quarta-feira, 1 de julho de 2009

Zona de Conforto

Júlio fechou a porta da sala, certificou-se que não tinha ninguém olhando, e deu um soco na parede. A mão doeu bastante, ele quis gritar mas aguentou a dor. Mais dois murros. Calma, mais um pouco os ossos quebram, pensou. Era isso ou ir chorar no banheiro. Não suportava mais. Fracasso em cima de fracasso nas última três semanas, coisa nova para ele. Tinha que fazer alguma coisa. Fugir, voltar para a sua zona de conforto, apenas agora entendera o significado dessa expressão. No outro dia chamou o seu chefe e a pessoa do RH.

- Não aguento mais. - Desabafou. - Quero voltar. Não nasci para liderar, meu negócio é continuar técnico. Sou um Gerente de Projetos medíocre, mas era muito bom na minha função anterior. Sinto que não estou contribuindo para a empresa como poderia.

É difícil argumentar com alguém nessa situação. Entre perder um bom funcionário porque ele não está satisfeito com o que está fazendo ou realocá-lo para sua antiga função, a resposta é óbvia. E foi o que o chefe e o RH concordaram em fazer. Pediram apenas algumas semanas para arranjarem outra pessoa para função, o que Júlio achou perfeitamente razoável. E o simples fato de uma mudança no horizonte próximo já o fez sentir-se melhor.

Mas então, veio a tempestade, uma mudança organizacional. Dois dias depois ele estava com um novo chefe e a pessoa do RH havia deixado a empresa. Ainda que o novo Gerente parecesse um sujeito legal ele não entendia muito do negócio e estava chegando novo no setor, precisando de todo o suporte disponível. E o segundo em comando naquela organização era justamente o nosso amigo Júlio, ansioso por abandonar o barco e voltar para sua posição técnica. Ele levou duas semanas para criar coragem e falar com o novo chefe a respeito. Mas quando finalmente conseguiu, a conversa foi mais ou menos assim.

- Olha, não sei se você está a par, mas combinei com o meu antigo chefe que estaria voltando para minha posição anterior. Comecei gerente de projeto há pouco mais de um mês e estou apanhando feito bicho. Não sou um bom gerente de projetos, mas era um bom desenvolvedor. Quero voltar a fazer o que fazia antes...

O novo gerente deixou Júlio falar, normalmente ele falava muito rápido, mas também sabia ouvir, coisa que Júlio achava rara nos gerentes da empresa.

- Olha, nos conhecemos a pouco, mas até agora não tenho reclamação nenhuma do seu trabalho. Talvez você esteja exagerando ou seja muito exigente consigo mesmo. O fato é que não vejo razão nenhuma para a mudança.

- Mas... - Tentou contra-argumentar.

- Ok, entendo o teu ponto, mas preciso de ajuda aqui também. Vamos fazer o seguinte. Me dá mais um mês, só mais um mês eu te peço. E se nesse meio tempo você mudar de idéia tudo bem, mas preciso do seu suporte por quanto tempo você aguentar, pelo menos até eu conseguir tocar as coisas sozinho. Ninguém conhece o setor melhor que tu

Era uma proposta justa, mais um mês.

- Tudo bem.

Incrivelmente o mês virou dois, que viraram seis. A verdade é que o trabalho tornou-se tão desafiador e ele estava aprendendo tanta coisa que o desconforto de não ter controle ficou em segundo plano. Depois de um tempo, percebeu que havia encontrado o seu caminho através de uma rota que jamais imaginara para si. O que mudou? Até hoje Júlio não sabe explicar ao certo, mas com certeza o fato de ter alguém apostando todas as fichas em você fez toda a diferença.

[]s

Jack DelaVega