quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vendendo um lugar no céu

Eu estava visitando a nossa agência de publicidade quando um dos Marketeiros começou uma interessante comparação entre religiões. A conversa foi  mais ou menos assim: As religiões Judaica e Cristãs vendem um futuro promissor, um lugar no céu. Em linhas gerais essas doutrinas pregam que se você viver uma vida segundo certos princípios terá o seu lugar no paraíso garantido no pós-morte. E tenho que concordar que essa estratégia funciona, em parte porque até hoje ninguém voltou de lá para desmentir o prometido.

Já as religiões pentecostais, cujo nosso exemplo mais ilustre é a Igreja Universal do Reino de Deus, utilizam uma estratégia totalmente oposta de "venda". Nesse caso os promotores da religião são os próprios fiéis que divulgam a igreja com depoimentos como o abaixo descrito:

"Eu era um bêbado, drogado, libertino, jogador, mulherengo, não parava em emprego, brigava com todo mundo, até o meu cachorro mijava em mim. Depois que eu entrei para a igreja minha vida mudou. Hoje sou dono de comércio, bem-sucedido, pai de duas filhas lindas e um pônei que é uma graça. Freqüento a igreja semanalmente e garanto: Tudo que eu entrego ao dízimo volta em dobro para mim. A igreja me salvou, me fez encontrar o caminho."

Perceberam? Enquanto uma vende a salvação depois da vida, a outra vende a salvação agora. Assim fica fácil entender o crescimento exponencial desse tipo de igreja, afinal não tem mesmo muito o que comparar, o ser humano é imediatista. Prefiro me salvar depois de morto ou me salvar agora? Ãhh, deixa eu pensar?

Quem discorre sobre um tema semelhante é o economista Eduardo Giannetti no livro O Valor do Amanhã. Giannetti apresenta o conceito de "Trocas Intertemporais", escolhas que todos nós fazemos no dia-a-dia. Por exemplo: A decisão de comer um mouse de chocolate após uma refeição. A escolha é feita entre o prazer proporcionado pelo mouse(presente) ou os benefícios que uma dieta balanceada traz para saúde ou estética(futuro). Fazemos esse tipo de escolha mesmo sem perceber, junto dinheiro para comprar um carro ou financio o veículo para usufruir do bem agora, pagando juros por isso.

A teoria das Trocas Intertemporais me ajudou a explicar um comportamento que a tempos venho tentando entender. Por que algumas pessoas tratam os seus funcionários como lixo, desrespeitando-os e criando um ambiente de trabalho desagradável? A resposta, óbvia, é que a  pressão, o grito, o chingamento, funcionam. E os problemas geralmente são resolvidos de um jeito ou de outro. Com a seguinte ressalva, funcionam no presente. Nesse caso a troca intertemporal compromete a manutenção e a capacidade de entrega no futuro, afinal quem em sã consciência gosta de trabalhar para um chefe assim?  Só mesmo quem acredita em pagar os seus pecados na terra para usufruir do paraíso no além-vida.

[]s
Jack DelaVega