quarta-feira, 4 de abril de 2007

Suportanto o Suporte

Era o dia de seu casamento. Nerdito Sofrenildo estava bastante feliz. Agitado, mas feliz. De origem humilde, teve que se desenvolver por conta própria. Aos 17 anos já programava em Pascal. Aos 25 tinha um emprego como desenvolvedor em uma grande empresa em Porto Alegre.

Quando conheceu Delphi, aos 34 anos de idade, sua vida mudou. OO era o máximo para ele. Sabia de cor todos os patterns do GoF e do Martin Fowler. Para completar, no mesmo ano conheceu Adabasa, sua noiva atual. Algo lhe tocou fundo quando ouviu seu nome.

Mas a vida de Nerdito nunca foi fácil e ainda estava como desenvolvedor pleno em uma empresa de médio porte em Porto Alegre, mesmo com os seus 40 anos de idade e mais de 20 anos de experiência em TI.

Mas desculpe-me, fugi do tema central desse Post – seu casamento. Lá estava ele, a 3 horas do casamento, já com Smoking prontinho quando o celular toca. O visor mostra 000. Ele está acostumado com isso. Deve ser de Portugal.

Quando desliga o celular, fica preocupado. O problema no software que ele cuida está fazendo um super-mercado inteiro ficar parado. Ele é o único que entende dessa parte. Apavorado, não sabe o que faz. O SLA (Service Level Agreement) é de 10 minutos para começar a trabalhar em problemas críticos como esse.

Uma cãibra estomacal lhe toma repentinamente. Sabe que é uma decisão difícil, mas tem consciência que precisa desse emprego para viver. Larga tudo e vai para a empresa. O bug é mais complexo do que acreditava inicialmente e o faz ficar em conferência com Portugal durante 5 horas.

Quando desliga o telefone, verifica que há 27 ligações não atendidas. Liga para sua noiva. Em prantos, ela diz que tudo está acabado. Ele não entende o porquê – estava apenas fazendo o seu trabalho.

Parece brincadeira, mas histórias como essa são comuns hoje em dia (não no dia do casamento, é claro). Alguns perdem o sono atendendo chamados em plena madrugada. Outros, no momento que estão prontos para viajar no fim-de-semana, recebem uma ligação e precisam cancelar tudo. Parece que nossa área está mais vivendo para trabalhar do que trabalhando para viver. Falo isso com propriedade, acreditem. Além dos meus chamados, sou às vezes acordado pelos chamados da minha namorada – que também é responsável por uma área de informática em uma grande empresa de Porto Alegre.

Há uns 5 anos atrás, quando proferi uma palestra na ULBRA para uma turma de fonoaudiologia, uma psicóloga já me indicava: “A qualidade de vida em TI está diminuindo a cada dia”. Essa frase hoje não pára de martelar em minha cabeça, pois preciso fazer que todos do meu time se sintam confortável com suporte.

Será possível? Será que não extrapolamos o limite? Será que perdemos a consciência que o trabalho é apenas um meio e como assim ele deve ser tratado?

O que sei é que, como gerentes de pessoas, é mais do que nosso dever - nossa obrigação como seres humanos - prezar pela qualidade de vida de cada funcionário. E acreditem – é muito fácil falhar nesse sentido e sobrecarregar desumanamente alguém.

Pobre Nerdito – no dia de suporte, não teve suporte de ninguém....

Dr. Zambol
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