quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pobre de Mim, Pena de Mim

De cabeça baixa, no aeroporto de São Paulo, esperava pacientemente a hora do embarque. O vôo estava atrasado 2 horas.

Sentia-se um lixo. Demitido há quatro semanas de uma grande empresa de medicamentos, viu seu chão desabar. Sua vida era dedicada quase que exclusivamente para a empresa: todos os seus amigos eram de lá e atividades fora do trabalho eram todas feitas com pessoas da empresa. Talvez por isso mesmo Joâo sentia-se tão deprimido e isolado. Nessas quatro semanas já havia notado um certo afastamento natural das pessoas com as quais mantinha um contato diário no trabalho.

Ainda não tinha recebido nenhuma proposta de emprego. Seu cargo de gerente especialista em medicamentos, especialidade que trabalhou sua vida inteira, aliada com a crise econômica mundial dificultavam muito a busca por vagas.

Mesmo com uma situação financeira razoavelmente boa, com carro e casa já 100% quitados, a inquietação normal da demissão havia dado lugar ao desespero e à tristeza, que na última semana estava beirando à depressão. Estava indo para casa visitar sua mãe, no Recife – talvez lá se sentisse melhor.

Mas o caminho era longo. Com o vôo atrasado, parecia que a espera era uma eternidade. Pegou uma revista que havia sido largada no banco ao lado e começou a folhear.

“Dados oficiais do último grande levantamento (2005) indicam que na África do Sul, 36% dos homens e 51% das mulheres negras estavam desempregados. Uma boa parte dessas pessoas vive em condições precárias, com dificuldades para conseguir comida”.

João franze a testa e com uma careta resmunga consigo mesmo:

- Droga, não quero ler esse tipo de notícia. Estou em um momento frágil! Quero ler coisas supérfluas.

Folheando mais a revista, encontrou um artigo que parecia ser interessante:

“Milhões de pessoas na região da África Oriental conhecida como Chifre da África estão prestes a morrer de inanição, com diversas mortes já reportadas no Quênia. Estima-se que 11 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar. Água, sementes e gado também são necessários por toda a região, de acordo com a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO).”

- Será possível que não vou ler uma única notícia que me faça sentir bem, reclama João, irritado com o que estava lendo. Vou dar mais uma chance para essa revista.

“...foi então que se espalhou o terror para valer. Moradores de bairros inteiros – pessoas inocentes e muitas vezes sem nem partido político - eram reunidos por guerrilheiros adolescentes e metralhados nas ruas ou queimados vivos em suas casas. Esquadrões especiais, na maioria formados por crianças, circulavam com facões e machados mutilando as pessoas. Gostavam de perguntar às vítimas se preferiam ‘manga curta ou longa’. Significava perder a mão ou todo o membro. O objetivo era aterrorizar a população e estima-se que 100.000 foram mutilados.”

Indignado, olha a capa da revista e vê que é uma edição especial da BBC sobre o Continente Africano.

- Droga, tudo o que quero é ficar em paz com a minha fossa e nem isso consigo!

João então, sedento de autocomiseração, coloca os fones de ouvido de seu iPod 80Gb e começa a ouvir uma música do Legião Urbana.

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Pode até parecer chavão, mas não há nada pior do que tornar o seu problema maior do que ele é, quando geralmente ele é muito, mas muito menor. Mas pior do que isso é ignorar os sinais que estão à sua frente e procurar a autocomiseração como solução dos seus problemas.

Pode até ser que João enfrente sérias dificuldades financeiras, principalmente se tentar manter o nível de vida anterior, mas sempre terá a casa quitada para morar e o carro como manobra de capital. Desespero nunca, seja o problema grande ou pequeno, resolveu problema algum.

Dr. Zambol
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PS.: seja em que situação estiver, pare 3 minutos do seu dia e assista ao vídeo abaixo só para sentir a sorte que teve na vida e agradecer a Deus, ao planeta terra ou ao destino, dependendo de sua crença, de estar onde está e poder estar lendo isso em sua cadeira, com seu monitor. Nunca é demais lembrar disso e sempre é bom saber que seus problemas são geralmente pequenos, ou melhor, do tamanho ideal para uma solução.