quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Grindhouse

Pessoal, essa é a reedição de dois pequenos textos que eu publiquei no início da Tribo, no tempo que a gente ainda se chamava ITChronicles. Espero que gostem.

O Analista Fantasma
Essa aconteceu um pouco antes do estouro da bolha da internet em um dos maiores projetos de desenvolvimento de software em Porto Alegre. A empresa estava contratando gente a rodo, sem checar nenhuma referência. A confusão era tamanha que chegavam a demitir em uma semana e contratar a mesma pessoa na semana seguinte. O sujeito que fazia cafezinho em três meses foi promovido a gerente de projeto. Reza a lenda que um analista foi contratado e sumiu uma semana depois que começou a trabalhar. Com o turnover do jeito que estava ninguém mais esperava o ver cara de volta.

Porém, na semana seguinte ele aparece. Em tempos de crise, o projeto pegando fogo, faltando recursos por todo o lado, o gerente nem pergunta o que aconteceu, diz pro cara sentar e continuar o trabalho. Mas na outra semana, de novo, nada do sujeito. Não é que uma semana depois o sacana dá as caras como se nada tivesse acontecido. Mas daí tiveram que perguntar, nem tanto por responsabilidade, por curiosidade mesmo.

O cara havia arrumado um emprego em outra cidade e acertou com os outros empregadores trabalhar semana sim, semana não. Esqueceu foi de avisar os novos patrões. O pior é que quando disseram pra ele que assim não servia ele perguntou indignado:
Mas se eu entregar tudo que vocês me pedirem que diferença faz onde eu estou?

Pois é, faz diferença?

Vampiros de Almas
Essa é macabra mesmo. Mais um daqueles projetos intermináveis, daqueles que a gente não vê a luz no fim do túnel. A equipe vinha trabalhando numa média de quinze horas por dia, pelos últimos dois meses. Sabe quando o gerente de projeto vem com aquela de: “Sábado é dia útil” e “Domingo, Ponto Facultativo”? Pois é, mais ou menos assim.
Segundo o que me contaram, o sujeito estava trabalhando por mais de 36 horas seguidas quando teve um colapso e caiu no chão. As pessoas relataram que ele caiu e ficou na mesma posição que estava na cadeira, como se ainda estivesse usando o computador deitado no chão. Estava com os olhos esbugalhados e uma babinha escorrendo pelo canto da boca, o que não preocupou ninguém porque ele já babava normalmente.

Nenhuma palavra, estado catatônico.

Levaram para a emergência, e o diagnóstico, adivinhem? Colapso causado por stressoverdose de trabalho. Mas o mais estranho ainda estava por vir. Ao acordar no hospital, doze horas depois, ele não se lembrava de nada das últimas duas semanas. Nada, nadinha, o sujeito teve as duas últimas semanas completamente apagadas da memória. E até o fechamento dessa edição, cinco anos depois, ele ainda não havia recobrado lembrança daqueles tristes dias.

Sacanagem, para isso não tem backup.

[]s
Jack DelaVega