segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guia Prático de Empreendedorismo - Parte 2


Esse é o segundo post de uma série que escrevi sobre empreendedorismo. Trata-se de um guia prático que eu preparei a partir das minhas experiências e do vasto material que se encontra disponível na Internet hoje em dia. São anotações e observações que eu reuni durante algum tempo para mim mesmo, mas compartilho aqui com vocês porque acho que pode ajudar mais pessoas a alcançarem o sonho de ter o seu próprio negócio. O guia completo você encontra aqui.



Guia Prático de Empreendedorismo - Parte 2
A Busca por Ideias

A super-valorização da "ideia" (sem acento, percebeu?) é mais um dos tantos mitos que faz com que muita gente boa pense 5 vezes antes de empreender. A maioria das pessoas acredita no conto de fadas que a imprensa nos apresenta dia-sim-dia-não, sobre aquele cara normal que de repente teve uma ideia genial e virou milionário da noite para o dia. É normal que acreditemos que as coisas funcionem assim, é do ser-humano. Se uma ideia genial é algo que vale muito dinheiro, então certamente não é algo que estará disponível por aí para qualquer um ter. Deve ser muito difícil ter uma ideia genial. E se é muito difícil, porque eu sequer me incomodaria tentando? Pronto, está fechado o  ciclo. Temos uma desculpa para sequer tentarmos empreender: "ah, precisa ter uma ideia genial".

Pois bem, vamos espantar alguns desses fantasmas.

Em primeiro lugar, uma ideia genial não vale uma enormidade de dinheiro. Se valesse, existiria um mercado para ideias. E eu desafio qualquer um a tentar ganhar a vida vendendo ideias. Se uma ideia pura e simplesmente valesse alguma coisa, existiriam um sem-número de pessoas simplesmente vendendo as suas ideias ao invés de quebrar a cabeça durante meses tentando criar um negócio ao redor delas. Uma idea não vale nada sem execução, e uma execução perfeita pode criar um belo negócio a partir da mais simples das ideias. Aquele seu cunhado chato que vive lhe dizendo que teve a ideia do Facebook bem antes do Mark Zuckerberg não passa de um piadista. O Mark e o Facebook são o que são porque ali existia um empreendedor capaz de executar uma visão, e não simplesmente porque ele teve uma ideia.

Em segundo lugar, você não precisa esperar ter uma ideia genial para então empreender. Muita gente tem motivação para empreender, está no período certo da vida para isso, mas não segue adiante porque fica esperando o tal do momento "Eureka!". É um grande pecado, porque fazer algo e falhar nos dá a oportunidade de aprender, agora não fazer nada e ficar imaginando como teria sido é uma frustração que se leva para sempre. A verdade é que existem maneiras de se efetivamente gerar ideias para negócios. Muitos empreendedores seguem um processo meticuloso para decidir onde investir o seu tempo e dinheiro. A seguir vou tentar rascunhar os passos básicos envolvidos em um processo de geração de ideias.

Passo 1 - Definição de Parâmetros e Restrições

Antes de efetivamente começar a pensar em ideias para o seu negócio, você deve definir alguns parâmetros e restrições que guiarão o processo. A esta altura você precisa ter noção sobre se deseja empreender sozinho ou se terá alguns parceiros na empreitada - afinal o processo de desenvolvimento de ideias será mais rico e proveitoso se envolver todos os parceiros do negócio desde o início. Outra restrição que você deve ter em mente a esta altura é uma noção de quanto dinheiro você pode investir no desenvolvimento da ideia. O processo como um todo dificilmente se completará em menos de 3 meses. Portanto se você não possuir uma fonte de renda durante aquele período, deverá ter uma noção de que investimento será necessário para sustentar a equipe de trabalho durante esse tempo.

Passo 2 - Brainstorming

Essa é a etapa na qual você investirá mais tempo. Basicamente, é a etapa em que você (junto com seus parceiros no negócio) trabalhará na geração de ideias. Existem várias maneiras de conduzir esse processo, mas novamente algumas restrições terão um papel importante. É fundamental, por exemplo, definir qual é o conhecimento e quais são as habilidades do grupo trabalhando nessa etapa. Existem experts em alguma área? Tecnologia? Design? Algum hobby? É importante focar a geração de idéias em cima dessas habilidades. Não quer dizer que você não possa gerar idéias em outras áreas, mas se você não tiver conhecimento específico você já arranca em grande desvantagem. Pergunte-se que coisas lhe irritam nas áreas em que você tem conhecimento / habilidade? Tente mapear como os processos de negócio funcionam nas áreas que você tem interesse. Existe alguma oportunidade de melhoria? Existe algum problema que ninguém resolveu ainda? Alguma maneira mais inteligente de vender um produto ou prestar um serviço? Ah, não esqueça de comprar um quadro-branco e anotar tudo nele. E relute antes de apagar qualquer coisa o máximo possível.

É importante ter paciência nessa etapa do processo. Não a acelere. Os primeiros dias podem ser frustrantes, você provavelmente vai acabar com um monte de coisas rabiscadas no quadro-branco mas a sensação de que ainda não tem nenhuma ideia. Não se preocupe, é assim mesmo. Seja persistente e continue fiel ao método durante dias a fio. De repente você vai começar a enxergar coisas que não havia visto antes naquele quadro-branco. Você vai começar a estabelecer relações entre as ideias no quadro e o que está acontecendo no mundo ao seu redor. Pode ser uma notícia que você leu. De repente, as ideias começarão a surgir em maior volume.

Passo 3 - Elegendo uma Ideia Vencedora

Com o tempo, a execução do passo 2 vai levar você e seu grupo para alguns poucos domínios, e dentro daqueles domínios de interesse, algumas poucas ideias vão emergir como as de maior potencial. Quando você tiver a sensação de que chegou nesse ponto, é hora de seguir adiante. Mesmo que você tenha o sentimento de que nenhuma ideia é efetivamente genial (na prática você vai ver que esse sentimento, quando vem, vem muito mais tarde no processo).

De posse dessa lista de mais ou menos 5 ideias com potencial, é hora de trabalhar mais a fundo. Faça alguma pesquisa de mercado e descubra as informações importantes. Que produtos / serviços semelhantes existem, que empresas os fornecem, como elas os comercializam, quanto cobram, quanto faturam. Descubra o tamanho do mercado em potencial.

O próximo passo é então pensar em mais detalhes sobre o modelo de negócio para cada ideia. Como você se posicionaria, qual mercado seria o seu alvo, qual seria sua estratégia, quanto cobraria, etc. Coloque tudo isso em uma apresentação, uma por ideia. Deve ser uma apresentação simples, seguindo a regra 10 / 20 / 30 do Guy Kawasaki. Qual o seu sentimento sobre cada uma das ideias depois de pronta a apresentacao? Você seria capaz de apresentar a ideia com paixão?

Reserve então um tempo para apresentar as ideias para conhecidos seus. Devem ser pessoas em que você confia, mas que serão capazes de lhe dar feedback franco e aberto. De preferência apresente as ideias para alguns experts na área, ou para empreendedores. Converse sobre as ideias, faça as pessoas elegerem suas preferidas, anote o feedback e pense se não existe uma outra ideia por trás.

Após algum tempo você naturalmente vai convergir para uma ou duas ideias. Quando isso acontecer, comemore. Você tem a base para o seu negócio. É hora de passar à fase 1 de qualquer empreendimento (sim, essa era a fase zero). Mas isso é assunto para o próximo capítulo.


Próximo capítulo: Construindo um Negócio


Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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