quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Destino às Vezes é Apenas uma Palavra Usada como Desculpa

Jean-Dominique, em seus ávidos 43 anos, editor de uma grande revista de moda, na volta para casa passa mal e desmaia. A ambulância é chamada, que o leva para o hospital. Vítima de um grave AVC, entra em coma. Vinte dias mais tarde ele acorda, e descobre incrédulo que está com a raríssima síndrome de locked-in. A síndrome de locked-in é uma das coisas mais horripilantes na área da medicina: o paciente encontra-se plenamente consciente, com total capacidade mental, mas não consegue mexer nenhum músculo fora os olhos. A síndrome tem esse nome porque a pessoa está presa dentro do próprio corpo - não consegue se mexer, não consegue se comunicar, não consegue nada. Apenas consegue piscar os olhos. É muito pior que a tetraplegia.

Essa história é real. Ela ocorreu com Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle.Eu li essa história há muitos anos atrás, na revista Seleções, na sessão de livros. Essa semana, com a intenção de comprar o livro do assunto, pesquisei na internet e me lembrei de alguns detalhes do que havia lido. A história é simplesmente fascinante.

Como desgraça pouca é bobagem, Jean-Dominique em pouco tempo desenvolve um problema no olho direito e perde-o. Portanto, se antes possuía dois olhos para realizar uma comunicação primitiva com o mundo exterior através de piscadelas, agora só possui o olho esquerdo.

Decidido em continuar a achar um sentido para sua vida, com a ajuda de uma fonoaudióloga, que recita as letras do alfabeto francês na ordem que mais ocorrem e espera a piscadela dele indicando que aquela é a letra que ele quer utilizar, Jean-Dominique escreve um livro inteiro, publicado no Brasil com o nome de O Escafandro e a Borboleta, contando a experiência de se manter encarcerado dentro de seu próprio corpo.

Existem várias lições que podemos tirar da história de Jean-Dominique. Mas destaco duas que têm tudo a ver com o ambiente corporativo.

A primeira é a mais batida: persistência e perseverança diante de dificuldades hercúleas. Mesmo batida, é vendo casos como o de Jean-Dominique que nos damos conta o quanto às vezes nos deixamos vencer por problemas relativamente simples. O segredo é mais do que claro: achar a motivação para superar o problema a ser enfrentado. No caso de Jean-Dominique, a superação da situação que se encontrava foi motivada pela chance de contar ao mundo o que uma pessoa sente ao ficar encarcerado em seu próprio corpo; pela chance de se comunicar com o mundo inteiro mesmo tendo grandes dificuldades de se comunicar com a sua esposa ao seu lado. É esse tipo de atitude que diferencia os vencedores das pessoas comuns. No livro Outliers, de Malcolm Gladwell, o autor faz uma relação bastante interessante do quanto as pessoas que vencem na vida demoram na média duas a três vezes mais para desistir de um problema do que uma pessoa comum. A explicação é mais do que lógica: no processo de insistir na solução do problema, você não apenas estimula o cérebro e cria novas conexões, mas também aprende exponencialmente muito mais do que quem desiste no início dos problemas.

A segunda lição foi não aceitar o encarceramento, prisão, ostracismo ou seja lá que nome você queira dar. É muito comum nos pegarmos reclamando de nosso emprego: "não tem mais como aguentar mais isso - é uma empresa ridícula" ou "eles nos tratam como palhaços!". Se você realmente pensa desse modo, adivinhe!? Você tem duas pernas e um cérebro plenamento funcional. Então pare de reclamar e mude logo de emprego! Mas tenha certeza que você se sente realmente assim e não é apenas uma reação exagerada, o que também é muito comum.

Seja como for, o que não é aceitável é estar infeliz onde se trabalha. O trabalho não foi feito para ser um fardo. Passamos mais tempo no trabalho do que em qualquer outra atividade da vida. Portanto, ser infeliz no trabalho significa necessariamente ser infeliz na vida. Não deixe isso acontecer. Batemos sempre nessa tecla aqui na Tribo do Mouse . E continuaremos batendo porque parece que o óbvio continua sendo visto apenas como um sonho, um ideal: "felicidade no trabalho".

Jean-Dominique realmente não aceitou a situação. Tentou se livrar de todas as formas de sua prisão, fazendo o máximo de coisas que lembrassem uma vida normal. Quando chegou ao seu limite de tentativas e viu que não teria jeito, decidiu "sair do seu emprego", pois aquilo já não lhe bastava. Infelizmente para ele, "sair do emprego" significava morrer. Mas decisão difícil era fichinha para ele. Pela leitura do livro,vê-se que, embora não completamente convencido, a decisão de desistir foi consciente - e morrer foi o seu prêmio.

Você que está agora no seu trabalho lendo esse post, lembre-se que para você mudar os rumos das coisas em sua vida felizmente não implica em desistir da vida. Basta uma pitada de entendimento do que se realmente quer do futuro, outra pitada de entendimento do que lhe faz feliz e uma grande porção de coragem e amor-próprio. Ninguém vai tomar essa decisão por você. Se realmente você está infeliz ou em algum lugar que não condiz com seus planos de futuro, monte agora mesmo um plano para sair dessa prisão que você mesmo se meteu e execute o primeiro passo nessa semana.

E faça logo antes que a vida decida por você que é tarde demais.

Dr. Zambol
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