sexta-feira, 12 de junho de 2009

Liderança, Exemplo e Kempô

Quando tinha 18 anos, era um entusiasta do Kempô. Era meu hobbie escolhido na época. E para o hobbie do momento sempre colocava muita dedicação. Foi assim com o xadrez, com o violão, com a língua italiana e com o piano. Naquele momento, estava completamente imerso no Kempô. Ia dormir pensando como otimizar determinado golpe.


Lá se vão quase 20 anos, mas me lembro do dia como se fosse hoje. Estávamos treinando cotovelada que, no Kempô, tem um movimento bem amplo, virando o corpo para dar mais efeito ao golpe. É como se fosse um soco estilo gancho, só que a mão deve parar em cima do ombro que se encontra no mesmo lado da mão - um pouco atrás da orelha.

O treinamento consiste em dar cotovelada com a mão direira e depois dar cotovelada com a mão esquerda, alternadamente, em séries de 50 ou 100.


- Quero ver força nisso! Gritava o instrutor.
...
- Ainda está fraco! Quero que liberem toda a raiva de vocês. O cotovelo tem que deslocar o queixo do sujeito para cima da cabeça.

Comecei a colocar cada vez mais "raiva" e força ao golpe. Não sei se o leitor já fez um teste, mas a quantidade de força é inversamente proporcional à coordenação motora. Quando se usa o máximo de força, a coordenação fica bastante prejudicada. O treinamento é exatamente para aumentar a coordenação com o uso extremo de força.

Pois bem, em um determinado momento, tamanha a força que coloquei na cotovelada fiz minha própria mão atingir meu olho (que deveria passar do lado da cabeça). Sim, eu sei, parece muito estúpido. E na verdade é!

A porrada foi forte. Cheguei a ficar um pouco tonto, mas logo me recuperei. Olhei para o lado e, pelo que percebi, ninguém havia visto aquela gafe. Entretanto, meu olho na hora começou a lacrimejar. O meu disfarce de que "nada havia acontecido" estava por um fio de desmoronar.

Não sei se o professor viu o momento do soco, meu olho lacrimejando ou o meu vermelhão - um misto de raiva por ter sido tão descuidado com vergonha por ter feito aquilo em público. Seja como for, ele começou a falar para a turma:

- Quando ainda era faixa verde, fizemos 200 repetições disso. O mestre mandava colocar toda a força que a gente possuía no golpe. Quando acabamos a série de 200, o mestre mandou a gente repeti-la, e dessa vez ele queria que cada cotovelada fosse mais forte que a anterior. No final da aula, três alunos tinham acertado o próprio rosto - dois deles bem no meio do próprio olho. Eu era um deles. Vocês não têm idéia da dor que é. Tentei disfarçar, mas enquanto ainda executava a série, meu mestre falou que tinha visto três pessoas acertarem o olho e que aquele era o preço por dar o máximo de si - e estava orgulhoso do que tinha visto. Não quero que ninguém faça isso de propósito - só para mostrar que está dando o máximo de si - que isso fique claro. Mas se alguém fizer isso na aula de hoje, ficarei orgulhoso da raça que demonstrou. Nada vem fácil, todo mundo vai ser batizado muitas vezes aqui até aprender bem a matéria.

Como disse, faz quase 20 anos que isso ocorreu. E ainda lembro até hoje disso, tal foi o exemplo de liderança que tive aquele dia. Não sei se a história que ele contou aquele dia é verdade - e para ser sincero não interessa. Líderes devem saber tirar o máximo do grupo - saber tocá-los nas horas boas e nas horas de erro, mantendo o estímulo e a motivação no nível mais elevado possível. Lembre-se disso na reunião de status quando o projeto estiver atrasado, mas você visualizar que todos estão dando o máximo de si.

Sinto orgulho de ter tido aquele instrutor. Ele era realmente um grande líder, uma grande pessoa.

Dr. Zambol
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