segunda-feira, 15 de junho de 2009

Trabalhando de Casa - Reedição

Finalmente me levanto da cama após bater no despertador umas 3 vezes. Segunda-feira é fogo... Abro a janela do quarto e me deparo com uma paisagem predominantemente branca. "Droga, a previsão do tempo acertou", penso. Não neva forte, mas imagino que o suficiente para fazer uma bagunça.

Tomo banho, me arrumo rápido, dou mais uma olhada pela sacada. Agora a neve é um pouco mais forte. Abro a janela e saio na rua para sentir o "clima". É, não dá. Hoje o negócio vai ser trabalhar de casa.

Eu não tenho carro, as coisas aqui funcionam de maneira diferente. Me desloco basicamente usando a minha bicicleta, transporte público ou andando à pé mesmo. Por isso, sempre que o tempo não está muito amigável, acabo optando por trabalhar de casa (mesmo que tempo "amigável" na Irlanda tenha uma conotação completamente diferente do Brasil).

Ligo o laptop, consulto minha agenda. Tenho bastante tempo durante a manhã, primeira reunião somente às 11:00 e as principais tarefas já iniciadas na sexta-feira. Tomo então um café da manhã decente (já tinha tomado aquele "meia-boca" antes de decidir trabalhar de casa), ligo a TV na BBC e sento para ler os emails.

Às 10:30, com um pouco de tempo livre, resolvo dar uma caminhada. O lado ruim de trabalhar de casa é que você não sai de casa. Saio a caminhar na neve fofa que se acumula nas calçadas. As ruas estão desertas. Caminho durante uns 10 minutos e volto para casa.

Confiro o número que tenho que discar para entrar na reunião (não me lembro qual foi a última vez que fiz uma reunião em uma "sala de reuniões" propriamente dita). Por sorte, essa conferência tem um número gratuito para Dublin. Pego o celular e digito o número. Integrantes da minha equipe espalhados pela Índia, Reino Unido, França e Irlanda debatem um plano de ação para a semana. Em 25 minutos estamos prontos.

Hora do almoço. Agora o escritório faz realmente falta. Cozinhar o próprio almoço é definitivamente uma coisa que não estou acostumado a fazer durante a semana. Perco tempo escolhendo coisas na geladeira e efetivamente cozinhando. Seria muito mais fácil ter dado um pulo na cafeteria para pegar aquele sanduíche de galinha com bacon, mas nem tudo são flores.

Depois do almoço, preciso urgentemente conversar com um cara nos Estados Unidos. Procuro o número dele, mas não tenho o celular, apenas o ramal interno do escritório. Hora de apelar: disparo um software no laptop que me conecta ao meu ramal da empresa. Dali, posso discar qualquer número, como se estivesse sentado em minha mesa. Falo com ele e em 5 minutos resolvemos a situação.

São 4 da tarde e meu celular toca. É o meu gerente, preocupado com o planejamento do projeto que estamos iniciando. Comento sobre o mau tempo e ele diz que em Londres está a mesma coisa, neve para todo lado. Ele me diz que semana que vem estará na Irlanda. Já não é sem tempo, fazem 4 meses que não nos vemos.

O dia já vai escuro lá fora, e não me resta mais nada para fazer. Ligo para minha esposa e combino de encontrar ela na esquina quando estiver chegando. Preciso sair de casa mais uma vez. Odeio passar o dia todo infurnado em casa.

Trabalhar de casa é bom. As maravilhas do trabalho intelectual são... uma maravilha. Mas acho que nunca estamos satisfeitos. Nunca.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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