quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Executivos

Roger tem uma agenda lotada. A semana começa em São Paulo, depois Londres e uma passada no Canadá antes do merecido descanso em Angra dos Reis no Domingo. A semana de Luciano também é corrida. Ainda que não viaje muito a negócios, ele passa o tempo todo de lá para cá. Sua empresa demanda muita supervisão, principalmente para um executivo recém promovido como ele. Seu dia não começa muito cedo, mas não tem hora para acabar.

Há algum tempo no cargo, Roger já comemora inúmeras vitórias. Em suas mãos a empresa cresceu muito, dobrou de faturamento e fez a felicidade dos acionistas. Bom, isso até a crise gerada pelo Subprime, que nos últimos meses tem dado muita dor de cabeça para Roger. O negócio de Luciano, por incrível que pareça, anda de vento em popa. Como depende exclusivamente do mercado interno, ainda não sentiu o impacto da crise. Pelo contrário, o nervosismo do mercado só aumentou sua demanda. É claro que ele sofre com a alta do dólar, como todo negócio que envolve importações. Mas essa é a hora de expandir, de consolidar a sua posição de mercado.

As empresas dos dois não poderiam ser mais distintas. Roger coordena uma operação gigantesca, talvez uma das mais complexas do país. Já a estrutura de Luciano é bem mais enxuta, mas dele dependem milhares de pessoas. Famílias que tem a vida afetada pelo complexo ecossistema alimentado pela sua companhia. As diferenças prosseguem no que diz respeito a suas formações, ainda que ambos tenham chegado ao cargo em função de seus méritos, Roger teve berço e educação. Os dois são considerados executivos linha dura. Roger é o que chamam de chefe difícil, perfeccionista espera o mesmo dos seus liderados.  A administração de Luciano é marcada pela meritocracia, só verdadeiros sobreviventes conseguem chegar ao topo da sua organização.

Uma coisa que ambos tem em comum é a preocupação com a questão da violência urbana. Transitam o tempo todo com seguranças responsáveis por sua proteção.

Roger Agnelli é o presidente da Vale, a maior empresa privada do pais e o executivo mais admirado do Brasil de acordo com uma pesquisa recente. Luciano Pezão é o marginal que chefia o tráfico no complexo de favelas do alemão, onde residem mais de 90 mil pessoas. É o maior traficante em atividade no país, o homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar.

É uma vergonha que um meliante como Pezão goze da mesma liberdade que eu, você, e o Agnelli, dando margem a comparação do texto acima. Meu consolo é que sujeitos como ele não costumam durar muito, independente do quão esperto sejam. A má notícia, para todos nós, é que a área de "Recrutamento e Seleção" funciona muito bem no Narcotráfico e existe uma fila de gente qualificada para ocupar o lugar de Pezão quando ele partir.

[]s
Jack DelaVega