sexta-feira, 20 de abril de 2007

Borracharia

Estava consertando o pneu do carro.

Numa borracharia, coisa que eu acho que só existe no Brasil, nunca vi nenhuma nos Estados Unidos, não faço idéia de como eles fazem para consertar um pneu, mas bom, estou divergindo. Voltando ao assunto, estava eu na borracharia, daquelas tradicionais mesmo, pôster da Rita Cadilac do tempo do Chacrinha. O dono, um senhor grisalho dos seus sessenta anos, supervisionando o trabalho de um guri que devia ter por volta de seus treze.

Calmamente ele passava os segredos da profissão para o guri, que apesar de ouvir, não sei se levava muito a sério os ensinamentos do velho. Então ele me colocou na conversa.

“Pois é” – Diz ele, “Tô ensinando a profissão para esse guri, não que tenha muito que ensinar, ser borracheiro não requer prática nem habilidade, não vou mentir pro senhor. Mas o danado do guri não aprende."

O guri tirando o prego do meu pneu. E senhor continua.

“Pra ser borracheiro não precisa ser inteligente, qualquer um consegue, tem meia dúzia de coisas que o cara tem que fazer, descobrir o furo, limpar, lixar, soldar, nada de mais.”

“Nem muita experiência precisa, coisa que dá para aprender em uma semana, no máximo.”

“Estudo? Não. Eu mesmo não completei o ginásio.”

“Tem só uma coisa que o sujeito tem que ter para ser um bom borracheiro.”

“O que?” - Perguntei para mostrar interesse na conversa, afinal ele iria contar de qualquer maneira mesmo.

"Para ser um bom borracheiro só é preciso capricho. Sem capricho não dá, as coisas saem mal feitas, a solda fica suja, não pega. Borracheiro sem capricho não tem futuro.”

Confesso que fiquei surpreso com a sabedoria do velho. Já contei essa história (que é verídica) algumas vezes pra gurizada que trabalha comigo. Costumo dizer que desenvolvedor que não tem capricho com o código não serve nem pra borracheiro.

[]s
Jack DelaVega