sexta-feira, 5 de junho de 2009

As Pessoas e o Futuro - Reedição

É muito interessante como a economia mundial anda em círculos. Em novembro de 2001, na edição 1726 da veja, Stephen Kanitz publicou uma história muito interessante que aconteceu durante o seu MBA em Harvard.

Ele conta que durante uma das aulas, o cenário apresentado era o seguinte: você, um diretor de uma fábrica de geladeiras com boas expectativas de crescimento decide duplicar a fábrica. No meio da construção da nova planta economistas americanos prevêem uma recessão. Para evitar o pior, a diretoria decide cortar os gastos em 20 milhões de dólares, sendo sua missão determinar onde e como isso deve ocorrer.

Após ser chamado para dar uma parecer inicial, um dos alunos começa relatando que primeiramente mandaria embora 620 funcionários não-essenciais, economizando 12 milhões de dólares. Também postergaria os gastos com publicidade e 95% dos gastos em projetos sociais, com a visão de que se deve pensar primeiramente na sobrevivência da própria empresa antes de se pensar em projetos sociais.

Após a exposição o professor olhou para o aluno e gritou:
- Levante-se s saia da sala.
- Desculpe professor, eu não entendi, disse ele meio aflito.
- Eu disse para sair desta sala e nunca mais voltar. Eu disse: PARA FORA! Nunca mais ponha os pés aqui em Harvard.

Todos os alunos ficaram bastante surpresos e assustados. Entretanto, antes do aluno sair da sala, o professor fez seu último comentário:

-Agora vocês sabem o que é ser demitido. Ser demitido sem mostrar nenhuma deficiência ou incompetência, mas simplesmente porque um bando de prima-donas em Washington meteu medo em todo mundo. Nunca mais na vida demitam funcionários como primeira opção. Demitir gente é sempre a última alternativa.

A história de Kanitz é muito interessante não somente pelo conteúdo, mas porque acabamos nos esquecendo facilmente disso.

A maior lição que tiro quando leio essa história, que como mencionei anteriormente está na veja de novembro de 2001 (mais de 7 anos atrás) é que a história se repete muitas vezes e parece que nunca aprendemos com ela. Estamos no meio de uma grande crise agora – mas não será a primeira nem a última, muito menos a pior. Quem faz a empresa funcionar são as pessoas e por isso são o maior valor de uma empresa. Realmente, pensar em demissão como primeira opção pode ser um grande tiro no pé. Aliás, se existiam tantos funcionários “não-essenciais” porque não foi enxugado antes então? Será que só pensamos em empresa ágil quando estamos com a corda no pescoço?

Outro ponto muito importante a se considerar e se ter em mente é que “Previsões são Apenas Previsões”. E uma outra história ilustra muito bem isso.

Na segunda guerra mundial, o economista americano Kenneth Arrow (um dos fundadores da teoria econômica neo-clássica e que ganharia o prêmio Nobel em 1972) liderou um grupo de pesquisadores cuja missão era realizar previsões meteorológicas, que serviriam como base para decisões estratégicas em relação a movimentação de tropas em campos de batalha. Como as previsões meteorológicas daquele tempo tinham um grau de acerto muito baixo, muitos
pesquisadores do grupo questionaram a razão de enviá-las, pois tinham praticamente o mesmo valor de qualquer outro chute. A resposta do comando-geral foi clara: “eu sei que as previsões estão longe de serem exatas e contêm muitos dados errados, mas temos que continuar recebendo-as apenas para fins de planejamento”.

O que está acontecendo, entretanto, é que as previsões do mercado ou até mesmo boatos estão sendo usados por nós mesmos para planejar quando trocar de emprego ou até mesmo quando ter um filho – decisões essenciais para nossa vida. Será que estamos usando os dados de forma correta? Será que não deveríamos utilizar essas informações apenas para planejamento e não parar nossa vida devido a elas? Afinal, quantas previsões erradas já vivenciamos? Não comprar um novo carro agora talvez seja uma decisão que certamente possa ser baseada em previsões desse tipo, mas o limite talvez seja bem próximo disso...

Se pensarmos bem, temos apenas uma vida para viver. Se nos perdermos no gigantesco volume de informações que escutamos todos os dias, estaremos apenas seguindo um script pré-determinado e não escrevendo nosso próprio.

E uma coisa é certa: grandes pessoas escrevem grandes roteiros de vida, geralmente completamente diferente da média da população – que apenas seguiu a maré ou imitou o que vizinho ao lado fez.

Dr. Zambol
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