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Guia Especial - Planejamento de Carreira

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Premissa Para o Sucesso: Paixão pelo Trabalho

A escolha de um emprego é coisa séria. Muito séria. Já cansamos de falar aqui na Tribo do Mouse: você passa mais de 8 horas por dia envolvido com o emprego - isso é muito mais tempo que você terá com a sua esposa, filhos e tempo de lazer. Não há possibilidade nem remota de ter sucesso na vida sem gostar do que se faz. Se essa premissa não for clara para você, você precisa rever seus conceitos urgentemente.

Mark Albion, autor do livro "Making a Life, Making a Living", realizou uma pesquisa com 1.500 profissionais como MBA nas melhores escolas americanas durante 20 anos. Ele conseguiu os dividir em dois grupos bastante distintos:
  1. Os que haviam escolhido seu emprego primordialmente devido ao salário que iriam ganhar
  2. Os que haviam escolhido seu emprego primordialmente porque tinham paixão por aquela área - o ganho financeiro para esse segundo grupo era secundário.
83% das pessoas estavam no primeiro grupo, o que é de se esperar em um mundo consumista que exige que você ganhe direito para pagar suas contas e suas necessidades. Mas o interessante da pesquisa é que dessas 1.500 pessoas, 101 tornaram-se milionárias. Desses 101, 100 eram do segundo grupo e apenas 1 pessoa estava no primeiro grupo - que tinha escolhido o emprego não pelo que gostava de fazer, mas pelos ganhos financeiros.

Em si o dado não assusta. Sabemos que quem faz o que gosta, pensa no trabalho muito mais freqüentemente (porque aquilo lhe dá prazer) e com isso consegue se desenvolver muito mais rápido que os outros; consegue trabalhar muito mais horas sem considerar aquilo um fardo, e, mais importante de tudo, tem uma vida mais feliz, que retro-alimenta todos os outros fatores e o faz crescer muito mais rapidamente que pessoas infelizes.

Se é tão fácil entender isso, porque ainda não temos isso claro na cabeça das pessoas? A resposta está no próprio estilo de vida dos dias de hoje: o imediatismo, que faz com que pensemos muito mais no curto prazo do que no longo prazo. Quem inicia um emprego, quer dinheiro ou para comprar um carro ou para fazer aquela viagem para a Europa que ainda não fez ou para qualquer coisa parecida. A idéia de pegar um emprego que pague mais no início, mesmo que não goste muito daquela profissão, é bastante tentadora, mas a longo prazo, como bem nos mostra a pesquisa, é um péssimo negócio.

Mas e se você já está empregado e não está satisfeito com o seu trabalho? Isso significa que não há mais volta? De forma alguma! A empresa influencia muito na forma como você alimenta sua paixão. Ela pode estar sendo a pedra no seu sapato, mesmo você estando em uma área que adora. Nesse caso, o problema pode ser tão simples como trocar de empresa, mantendo-se na mesma área. São muito raros os casos que, para se conseguir felicidade no trabalho, se necessita trocar completamente de área, pois uma área de conhecimento (informática, auditoria, contabilidade, advogacia, engenharia, etc) possui tantas possibilidades que geralmente você só precisa encontrar o que lhe motiva dentro de sua área de conhecimento, e é aí que entra o conceito de meta-paixão, apresentado no livro "Passion at Work", de Lawler Kang.

O método consiste em responder e entender os cinco Ps para conseguir o máximo da sua vida:
  1. Paixão: qual a sua missão?
  2. Proficiência: o que você faz melhor?
  3. Prioridades: o que´é mais importante para sua vida?
  4. Plano: como você conquista o mercado?
  5. Prove: como você financia seu plano?
O primeiro P, de Paixão, é o mais importante, por ser a base para todo o resto. Se você responder mal ou "se enganar", por exemplo fazendo a paixão dos outros ou da moda a sua escolha, ela desvirtuará todos os outros passos.

Para isso, você deve tentar encontrar aquilo que você faria mesmo se não ganhasse nada, ou se até tivesse que pagar para fazer. Ou seja, aquilo que independentemente de dinheiro, você ama fazer. Se perguntar para algumas pessoas mais jovens o que é paixão, poderá obter respostas como "Paixão é o que dá ritmo à vida, é que nos mantém vivos".

Definir suas paixões possibilitará a você descobrir e articular sua missão: porque você veio ao mundo, o real objetivo do primeiro "P". As meta-paixões suportarão sua missão. Elas definem a razão porque é tão mais natural para você fazer as coisas daquele jeito; porque você adora fazer as coisas que faz. Diferentemente dos interesses, que tendem a mudar com o tempo e a idade, as meta-paixões permanecem relativamente constantes. Um exemplo de meta-paixão é "sentir-se desafiado". Essa meta-paixão pode fazer você se sentir muito bem jogando xadrez ou sendo um engenheiro que controla sistemas de produção complexos. Um outro exemplo de meta-paixão é "fazer os outros se sentir bem". Nesse caso, um emprego de chef de cozinha ou de advogado (dependendo da área de atuação) podem ser boas pedidas para você.

Os outros 4 Ps também devem ser encontrados para que você consiga entender o que lhe fará feliz, onde quer chegar e como chegar lá. E como bem nos lembra Lawler, o processo de construção dos 5 Ps é um processo iterativo, ou seja, você não fará isso uma só vez e pronto. Você terá que retornar aos 5 Ps diversas vezes à medida que você progredir na carreira ou que a situação mudar.

Depois de encontrar sua paixão e definir sua missão e suas meta-paixões, está na hora de descobrir suas proficiências - as coisas que você é bom desde que nasceu, sem precisar fazer nenhum esforço. Faça uma lista das coisas que você é bom e das coisas que você não gosta, como lidar com processos buracráticos ou metódicos.

No terceiro "P", de prioridades, sua tarefa é listar suas prioridades atuais - o que você acha mais importante atingir ou ter hoje. Lembre-se que suas prioridades mudam e devem mudar com o tempo. Por isso mesmo, coloque a lista em um lugar visível, que você possa acessá-la constantemente.

No quarto "P", de plano, você já descobriu sua missão, já conhece suas meta-paixões, já sabe as áreas que você é realmente bom e suas prioridades. Agora, você está pronto para "se vender" ao mercado, mostrando porque você tem um produto único e interessante. Aqui a parte financeira e tática devem ficar claras. Sim, você deve trabalhar onde tem paixão, mas na hora de criar um plano, ignorar a parte financeira seria incoerência.

Por último, o "P" de prove é exatamente sair à rua para executar o plano, seja fazendo entrevistas, seja encontrando investidores interessados em seu plano de negócio.

Que fique claro que estamos falando aqui de paixão pelo que se faz. Isso não significa - e nem pode significar - definir uma única opção: eu quero salvar vidas no Timor Leste. Suas meta-paixões, proficiência e prioridades podem e devem lhe levar a uma grande gama de opções. A partir daí, você deve fazer uma relação com o mercado e ver daquelas opções, qual você terá mais chance de sucesso, respondendo perguntas como "existe demanda para essa opção?", "o mercado está ou tende a ficar aquecido nessa área?".

Espero que tenha ficado claro que a paixão no trabalho é tudo. Há mais de 2.500 anos atrás, Confúcio já falava: "Encontre um trabalho que ame, e você nunca trabalhará um dia em sua vida", e é a mais pura verdade até hoje...

Dr. Zambol
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quem precisa de uma carreira? (Reedição)

Maria tem 36 anos, é casada com Marcos e tem três filhos, um de 9 anos, outro com 6 e o mais novo com 1 ano e meio. Maria é arquiteta de formação mas desde que ficou grávida do primeiro filho acabou largando a profissão. Durante praticamente os últimos 10 anos, ocupa seu tempo (e bem) com as crianças, seja cuidando do mais novo, levando os outros no colégio ou correndo atrás dos outros afazeres da casa para garantir que eles tenham tudo do bom e do melhor.

Outro dia o de 6 anos apareceu na cozinha de tarde e falou para ela:

- Mãe, a escola pediu que convidássemos nossos pais para a Feira de Profissões. Tem como você ir lá e falar sobre a sua?
- Humm, deixa eu ver... vou consultar a minha secretária e te dou uma resposta, OK? - brincou Maria.
- Pois é mãe... qual a sua profissão? Afinal todo mundo tem mãe... acho que mãe não é uma profissão.

Maria enrolou o pequeno, mas ficou pensando naquela conversa enquanto fazia a lista de compras para a semana. Sim, não tinha uma profissão já há alguns anos. Não tinha mais uma carreira. Mas e daí? Quem precisa de uma carreira? Quem disse que todo mundo tem que ter uma profissão?

Maria era uma pessoa feliz, extramente realizada. Amava seu marido, tinha os filhos mais lindos do mundo, e não se importava de ter largado a carreira de arquiteta há alguns anos atrás. Felizmente seu marido tinha um emprego bom e eles viviam dignamente - as crianças tinham tudo o que queriam e precisavam. Ela tinha enorme prazer em investir seu tempo criando os filhos e ajudando uma ONG local que trabalhava com projetos de sustentabilidade.

Mas volta e meia apareciam essas ocasiões em que o seu estilo de vida era questionado. Era como se o valor de uma pessoa estivesse unicamente relacionado ao sucesso de sua carreira ou à importância de sua profissão. Não gostava dessa pressão que a escola e a sociedade colocava em seus filhos: ou você começa a pensar no que quer fazer quando crescer quando tem 6 anos ou será um Zé-ninguém. "Infeliz daqueles que se prestam a viver conforme o que os outros pensam deles", pensava. Ainda outro dia tinha lido uma citação de Ralph Waldo Emerson que dizia mais ou menos assim:

"O que devo fazer da minha vida é problema meu, não das outras pessoas... você sempre encontrará aqueles que acham que sabem o que você tem que fazer, mais do que você mesmo. É fácil viver em sociedade segundo as opiniões dos outros. É fácil viver na solidão segundo as suas próprias opiniões. Porém, o grande homem é aquele que, em meio à multidão, mantém-se fiel à sua independência e às suas próprias opiniões."

- Paulinho, chamou Maria da cozinha.
- Sim mãe, gritou ele do quarto.
- Avisa lá na escola que eu posso ir falar na Feira de Profissões sim. Mamãe tem umas coisas bem importantes para falar.

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dicas Para Volta do Feriado - Reedição

Não sei se vocês já perceberam, mas eu tenho orgulho de tentar ser o representante nesse blog da camada mais, digamos, operacional de um escritório. Aquela galera que coloca a mão na massa mesmo, se suja de graxa, rala pra caramba... e enrola um bocado também. Sim, enrola, do inglês, enrolation. Ora, só entre nós aqui, principalmente nesse período de volta dos feriados, vez que outra a gente tem que dar uma enrolada, impossível ficar sem.

Nesse sentido, confesso que me inspirei no último post do meu amigo Dr. Zambol, Blackberry – Dicas e Truques (Tips and Tricks), e resolvi fazer algo na mesma linha. Aqui vão algumas dicas então para retomar o ano com tranquilidade, na paz, sem aparentar ser um vagabundo.

Dica 1 - Na volta de feriados prolongados, férias e assemelhados, é normal termos dificuldades para voltar ao ritmo do escritório. O cérebro se acostumou com coisas desinteressantes como praia, sol, caipirinha, churrasco, corpos bezuntados de óleo, etc. Precisamos de um tempo para recuperar o interesse por coisas realmente importantes como ergonomia, café-preto, reuniões de projeto, metas anuais, qualidade e produtividade, etc. Durante esse período, é normal nos pegarmos olhando pela janela, para o teto, para o lado, enfim, para qualquer lugar menos para a tela do computador. Quem olha de fora pensa: "aquele vagabundo não está trabalhando". A dica aqui é sempre ter um bloquinho de anotações e uma caneta Bic na sua mesa, ao lado do teclado. Assim, quando você perceber que o flagraram "viajando" e lembrando das férias, volte rapidamente para a posição de trabalho, pegue a caneta e rabisque no bloco. Todos pensarão que você finalmente descobriu como solucionar o problema no qual estava pensando.

Dica 2 - Nesse período de início de ano, as horas são mais longas do que o normal, principalmente em função do sol lá fora do escritório. As 8 horas de trabalho na verdade duram 12 para passar. O seu gerente poderia esclarecer isso com você, mas provavelmente ele irá mentir a respeito. Por causa disso, tome as seguintes providências:
  • Chegue 20 minutos atrasado, e saia 5 minutos depois do expediente. Você estará ganhando 15 minutos (que na verdade são 22,5 minutos, segundo a minha teoria da relatividade) sem que ninguém perceba, já que 20 minutos de atraso não é atraso, e 5 minutos depois do expediente é super tarde, tá louco.
  • Invista no mínimo 30-40 minutos do seu início de dia lendo e-mails e as notícias. Na verdade você perceberá que pode ficar facilmente fazendo isso por 1 hora e meia, e ainda assim parecerá apenas 30-40 minutos.
  • Respeite seu corpo. Seja rigoroso e faça no mínimo uma caminhada para alongamento, uma ida ao banheiro e uma ida ao café por turno (2 de cada por dia). Você usará mais 40 minutos por dia com isso.
Com essas simples táticas, você economizará 2 horas e 25 minutos do seu dia. Produtividade pura.

Dica 3 - Exija do seu computador, mesmo no verão, pois ele tem um cooler só pra ele e você só tem esse ar condicionado que ou frita ou congela. Abra tantos programas quantos o seu computador suportar, não arrisque a sua produtividade. Assim, sempre que o seu chefe ou qualquer outra pessoa chegar subitamente e lhe perguntar algo sobre trabalho, você poderá alternar entre as várias janelas procurando pela resposta, o que passa a seguinte idéia: "puxa, esse cara está cheio de trabalho... olha só quantos programas ele tem aberto!". Além disso, essa estratégia tem um outro benefício. Para abrir todos os programas necessários você investirá cerca de 10 minutos, e para fechar eles todos cerca de 5 minutos. São mais 15 minutos na conta.

Observação 1 - As dicas acima somente funcionam se você for um funcionário competente, que entrega as suas tarefas em dia e não atrapalha ninguém. Se você não entrega nada e seguir as dicas acima, vai ser o malandrinho que tomou um pontapé no traseiro porque só pensava nas férias.

Observação 2 - Se você divulgar essas dicas, eu não te conheço.

Abraço,
Reggie, the Engineer

Tribo Responde - Mudança de Área

Pergunta enviada pelo Ricardo de Porto Alegre.

Jack:
Sempre acompanho o seu blog "Tribo Do Mouse", e por isso venho lhe pedir se possível uma orientação profissional.

Tenho 23 anos e me formei no ano passado no curso de sistema para internet, e trabalho na área de teste de software em uma pequena empresa. Mas tenho grande vontade de liderar equipes, principalmente de vendas, pois vejo que seria melhor nessa área. Mas nunca liderei uma equipe nos trabalhos que desempenhei até hoje.

Então na sua opinião, o que seria melhor para mim:

1) Sair dessa pequena empresa e buscar trabalho em uma empresa grande na área de teste/produção de software, pois terei uma possibilidade maior de conseguir um cargo de liderança mais rápido.
2) Sair dessa pequena empresa e buscar trabalho em outra empresa na área de vendas, pois é uma área que gostaria muito de trabalhar, e consequentemente liderar uma equipe de vendas.
3) Permanecer nessa pequena empresa e tentar conseguir um cargo de liderança (mas só, conseguirei um cargo de liderança se a empresa crescer).

Gostaria muito se pudesse me responder, pois estou bastante indeciso. Se poder me envia alguma sugestão de leitura (livro,revista, artigo, blog ou site).

Ah, o seu livro Tribo Do Mouse esta lista de livros para ler nesse ano.


Muito obrigado..
Sucesso,,,
E Muitas Realizações................

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Oi Ricardo:


Um das coisas que a gente sempre fala aqui na Tribo é que as pessoas desempenham muito melhor nas coisas que elas gostam de fazer. Sendo assim, se a sua paixão é realmente pela área de vendas você pode estar perdendo tempo investindo na área de Testes.

No caso da liderança de equipes, é mais ou menos o que eu mencionei no texto Liderança, Poder e Influência, é muito mais fácil liderar uma equipe quando você detém o conhecimento técnico da área em questão. Portanto, eu buscaria primeiro uma posição na área de vendas para depois trabalhar liderando equipes na área.

Mas cuidado, lembre que é muito melhor procurar um emprego estando empregado do que desempregado. Aproveite para se qualificar na nova área enquanto procura uma posição. Afinal, começando novamente você vai ter que correr atrás do prejuízo. Não sou um especialista em vendas, mas gosto bastante do material do Raul Candeloro, acredito na teoria de que um bom vendedor é 80% postura e 20% técnica. 

Sorte e Sucesso para você, e o quando precisar estamos aí.

[]s
Jack DelaVega
Tribo do Mouse

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Equipe, Produto, Mercado

Buenas, é chegada a hora da gente falar sobre empreendedorismo novamente. Eu estou atualmente trabalhando no estágio inicial de alguns projetos pessoais (que com sorte tornarão-se empreendimentos), gerando ideias e tentando comparar cenários para entender melhor onde investir o meu tempo e dinheiro. Só que a realidade é cruel, e comparar ideias de negócios que ainda são basicamente rascunhos no papel é algo extremamente complicado. Mais especificamente, outro dia me deparei com um dilema ao comparar diferentes possíveis negócios: o que é mais importante, o que tem mais peso específico na tríade equipe, produto e mercado?

O dilema surge quando você compara diferentes projetos onde um pode ter um mercado mais estabelecido, enquanto outro apresenta um produto mais bem definido. Uma terceira alternativa pode ser um projeto em que você facilmente seria capaz de montar uma equipe qualificada. Colocando-se no papel de um investidor, onde você colocaria o seu dinheiro? Ou pensando de outra forma, qual dos três pilares contribui mais para as chances de sucesso de um empreendimento? Qual dos três, quando deficiente, arrasta o projeto para o buraco mais rapidamente?

É uma boa conversa de bar.

Fui então eu atrás de respostas. Felizmente estamos em um momento do conhecimento humano fantástico para quem quer se aventurar pelo mundo do empreendedorismo. Temos muita gente boa escrevendo exatamente sobre esse tipo de assunto, e o material está todo na Web para quem quiser encontrar. Já citei aqui algumas vezes o Eric Ries e o seu Startup Lessons Learned - trata-se de uma excelente fonte para os conceitos de "Startup Ágil" e desenvolvimento de produto / cliente. Aliás, tem um cara fazendo um ótimo trabalho de "tradução" desses e outros conceitos da área para o mercado brasileiro. O nome dele é Eric Santos (coincidência) e ele tem mantido um blog chamado Manual da Startup em excelente nível. Se você não se vira bem no inglês, vale à pena acompanhar o que o Eric brasileiro anda escrevendo - todos os conceitos importantes estão lá, em bom português. Mas dessa vez quem me ajudou foi um outro cara muito bom também, chamado Sean Ellis, que mantém o blog Startup Marketing.

Eu já havia lido antes sobre um conceito chamado "product/market fit" (ainda não vi ninguém utilizar um termo em português, mas seria algo como "encaixe produto/mercado"), mas o Sean é muito claro ao escrever sobre o estágio inicial da vida de uma Startup, e a busca frenética pelo tal encaixe. Segundo Sean, um estudo empírico seu contendo mais ou menos 100 empresas mostra que a grande maioria dos casos de sucesso podem ser ligados a uma definição satisfatória do seu binômio produto/mercado, enquanto que as empresas com dificuldade quase sempre tinham problema em encontrar essa definição. Imediatamente me convenci de algo que já suspeitava. O encaixe produto/mercado é realmente a parte fundamental - a equipe envolvida provavelmente tem papel terciário nessa história toda. Veja bem, estamos falando em importância relativa, apenas para efeito de comparação - obviamente uma equipe boa é fundamental para qualquer empreendimento.

Bom, mas se o elemento humano parece ser coadjuvante, como se comparam produto x mercado? Qual dos dois define sucesso ou fracasso de maneira mais fundamental?

Resolvi então brincar de uma espécie de pedra-papel-tesoura, ou tabela-verdade (depende de quão nerd você é), e ver se um dos três ganharia na maioria dos casos. Vejamos se você concorda comigo.

Equipe Produto Mercado Veredito Comentário
Excelente Excelente Excelente Alta chance de Sucesso Precisa falar mais alguma coisa?
Excelente Excelente Ruim Alta chance de Fracasso Minha opinião é que mesmo um produto bom não sustenta um negócio em um mercado fraco.
Excelente Ruim Excelente Boa chance de Sucesso Vários exemplos, como alguns produtos iniciais da Microsoft, são uma prova de que mesmo um produto ruim pode sustentar a família se o mercado ajudar.
Excelente Ruim Ruim Alta chance de Fracasso Vide a segunda combinação.
Ruim Excelente Excelente Alta chance de Sucesso A equipe fraca vai trazer desgaste para o empreendimento, mas produto e mercados bons são sucesso, com certeza.
Ruim Excelente Ruim Alta chance de Fracasso O mercado já é ruim e ainda tem a equipe para atrapalhar...
Ruim Ruim Excelente Boa chance de Fracasso Acho que a probabilidade maior é de fracasso, embora um mercado excelente pode fazer milagres.
Ruim Ruim Ruim Alta chance de Fracasso Aí brincou com o tio...


Pode parecer ingênuo, mas para mim parece funcionar. Se você olhar com atenção, a coluna Mercado claramente dita as regras tanto para o lado do sucesso quanto para o lado do fracasso.

Se você parar para pensar, faz todo o sentido, não poderia ser diferente. No início de um empreendimento, a única coisa sobre a qual se tem controle é a equipe, por isso tende-se a supervalorizá-la. Mas uma boa equipe lhe garante apenas um bom produto. Em um cenário de mercado inexistente, se você não tiver um produto fora de série, apenas a sua equipe não vai garantir nada. Um mercado inexistente não dá a mínima para o quão esperta é a sua equipe. Em um cenário instável, no entanto, onde haja espaço para inovação, um produto fantástico, fora de série, pode sim "criar" um mercado. Mas me parece que essa é a exceção, não a regra. Mirar nesse caminho pode ser muito frustrante.

Portanto, mire no mercado. Fácil, não?

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tribo Responde - Planejamento de Carreira

Pessoal:

Freqüentemente recebemos perguntas dos nossos leitores relacionadas aos tópicos que abordamos aqui na Tribo, tais como carreira e liderança. Tipicamente respondemos diretamente para as pessoas, mas como alguns tópicos resultam em discussões do interesse de muitos resolvemos retomar o espaço para perguntas dos leitores aqui no site. As perguntas podem continuar sendo enviadas para o e-mail, mas agora também podem ser feitas através do formulário no site.

Abaixo segue a pergunta do Marcos de São Paulo capital, que foi respondida pelo Reggie, nosso especialista em planejamento de carreira.
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Olá pessoal,

Eu estava pesquisando no GOOGLE e me deparei com o site da TRIBO DO MOUSE. Confesso que gostei muito da proposta do site e achei o nome um tanto excêntrico (no bom sentido).

Não sei se poderiam me ajudar em um assunto.

Vou fazer 44 anos esta semana e sempre tive dificuldade em minha vida profissional para elaborar um plano de carreira. Toda vez que procuro elaborar um plano, sou atolado por uma avalanche de sonhos e expectativas, cada uma delas com diferentes graus de possibilidades de sucesso e, o que é pior, apontando algumas vezes para direções diferentes.

Confesso que o exercício de se gerar um plano profissional acaba me gerando uma enorme ansiedade. Algumas vezes até isso faz com que eu me sinta “deprimido” em constatar que mais um dia passa sem que eu elabore um plano mínimo de carreira.

Gostaria de saber se vocês poderiam me recomendar alguma leitura ou metodologia onde eu poderia rascunhar um “honesto e sincero” plano de carreira. Confesso que receber uma orientação neste sentido seria um ótimo presente de aniversário. Nada como começar uma nova idade com planos e metas, não?

Um grande abraço para toda a Tribo.

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Marcos, 

Em primeiro lugar, seja bem-vindo à Tribo. As suas dúvidas e ansiedades são parte da razão pela qual resolvemos começar a escrever. Então acho que você veio ao lugar certo. 

Eu acredito que a primeira coisa que pode ajudar você com sua carreira é pensar séria e honestamente sobre o que você gosta de fazer. Mas tem que ser uma reflexão séria mesmo. Eu insisto nesse ponto porque o mais comum hoje em dia não é desejarmos o que realmente nos satisfaz, mas sim aquilo que os outros ao nosso redor também desejam. Sejamos sinceros, nós vivemos em uma sociedade de esnobes hoje em dia. Principalmente no aspecto profissional. Um esnobe é aquela pessoa que pega uma pequena parte de você e usa aquilo para formar uma visão completa de quem você é. Então nos preocupamos muito com títulos, com rótulos. Acabamos muitas vezes desejando as coisas "da moda", a carreira que todo mundo aceita como "a de maior sucesso", qualquer coisa que faça sermos aceitos no contexto onde estamos inseridos. Uma criança responder que quer ser um bombeiro quando crescer soa engraçadinho. Um adulto dizer que seu sonho é ser um bombeiro é tido como alguém que "não pensa grande". Não é verdade? Ter consciência de que o mundo em que vivemos é assim ajuda a diminuir as nossas ansiedades. 

Portanto tente ser o mais honesto consigo mesmo ao definir o seu objetivo de carreira. Olhe para dentro de si procurando por aquelas coisas que você faz bem, aquelas ocasiões em que você foi reconhecido pelo bom trabalho. Não se deixe levar pelo que os outros acham ou valorizam em termos profissionais. 

Quando você tiver uma idéia clara do que gosta de fazer, tente então imaginar realisticamente o que você seria capaz de estar fazendo daqui a 5 anos, e daqui a 10 anos. Aqui deixe a imaginação rolar solta. É muito bom que você tenha esses sonhos e expectativas que você mencionou. Apenas tente fazê-los convergir para o objetivo de carreira que você definiu no passo anterior. E, novamente, seja honesto, realista. Quando a imaginação voar alto, pense: mas peraí, eu consigo atingir isso em 5 anos ou preciso de 10? 

Aí entra então o planejamento mais detalhado. Tendo em mente o que você gosta de fazer (o seu objetivo de carreira) e os seus milestones de 5 e 10 anos, tente imaginar uma escada ligando o momento atual, o seu milestone de 5 anos e o seu milestone de 10 anos. Quais passos são necessários para ajudar você a, dentro de 5 anos, chegar onde você quer chegar? Tente pensar em não mais do que 2 ou 3 passos intermediários, em termos de emprego / posição que você precisará ocupar ou habilidades que você precisará desenvolver. Defina então critérios claros para ser capaz de subir o próximo degrau. Por exemplo, você pode ter definido que em 5 anos quer ser um gerente de vendas dentro de uma grande multinacional. Para chegar lá você enxerga dois passos, ou degraus: primeiro, ser contratado como vendedor por uma grande multinacional, e depois ser promovido a vendedor sênior. Quais os critérios para passar de um ponto ao outro? Como ser contratado por uma grande multinacional? Vá atrás e desenvolva aquelas habilidades. Como ser promovido a gerente sênior? Defina esses micro-objetivos e inclusive compartilhe eles com as pessoas em volta assim que você sobe um degrau. Por exemplo, ao ser contratado por uma multinacional como vendedor, converse na primeira semana com seu chefe e diga que você gostaria de ser promovido a vendedor sênior em 2 anos e que para isso entende que tais e tais coisas são necessárias. Ouça o que ele pensa a respeito e feche um "contrato" de palavra. Esse tipo de coisa lhe ajudará a dar o próximo passo e por aí em diante. 

E não preocupe-se em ser tão formal. Você mencionou o termo "plano profissional" de carreira. Não existe tal coisa. Toda a idéia acima pode ser rascunhada em uma folha de papel, e sinceramente para mim esse seria um plano bastante consistente. O importante do plano é justamente planejar. Pensar nas diferentes hipóteses, alternativas, possibilidades. Isso fará você se preparar para o que vier a realmente acontecer. 

Que acaba sendo a parte mais importante: viver a carreira. 

No momento em que você estiver contente com o plano que rascunhou, jogue ele na gaveta e vá para a rua buscar tudo aquilo que você planejou. Um plano por si só não tem valor nenhum. Valor sim terá o que você vivenciar na sua carreira, as coisas que você aprender, as pessoas que você conhecer e ajudar, as situações em que você fizer a diferença. Todas essas coisas sempre falarão mais alto, e se você entender que precisa alterar o plano por causa de algo que lhe aconteceu, reflita, mas não hesite muito, não. As coisas são assim mesmo. Nenhum plano de carreira vai acontecer na prática exatamente como foi concebido, muito pelo contrário. 

O mais importante da carreira é vivê-la plenamente. 

Desejamos a você toda sorte e sucesso do mundo. Um feliz aniversário e um 2010 com muitas realizações. 

Grande abraço, 

João Reginatto (Reggie, the Engineer) 
Tribo do Mouse

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Futuro Bate à sua Porta

Chego em casa e ligo o ar-condicionado. O dia anterior tinha sido o dia mais quente em Porto Alegre dos últimos 35 anos e aquele dia não estava muito melhor. Depois de assistir rapidamente ao jornal da Band em alta-definição que falava das chuvas de São Paulo praticamente ininterruptas há mais de um mês, também batendo todos os recordes, decido trocar o foco para algo mais produtivo que a televisão.

Ligo então meu Media Center, acesso o YouTube e lá estava em destaque a entrevista exclusiva que o presidente dos EUA havia dado para a "Internet", onde ele responde a perguntas de várias pessoas que as enviaram ao Google através de vídeos do YouTube.

Meu filho chora, o que me faz me pegá-lo no colo, fazer uma mamadeira de NaN2 (tenho que aquecer a água durante 10 segundo no micro-ondas), alimentá-lo e embalá-lo até que pegue no sono, momento que o levo para seu quarto, já climatizado em 24 graus, e o deixo dormindo, monitorado por uma babá-eletrônica digital.

Quando desço novamente as escadas para a sala é que percebo que não tenho a mínima idéia de como será o mundo que meu filho, hoje com apenas 8 meses, irá enfrentar. A cena que recém-descrevi passou pela minha cabeça e me dei conta que seria impossível imaginar praticamente tudo o que houve quando eu tinha a idade dele, há uns trinta e bons anos atrás: televisão de alta-definição, aquecimento global causando destruição e diversas mortes ao redor do mundo, internet livre (com o presidente dos EUA respondendo as perguntas de usuários que gravaram suas perguntas através de vídeos!), media center, ar-condicionado que não faz barulho com timer para ligar em determinado horário, microondas que esquenta o leite por atrito entre as moléculas e uma babá-eletrônica que transmite a voz do bebê amplificada sem utilizar nenhum fio.

Incrível. Se alguém tivesse descrito essa cena para meu pai naquela época ele certamente acharia que se trata de um livro de ficção científica.

Aqui na Tribo falamos muito em estar preparado para os desafios do futuro, mas como estar pronto para o inesperado? A resposta é mais simples do que parece, e está centrada em auto-conhecimento, empatia e carisma.

Tom Morris, um dos grandes filósofos dos tempos modernos, afirma que "o verdadeiro sucesso nos negócios e na vida envolve três coisas - descobrir nossos talentos, desenvolvê-los e utilizá-los tanto para o bem alheio quanto para o próprio bem. E que a essência do sucesso não reside, de modo algum, em dinheiro, fama, poder, status, fatia do mercado ou lucro. Esses são meros efeitos colaterais contingentes do verdadeiro sucesso".

Simples, não? Talvez uma outra forma de ver essa fórmula "mágica" é:


  1. Conhecer suas fraquezas

  2. Desenvolver suas fortalezas (talento)

  3. Conhecer o meio em que se vive (para utilizar bem seus talentos)

  4. Estar constantemente atualizado (nunca se desconectando dos valores básicos)

  5. Ter empatia (conhecer e se colocar no lugar dos outros, conhecendo suas fraquezas e fortalezas)

  6. Carisma: claro, como bem nos lembra Malcolm Gladwell, muita coisa não funciona sem isso.

Não posso esquecer essa lista. Meu filho precisa começar a praticá-la o mais cedo possível e eu, retomá-la de tempos em tempos...


Dr. Zambol
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Dinâmica

- Pessoal, hoje vamos trabalhar a integração da equipe através do desenvolvimento de atividades lúdicas e psico-motoras. Mas antes precisamos que vocês escolham um nome para a equipe de vocês, qualquer nome que seja significativo.

Genial, voltei para o jardim de infância. Deixa eu contar uma coisa, eu odeio, detesto, abomino, dinâmicas de grupo. Eu não quero me integrar, não quero conhecer quem eu não conheço, desenvolver conversas sociais, discutir a previsão climática e aturar os lapsos de raciocínio de gente que tem tempo a perder. Para piorar, o RH costuma colocar juntas pessoas que não se conhecem com o objetivo de "facilitar a integração". Com a minha sorte, acabo caindo sempre em um grupo com um prolixo que adora jogar conversa fora e resolver os problemas do mundo enquanto o tempo passa. Ah, para não esquecer daquele sujeito que não faz nada e deixa o trabalho para o resto do grupo. Em suma, dinâmicas de grupo são um saco.

Incrivelmente dessa vez caí em um grupo de conhecidos com as mesmas restrições a respeito das dinâmicas. Ninguém estava com vontade de fazer o proposto, o problema era fazer o diabo do tempo passar. Optamos então por nos divertir.

- Sudão.
- Como? 
- Sudão, esse é o nome da nossa equipe.
A menina achou estranho mais anotou e continuou a explicação:
- Bom, vocês tem então quinze minutos para fazer um boneco que pare em pé com os materiais disponíveis na mesa.
Bolas de isopor, cartolina, tesoura, cola e espetos de madeira estavam distribuídos na bancada. Já vi o MacGyver com muito menos se soltar das algemas, desarmar uma bomba e montar um foguete explodindo os terroristas. Nenhum de nós era tão talentoso assim mas dois minutos depois o nosso grupo tinha a resposta.
- Feito! Nosso boneco está pronto!
Os outros grupos pararam e a menina veio ver o nosso trabalho, já com cara de desconfiada.
- Mas já? Como vocês conseguiram em tão pouco tempo? Peraí, mas o o boneco de vocês tem 3 pernas. 
- Sim, ele é um habitante de Titã, a maior Lua de Saturno. Todos os seres de lá tem 3 pernas. Eles são uma sociedade pacífica, só reclamam um pouco de não poder andar de bicicleta.
A moça do RH nos olhava perplexa. 
- Mas o boneco devia ter duas pernas, como um ser humano.
- Pois é, mas isso não estava claro no exercício. Em nenhum lugar fica explícito que era um boneco humano. Pensamos em fazer um quadrúpede, mas achamos que vocês não iriam gostar, não sei porque o pessoal de RH tem problemas com animais de quatro patas.
A menina começou a se irritar:
- Mas não pode, o exercício é com humanos.
- É engraçado, vocês adoram dizer que temos que "Pensar fora da Caixa", "Liberar a Inovação", e quando fazemos isso ficam nos podando. Assim eu não brinco mais.
Resignada, ela resolveu nos anunciar como vencedores e passar para o próximo exercício:
- Muito bem, os vencedores são então a Equipe...
Olhou no papel para lembrar o nome e completou:
- Equi PiSSudão!
E a sala caiu na risada, acabando completamente com a dinâmica.

[]s
Jack DelaVega

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quarta-feira, 8:30 - Entrevista de Emprego

O anúncio pedia por um programador experiente para trabalhar em um projeto de Internet. Não custava tentar. A Itália não é exatamente um pólo de tecnologia da informação, então um anúncio desses não podia ser descartado.

A conversa por telefone foi breve, praticamente abrupta. Um senhor de idade do outro lado da linha, voz rouca carregada - certamente resultado de anos de tabagismo, falava rapidamente em inglês com sotaque carregadíssimo. Pediu para que eu estivesse às 8:30 da manhã do dia seguinte na estação Rebibbia, final da linha azul da Metropolitana de Roma. Dali ele me pegaria de carro e seguiríamos para o escritório para conversarmos.

No dia seguinte, saí de Ostia antes das 7:30 da manhã. Depois de quase uma hora de trem e metrô, cheguei na tal estação, ainda com tempo para caminhar um pouco e tomar um café. Às 8:35 o celular toca, e em seguida encontro este senhor alto, gordo, com chapéu de Indiana Jones e óculos escuros. Ele me pede um minuto e diz que temos que esperar um outro funcionário seu que também chegará naquela estação. Com seu inglês macarrônico, conversamos sobre amenidades. Em menos de 5 minutos aparece o tal funcionário, um rapaz provavelmente mais novo do que eu, com cara de quem fez festa até altas horas da noite anterior.

Caminhamos até o carro, que está estacionado em fila dupla na movimentada avenida que circunda a estação. Uma BMW SW, aparentemente nova, mas muito mal cuidada. "Italianos..." eu penso comigo mesmo. Entramos no carro e partimos. O senhor me avisa que precisamos ainda pegar um segundo funcionário em uma outra estação de trem. Em seguida, toca o celular do italiano gordo, que mal parece caber no assento do motorista, e ele inicia uma desatinada discussão aos gritos. Fala tão rápido que não entendo nada, mas o seu funcionário sentado no banco traseiro dá risada. Eu preocupado com o trânsito e as manobras perigosas que ele insiste em desempenhar. Após desligar o telefone me avisa que seu outro funcionário está em outra estação e que agora terá que dar uma volta para pegá-lo.

Finalmente chegamos ao lugar onde o funcionário estava, e a única maneira que posso descrever esse cara é um hippie, uma espécie de Patropi italiano. Ele entra no carro fumando. O velho gordo, entre outras coisas grita com ele algo como "Que cheiro é esse? Você está fumando maconha no meu carro? Apaga essa m...!!!". Todos riem muito. E eu pensando, pôrra, onde é que fui me meter.

Depois de um longo período na estrada, chegamos ao "escritório", que na verdade é a casa do velho gordo. Um lugar muito bonito, perto de Guidonia, a nordeste de Roma. A vista das montanhas e o pequeno vilarejo são agradáveis aos meus olhos. Ele bate na porta e a sua secretária em seguida nos dá boas-vindas. Uma loira bonita, com seios volumosos, batom vermelhíssimo, uma Marilyn dos tempos modernos. E a ficha então começa a cair.

Eu subo com o velho para a sua sala, e ele me explica que é dono de 4 sites de conteúdo "adulto", líderes de mercado no país. Precisa de alguém para re-implementar o seu sistema de cobrança e interface com operadoras de cartão de crédito. O escritório era aquele ali, o salário era X, e o material é da "maior qualidade", diz ele com a cara mais cafajeste do mundo. Eu agradeço e apenas digo que não era exatamente o que eu estava esperando. Ele entende imediatamente e diz que caso eu mude de idéia, basta ligar para ele. Não conversamos sobre o meu currículo, não falamos de tecnicidades, nada. Na saída eu me despeço dos meus dois "quase colegas", que já estão firme na edição do material do dia. Coisa de primeira. A secretária me dá tchau com um risinho no canto da boca, e meia-hora depois eu já estou de volta no trem, dando gargalhadas sozinho, me lembrando de cada momento daquela "entrevista" de emprego.

Quando a coisa parece ruim, tenha uma certeza: sempre pode piorar.

Reggie, the Engineer.
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