Manual do Empreendedor - eBook Gratuito

Dicas e Técnicas para você transformar suas idéias em um Empreendimento de Sucesso

Guia Especial - Gestão

Uma coleção de textos sobre tópicos fundamentais em Gestão nos dias de hoje

O Melhor do Humor no Escritório

eBook Gratuito que compila os melhores textos de humor de Jack DelaVega

Guia Especial - Planejamento de Carreira

Tudo que você precisa saber para fazer um bom planejamento de carreira e atingir os seus objetivos pessoais e profissionais

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Soberba

Sala Vip do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Realmente, não estou acostumado com essa vida. Viajo sempre em classe econômica e com os tostões contados. Mas devido às milhas que ganhei em diversas viagens de negócio, comprei uma passagem na 1ª classe – eram só 25 mil milhas a mais e queria dar de presente a minha esposa.

Não sei porque essa vida de semi-luxo e aparência fascina tanta gente. O glamour e o status são às vezes levados ao extremo, sobrepujando valores básicos como integridade e honestidade. Uma pessoa na minha frente tem o prazer de contar em altos brados suas peripércias pelo mundo afora como investidor em países orientais para uma mulher que, por sua vez, relata quantas vezes deu a volta ao mundo. Um outro atende o celular e com uma arrogância profunda responde em voz alta: “Que nada, eu tô é na sala VIP aqui. Deus me livre aquela confusão”.

DelaVega já destacou, de uma forma muito inteligente, o quanto pode se ver de uma pessoa pela forma como ela trata um garçom. Soberba, para o dicionário Aurélio, significa “Orgulho excessivo, altivez, arrogância, presunção”. E se pensarmos calmamente no sentido de “soberba”, vamos ver exatamente isso: uma forma de detratar alguém (arrogância) em detrimento de status ou de qualquer outra vantagem (orgulho excessivo, presunção). Um amigo meu está praticamente quebrado devido à soberba. Comprou um carro mais caro do que podia, uma TV de plasma mais cara do que podia e pagou festas (principalmente a de casamento) muito mais caras do que podia. Mora em um apartamento alugado e está com o cheque cortado. Mas não conte a ninguém: pouca gente sabe disso. O que importa é ele ser dono de um carrão que dá inveja (ou ao menos é isso que ele imagina) aos seus amigos.

A soberba e a superioridade no mundo corporativo são um dos maiores males que um time pode possuir, pois negam todos os valores básicos de um time vencedor: integridade, colaboração, feedback e alinhamento de interesses.

Tenho certeza que você já presenciou a soberba e a superioridade em algum nível na sua empresa. Basta pensar naquela vez que seu chefe disse que tinha que ser feito daquela forma e que não precisava explicar porquê. Ou talvez aquela vez que você foi pedir ajuda ao seu chefe e saiu com mais dúvidas, pois, além de não lhe dar nenhuma direção, questionou porque você estava fazendo aqueles questionamentos (ignorando que um dos maiores valores de uma organização são os questionamentos). Ou quem sabe aquela vez que um membro do seu time não quis nem saber de ouvir outras idéias, pois tinha a melhor solução possível (puxa, quem ele acha que é, Deus?).

Sinceramente, num mundo onde a colaboração básica esperada de um time ultrapassa as paredes da organização e cada vez mais se explora idéias de qualquer área e de qualquer pessoa no globo, a soberba não é só demodê, é algo simplesmente inconcebível.

Dr. Zambol
--

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Economize Já! Pergunte-me Como

Sou fascinado pela loucura e velocidade da empresas do Vale do Silício. Dia desses, encontrei o artigo 17 Dicas para economizar dinheiro na sua Startup, escrito por Jason Calacanis, CEO da Mahalo. Calacanis tem uma larga experiência com Startups, tendo participado, inclusive, do início da Netscape. O artigo é muito interessante e me fez pensar se as dicas se aplicam a realidade brasileira e se podem ser usadas em qualquer tipo de empresa. Decidi então recompilar a lista, levando em conta esse contexto mais genérico.

Algumas das idéias dizem respeito a redução de custos com TI e são semelhantes às descritas pelo Zambol no post Mundo quase de Graça e por mim no Férias, férias. São dicas óbvias, coisas que pequenas empresas e profissionais de Home Office já utilizam faz tempo. O que falta é uma adoção mais agressiva por parte de empresas de médio e grande porte. São elas:
# Use Open Office ou Google Docs: Mas como eu vou viver sem o meu Word e Excel? Falo por experiência própria, nesse ano e pouco de blog senti falta do Word somente quando começamos a edição do livro, fora isso, uso o Google Docs para todos os posts. Para necessidades esporádicas como essa, a solução de Calacanis é colocar alguns computadores com Office em áreas comuns do escritório.

# Use Gmail como e-mail Corporativo: Por $50 por ano por usuário você tem GMail para a sua empresa, duvido que uma solução proprietária saia mais barato que isso.

# Não compre um sistema telefônico/Use MSN e Skype: Ferramentas de mensagens instantâneas já fazem parte do dia-a-dia das empresas. Para os casos nos quais o telefone é fundamental, o Skype certamente dá conta do recado.

As dicas seguem cobrindo o Ambiente de Trabalho. Chama atenção que a algumas delas implicam em um custo inicial, focando, porém, no aumento da produtividade.
# Compre mesas baratas e Cadeiras caras:
Fico contente que alguém finalmente tenha mencionado isso. Temos a tendência de menosprezar a ergonomia em benefício da estética. O resultado são os custos com fisioterapia, RPG, Pilates, etc. Qualquer hora vou escrever um post intitulado "A Guerra das Cadeiras", detalhando o conflito ocorrido quando apenas um pequeno grupo de funcionários recebeu cadeiras novas no escritório.

# Tenha uma máquina de café expresso: Esse é o truque mais barato que uma empresa pode fazer para aumentar a produtividade de seus profissionais. Aposto que deve existir por aí um estudo correlacionando produtividade com a qualidade do café na empresa.

# Um segundo monitor para todo mundo: Essa é uma dica difícil de explicar, mas quem tem dois monitores defende com unhas e dentes a idéia. A possibilidade de visualizar diversas aplicações ao mesmo tempo, sem ter que trocar de janelas, proporciona um belo ganho de produtividade. Além disso, os custos dos LCDs caíram bastante nos últimos tempos, e já viabilizam essa idéia no país.

Os próximos itens dizem respeito as Relações de Trabalho:
# Incentive o trabalho em horários alternativos e Contrate gente que trabalha de casa:
Por mais que estejamos engessados por uma CLT criada em Mil Novecentos e Guaraná de Rolha, ainda temos flexibilidade para implementação de idéias assim no Brasil. Salvar o tempo das pessoas com deslocamento e flexibilizar os horários de trabalho são ferramentas eficazes no aumento da produtividade.

# Pague almoço para todo mundo pelo menos 4 vezes por semana: O ganho aqui está na otimização do tempo. Calacanis propõe que não se façam reuniões durante o expediente, usando o tempo do almoço para isso. Eu, por exemplo, detesto falar de trabalho durante o almoço, mas abriria mão de qualquer coisa em troca de um dia sem reuniões.

Finalmente, o ponto que gerou polêmica no artigo foi a dica: Demita quem não for Workaholic. Mais tarde o autor se explicou e até mudou o próprio texto para "Demita quem não ama o que faz". Entendo a polêmica ao redor da frase original, mas concordo com Calacanis no que diz respeito a pessoas que amam o que fazem. Paixão é o maior combustível que eu conheço para produtividade. Se eu pudesse sugerir uma alteração ao texto de Calacanis, diria que o melhor mesmo é: "Contrate apenas quem ama o que faz, para não ter que demitir depois".

Leia mais:
- Post de Jason Calacanis: How to save money running a Startup.
- Lista Traduzida das 17 dicas para economizar dinheiro em sua Startup.
- Post do Dr. Zambol: O Mundo Quase de Graça.
- Meu Post Férias, Férias?.

[]s

Jack DelaVega

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Google e a Genialidade

Outro dia estava conversando com um amigo meu. Estávamos falando de emprego x empreendedorismo e coisas assim. E ele estava lá, defendendo o dito popular que afirma que as idéias geniais são sempre as mais simples, e dizendo que o sonho de vida dele é bolar uma idéia simples mas genial, e poder viver o resto da vida sem precisar trabalhar, apenas colhendo os frutos.

- "Algo como o que os caras do Google fizeram. Uma idéia simples mas genial: investir em mecanismo de busca como principal serviço da Internet do futuro. Hoje são bilionários" afirmava ele.

Eu não segui com aquela discussão, mas discordo totalmente da abordagem dele. A gente normalmente gosta de se enganar, mas ele tinha ido longe demais. Realmente, a genialidade tem geralmente um toque de simplicidade, mas não é isso mesmo que faz algo se tornar genial? A obviedade que estava escondida, a propriedade que uma idéia genial tem de se auto-explicar e justificar. Mas daí a pensar que uma idéia genial vai lhe atingir como um raio e que isso fará de você um milionário... Ou pior ainda, entender que uma idéia genial, por ser simples, irá tornar todas as outras coisas no caminho simples, como o dom de Midas... Eu não engulo.

Vamos ficar apenas no exemplo do Google. Realmente, uma idéia simples: já que a Web cresce em proporções cavalares, vamos investir em um bom serviço de busca, pois essa será a principal necessidade com o tempo. Genial não? Hoje parece óbvio, na época não era. Pronto, isso fez dos senhores Page e Brin (e mais uma trupe de empregados do Google) milionários. Certo? Errado. Basta conhecer um pouco dos bastidores dessa que é hoje a marca mais valiosa do mundo para entender que a idéia genial é uma parte pequena da história. Como sempre, os 99% de transpiração ficam um pouco marginalizados, as idéias têm sempre mais glamour do que o trabalho. Mas o que fez a diferença no Google foi sem dúvida a capacidade que a empresa teve de implementar e continuamente melhorar um serviço eficiente. Muita gente esquece que a empresa nasceu de dois jovens estudando PhD, ou seja, duas pessoas tão geniais quanto a própria idéia em si (pronto, já reduzimos enormemente a probabilidade do raio cair na cabeça do meu amigo). Esquecem também que o Google só passou a existir com viabilidade depois que os dois fundadores já tinham conseguido propor e comprovar na prática soluções para como rankear resultados da busca da melhor maneira possível (vá tentar fazer isso em casa) e para como armazenar e acessar de maneira rápida e barata a gigantesca quantidade de páginas da Web (idéia simples, dá para fazer em um final-de-semana...).

O meu ponto aqui é: genial, sem dúvida; simples, nem tanto. Uma idéia genial e simples não faz o caminho entre a idéia e o sucesso (ou dinheiro, como preferirem) também ser simples. Às vezes passamos uma vida esperando pela idéia genial que nunca vem, quando na verdade mesmo que ela viesse talvez não estivéssemos à altura dela para também sermos geniais na implementação. Eu não tenho o segredo do sucesso mas algumas "pessoas de sucesso" que admiro são geniais na execução de idéias, nem tanto na criação. Trabalho, esforço, suor, é meio difícil fugir dessas coisas e ainda assim virar milionário com alguma idéia genial.

Mas enfim, viva o Google, por nos fornecer respostas a tantas perguntas, mas mais do que isso: por nos fazer pensar em tantas perguntas mais.

Reggie, the Engineer.
--

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Redação de Volta às Férias

Nome: Zambinho Stein
Matrícula 2934-5 – Colégio Municipal de Cacimbinha do Norte.

Minhas férias foram muito boas, professora. Eu queria que a gente tivesse aqui pelo menos 10% das coisas que eu vi nos países onde estive na Europa. Por que não temos um bom sistema de metrô? Ou porque então não podemos andar de noite sem ser assaltados e seqüestrados, professora?

Aqui vão os meus maiores aprendizados:

- Finalmente entendi porque alguns povos odeiam tanto outros. Não quero ser preconceituoso - sou italiano também - mas certamente prenderia todos os italianos que estavam na República Tcheca. Eles gritam, sujam as ruas, furam as filas, fazem baderna – é uma loucura. Será que é errado pensar em criar guetos de italinos?

- Aprendi que a segurança é a base da economia. Sem ela, as pessoas não abrem as lojas, fruteiras e bares de noite. Por conseqüência, as pessoas não consomem nada desse tipo e, quando saem de casa, se metem em Shoppings ou casas fechadas que lhe passem segurança. Além disso, melhorias da qualidade de vida, como aluguel de bicicletas públicas, típicas agora em diversos países da europa, torna-se impraticável. Elas iriam ser depredadas e roubadas. O turismo é também bastante afetado com a violência, o que faz com que haja menos pessoas consumindo e andando nas ruas e, por conseqüência, mais insegurança. É um ciclo vicioso. Meu pai me fala que quando ele ia para a faculdade, o trânsito era controlado pela Polícia Militar. Isso fazia com que durante o trajeto da casa dele até a faculdade, ele visse 6 a 7 brigadianos na rua. Quando isso foi substituído pelos guardas de trânsito, quando se vê alguém, só se vê pessoas interessadas em multar, sem poder de prisão ou de manter a ordem. A polícia é quase inexistente em termos de efetivo hoje. Por que nossos polítivos são tão burros, professora? Será que eles querem que a insegurança impere?

- Aprendi que nos outros países, os velhos não são obrigados a ficar em casa. Eles saem, almoçam em bares, vão a óperas e eventos, fazem turismo, e até andam de bicicleta. Meu pai me ensinou que no Brasil não é proibido os velhos saírem – eles só não saem porque não têm condições financeiras, transporte público descente, como um metrô com acesso facilitado, e segurança pública. Puxa, como não via velhos na rua, achava que era proibido.

- Aprendi que a estupidez foi globalizada. Vi gente estúpida em todos os países que fui. Muita gente não consegue nem somar direito, mesmo sendo caixa de um museu importante em Londres. Fiquei feliz, professora. Achei que era só aqui. Na verdade, os brasileiros são bem inteligentes na média, pois mesmo com educação fraca e sem apoio do governo, se saem melhores que muitas pessoas nas capitais do mundo.

- Aprendi que nosso passaporte é um lixo, professora. Talvez valha mais só do que o Iraquiano. A sorte foi que fui com meu pai, o Dr. Zambol, que já entrou nesses países outras vezes – o que facilita em muito o acesso, senão tenho certeza que ia ser confundido com um trombadinha internacional usufruindo dos lucros captados em ações de pickpocketing ou de um michê-mirim. O pior é que o número de brasileiros que vão para a Europa em busca de trabalho ilegal é enorme, e é isso que sela a nossa fama e mancha nosso passaporte. Sem segurança, educação e incentivos públicos, muitas pessoas estão fugindo do nosso país para tentar ter uma vida digna. Será que é culpa deles ou dos governantes do nosso país? Mas professora, são os argelinos que estão em toda a Europa vendendo roupas e bolsas falsificadas. Podemos incluir os argelinos no meu gueto, professora?

PS: por favor, não mostra pro meu pai essa redação. Ele continua me dizendo que é errado discriminar outros povos de forma generalizada e é por isso que discriminam a gente lá fora. Isso que nem falei dos indianos, professora, que invadiram Londres com sua língua estranha. Meu pai me disse que falam inglês. Será? Podemos incluir os indianos no meu gueto também?

Mestre Zambinho
--

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Lenda do Pampeador de Projetos

O técnico veio do centro do país para fazer o upgrade do link de fibra óptica. Mas, em função do mau tempo do inverno gaúcho, o vôo atrasou. Ele chegou no escritório somente no final da tarde. Como o trabalho tinha que ficar pronto na manhã seguinte a solução foi varar a noite para completar o serviço. Junto com ele ficou também um engenheiro local, que entendia do sistema da empresa. Foi por volta das onze e meia da noite, quando o uivo do vendo soprava alto lá fora, que entraram no assunto:
- Caramba o vento é forte por aqui né?
- Pois é, no inverno é assim, o vento Minuano sopra forte por essas bandas. - E emendou. - É em noites como essa que o pessoal costuma ouvir o PP.
O técnico estranhou a sigla.
- PP, Que diabo é isso? Eu conheço GP, que é Gerente de Projetos, mas PP eu nunca ouvi.
- É parecido, PP é como a gente chama o Pampeador de Projetos. Vai dizer que tu não conhece a história?
Ele balançou a cabeça já curioso.
- O Pampeador era um índio meio bugre, daqueles de pêlo duro mesmo. Parece que veio lá dos prados de Quaraí. Diziam que a mãe era argentina, e, por conta disso, ele chegou a lutar na guerra das Malvinas. Mas a verdade é que não se sabe muito do passado dele, alguns dizem que até no DOPS ele trabalhou. O nome era Erci Gomez se eu não me engano. Mas todos o conheciam como o Pampeador.
- Pampeador?
- Ninguém sabe também como ele começou nessa história de gerenciar projetos, mas logo logo ganhou o apelido de Pampeador. O Pampeador de Projetos. Porque ele tocava os projetos com a facilidade de quem pampeia, de quem toca o gado nos pampas.
O sujeito agora não tirava os olhos do Engenheiro, que prosseguiu com a história.
- Pois então, ele era um baita gerente de projetos, mas era mais grosso que dedo destroncado. Por isso tinha gente que não gostava dele. Ele cobrava as tarefas do projeto de todo mundo, e cobrava mesmo. Claro que os projetos andavam que é uma beleza, também, ninguém tinha coragem de atrasar tarefa no projeto do Pampeador. E quando um bugre do tamanho dele, feio e barbudo te cobra alguma coisa, ai de ti se não entregar.
- Não enrola rapaz, conta logo o que houve com ele.
- O problema foi com o Tobias, que normalmente atrasava as tarefas. O Tobias era meio louco, um daqueles louco silencioso que quando menos se vê sai matando todo mundo. E foi isso que ele fez, pelo menos com o Pampeador.
- Matou o Pampeador?
- Envenenado. Um dia, sem mais nem menos, cansado de ouvir o Pampeador cobrar as tarefas atrasadas, ele colocou veneno de rato no mate do vivente. Mas o Pampeador era forte que nem um touro, ainda conseguiu enforcar o Tobias com a cordita do mouse antes de se estrebuchar e bater as botas de vez.
- Caramba, que história sinistra.
- Mas te acalma que a história não acabou aí. Dizem que nas noites de inverno como essa, o pessoal que vem fazer serão para tocar o trabalho atrasado, escuta a voz do Pampeador cobrando as tarefas. O que se conta é que a alma dele ficou empenada por aqui.
Foi só ele terminar a frase e a luz se apagou no escritório inteiro.
- A meu deus!! - Exclamou o técnico, apavorado.
- Te acalma rapaz, o gerador desliga sempre a meia-noite, eu vou até lá ligar ele de novo.
E se foi, deixando o técnico sozinho no breu da sala.
Poucos minutos depois o técnico ouviu passos, mas assumiu que não era o engenheiro uma vez que a luz ainda não havia voltado.
- Quem tá aí? Quem tá aí?
Nenhuma resposta. Mas os passos continuaram e foram ficando mais próximos, até que finalmente ele ouviu a voz grossa com sotaque carregado:
- E tu vivente? Já entregou a tua tarefa de hoje?

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Como identificar e afastar as falsas amizades no trabalho

Uma das coisas ruins de se usar um pseudônimo é que na hora de fazer uma crítica você pode perder a razão por não estar colocando a cara para bater. Já me envolvi em um pequeno problema por causa disso no passado, mas fazer o quê. Não tenho alternativa. Aqui vou eu de novo, para desespero dos meus colegas Jack e Zambol.

Lá estava eu lendo as minhas notícias matinais. Dessa vez o feed era do portal Administradores.com.br, que por sinal acredito ser um bom agregador de notícias e artigos da área. O título do artigo me chamou a atenção e então cliquei para ler a íntegra: Como identificar e afastar as falsas amizades no trabalho. "Isso interessa à Tribo", pensei. Nossa, que decepção. O portal Administradores.com.br não tem nada a ver com isso, afinal eles apenas agregam notícias (nesse caso, originada por um artigo da InfoMoney). Mas vale à pena ler o artigo, de tão vazio e superficial que ele é.

Um pouco irritado pelo tempo que perdi lendo aquela porcaria, fui atrás dos tais "especialistas da área", esperando concluir que aquilo não passava de um artigo pobre de uma jornalista iniciante. Mas não sei não, acabei por me convencer mais uma vez que os nossos ditos "especialistas" (psicólogos, consultores de RH, etc) estão mais por fora do que cotovelo de caminhoneiro. Provavelmente falam de coisas que nunca experimentaram na prática, ou provavelmente estão há muito tempo apenas falando, ao invés de vivenciar.

Senão vejamos algumas "dicas":

Segundo o professor José Antônio Rosa, consultor de RH

- "É possível identificá-la [a falsa amizade] pela fala. Tóxicas, que trazem veneno, escorregadias e com bajulação barata. E, ainda, pelo que o corpo indica: o olhar de inveja ou a testa enrugada pela presença do outro. Tudo isso é perceptível, mas a pessoas precisam aguçar a intuição." - Puxa, obrigado pela dica!!! Atenção, muita atenção a testas enrugadas!!!

- "A falsa amizade pode ser notada pelo comportamento, como alguém que jura amizade, mas prejudica de maneira consciente ou inconsciente o próximo." - Putz, eu já passei por diversas situações de falsidade no trabalho, mas nunca ninguém me "jurou amizade"... fala sério.

Segundo o psicólogo Alexandre Bez

- "O tom de pele de um amigo invejoso tende a ser mais para a cor amarelada, pois conforme estudos realizados, a pessoa invejosa não controla sua produção de bile. Essa dica não vale para pessoas de origem oriental." - Humm, não sei se entendi muito bem essa. Caro psicólogo, então pessoas orientais não podem ser amigos invejosos? E pessoas da raça negra? E se o cara pegar uma hepatite, pode desenvolver uma inveja temporária? Fazia tempo eu não escutava uma estupidez tão grande...

- "O corpo fala - verifique se 'o amigo' se aproximou de você depois que comprou algo, como um carro, por exemplo." - Ok, deixa eu ver se entendi essa também. O 'corpo fala' nesse caso é a aproximação física do corpo do 'amigo'? Eu li o tal livro "O Corpo Fala" (por sinal muito bom) e não me lembro dessa parte da relação com o carro... Corpo, carro, corpo, carro... OK, desisto, não entendi mesmo.

Enfim, eu não tenho nem a metade da experiência que esses especialistas têm (ou pelo menos afirmam ter), nem mesmo a idade deles (e portanto a vivência). Mas uma das coisas que nos faz manter a Tribo é a certeza de que temos que começar a tratar desses assuntos com mais seriedade e profundidade. Em plena era do trabalho intelectual, não podemos continuar tratando as pessoas como antigamente (como idiotas). Talvez estejamos precisando de novos "especialistas". Talvez não. Veremos.

Fica aqui aberto o canal caso as pessoas citadas queiram se manifestar.

Reggie, the Engineer.
--

Fontes usadas nesse post:
- Artigo da InfoMoney
- Artigo no Portal da Psique, RH, Liderança e Motivação

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Indústria da Vergonha

Lembro como se fosse hoje. Encontrei o sujeito na frente da Biblioteca da PUC. Chegamos a fazer algumas disciplinas juntos no Instituto de Matemática, mas não nos encontramos mais durante o curso porque ele fazia Engenharia e eu Computação. Se bem me recordo, eu estava na PUC em busca do meu histórico acadêmico para entrar no Mestrado.
O papo foi totalmente informal, algo do tipo:
- E aí, como está? O que anda fazendo da vida?
Ele me disse que ainda não havia se formado.
- Pois é rapaz, ainda estou por aqui. Lutando para me formar. Ainda faltam quatro disciplinas, mas estou fazendo aos poucos. Quem sabe no fim do ano que vem. Mas também, nem estou tão preocupado assim em me formar. É melhor para os negócios que eu fique mais um tempo aqui na PUC.
Não entendi o comentário e perguntei:
- Como assim?
- É que estou vendendo trabalhos de conclusão de curso. Faço em média quatro trabalhos por semestre. Cara isso dá uma grana muito boa.

- Caramba! - Exclamei perplexo. - E tem gente que compra isso é?
- Tu nem imagina, é um mercado em expansão. Eu só pergunto quem é que vai estar na banca, porque tem um professor que não pode ver o meu traço que descobre na hora que o trabalho é meu.

Eu vivi essa conversa a aproximadamente dez anos atrás. E se você está se perguntando a área, ele vendia trabalhos de Engenharia Civil. Provavelmente para alguns dos Engenheiros que hoje assinam os prédios que vivemos. De lá pra cá o quadro piorou exponencialmente, e, é claro que a venda de trabalhos não se restringe apenas a Engenharia. A internet foi um verdadeiro catalizador para esse tipo de negócio, juntando compradores e prestadores de serviço. O jornal Zero Hora publicou uma notícia na semana passada cobrindo o tópico. De acordo com os dados da reportagem, é possível comprar um trabalho de conclusão de 40 laudas por meros R$480,00. As empresas, que se auto-intitulam "Consultorias Acadêmicas", alegam não estar fazendo nada de errado, uma vez que o aluno fica responsável pela revisão do material. Ah, vale ressaltar que elas garantem a qualidade do trabalho, enfatizando que não se trata de plágio. Uma delas, com mais de 18 anos nesse mercado, se orgulha de vender monografias, dissertações e teses, para o mercado nacional e internacional. Mas minha indignação e perplexidade é voltada principalmente para os consumidores desse tipo de serviço. Eu simplesmente não consigo compreender.

Que tipo de pessoa compra um trabalho de conclusão?

Sempre fui um aluno média 7. Para ser preciso 7.7 é a média estampada no meu histórico acadêmico. Prometo desenvolver o meu racional para ser média 7 em um outro post, mas por hora tenho o orgulho de dizer que esse 7.7 é a nota que conquistei com o esforço do meu trabalho. Lembro ainda na graduação de pessoas muito mais preocupadas com as notas do que eu, que lançavam mão de qualquer recurso para atingir esse objetivo. O economista Eduardo Giannetti costuma dizer que "O Brasileiro sempre acha que o Brasileiro é o outro". Condenamos nossos políticos por roubar, mas aceitamos nossos pequenos pecados como subornar um policial para não receber uma multa. O problema é que mais e mais a consequência desses comportamentos nos afeta diretamente. O sujeito que compra trabalhos de conclusão é o mesmo que vai te passar a perna no emprego. É aquele que colhe os louros por trabalhos que não fez. É o chefe, infelizmente esses caras chegam a chefe pois a vida nem sempre é justa, que inferniza o time porque não entende o que eles fazem.

Em nossos exercícios de futurologia no blog adoramos ressaltar o que está mudando no mundo dos negócios e nas relações de trabalho. Porém é importante lembrar também que algumas coisas não saem de moda, como por exemplo a Ética.

[]s
Jack DelaVega

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Quero me Mudar para o Exterior

Quando você se muda para o exterior, vira automaticamente referência para quem quer fazer o mesmo. Impressionante a quantidade de pessoas que já me contactaram desde que me mudei, tentando obter dicas e conselhos. Semana passada mesmo chegou aqui um rapaz do Brasil que eu nunca havia conhecido pessoalmente, mas que ajudei a avaliar algumas opções na Europa. Esse final de semana chega uma menina que também pediu dicas recentemente. Fora os outros que ainda não chegaram mas que pelo andamento das coisas não tardam.

A maioria pergunta inicialmente: como você conseguiu? Como se mudar-se para o exterior fosse uma coisa simples de se conseguir, desde que você tenha as “barbadas”. Mais ou menos como comprar um ingresso para um show esgotado (“como você conseguiu??”). Ora, eu vinha planejando isso desde 2003, o que incluiu uma tentativa frustrada. E não acho que tenha conseguido alguma coisa. Estou apenas no meio do trajeto.

Então resolvi escrever um pouco sobre o que está envolvido em um processo de mudança para o exterior, ou “relocation”, que é o termo usado no meio profissional.

O primeiro ponto, e mais importante, é entender por que você quer mudar-se para fora do Brasil. Como eu falei, essa mudança não deve ser encarada como um objetivo final. Ela deveria fazer parte de um objetivo maior, de um plano que você estabeleceu para o seu desenvolvimento pessoal ou profissional. Qualquer coisa fora disso é risco alto de insucesso. Ouço gente falar que gostaria de mudar-se para fugir da insegurança instalada no Brasil. Outros querem mudar-se para ganhar dinheiro. Pra mim, isso tudo é besteira. São argumentos para disfarçar a real razão: os outros estão fazendo, então eu também quero. Novamente usando a idéia de projeto que já mencionei no passado para planejamento de carreira, uma mudança para o exterior deve ter um início, resultados esperados , e um critério claro de encerramento (não que você deva voltar, mas que você consiga dizer “OK, atingi o que queria”).

O segundo ponto importante é preparação. O Diabo mora nos detalhes, então o destino no exterior deve ser muito bem escolhido. Tenha certeza de por que você está escolhendo ir para os Estados Unidos ao invés do Canadá. Ou por que você preferiu a Irlanda à Inglaterra. Não existe coisa mais fantástica do que as peculiaridades de cada capital ou cidade do interior européia, ou ainda das diferenças entre a costa oeste e costa leste dos Estados Unidos. Portanto decidir-se por um lugar em detrimento do outro é uma coisa extremamente subjetiva. Mais ainda se você não conhece os lugares. Ouço gente dizer que nunca moraria na Escócia porque “o clima é horrível”. Ou que nunca mudaria-se para a Espanha porque “o povo é muito preconceituoso contra sul-americanos”. Ou ainda que não moraria nos Estados Unidos porque “é um pais de ignorantes”. Da mesma forma, já ouvi gente dizendo que estava indo para a Polônia pois o “mercado lá está aquecido”. Ora, qualquer um com um pouco de cérebro e bom senso sabe que essas são generalizações estúpidas. Ler um pouco de jornal e estudar um pouco de geografia e história ajuda bastante e não faz mal a ninguém. Eu sou fã de um trecho do livro Mar Sem Fim, do Amyr Klink, que diz: "... Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver". Portanto, uma dica: não siga nem mesmo os meus conselhos sobre para onde ir. Defina o seu destino.

Por último, queria salientar que não é fácil morar no exterior. Já conversei com diversas pessoas que passaram por essa situação e os estágios são basicamente os mesmos. No início tudo é alegria, tudo é deslumbramento. Essa fase dura de 1 a 2 meses e ajuda a superar as dificuldades iniciais. Depois vem a fase da saudade, que dura mais 1 ou 2 meses. Nessa fase o Brasil parece ser o melhor país do mundo, pois as lembranças das coisas ruins já se foram e só fica a saudade da família, dos amigos, da rotina. Essa fase acentua-se pelo fenômeno que eu chamo de “invisibilidade”. Durante um período no exterior, você torna-se invisível do ponto de vista social. Você não existe. O que fazer no final de semana? Com quem conviver no seu tempo livre a não ser seus familiares? Quem tem amigos brasileiros por perto cria o famoso “gueto” e com isso costuma enganar essa fase. Mas o fato é que a maior dificuldade para quem muda-se para o exterior é inserir-se efetivamente como membro da sociedade, fazendo parte de grupos, tendo atividades extra-profissionais, etc. Depois de uns 6 meses trabalhando para atingir um patamar melhor nesse sentido, tudo começa a melhorar. E daí vem a fase onde realmente se aproveita a experiência.

Bom, essa é obviamente a minha visão, que pode ser míope. Eu apenas queria deixar claro que mudar-se para o exterior não é um mar de rosas como parece. Exige muito planejamento, dedicação e principalmente uma idéia clara do que se deseja atingir. Qualquer coisa fora disso provavelmente não passa de uma aventura. Mas e aí, eu indicaria isso para os outros? Um milhão de vezes sim. A recompensa pessoal e profissional após todo esse esforço é grande demais para explicar em um post.

Reggie, the Engineer.
--