segunda-feira, 1 de junho de 2009

Almoçando Fora

Larry estava ficando impaciente. Ele havia combinado de almoçar com Paulo às 12:30, mas já faltavam apenas 5 minutos para 1 hora da tarde, e nada do Paulo aparecer. Larry procurou o garçom com os olhos para pedir mais uma água quando avistou Paulo entrando com pressa no restaurante.

- Desculpe cara, compromisso de última hora lá na escola, acabei ficando preso - falou Paulo ofegante.
- Não tem problema, só faz o teu pedido rapidinho, eu já fiz o meu. Tenho que estar de volta no escritório às 2 da tarde.

Larry tomou outro gole d'água enquanto Paulo fazia seu pedido.

- Mas me diga Paulo, que compromisso de última hora foi esse tão importante assim, logo em uma sexta-feira?
- Pois é, história interessante. Uma professora nossa nos avisou ontem que está indo embora. E sabe como é, somos uma escola de inglês muito pequena, não temos como cobrir ninguém. Por isso preciso contratar um novo professor para dar aula já na terça-feira. Estava entrevistando um agorinha mesmo. Por isso me atrasei.
- E por que a história é interessante? Aliás, quantos professores você já perdeu esse ano?
- Humm, acho que com essa foram 4. Ah, mas a história é interessante pelo seguinte. Há duas semanas atrás tínhamos recebido algumas reclamações dessa professora - um dos alunos do intensivo da noite tinha nos passado que ela não seguia exatamente o programa. Então eu entrei em contato com ela e disse que queria assistir a uma aula dela. Adivinha quando eu ia fazer isso? Na aula de hoje. Entendeu a jogada?
- Não.
- Você não acha estranho ela pedir para sair justamente um dia antes de eu assistir a aula dela e fazer uma avaliação?
- Ela sabia que você ia conduzir uma avaliação?
- Não, mas quero dizer, para mim parece estranho. As coisas parecem bater, parece que ela temia alguma coisa, sei lá. Acho que ela não tinha pego o jeito da coisa.

"Interessante", pensou Larry, enquanto o garçom colocava os pedidos na mesa.

- Paulo, você acabou de me dizer que com essa foram 4 professores que vocês perderam só esse ano, certo? E estamos em JUNHO. Imagino que vocês tenham o quê, uns 10 professores?
- Onze, para ser mais exato.
- Entendi. Deixa eu te contar uma historinha. Há uns 10 anos atrás, eu estava trabalhando em um projeto que era a combinação perfeita entre complexidade e bagunça. Era um projeto extremamente difícil, e ainda por cima existiam inúmeros fornecedores trabalhando em paralelo. Bom, a coordenação do trabalho desses vários fornecedores, e das várias equipes envolvidas, era simplesmente inexistente. Conclusão: atrasamos a data de entrega e começamos a ter que trabalhar sem parar para buscar o tempo perdido. E aí começou aquela loucura de rotatividade. Muita gente pediu para sair, muita gente nova chegou, aquela coisa toda. Teve um cara que foi contratado, começou a trabalhar na segunda-feira, trabalhou o dia inteiro, e nunca mais voltou.
- Hehehe, não aguentou a pressão?
- Exatamente, era o que diziam pelo menos. Virou parte do folclore do projeto. O cara que só aguentou um dia. Sabe que muitos anos depois encontrei ele em outra empresa? E adivinha. O cara era um dos profissionais mais competentes com quem eu já trabalhei. Simplesmente um avião. Um dia perguntei pra ele por que ele ficou apenas um dia no projeto. E ele me respondeu que loucos éramos nós de continuar lá por meses a fio. Ele em um dia viu que dali não tiraria nada de útil e resolveu quebrar o contrato.
- Pois é - disse Paulo pensativo.
- O que estou querendo dizer é que quando um funcionário deixa a sua empresa, pode até ser um problema com o funcionário. Mas quando a rotatividade da sua equipe é 35% em menos de meio ano, é bem possível que exista algo errado na sua empresa. Você viu coisas estranhas na circunstância dessa última professora que deixou a sua escola. Eu vejo coisas estranhas na sua escola.

Paulo estava pensativo, com os olhos perdidos no infinito, a boca entre-aberta. Larry o tirou do transe:

- Vê se come logo o seu bife, vai esfriar.

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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