sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Fracasso Não Me Assusta

O ser-humano tem uma adoração pelo sucesso. Ele é curioso a ponto de escrutinar a vida de quem teve sucesso; de escrever livros e livros sobre pessoas de sucesso, para que outras pessoas tente imitá-lo; de cortejá-lo quando passa e, de algumas vezes, vide alguns ídolos da mídia, tratá-lo com um semi-Deus.

Mas talvez seja exatamente essa adoração pelo sucesso que faz com que não enxerguemos o caminho percorrido por essas pessoas para chegar lá - na grande maioria das vezes repleto de fracassos anteriores.

Vejamos o caso de Érico Veríssimo. Nasceu em dezembro de 1905, em uma família rica e tradicional, que logo cedo amargou a ruína. Devido a isso e à separação de seus pais, larga os estudos em 1922 e começa a trabalhar no armazém do tio materno. Logo após, em 1925, torna-se bancário. Nas próprias palavras de Érico Veríssimo, fracassa sumariamente na profissão. Não conseguindo seguir a carreira, entra como sócio de uma farmácia, que acaba falindo em 1930. Outro grande fracasso.

Foram exatamente esses fracassos que o levaram a trabalhar na revista Globo, onde finalmente se encontrou na vida, pois em seguida publicaria seu primeiro romance: Clarissa.

Mas entre os fracassados de sucesso, Érico Veríssimo teve sorte. Há casos bem piores, como o de Vicent Van Gogh. Um de seus girassóis estava cotado em 35 milhões de dólares esses tempos. Se Van Gogh estivesse vivo, não acreditaria naquilo. Morreu em 1890 sem dinheiro nem mais para comprar tinta e sem nunca ter vendido um único quadro. Perto de sua morte, deu de presente ao seu médico uma tela que foi usada por muitos anos para tapar um buraco em um galinheiro. Fama? Reconhecimento? Só veio depois de 1930, quando já havia morrido há muitos anos. Mesmo assim, tinha tanta fé em si mesmo, que pintou mais de 900 telas em menos de 15 anos.

Fernando Pessoa tem um caso similar, mas o maior deles foi o de um suíço do século passado que escreveu um diário com 16 mil páginas sobre sua vida medíocre, com histórias bastante tristes, como admirar casais com filhos, mesmo nunca tendo se casado e sem ter tido nenhum filho, a despeito de 4 grandes "amigas" que o cortejavam. Era professor, mas se achava um dos piores: "irresolução, preguiça, inconstância, abatimento, pusilanimidade" era alguns dos adjetivos que usava para descrever sua performance no ensino.

Logo após a morte de Henri-Frédéric Amiel, uma daquelas 4 amigas que tanto o cortejavam compilou seu diário e o lançou como livro. Logo, logo se tornou um grande sucesso. Hoje, está traduzido para diversas línguas e já vendeu milhões e milhões de cópias como um grande clássico.

Poderia ficar citando dezenas e até mesmo centenas de casos similares de pessoas que tiveram um sucesso estrondoso mas que, até chegarem lá, faliram, fizeram coisas que não gostavam, faliram novamente, fracassaram em diversas empreitadas e, em alguns casos extremos como citei aqui o de Van Gogh, Fernando Pessoa e Henri Frédéric, morreram antes de efetivamente conhecer o sucesso que teriam.

Graças a Deus a maioria das pessoas tem sucesso ainda em vida, como o teve Érico Veríssimo citado no início do texto e também os Grandene, que para quem não sabe, se envolveram em diversas empreitadas onde faliram vergonhosamente até encontrar a mina de ouro que foi a sandália de plástico. O maior mérito foi fracassar, não desistir e, quando acertaram na idéia, administrá-la tão bem que levou a empresa a faturar os mais de 1 bilhão de reais que hoje fatura.

Não tenha medo do fracasso. Ele faz parte do sucesso - quase que um pré-requisito para que ele ocorra. Afinal, acertar na loteira é para poucos sortudos. Entretanto, fracassar, não esmorecer e se reinventar até tornar a sua história um sucesso, não depende nada de sorte - mas de esforço, perseverança, suor e, acima de tudo, fé em si mesmo e em seu talento.

Portanto leitor, não conte com a sorte. Tudo o que desejo é que depois do seu próximo fracasso, você se reinvente e tenha forças para se reerguer. Afinal, é esse o grande desafio da vida, o grande segredo de estar de bem consigo mesmo.

Dr. Zambol
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