quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Apertar o Gatilho Dura Bem Menos Que Um Segundo... - Reedição

Muito interessante o texto do Jack sobre o mau-humor. Muito bem escrito, me fez lembrar de uma discussão interessante que tive com uma psicóloga há alguns anos atrás sobre mau-humor versus falta de paciência.

A psicóloga defendia que as duas não devem ser confundidas, pois uma é mais ligada a uma questão temporal (estou com mau-humor agora), com conseqüências muito parecidas com as destacadas no texto do DelaVega. A outra é mais ligada a uma situação crônica (faz algum tempo que não tenho paciência para nada), que pode evoluir a quadros patológicos graves. Aliás, nunca vi uma classe profissional que goste tanto da palavra "patológico" como os psicólogos. Tenho a sensação que eles desejam usar até onde ela não se encaixa: "Hmmm, que almoço patológico esse"; "Não sei Sr. Mecânico, o motor falha toda hora, acho que é patológico". Mas enfim, não é esse o foco do texto hoje.

Embora possa até concordar com ela em termos de diferenciação (temporal x crônico), para mim, as duas coisas podem levar exatamente ao mesmo fim, que, dependendo do caso, pode ser catastrófico. Portanto, os mesmos cuidados devem ser tomados nas duas situações.

Deixe-me explicar. A questão toda baseia-se no passar uma determinada linha ou não. Se você me xinga e eu lhe aponto uma arma, nada aconteceu: tive apenas uma reação desproporcional que pode ser remediada facilmente. Agora, se eu for mais ao extremo ainda e, como reação ao seu xingamento, além de apontar a arma, atirar em você, nunca mais terá volta. Aquele centésimo de segundo que separa o apontar a arma do dispará-la muda completamente uma vida (na verdade ao menos duas vidas nesse exemplo). E se uma pessoa descontrolada já teve a reação de apontar uma arma devido a um simples xigamento, talvez cometa a burrice de ir mais longe e pressionar o gatilho, mesmo sem razão alguma.


Um conto apócrifo, muito bonito, conta que pai e filho estavam em um banco em frente a residência onde o pai morava. O pai, já com 80 anos, se encontrava um pouco senil. O filho, com seus 50, tentava ler um romance. O pai, após ouvir um som estranho, indaga:

- O que foi isso, filho?
- É só um pássaro pai, responde o filho, percebendo que um pássaro com um canto não muito comum estava nas redondezas.

Passam-se alguns segundos e o pai pergunta novamente:
- O que é isso, filho?
- Pai, já lhe falei, é só um pássaro!

Mais alguns segundos se passam e o pai volta-se novamente para o filho:
- Mais o que é isso filho?

Completamente irritado por não conseguir ler nenhuma linha do seu romance, o filho dirigi-se ao pai aos berros, já completamente fora de si:
- PAI, JÁ FALEI QUE É UM PÁSSARO. PÁ-SSÁ-RO. ENTENDA! PÁ-SSA-RO! QUE MERDA!

O velho levanta da cadeira lentamente e vai em direção a sua casa, desolado. O filho, ciente que passou a linha, fica chateado, não sabe bem o que fazer. Um minuto se passa e o pai volta, senta-se ao lado do filho e lhe entrega um caderno velho aberto em uma determinada página e pede para que o filho leia. Este, sem entender muito, começa a ler em voz alta:

"Hoje estou no parque com meu filho que acaba de fazer aniversário de 4 anos Ele me perguntou 21 vezes 'o que é aquilo', apontando para um pássaro que estava perto de nós. Nas 21 vezes respondi com paciência e bom-humor o que era e como ele se movimentava. A cada vez que respondia, abraçava meu filho e dizia que o amava muito. Foi um lindo final de dia, pois aprendi muito sobre paciência e bom-humor."

O filho, após ler a passagem, com lágrimas nos olhos, olha para seu pai, buscando perdão.

No escritório, uma única pisada na bola, um único estouro, pode significar a ruína de uma grande história de sucesso. E ninguém vai querer saber se é mau-humor, falta de paciência ou TPM, pois simplesmente isso não importa. O que importa é que há uma corpo estendido no chão; se você berrou com os colegas e perdeu o controle, o gatilho foi pressionado e o estrago está feito.

O escritório é um ambiente de competição, de troca de idéias e de stress, mas nunca, nunca de desrespeito. Aquele centésimo de segundo que separa o apontar a arma do dispará-la pode salvar uma carreira.

O mais seguro, é nem andar armado no escritório...

Dr. Zambol
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