quarta-feira, 15 de julho de 2009

Fator Humano

Os últimos meses da doença do meu pai não foram fáceis e ninguém esperava que seriam. Bastante debilitado em função do câncer ele passou parte desse tempo no hospital com doses cavalares de morfina. Os tumores, que começaram no pulmão, entraram em metástase chegando aos ossos. A dor era insuportável, por conta disso ele passava grande parte do tempo sedado. Mas durante essa dura jornada, foi um profissional especial que fez toda a diferença.

Quando meu pai foi diagnosticado com a doença anos antes foi um susto, mas não uma surpresa  para nós. Não se pode dizer isso de alguém que fumava três carteiras por dia a mais de quarenta anos. Mas só viemos a saber da gravidade real do problema quando meu irmão levou os exames a outro médico, que atestou no máximo seis meses de vida. Desse dia, até o dia de sua morte ele viveu três anos, boa parte desse tempo com qualidade de vida, e por isso me considero abençoado.
Logo no início, um amigo, cuja mãe já havia passado por processo semelhante, me ensinou uma grande lição sobre o tratamento médico, ele falou mais ou menos assim:
- Hoje em dia, com os avanços da medicina, a maioria dos médicos tem acesso a recursos semelhantes no tratamento do câncer. Claro, estou falando de médicos particulares, pois o SUS é covardia. O que faz a diferença então? O fator humano. O que faz a diferença em um Oncologista, ouso extrapolar, em qualquer médico, é a maneira com que ele lida com o paciente e com os familiares. É como ele lida com as emoções e gerencia as expectativas dos entes queridos, tão fragilizados em uma hora dessas.

Eu lembrava dessas palavras sempre que interagia com o Dr. Rodrigo, médico de meu pai.  Ele realmente possuía um talento especial para lidar com pessoas. Passava confiança e cautela na medida certa. E tratava meu pai e toda a minha família como alguém que realmente se importava com o que estava acontecendo conosco.

Não foram poucas as vezes que me perguntei o que leva um homem a escolher tal profissão. Qual a motivação de alguém que sabe que perderá a maioria das batalhas da sua vida profissional? Alguém cujo objetivo talvez nem seja a vitória efetiva, mas sim a postergação de um resultado inevitável? Levei algum tempo para encontrar essa resposta, que veio através das palavras de outro amigo, esse um educador. Ele me respondia basicamente a mesma pergunta:
- Porque eu decidi ser professor? Eu podia dizer que foi idealismo, mas na verdade acho que foi prepotência mesmo. Você vai tentar fazer a diferença na vida de alguém, fazer com que esse alguém tenha um futuro melhor. E você vai falhar, falhar e falhar na maioria das vezes. Mas então, lá de vez em quando, você consegue, você se da conta que conseguiu tornar a vida de alguém melhor, mesmo que seja um pouquinho. E esse momento, a sensação de fazer a diferença, apaga todos os seus fracassos.

Eu acredito que essa resposta possa ser aplicada a qualquer profissão. Portanto, quando alguém lhe perguntar sobre sucesso responda antes a seguinte pergunta:
- Você já fez a diferença na vida de alguém?

[]s
Jack DelaVega