presente injusto. Corajosos capazes de tomar as mais difíceis decisões para viver em paz com a sua consciência. Que pagam na vida pessoal o preço das suas escolhas profissionais. Brigam, choram, e seguem adiante, inabaláveis com a certeza de um futuro melhor. Viciados em trabalho, mas também viciados em vida. Afinal, como é possível separa um do outro? E alguns vagabundos também, talentosos vagabundos. Profissionais experientes, e aqueles que estão apenas começando. Uns ansiosos para sair, abrir uma pizzaria, outros que não vêem a hora de voltar. Pessoas para os quais esse um terço de vida investido no trabalho precisa valer a pena.

Esse é o universo apresentado a partir de agora. Onde até o rapaz do cafezinho é apaixonado pelo que faz. Convido a você, que já faz parte dessa Tribo, a encontrar os seus iguais, e aqueles que não convivem com esse mundo a conhecer um pouco mais desses personagens fascinantes.

Boa Leitura
[]s
Jack DelaVega