sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Valores Acima de Tudo

Sempre admirei muito aquelas pessoas que colocam alguns valores acima de qualquer outra coisa. E quando digo acima de qualquer outra coisa, isso inclui a vida. Para mim, esse é um conceito um pouco difícil de entender às vezes, principalmente porque estou longe de ter certeza que vou ter uma vida após a morte – seja ela no céu, em outro corpo ou como um espírito zanzando por aí. E se a vida acaba com a morte, o que poderia ser mais importante do que a vida? Talvez porque me criei jogando xadrez desde pequeno, onde vale todo e qualquer sacrifício para proteger o rei, tenho a sensação que nada vale mais do que o rei no jogo da vida – nossa própria existência.

Mesmo assim, ainda admiro pessoas que tem a coragem de se sacrificar em prol de uma causa maior para a humanidade, como a luta pela liberdade da sua tribo ou facção ou a luta pelo fim do racismo. No fundo, gostaria de ter a coragem e a grandiosidade de saber que, para o mundo, minha vida vale menos do que isso, o que trocaria o “rei” de lugar, sendo a pessoa então um mero peão no tabuleiro.

E o que venho falar hoje é exatamente um exemplo de valores que superaram a vida. O pior é se passou em um jogo de futebol, embora o que estava em jogo era muito mais do que o resultado. O jogo ficou mundialmente conhecido como Jogo da Morte. A Wikipedia em inglês conta a história bem com alguns sites em português. O site aqui linkado tem uma boa descrição dos fatos com diversos detalhes interessantes, se o leitor se interessar.

Resumidamente, na cidade de Kiev (capital ucraniana), no tempo que havia ocupação nazista, um padeiro de origem alemã era uma das poucas pessoas da cidade com liberdade de trabalhar e dar emprego, exatamente porque tinha origem alemã. Num dia, enquanto andava pela rua, viu que o mendigo que estava deitado na rua era o goleiro do Dínamo (famosa equipe de futebol). Como era fã do time, contratou o goleiro para trabalhar em sua padaria. Não muito tempo depois, saiu à procura dos outros jogadores e, um a um, foi os contratando como “funcionários da padaria”.

Algum tempo depois, com o time completo, começaram a jogar partidas com o nome de FC Start. Começaram a derrotar todos os adversários por grandes goleadas. Como o time estava ganhando popularidade, os nazista preparam o melhor time que podiam conseguir – tão bom que na época era usado como propaganda nazista: o Flakelf. Surpreendentemente, foram derrotados por 5 a 1.

Mas a derrota do maior time de Hitler levantou suspeitas e, após algumas investigações, descobriam o que havia acontecido. Como a superioridade ariana no esporte fazia parte do pacote “obsessão nazista”, decidiram não apenas matar o time todo. Queriam vencer a partida e depois matá-los.

Depois de anunciar a revanche na mídia e em panfletos (a figura acima é uma imagem do panfleto original), deixaram claro para o time que, se deixassem o time alemão ganhar, poderiam ter uma chance de sair com vida. Se ganhassem, iriam ser torturados e massacrados.

Como o que estava em jogo ali era muito mais do que um jogo, e mesmo com todo o nervosismo pela pressão que estavam sofrendo, ganharam o jogo por 5 a 3, e ainda desdenharam o time alemão. Todos foram torturados e mortos mais tarde – incluindo o padeiro.

Realmente, alguns valores podem ter mais importância do que a própria vida. Entregar a partida seria uma decepção muito grande para aquele povo sofrido e os tornaria apenas marionetes.

E mesmo com tantos exemplos, ainda vejos pessoas deixando valores como felicidade, altruísmo e ética devido ao trabalho. Valores esses que nem precisariam do sacrifício da vida para serem defendidos...

Dr. Zambol
--