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terça-feira, 30 de junho de 2009

Morar no Exterior Estimula a Criatividade

Existe um experimento chamado "The Candle Box", criado pelo alemão Karl Duncker no início do século XX, que entre outras coisas serve para comparar a capacidade criativa entre diferentes grupos de pessoas. O experimento consiste em um simples problema que deve ser resolvido pelo grupo. É entregue ao grupo uma vela, fósforos e uma caixa com tachinhas, entre outros objetos, e é solicitado ao grupo que de alguma forma a vela seja fixada na parede, de maneira que quando acesa a cêra derretida não caia no chão.

A solução do problema é razoavelmente simples e envolve tirar as tachinhas da caixa, prender a caixa na parede com 2 ou 3 tachinhas e então acender a vela e colocá-la dentro da caixa. Como a resolução do problema envolve uma pequena quebra de paradigma, os números costumam indicar que pessoas mais criativas tendem a resolver o problema mais rapidamente, ou com maior índice de sucesso.

Recentemente um estudo conduzido por escolas de administração utilizou o experimento acima com grupos de estudantes que haviam morado no exterior. O resultado dos testes mostrou que 60% dos estudantes que moraram no exterior resolveram o problema de maneira satisfatória, enquanto apenas 42% dos que não haviam deixado o país chegaram na resposta certa.

O estudo sugere que quanto mais tempo uma pessoa passa longe de "casa", mais criativa ela se torna. Mas a relação não seria tão direta assim. Uma viagem de férias ao exterior não contribui para a criatividade. O que faz a diferença é uma experiência consistente, e por bastante tempo. Acredita-se que a imersão em culturas locais e o aprendizado de novas línguas contribui muito para o desenvolvimento da capacidade criativa. Um expatriado que passa a maior parte do seu tempo convivendo com pessoas da mesma nacionalidade, ou falando a sua língua nativa tende a não se beneficiar tanto da experiência quanto alguém que realmente se insere no dia-a-dia local.

Há algum tempo eu fui entrevistado pelo pessoal do blog Minha Carreira, e as sugestões que dei para quem deseja passar um tempo no exterior foram exatamente nesse sentido. Eu não sabia da existência desse estudo, mas fico feliz em saber que a minha maneira de ver uma experiência dessas me trará benefícios. No mínimo eu serei capaz de prender velas na parede bem mais rápido do que a maioria das pessoas ;)

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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Links:

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vencedor - Tribo no Twitter

Pessoal:
E o vencedor da nossa promoção Tribo no Twitter é: tchan, tchan, tchan, tchan... (sempre quis escrever isso):

Márcia, a gente vai entrar em contato contigo via Twitter para combinar o envio do do livro.
Para quem não ganhou, lembramos que o livro está a venda nas boas lojas do ramo (fnac, Cultura, etc).

Obrigado a todos que participaram e fiquem com a gente.
Abraços(Jack, Reggie e Zambol).

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vídeo - A importância da Sabedoria

Pessoal:
Segue o nosso vídeo da semana. O Psicólogo Barry Schwartz fala sobre a perda da sabedoria nos dias de hoje, e de como processos de nada valem sem pessoas inteligentes para operá-los. Imperdível!


Um Grande abraço da Tribo do Mouse(Jack, Reggie e Zambol).

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Viva a Sua Carreira - E Tenha Sucesso

O ano de 1953 é um conhecido marco na história do montanhismo. Foi naquele ano que Charles Houston liderou a expedição americana em busca do topo do K2, até então intocado (o K2 é a segunda maior montanha do mundo, com 8.611 metros de altura). Houston era um dos grandes alpinistas da época, fera mesmo. Havia tentado alcançar o topo da "montanha selvagem" anteriormente em 1938, sem sucesso. Agora, Houston voltava com força total e a ajuda de outros célebres alpinistas como Art Gilkey e Pete Schoening. O objetivo era claro, o grupo era o melhor possível, o topo parecia ao alcance.

Mas o K2 não é conhecido como a "montanha selvagem" por pouca coisa. A mais ou menos 7.800 metros de altura, a expedição deparou-se com uma tempestade terrível. Ventos fortíssimos e uma pesada nevasca tornaram qualquer deslocamento (para baixo ou para cima) praticamente impossível. O grupo sabia que era extremamente perigoso ficar naquela altura por muito tempo, mas todos estavam divididos entre os perigos da montanha e a ambição pelo topo. Armaram acampamento e sentaram-se dentro das barracas para esperar a tempestade passar. E ali, naquele lugar inóspito, a montanha prendeu aqueles 7 alpinistas por 10 dias. Dez longos dias.

Infelizmente, o que todo grupo de alpinistas nessa condição mais teme aconteceu. Art Gilkey desenvolveu tromboflebite (um tipo de trombose nas pernas, comum em altas altitudes) e não podia mais se mover sem ajuda. Um grupo de alpinistas com um integrante que não consegue se locomover sozinho torna-se um alvo fácil para uma montanha como o K2. Depois daqueles 10 dias de tempestade, todos sabiam que o topo não seria mais alcançado. Descer era a única opção. Mas agora tinham que decidir entre deixar Gilkey para trás e tentar a descida em segurança, ou carregá-lo e arriscar a vida de todos no grupo. Uma decisão fácil para alpinistas como aqueles.

Amarraram Gilkey em uma maca improvisada e iniciaram a descida em meio à tempestade. A dificuldade era monumental. O frio, a neve, o vento e a alta dificuldade da montanha somavam-se ao fato de estarem carregando uma maca com um alpinista de 80kg. Tomavam todas as precauções, e por isso a descida era lenta. O progresso era frustrante, praticamente imperceptível. Após descer umas poucas centenas de metros, a tempestade piorou. Todos já estavam esgotados. Sabiam que tinham que parar e esperar a tempestade diminuir, ninguém conseguiria sobreviver continuando naquela situação. Içaram então a maca de Gilkey sobre algumas pedras e amarraram-na a presilhas na montanha. Pete Schoening ficou para trás cuidando de Gilkey enquanto Houston e os outros 4 desceram para armar um acampamento básico em um parapeito da montanha alguns metros abaixo.

Foi então que o pior aconteceu.

Um dos alpinistas escorregou e rolou montanha abaixo, levando consigo seu colega de corda (nessas ocasiões é comum os alpinistas amarrarem-se em pares por segurança). Para piorar, a corda dos dois alpinistas que caíram estava entrelaçada com as dos outros dois pares, incluindo Houston e Schoening. Dessa forma, um a um os alpinistas foram sendo puxados e arrastados montanha abaixo, sem que tivessem tempo para reagir. Pete Schoening, por ter ficado para trás, teve um segundo a mais de tempo de reação, e ao ver o que acontecia com seus colegas mais abaixo, operou uma rápida manobra de âncora de segurança usando seu Piolet. Incrivelmente, os alpinistas tiveram sua queda interrompida, praticamente à beira de um imenso precipício. Lentamente, um a um começou a se recuperar do choque e dos ferimentos causados pela queda. Houston iniciou a subida auxiliando os outros companheiros, alguns dos quais bastante abalados. Após quase uma hora, estavam de volta junto a Schoening. Voltaram suas atenções para a montagem do acampamento novamente, e após muito custo, finalmente colocaram de pé duas barracas. Era incrível, mas Schoening havia segurado 5 alpinistas com sua manobra, e agora eles estavam novamente reunidos. Estavam salvos.

Dois dos alpinistas então subiram até onde haviam deixado a maca de Gilkey, de modo a trazê-lo para as barracas. Após alguns minutos chegaram ao local onde o haviam amarrado. E para a triste surpresa de todos, não havia sinal de Gilkey, de sua maca, de nada. Nunca ficaram sabendo o que houve, se uma avalanche o levou, se as amarras se soltaram, se ele quis aliviar o esforço de seus colegas. Gilkey havia sumido para sempre.

Outro dia publicamos aqui na Tribo um vídeo onde eu falei de dicas de planejamento de carreira. E me perguntaram o que fazer quando aquilo que planejamos para a nossa carreira não acontece. Eu cheguei a mencionar no vídeo, mas provavelmente não fui tão enfático: planejar a carreira não necessariamente implica que aquilo que planejamos efetivamente aconteça. Aliás, deixa eu pensar, acho que quase nunca acontece como planejado. Humm, não, deixe-me refazer a frase: nunca acontece como planejado. E quer saber? Isso nunca fez a menor diferença, pelo menos para mim.

Para quem planeja a sua carreira, muitas coisas acontecem razoavelmente dentro do planejado. Mas nunca exatamente. Nunca no momento que esperávamos, nunca exatamente como havíamos imaginado. Algumas vezes é frustrante, com certeza. Mas certamente é recompensador quando aquela oportunidade para a qual nos preparamos bate à nossa porta antes mesmo do esperado. A questão é que planejar a carreira é fundamental, mas viver a carreira é muito mais importante. É isso que vai fazer com que nosso objetivos se ajustem, nossas experiências nos engrandeçam, e os próximos passos passem a fazer mais sentido. Assim o plano se ajusta, em um ciclo contínuo. O sucesso da carreira não se mede contra o que foi planejado.

Naquele verão de 1953, Houston e seus companheiros não atingiram os seus planos iniciais. Uma tragédia estava no caminho deles. Mas nem por isso eles se arrependeram de ter passado por aquela experiência. Aquela expedição mudou a vida deles para sempre, de uma maneira que não podemos ousar julgar. Da mesma forma, quando se trata da sua carreira, não meça o sucesso contra aquilo que você planejou. Avalie sim o que você aprendeu com o que você experimentou.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Promoção Tribo no Twitter


Pessoal:

A Tribo do Mouse vai sortear exemplares do livro "Tribo do Mouse - Histórias, Dicas e Truques do Mundo Corporativo" para os seguidores do Twitter. Para concorrer é muito fácil, abaixo seguem as regras da promoção:

- Para concorrer retwite a mensagem: #PromoTribo: RT e concorra ao livro da @tribodomouse. Seguidores tem 2x + chances! Detalhes: http://ow.ly/eZSJ
- Todos que retwitarem a mensagem estão automaticamente concorrendo com 1 cupom.
- Os seguidores da Tribo recebem automaticamente mais 1 cupom.
- Será sorteado inicialmente um exemplar do livro, e mais um exemplar para cada 200 novos seguidores da Tribo.
- A promoção ficará aberta dos dias 20 a 27 de Junho, e os ganhadores serão divulgados no Twitter e no Blog às 17hs do dia 27.
- A Avó do Zambol atuará como Auditora Independente, para garantir a lisura do processo ;)
    Um grande abraço e Boa Sorte (Jack, Reggie e Zambol)

    Vídeo - O que Dá mais Prazer: Blog ou Trabalho?

    Ainda estamos iniciando nesse mundo: escolhendo ainda o que é melhor ser mostrado por vídeo e até mesmo o tempo e a linguagem que devemos usar.

    Após uma pergunta que os três autores da Tribo tiveram que responder para uma entrevista a uma revista coincidir com a pergunta de dois leitores, escolhemos a resposta da pergunta "O que dá mais prazer para vocês: escrever para o blog ou trabalhar no dia-a-dia em seu emprego?" para ser exibida por vídeo nessa semana.

    Ela é respondida por Dr. Zambol, que já aproveita para falar um pouco de grandes organizações, do blog e, é claro, do livro da Tribo.




    Dr. Zambol
    --

    quarta-feira, 17 de junho de 2009

    Vida Longa e Próspera

    Dia desses repassei no Twitter um artigo que se chamava 12 Lições de Liderança do Deck da Enterprise(em inglês). Como bom nerd fã de Star Trek adorei o texto e fiquei me perguntando por que não havia pensado nisso antes. Segue então algumas qualidades que me chamam atenção na tripulação da Enterprise, fundamentais para os dias que estamos vivendo:

    Diversidade: Mais importante que a diversidade étnica, afinal, a nave tem até um Vulcano a bordo, é a diversidade de pensamento que faz a tripulação da Enterprise tão especial. Tomemos por exemplo o topo da cadeia de comando, a dupla formada por Kirk e Spock. Se individualmente cada um é um excelente profissional, juntos eles formam uma equipe imbatível. Seus pontos de vista divergentes, por vezes até contraditórios, enriquecem o processo de tomada de decisão, tornando um inferno a vida de qualquer adversário que cruzar o seu caminho. Já conheci alguns gestores que só gostam de trabalhar com pessoas que pensam como eles. Gente para corroborar as suas decisões, como um exército de Borgs. Imagine uma empresa onde todos pensam exatamente da mesma maneira, como incentivar a criatividade em um lugar assim?

    Resiliência: Essa é uma palavra batida dos jargões de RH. Para quem não conhece, é um termo emprestado da física que diz respeito a propriedade que um determinado material tem de sofrer pressão sem quebrar, voltando ao estado original. Pois bem, nunca vi uma nave tomar tanta porrada quanto a Enterprise. Honestamente, perdi a conta de quantas vezes ela foi destruída. É mais ou menos como os carros do James Bond. Mas o fato é que não importa quantos torpedos fotônicos atinjam o deck, sua tripulação sempre sobrevive, aos trancos e barrancos, mas  sobrevive para continuar lutando. Em momentos de crise, essa é uma característica importante a ser cultivada nas equipes. Apanhar, aguentar o tranco, e sobreviver para lutar um novo dia. Palavras do Elie Horn, dono da Cyrela, uma das maiores empresas de construção civil do Brasil:
    - Aprendi que a melhor maneira de lidar com esse tipo de situação(crise) é se recolher, esperar as coisas acontecerem e sobreviver. Se você sobrevive, consegue ganhar depois. Se não sobrevive, não vai ganhar nunca.

    União: A verdade é que existem inúmeras lições a serem tiradas do universo da série. Mas, o que mais me chama a atenção é a visão otimista sobre a humanidade. Talvez, por ter sido criado durante a guerra fria, o futuro de Star Trek apresenta uma raça humana que conseguiu superar as suas diferenças e conviver em harmonia. Os inimigos, nesse caso, vêm sempre de fora da galáxia. No mundo organizacional não são poucas as vezes em que a empresa perde tempo e recursos valiosos em disputas internas, enquanto os verdadeiros adversários, o mercado e a concorrência, ficam livres para fazer o que bem entenderem. Explorar o espaço é uma tarefa perigosa e apenas uma equipe unida e com os mesmos objetivos é capaz de fazê-lo com sucesso.

    []s
    Jack DelaVega

    segunda-feira, 15 de junho de 2009

    Trabalhando de Casa - Reedição

    Finalmente me levanto da cama após bater no despertador umas 3 vezes. Segunda-feira é fogo... Abro a janela do quarto e me deparo com uma paisagem predominantemente branca. "Droga, a previsão do tempo acertou", penso. Não neva forte, mas imagino que o suficiente para fazer uma bagunça.

    Tomo banho, me arrumo rápido, dou mais uma olhada pela sacada. Agora a neve é um pouco mais forte. Abro a janela e saio na rua para sentir o "clima". É, não dá. Hoje o negócio vai ser trabalhar de casa.

    Eu não tenho carro, as coisas aqui funcionam de maneira diferente. Me desloco basicamente usando a minha bicicleta, transporte público ou andando à pé mesmo. Por isso, sempre que o tempo não está muito amigável, acabo optando por trabalhar de casa (mesmo que tempo "amigável" na Irlanda tenha uma conotação completamente diferente do Brasil).

    Ligo o laptop, consulto minha agenda. Tenho bastante tempo durante a manhã, primeira reunião somente às 11:00 e as principais tarefas já iniciadas na sexta-feira. Tomo então um café da manhã decente (já tinha tomado aquele "meia-boca" antes de decidir trabalhar de casa), ligo a TV na BBC e sento para ler os emails.

    Às 10:30, com um pouco de tempo livre, resolvo dar uma caminhada. O lado ruim de trabalhar de casa é que você não sai de casa. Saio a caminhar na neve fofa que se acumula nas calçadas. As ruas estão desertas. Caminho durante uns 10 minutos e volto para casa.

    Confiro o número que tenho que discar para entrar na reunião (não me lembro qual foi a última vez que fiz uma reunião em uma "sala de reuniões" propriamente dita). Por sorte, essa conferência tem um número gratuito para Dublin. Pego o celular e digito o número. Integrantes da minha equipe espalhados pela Índia, Reino Unido, França e Irlanda debatem um plano de ação para a semana. Em 25 minutos estamos prontos.

    Hora do almoço. Agora o escritório faz realmente falta. Cozinhar o próprio almoço é definitivamente uma coisa que não estou acostumado a fazer durante a semana. Perco tempo escolhendo coisas na geladeira e efetivamente cozinhando. Seria muito mais fácil ter dado um pulo na cafeteria para pegar aquele sanduíche de galinha com bacon, mas nem tudo são flores.

    Depois do almoço, preciso urgentemente conversar com um cara nos Estados Unidos. Procuro o número dele, mas não tenho o celular, apenas o ramal interno do escritório. Hora de apelar: disparo um software no laptop que me conecta ao meu ramal da empresa. Dali, posso discar qualquer número, como se estivesse sentado em minha mesa. Falo com ele e em 5 minutos resolvemos a situação.

    São 4 da tarde e meu celular toca. É o meu gerente, preocupado com o planejamento do projeto que estamos iniciando. Comento sobre o mau tempo e ele diz que em Londres está a mesma coisa, neve para todo lado. Ele me diz que semana que vem estará na Irlanda. Já não é sem tempo, fazem 4 meses que não nos vemos.

    O dia já vai escuro lá fora, e não me resta mais nada para fazer. Ligo para minha esposa e combino de encontrar ela na esquina quando estiver chegando. Preciso sair de casa mais uma vez. Odeio passar o dia todo infurnado em casa.

    Trabalhar de casa é bom. As maravilhas do trabalho intelectual são... uma maravilha. Mas acho que nunca estamos satisfeitos. Nunca.

    Reggie, the Engineer (João Reginatto).
    --

    sexta-feira, 12 de junho de 2009

    Liderança, Exemplo e Kempô

    Quando tinha 18 anos, era um entusiasta do Kempô. Era meu hobbie escolhido na época. E para o hobbie do momento sempre colocava muita dedicação. Foi assim com o xadrez, com o violão, com a língua italiana e com o piano. Naquele momento, estava completamente imerso no Kempô. Ia dormir pensando como otimizar determinado golpe.

    Lá se vão quase 20 anos, mas me lembro do dia como se fosse hoje. Estávamos treinando cotovelada que, no Kempô, tem um movimento bem amplo, virando o corpo para dar mais efeito ao golpe. É como se fosse um soco estilo gancho, só que a mão deve parar em cima do ombro que se encontra no mesmo lado da mão - um pouco atrás da orelha.

    O treinamento consiste em dar cotovelada com a mão direira e depois dar cotovelada com a mão esquerda, alternadamente, em séries de 50 ou 100.


    - Quero ver força nisso! Gritava o instrutor.
    ...
    - Ainda está fraco! Quero que liberem toda a raiva de vocês. O cotovelo tem que deslocar o queixo do sujeito para cima da cabeça.

    Comecei a colocar cada vez mais "raiva" e força ao golpe. Não sei se o leitor já fez um teste, mas a quantidade de força é inversamente proporcional à coordenação motora. Quando se usa o máximo de força, a coordenação fica bastante prejudicada. O treinamento é exatamente para aumentar a coordenação com o uso extremo de força.

    Pois bem, em um determinado momento, tamanha a força que coloquei na cotovelada fiz minha própria mão atingir meu olho (que deveria passar do lado da cabeça). Sim, eu sei, parece muito estúpido. E na verdade é!

    A porrada foi forte. Cheguei a ficar um pouco tonto, mas logo me recuperei. Olhei para o lado e, pelo que percebi, ninguém havia visto aquela gafe. Entretanto, meu olho na hora começou a lacrimejar. O meu disfarce de que "nada havia acontecido" estava por um fio de desmoronar.

    Não sei se o professor viu o momento do soco, meu olho lacrimejando ou o meu vermelhão - um misto de raiva por ter sido tão descuidado com vergonha por ter feito aquilo em público. Seja como for, ele começou a falar para a turma:

    - Quando ainda era faixa verde, fizemos 200 repetições disso. O mestre mandava colocar toda a força que a gente possuía no golpe. Quando acabamos a série de 200, o mestre mandou a gente repeti-la, e dessa vez ele queria que cada cotovelada fosse mais forte que a anterior. No final da aula, três alunos tinham acertado o próprio rosto - dois deles bem no meio do próprio olho. Eu era um deles. Vocês não têm idéia da dor que é. Tentei disfarçar, mas enquanto ainda executava a série, meu mestre falou que tinha visto três pessoas acertarem o olho e que aquele era o preço por dar o máximo de si - e estava orgulhoso do que tinha visto. Não quero que ninguém faça isso de propósito - só para mostrar que está dando o máximo de si - que isso fique claro. Mas se alguém fizer isso na aula de hoje, ficarei orgulhoso da raça que demonstrou. Nada vem fácil, todo mundo vai ser batizado muitas vezes aqui até aprender bem a matéria.

    Como disse, faz quase 20 anos que isso ocorreu. E ainda lembro até hoje disso, tal foi o exemplo de liderança que tive aquele dia. Não sei se a história que ele contou aquele dia é verdade - e para ser sincero não interessa. Líderes devem saber tirar o máximo do grupo - saber tocá-los nas horas boas e nas horas de erro, mantendo o estímulo e a motivação no nível mais elevado possível. Lembre-se disso na reunião de status quando o projeto estiver atrasado, mas você visualizar que todos estão dando o máximo de si.

    Sinto orgulho de ter tido aquele instrutor. Ele era realmente um grande líder, uma grande pessoa.

    Dr. Zambol
    --

    quarta-feira, 10 de junho de 2009

    Paraninfo

    Roberto nada fez depois de ouvir o seu nome, foi apenas depois do cutucão do colega que voltou a si e encaminhou-se para o palco. Os passos até o microfone foram tortuosos. Subiu ao pódio, olhou para a platéia, os formandos, limpou a garganta e começou. Era um grande orador, daqueles que nos prende atenção na conversa do cafezinho. Talvez por isso fosse difícil para o grande público, para aqueles que não o conheciam, perceber que estava alterado em função de uma combinação explosiva de álcool com anti-depressivos.

    - Excelentíssimo Sr. Reitor, Ilustríssimo Diretor do curso, pais, amigos, meus afilhados.
    Ele iniciou, olhando nos olhos de cada um dos formandos.
    - Blah, blah, blah. Já repararam como existem Excelentíssimos e Ilustríssimos em discursos de formatura?
    Risos.
    - É Verdade. Mas na vida real dificilmente encontrei gente assim, gente que mereça esse tipo de tratamento.
    Prosseguiu enfático:
    - Meus afilhados, eu queria lhes passar hoje, no dia de suas formaturas, uma mensagem positiva, uma mensagem de conforto e esperança. Queria, mas não posso.
    Fez uma parada, como se revisasse mentalmente sua decisão de seguir adiante. Mas continuou:
    - É meu dever, meu dever como Mestre, como Educador, prepará-los para a vida. E a vida é dura. O mundo profissional não é um mar de rosas, especialmente quando comparado com suas vidas até hoje dentro da academia. Lá fora, não se joga limpo. Não se iludam, o mundo empresarial vai querer o máximo de vocês, mas oferecerá muito pouco em troca. Vocês serão testados ao extremo, sua ética será testada ao extremo. Primeiramente, nas pequenas coisas, mas logo, logo, o preço irá aumentar. E não existe o caminho do meio nesse caso. Não existe meia ética. Um simples passo fora dessa estrada pode levar a perdição.
    Tomou fôlego e continuou:
    - Também tenho o dever de avisá-los, tomem cuidado com as pessoas de sucesso. Definir o sucesso pessoal em função do que a sociedade espera de você é fácil, e perigoso. Não deixem que isso aconteça. O carro do ano, a viagem à Europa, os ternos italianos e as gravatas de seda, só fazem sentido dentro de um contexto maior.  A única, repito, a única pessoa que tem o direito de definir o seu próprio sucesso é você mesmo. Já conheci grandes executivos que dariam tudo por uma segunda chance com seus familiares. E auxiliares de faxina que não mudariam as suas vidas por nada desse mundo. Parece exagero, mas não é. Infelizmente, só o tempo vai mostrar o valor de cada escolha. Mas tenho o dever de alertá-los para isso.
    A vista escureceu, tonteou, mas recobrou as forças para as últimas palavras:
    - E, mais importante do que tudo, lembrem-se do que eu vou falar agora, a sua felicidade depende disso! Não se esqueçam, em hipótese alguma que...
    Blam!
    Desmaiou diante de toda a platéia, antes que conseguisse terminar o discurso. Foi socorrido sem saber se havia atingido o seu objetivo, mas, certamente, aquelas palavras ficariam gravadas para sempre na memória dos seus afilhados.

    []s
    Jack DelaVega

    segunda-feira, 8 de junho de 2009

    Como Fazer Demissões em Massa

    Eu sei, o título desse post é meio estranho, afinal não é o tipo de coisa que justamente a Tribo do Mouse gostaria de estar ensinando. Mas passado o período mais crítico da crise financeira mundial (será?), certamente tivemos vários exemplos sobre como se conduzem (e principalmente como NÃO se conduzem) processos de re-estruturação que envolvem demissões em massa.

    Vejam bem, não estou falando aqui de demissões esporádicas, motivadas pelo baixo desempenho do funcionário, por exemplo. Muito menos de casos em que o funcionário deixa a empresa por sua conta. Estou me referindo a processos mais amplos em que as empresas, a título de redução de custos, eliminam dezenas, centenas ou milhares de empregos de uma vez só (o termo em inglês utilizado é "layoff"). Trata-se de um processo extremamente delicado, que se mal conduzido tem um impacto tremendo sobre a vida das pessoas envolvidas e sobre a imagem da empresa.

    Mesmo assim, e por mais básicas que possam ser as dicas listadas abaixo, muitas empresas ainda pecam bastante nessas horas. Vejamos então as dicas sobre como fazer demissões em massa de maneira "correta":

    1 - Não faça demissões em múltiplos "rounds". Essa é a dica mais básica, mas ainda assim a menos seguida. Muitas empresas fazem as contas e decidem demitir, digamos, 5% da força de trabalho. Elas esperam então o efeito positivo das demissões no caixa da empresa, que pode acabar não acontecendo. Então demitem mais 5% da força de trabalho. E assim sucessivamente. Isso cria um ambiente de enorme medo e incerteza entre os funcionários.

    2 - Ao anunciar as demissões, não o faça individualmente, mas em grupo. Muitas vezes as empresas acreditam que um comunicado individual para cada funcionário é mais humano. O resultado é que cada vez que mais um funcionário volta da "guilhotina", a boataria entre aqueles que ainda não foram chamados aumenta. "Será a minha vez agora?". Totalmente desnecessário. O ideal é convocar todas as equipes envolvidas para uma reunião, explicar o que está acontecendo e somente então deixar os funcionários não-impactados sairem da sala.

    3 - Seja generoso. Principalmente em momentos de crise, faça mais do que é esperado da empresa. Dê aos funcionários demitidos um pacote de saída melhor do que seria a obrigação. Ofereça-se para fornecer boas recomendações a todos os funcionários impactados. É a imagem da empresa que está em risco nesse ponto.

    4 - Não faça o processo arrastar-se mais do que o necessário. O melhor é conduzir esses processos no final do dia, no final da semana, e depois que o comunicado foi feito, deixar os funcionários livres para irem embora. Dê o aviso com a antecedência exigida por lei, mas não obrigue os funcionários a cumprir tarefas muito além da tradicional transferência de conhecimento. Não ofereça obstáculos a quem quiser sair antes do prazo.

    5 - Mantenha os que ficam focados. Imediatamente após as demissões, lembre a todos aqueles que ficaram na empresa que os objetivos agora são esses, e motive-os a deixar o que aconteceu para trás e voltar ao foco de sempre. Você deve esperar que suas equipes fiquem em estado de choque por um determinado período de tempo, mas é responsabilidade do administrador fazer com que rapidamente as coisas voltem ao curso normal - afinal somente assim o benefício do corte de custos poderá fazer algum sentido.

    Essas dicas são todas interessantes, mas acho que nem são mais necessárias. Afinal, as bolsas já estão de volta ao nível pré-crise, e é isso que importa certo? ;)

    Reggie, the Engineer (João Reginatto)
    --

    Algumas das dicas acima foram adaptadas a partir das dicas sobre layoff de Jason Calacanis, publicadas em 2008.

    sexta-feira, 5 de junho de 2009

    As Pessoas e o Futuro - Reedição

    É muito interessante como a economia mundial anda em círculos. Em novembro de 2001, na edição 1726 da veja, Stephen Kanitz publicou uma história muito interessante que aconteceu durante o seu MBA em Harvard.

    Ele conta que durante uma das aulas, o cenário apresentado era o seguinte: você, um diretor de uma fábrica de geladeiras com boas expectativas de crescimento decide duplicar a fábrica. No meio da construção da nova planta economistas americanos prevêem uma recessão. Para evitar o pior, a diretoria decide cortar os gastos em 20 milhões de dólares, sendo sua missão determinar onde e como isso deve ocorrer.

    Após ser chamado para dar uma parecer inicial, um dos alunos começa relatando que primeiramente mandaria embora 620 funcionários não-essenciais, economizando 12 milhões de dólares. Também postergaria os gastos com publicidade e 95% dos gastos em projetos sociais, com a visão de que se deve pensar primeiramente na sobrevivência da própria empresa antes de se pensar em projetos sociais.

    Após a exposição o professor olhou para o aluno e gritou:
    - Levante-se s saia da sala.
    - Desculpe professor, eu não entendi, disse ele meio aflito.
    - Eu disse para sair desta sala e nunca mais voltar. Eu disse: PARA FORA! Nunca mais ponha os pés aqui em Harvard.

    Todos os alunos ficaram bastante surpresos e assustados. Entretanto, antes do aluno sair da sala, o professor fez seu último comentário:

    -Agora vocês sabem o que é ser demitido. Ser demitido sem mostrar nenhuma deficiência ou incompetência, mas simplesmente porque um bando de prima-donas em Washington meteu medo em todo mundo. Nunca mais na vida demitam funcionários como primeira opção. Demitir gente é sempre a última alternativa.

    A história de Kanitz é muito interessante não somente pelo conteúdo, mas porque acabamos nos esquecendo facilmente disso.

    A maior lição que tiro quando leio essa história, que como mencionei anteriormente está na veja de novembro de 2001 (mais de 7 anos atrás) é que a história se repete muitas vezes e parece que nunca aprendemos com ela. Estamos no meio de uma grande crise agora – mas não será a primeira nem a última, muito menos a pior. Quem faz a empresa funcionar são as pessoas e por isso são o maior valor de uma empresa. Realmente, pensar em demissão como primeira opção pode ser um grande tiro no pé. Aliás, se existiam tantos funcionários “não-essenciais” porque não foi enxugado antes então? Será que só pensamos em empresa ágil quando estamos com a corda no pescoço?

    Outro ponto muito importante a se considerar e se ter em mente é que “Previsões são Apenas Previsões”. E uma outra história ilustra muito bem isso.

    Na segunda guerra mundial, o economista americano Kenneth Arrow (um dos fundadores da teoria econômica neo-clássica e que ganharia o prêmio Nobel em 1972) liderou um grupo de pesquisadores cuja missão era realizar previsões meteorológicas, que serviriam como base para decisões estratégicas em relação a movimentação de tropas em campos de batalha. Como as previsões meteorológicas daquele tempo tinham um grau de acerto muito baixo, muitos
    pesquisadores do grupo questionaram a razão de enviá-las, pois tinham praticamente o mesmo valor de qualquer outro chute. A resposta do comando-geral foi clara: “eu sei que as previsões estão longe de serem exatas e contêm muitos dados errados, mas temos que continuar recebendo-as apenas para fins de planejamento”.

    O que está acontecendo, entretanto, é que as previsões do mercado ou até mesmo boatos estão sendo usados por nós mesmos para planejar quando trocar de emprego ou até mesmo quando ter um filho – decisões essenciais para nossa vida. Será que estamos usando os dados de forma correta? Será que não deveríamos utilizar essas informações apenas para planejamento e não parar nossa vida devido a elas? Afinal, quantas previsões erradas já vivenciamos? Não comprar um novo carro agora talvez seja uma decisão que certamente possa ser baseada em previsões desse tipo, mas o limite talvez seja bem próximo disso...

    Se pensarmos bem, temos apenas uma vida para viver. Se nos perdermos no gigantesco volume de informações que escutamos todos os dias, estaremos apenas seguindo um script pré-determinado e não escrevendo nosso próprio.

    E uma coisa é certa: grandes pessoas escrevem grandes roteiros de vida, geralmente completamente diferente da média da população – que apenas seguiu a maré ou imitou o que vizinho ao lado fez.

    Dr. Zambol
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    quinta-feira, 4 de junho de 2009

    Vídeo: Como Planejar Sua Carreira - Série Dicas da Tribo do Mouse

    Pessoal, a partir de hoje a Tribo do Mouse passará a produzir conteúdo em vídeo também. A idéia é publicar dicas e contar histórias usando a riqueza que essa mídia proporciona.

    Para começar, uma dica sobre planejamento de carreira com o Reggie.

    Esperamos que vocês gostem.





    Abraços da Tribo do Mouse.

    quarta-feira, 3 de junho de 2009

    Raça em Extinção

    Essa situação aconteceu com frequência na minha nova empresa. Cada vez que eu era apresentado para uma nova pessoa, seja ela funcionário ou fornecedor, a conversa era mais ou menos assim:
    - Ah você é o novo responsável da TI não é?
    - Sim prazer.
    - Legal, de que área você vem?
    - ?
    - Quero dizer, com o que você trabalhava antes, contabilidade, administração, pedagogia?
    - Ãããh, TI. Trabalho com TI a minha vida toda.
    - Ah bom, legal.

    A conversa terminava por ai. Primeiro pensei que o problema fosse com a empresa, depois com o mercado local, mas percebi que muita gente trabalha com TI sem ter necessariamente começado na área. Na verdade, quando morei nos Estados Unidos, a maioria da minha equipe não tinha formação em tecnologia. Foi então, que me dei conta do seguinte. Meus dois últimos anos de blog me ensinaram mais do que os últimos dois na minha empresa anterior. Será que alguma coisa está errada? Talvez se eu tivesse feito administração e gerenciado um blog por muito tempo chegaria ao mesmo lugar. Será?

    Não quero fazer uma simplificação ou generalização. Sou defensor ferrenho da qualificação e acredito que o ensino formal ainda é uma das melhores maneiras de se obter isso. Mas também sou contra qualquer visão corporativista que nos leva a defender seguinte ponto: 
    - Como alguém que nunca estudou consegue trabalho na área? É uma injustiça com todos aqueles que passaram anos se preparando em uma sala de aula...

    Balela, antigamente quem escrevia sobre tecnologia eram técnicos com vários anos de profissão, os Especialistas. Hoje em dia o pessoal de faculdade escreve com a maior propriedade. E alguns entendem a Web 2.0 como os vovôs aqui nunca conseguirão. É claro que tem gente ruim também, mas isso existe em todas as áreas, profissionais com ou sem formação. E a mudança não se restringe apenas à TI. Uma área onde se vê isso claramente é no jornalismo. O TechCrunch bateu forte nesse ponto no artigo Who the Hell is enrolling in journalism school right now?  

    Essa mesma tecnologia da informação está transformando todas  as profissões. Exemplo disso, é esse blog. O que três caras com "formação" em TI se arriscam a falar sobre Liderança, Carreira, Ética e Gerenciamento? E tem malucos que ainda lêem o que a gente escreve...

    A tecnologia, que reduziu as barreiras de entrada de mercados, também fez o mesmo para as profissões. Preocupado com a qualidade? Eu sou um otimista, acredito no Darwinismo Profissional. Somente aqueles com competência permanecem, e a evolução sempre será um pré-requisito para a sobrevivência.

    []s
    Jack DelaVega

    segunda-feira, 1 de junho de 2009

    Almoçando Fora

    Larry estava ficando impaciente. Ele havia combinado de almoçar com Paulo às 12:30, mas já faltavam apenas 5 minutos para 1 hora da tarde, e nada do Paulo aparecer. Larry procurou o garçom com os olhos para pedir mais uma água quando avistou Paulo entrando com pressa no restaurante.

    - Desculpe cara, compromisso de última hora lá na escola, acabei ficando preso - falou Paulo ofegante.
    - Não tem problema, só faz o teu pedido rapidinho, eu já fiz o meu. Tenho que estar de volta no escritório às 2 da tarde.

    Larry tomou outro gole d'água enquanto Paulo fazia seu pedido.

    - Mas me diga Paulo, que compromisso de última hora foi esse tão importante assim, logo em uma sexta-feira?
    - Pois é, história interessante. Uma professora nossa nos avisou ontem que está indo embora. E sabe como é, somos uma escola de inglês muito pequena, não temos como cobrir ninguém. Por isso preciso contratar um novo professor para dar aula já na terça-feira. Estava entrevistando um agorinha mesmo. Por isso me atrasei.
    - E por que a história é interessante? Aliás, quantos professores você já perdeu esse ano?
    - Humm, acho que com essa foram 4. Ah, mas a história é interessante pelo seguinte. Há duas semanas atrás tínhamos recebido algumas reclamações dessa professora - um dos alunos do intensivo da noite tinha nos passado que ela não seguia exatamente o programa. Então eu entrei em contato com ela e disse que queria assistir a uma aula dela. Adivinha quando eu ia fazer isso? Na aula de hoje. Entendeu a jogada?
    - Não.
    - Você não acha estranho ela pedir para sair justamente um dia antes de eu assistir a aula dela e fazer uma avaliação?
    - Ela sabia que você ia conduzir uma avaliação?
    - Não, mas quero dizer, para mim parece estranho. As coisas parecem bater, parece que ela temia alguma coisa, sei lá. Acho que ela não tinha pego o jeito da coisa.

    "Interessante", pensou Larry, enquanto o garçom colocava os pedidos na mesa.

    - Paulo, você acabou de me dizer que com essa foram 4 professores que vocês perderam só esse ano, certo? E estamos em JUNHO. Imagino que vocês tenham o quê, uns 10 professores?
    - Onze, para ser mais exato.
    - Entendi. Deixa eu te contar uma historinha. Há uns 10 anos atrás, eu estava trabalhando em um projeto que era a combinação perfeita entre complexidade e bagunça. Era um projeto extremamente difícil, e ainda por cima existiam inúmeros fornecedores trabalhando em paralelo. Bom, a coordenação do trabalho desses vários fornecedores, e das várias equipes envolvidas, era simplesmente inexistente. Conclusão: atrasamos a data de entrega e começamos a ter que trabalhar sem parar para buscar o tempo perdido. E aí começou aquela loucura de rotatividade. Muita gente pediu para sair, muita gente nova chegou, aquela coisa toda. Teve um cara que foi contratado, começou a trabalhar na segunda-feira, trabalhou o dia inteiro, e nunca mais voltou.
    - Hehehe, não aguentou a pressão?
    - Exatamente, era o que diziam pelo menos. Virou parte do folclore do projeto. O cara que só aguentou um dia. Sabe que muitos anos depois encontrei ele em outra empresa? E adivinha. O cara era um dos profissionais mais competentes com quem eu já trabalhei. Simplesmente um avião. Um dia perguntei pra ele por que ele ficou apenas um dia no projeto. E ele me respondeu que loucos éramos nós de continuar lá por meses a fio. Ele em um dia viu que dali não tiraria nada de útil e resolveu quebrar o contrato.
    - Pois é - disse Paulo pensativo.
    - O que estou querendo dizer é que quando um funcionário deixa a sua empresa, pode até ser um problema com o funcionário. Mas quando a rotatividade da sua equipe é 35% em menos de meio ano, é bem possível que exista algo errado na sua empresa. Você viu coisas estranhas na circunstância dessa última professora que deixou a sua escola. Eu vejo coisas estranhas na sua escola.

    Paulo estava pensativo, com os olhos perdidos no infinito, a boca entre-aberta. Larry o tirou do transe:

    - Vê se come logo o seu bife, vai esfriar.

    Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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