quarta-feira, 22 de julho de 2009

Virgindade e Ética

Paulo havia tomado uma decisão em janeiro de 92: aquele seria seu último verão virgem. Porém, semanas depois o verão chegava ao fim e o sofrimento persistia, os resultados eram desanimadores. Sua última esperança era o Carnaval. Afinal, conseguir sexo no Carnaval é mais ou menos como conseguir picanha em uma churrascaria. Na última noite de Carnaval ele partiu para uma tentativa deseperada, juntamente com seu fiel escudeiro Orlando, também em situação parecida. O plano era o seguinte: 
- Ficamos esperando na frente da casa das gurias, cuidando pela janela a hora que elas forem entrar no banho. Aí escalamos a sacada e pulamos para dentro.
- Ok, e depois?
- Depois que a gente estiver lá dentro é só improvisar.

Era um plano no mínimo ingênuo, para não dizer estúpido. Mas, como não possuíam nenhuma idéia melhor, se puseram a escalar a bendita sacada. Quando a meninas os viram começaram a gritar, levando alguns segundos para os reconhecerem. Os momentos seguintes foram confusos, mas o fato é que, lisonjeadas pela escala heróica, elas acenaram com a seguinte perspectiva:
- Vamos curtir a festa de Carnaval e, no final da noite, quem sabem vocês não conseguem o que vieram até aqui buscar. 

Os olhos de Paulo quase se encheram de lágrimas. Finalmente uma possibilidade concreta de cópula, mais do que havia conseguido nesses anos todos. Foi então, que inesperado aconteceu e em segundos os seus sonhos viraram um pesadelo. Sirenes, luzes, correria, culminando no fatídico grito:
- Mão na cabeça vagabundo! Desce já dessa sacada!
Os policiais apontavam as armas para os dois, como se fossem algum mega-traficante ou algo parecido. Assustadas, as meninas voltaram para dentro os deixando a mercê dos oficiais. Já com a algema em punho os homens da lei explicaram: 
- Os vizinhos ligaram avisando que viram dois sujeitos escalando a sacada. Estamos a tempo procurando vocês. Já é o terceiro assalto essa semana!

Paulo viu seu seus planos indo por água abaixo, até que conseguisse provar sua inocência a noite estaria perdida. Decidiu então lançar mão de seu último recurso:
- Eu sou filho do Capitão Astor.
Era mesmo filho de um Capitão da Policia Militar. A estratégia surtiu efeito pois o policial finalmente parou para escutar.
- Meu pai é Capitão de Polícia, está aqui na praia. Vocês podem ir lá em casa que ele explica tudo para vocês.
- Ôo Jonas, vai até a casa do pai do elemento, confirma essa história e me passa um rádio de lá.
Intermináveis minutos depois o policial foi chamado ao rádio e se ouviu apenas suas respostas concordando com o interlocutor:
- Sim Capitão. Tudo bem Capitão. Com certeza Capitão.
Foi com um semblante sério que ele se aproximou:
- Confirmamos a história. O seu pai é mesmo um Capitão de Polícia. Na verdade, ele é um exemplo de integridade, um verdadeiro orgulho para a Corporação.
Paulo se encheu de moral e falou:
- Então, pode liberar a gente.
- Que nada, ele mandou levar vocês para a Delegacia. Disse que não vai livrar a cara de alguém só por que é seu filho. Já pra dentro do camburão!

Paulo aprendeu uma grande lição de ética aquela noite com seu pai, o Capitão Astor. E por conta disso, continuou virgem.


[]s
Jack DelaVega.