segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Fim do Mundo como Conhecemos

Acabamos falando pouco (ou nada) aqui na Tribo sobre um assunto muito importante que vem ocupando quase 100% do espaço nos noticiários econômicos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos – a crise mundial dos financiamentos ‘Subprime’, ou para os mais polêmicos, o fim do capitalismo como conhecemos.

Bom, quem nos acompanha há mais tempo sabe que somos críticos de muitas práticas tidas como ‘normais’ nos ambientes corporativos. O normal ‘fede’.Se há uma coisa que eu acredito fielmente é na capacidade que temos de inovar e fazer melhor, fazer diferente. Mas não somos ingênuos. Muitas das coisas que criticamos, nós... bem... somente criticamos. Porque em algumas questões fundamentais é difícil realmente fazer algo diferente (difícil, não impossível). Senão vejamos uma das maiores mentiras corporativas da história da economia moderna, e que continua a ser contada dia após dia nos mais variados escritórios:

“Nosso foco principal são as pessoas”

Confesse, você já ouviu essa, não?

Eu adoro uma tirinha do Dilbert onde o chefe finalmente admite que os empregados não são exatamente o maior ativo da companhia. Na verdade os empregados seriam o item número 9 da lista. Um participante da reunião pergunta: “e quem está na posição 8?”. O chefe responde: “papel carbono”. Claro, é uma piada (papel carbono nem é mais tão importante hoje em dia, deve ser menos importante que os empregados atualmente), mas ilustra muitíssimo bem uma dessas mentiras corporativas que escutamos todo dia, e que quando menos percebemos, nos vemos contando também.

O foco não é nas pessoas. Não é nos empregados, nos clientes, nos acionistas. O foco é o lucro. Obviamente que para ter lucro você precisa ter o mínimo de cuidado com seus empregados, acionistas e clientes. Seria até estúpido achar que se pode montar uma empresa totalmente focada em lucro, mandando empregados, clientes e acionistas catar coquinho. Mas é importante perceber onde estas variáveis estão na equação. O cliente é parte da equação, mas não é o resultado dela. A mesma coisa para o empregado e os acionistas. Ou seja, as pessoas são parte da equação. Mas o que vem depois do ‘=’, o que resulta do processo todo, é o lucro.

Agora o interessante disso tudo que falei, e onde eu faço a conexão novamente com o momento em que estamos vivendo, é que isso era absolutamente aceitável até pouco tempo atrás. Eu mesmo já fui empreendedor, sou simpático aos conceitos do capitalismo, e acho que o que move tudo é o lucro mesmo. Empresas ruins existem, assim como mau gerenciamento (!). Mas empresas boas estão por aí aos montes também, e todas elas só sobrevivem se tiverem lucro. Ninguém vive de boas intenções em um sistema como o atual.

Porém, pela primeira vez como nunca antes eu havia vivenciado, tudo isso está sendo questionado agora. Será que devemos focar tanto assim no lucro? Olha aí onde Wall Street foi parar por causa do lucro fácil e da ganância. Será que precisamos de tanto dinheiro? É correto um plano de resgate para os bancos quando eles criaram a bagunça toda em primeiro lugar?

Não sei se você concorda, mas o simples fato de estarmos questionando o “status quo” para mim é sensacional. Estou rindo à toa. Até parece que o espírito da Tribo “tocou” as pessoas no mundo inteiro.

Ainda semana passada eu assisti a duas coisas na TV e recomendo. A primeira delas foi um debate na BBC onde se discutia o que move (ou deveria mover) uma empresa. E se falava nos quatro P’s, do inglês: Profit, Power, Purpose, Passion (ou lucro, poder, propósito e paixão). O debate foi em alto nível, com gurus das mais variadas áreas do conhecimento humano, e empresários de todas as partes do planeta. E a conclusão praticamente unânime do programa foi que ‘propósito’ deveria guiar as empresas. O lucro foi rechaçado. Óbvio, isso é reflexo do momento que vivemos, mas é muito interessante pensar qual seria o resultado desse debate há apenas alguns anos atrás, quando o mundo experimentava o ‘espetáculo do crescimento’.

A segunda coisa que assisti foi o filme ‘The Corporation’. O Jack havia me sugerido há um tempo atrás, e eu o incuí na minha lista do ‘Moviestar’ (um serviço que assino aqui na Irlanda, estilo Netflix). Nunca eles haviam acertado tanto no timing. O filme não é tão recente, mas parece perfeito para o momento. Se olhado criticamente, é mais valioso do que muitos cursos por aí. Confesso que preciso rever urgentemente alguns dos produtos que consumo.

Enfim, fica a dica: pense no que está acontecendo ao seu redor. Somos levados a acreditar que todas as crises econômicas são iguais, que alguma coisa nova vai aparecer e resolver o problema, até a próxima crise, é assim mesmo. Eu discordo. Estamos passando por mudanças profundas e isso vai impactar a maneira como você trabalha mais cedo ou mais tarde.

Pode ser o fim do mundo como conhecemos.

Reggie, the Engineer.
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