sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A Piada da Terceirização em TI

O assunto de hoje é tabu. Afinal, terceirização é uma prática extremamente difundida nos últimos anos em todo o planeta. Recentemente participei de um processo de seleção e contratação de um fornecedor de consultoria e terceirização em TI. O projeto está andando no momento com excelentes resultados. Quando comparo ao que estava acostumado a ver no Brasil, nossa, quanta diferença.

Pra variar, no Brasil as coisas começam erradas. Quer ver? Pense na primeira razão que lhe vem à cabeça para o uso de terceirização.

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três.

Aposto que a razão que você pensou tem a ver com redução de custos, certo?

Pois é, esse é o mito. A principal razão para terceirização deveria ser a concentração de esforços na atividade-fim da empresa. Melhoria da qualidade das atividades-meio e uma consequente redução de custo deveriam vir a seguir.

Fico me lembrando principalmente dos diversos processos de terceirização na área de TI que participei. O pensamento no lado de quem contrata quase sempre era: “vamos trocar x funcionários com carteira assinada por y ‘recursos’ PJ; assim economizaremos uma banana de dinheiro”.

Por outro lado o pensamento no lado de quem fornece quase sempre é: “a Bogus precisa de 10 ‘recursos’ Java para semana que vem; vamos fazer um esforço extra de contratação, fechamos os contratos PJ durante essa semana e jogamos os caras lá o mais rápido possível”. São as empresas “chupa-cabra” como gosto de chamar. E existem várias...

Sinceramente, tem alguma chance de dar certo? Existe algum conhecimento sendo transferido da empresa prestadora de serviços para a empresa que está terceirizando? Existe algum valor sendo agregado pelo prestador de serviço além da simples e ilusória redução de custo? Sim, ilusória. Porque basta um dos “recursos” PJ entrar na justiça contra a empresa contratante (o que na prática no Brasil acontece muito, e sinceramente, não é nada mais do que o direito do funcionário, apesar de alguns gaviões ameaçadores acharem o contrário) e a economia de meses vai por água abaixo. Fora os outros prejuízos que permanecem escondidos atrás de contratos como esses, até serem descobertos quando já é tarde demais.

E na visão do “recurso”, como são as coisas? Tem muita gente que adora, afinal o salário líquido PJ é normalmente maior do que na carteira assinada. Mas e a incomodação de manter uma empresa? Tem político por aí justificando o aquecimento econômico no Brasil baseado no fato de que nunca tivemos tantas pequenas empresas registradas como nos últimos anos. É o clássico caso de “massageamento estatístico”. Voltando às pessoas, como é se sentir um “terceiro”? Se sentir um “recurso”? Seria totalmente justificada uma revolução em massa apenas pelos termos pejorativos usados. O que dizer então das condições de trabalho, da insegurança quanto ao futuro, da falta de perspectiva à médio-longo prazo?

Não estou aqui para pregar contra a terceirização em TI. Seria até estúpido. Mas a maneira como rodamos esse modelo de negócio no Brasil merece um puxão de orelha. É ruim para quem contrata e é ruim para quem trabalha. Ah, só não é ruim para quem fornece os “recursos”...

Bom era isso, iniciei o ano com polêmica, encerro com polêmica. Um forte abraço a todos (ou quase todos), um feliz Natal e um 2008 de muita saúde e realizações.

Reggie, the Engineer.
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