terça-feira, 2 de março de 2010

Mitos em Emprendedorismo: "Está no Sangue"

Semana passada o Jack me enviou o link para um artigo do Vivek Wadhwa no TechCrunch entitulado "Can Entrepreneurs be Made?" ("É Possível Forjar Empreendedores?"). Me parece incrível que um tema como esse ainda seja tão polêmico, mas enfim. Dei uma rápida olhada no material sobre empreendedorismo que temos na Tribo e percebi que ainda não havíamos escrito sobre isso. É mais um dos tantos mitos da área.

O que você acha? Os empreendedores nascem como tal ou são "formados"? Empreendedorismo está no sangue?

O tal artigo do Vivek, na minha opinião, acerta na resposta. Acho bobagem dizer que existem empreendedores natos. A verdade é que é extremamente difícil traçar o chamado perfil empreendedor - inúmeras pesquisas já tentaram e o resultado parece sempre ser um punhado de características abstratas (persistência, coragem, visão, etc). Talvez não exista mesmo o tal perfil, simplesmente porque a escolha desse estilo de vida está relacionada ao ambiente externo e a um sem-número de possíveis motivações.

Eu gosto de comparar essa busca pelo perfil empreendedor a uma área na qual possivelmente exista mais estudo, historicamente falando: criminalidade. Através da literatura percebe-se que as ciências humanas nos proporcionam uma idéia razoável dos fatores que levam um determinado indivíduo à criminalidade - mas ainda assim é difícil traçar-se o chamado perfil criminoso. Mais ainda, dificilmente alguém em sã consciência defenderá a idéia de que alguém nasce criminoso, ou de que o crime "esteja no sangue".

Ora, se não vale para o crime, por que haveria de valer para o empreendedorismo?

Existem alguns livros divisores de água, que nos fazem ver o mundo de outra forma, e um dos que me fez acreditar menos ainda no chamado "empreendedor nato" foi o livro "Fora de Série: Outliers", de Malcolm Gladwell. O estudo que ele fez para esse livro deixa muito pouca margem para se duvidar que a combinação de ambiente, oportunidade, trabalho, e muitas vezes sorte, é o que efetivamente leva às pessoas a um determinado destino - e não qualquer aspecto genético. Como o Dr. Zambol já havia mencionado nesse post sobre sucesso, Gladwell mostra que muitas vezes o fator-chave no sucesso de um grande jogador de Hockey no Canadá é a sua data de nascimento - algo nada romântico, ou mesmo genético.

Porque haveria de ser diferente para empreendedorismo?

Alguns investidores de risco americanos afirmam estar obtendo sucesso acima da média ao investir em empreendedores jovens, praticamente saídos das fraldas, com perfil hacker e arrogância acima do normal. Como os resultados têm sido bons, a busca pelo padrão continua a se repetir, e alguns defendem ter encontrado a fórmula para o tal "empreendedor nato". O que eles não entendem é que estão apontando uma provável falsa causa para o tal sucesso. A verdade é que uma outra variável também mudou. O modelo de investimento está migrando para a criação de um ecossistema ao redor dos empreendedores selecionados, com o uso de mentores, ambientes compartilhados, dinheiro e apoio em termos de "know-how".

Ora, talvez o sucesso que os investidores estejam obtendo se deva ao modelo, e não aos empreendedores. Como o próprio Gladwell defenderia, se eu matriculasse o cachorro do Zambol em um ecossistema desses, após alguns anos ele provavelmente teria uma chance maior de ter sucesso no seu empreendimento do que muitos de nós.

É o ambiente. São as oportunidades. É o trabalho duro. É até mesmo sorte. Não é genética. Não é perfil.

Não se deixe levar pela idéia de que você não deve empreender porque não tem o perfil, porque não "nasceu para isso". Talvez você não tenha nascido para isso, ainda. Empreendedorismo pode perfeitamente ser inspirado, pode ser apreciado, pode ser estudado e aperfeiçoado. Um brinde à diversidade de empreendedores.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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