quarta-feira, 19 de maio de 2010

Herbert de Perto

Em maio de noventa e cinco os Paralamas subiam ao palco mais uma vez no Gigantinho, ginásio de shows em Porto Alegre. Junto com meus colegas de faculdade eu pulava nas arquibancadas lotadas, ainda sem saber que assistiria uma dos melhores shows da minha vida. Durante duas horas e meia, Herbert e sua trupe detonaram todas as músicas do disco ao vivo "Vamo Batê Lata". Sem parar de pular um minuto ele voltou ao palco duas vezes, atendendo aos pedidos ensandecidos da multidão. Tive a impressão de que os produtores tiveram que levá-lo embora arrastado, para evitar o risco dele ficar tocando a noite toda. Horas depois ele ainda foi visto no Opinião, tradicional bar de rock da capital gaúcha, onde deu uma canja de mais sessenta minutos.

Ficou marcado em minha memória a paixão com que aquele sujeito tocava e a força com que se entregava ao trabalho, contagiando todos ao seu redor. Somava-se a isso aquele estilo de bom-moço, confirmado pelo fato de que ele era um dos poucos roqueiros que até a minha mãe gostava. Lembro de uma das suas frases naquela noite:
- Eu sei que vocês estão aqui para nos ver tocar, para me ver tocar. Mas, tem um Herbert, um outro Herbert que é um sujeito muito maior do que eu. O Herbert de Souza, o Betinho, esse sim merece fãs. Ele é o organizador da campanha "Natal sem Fome", um dia onde nenhum brasileiro vai ficar sem ter o que comer.

Depois daquela noite, mais do que um fã dos Paralamas do Sucesso, virei mais um fã de Herbert Vianna. Então, veio o acidente. Nunca fui fanático por música, mas passei a adolescência ouvindo o BRock. Já havíamos perdido o Renato, o maior poeta da minha geração, perder Herbert seria duro. Mas dia-a-dia o estado dele foi melhorando, do coma profundo veio a consciência, a recuperação da fala e da memória. Contudo, as lesões cerebrais e na medula deixaram o seu preço, o herói não pularia no palco novamente.

Semana passada assisti ao documentário Herbert de Perto, que conta um pouco da trajetória de Herbert e dos Paralamas. Obrigatório para fãs da banda e muito interessante para quem já ouviu falar deles. É claro, qualquer tentativa de entender o que se passa na cabeça de um sujeito que sofreu um acidente como o dele, que o colocou em uma cadeira de rodas e vitimou a esposa e mãe dos seus filhos, parece fútil. Mas, fico imaginando o que faz com que ele arranje forças para sair da cama pela manhã, se, vez por outra, meus minúsculos problemas já me tiram o ânimo. 

Talvez, seja justamente essa tenacidade que defina os heróis, essa vontade inabalável de continuar em frente a despeito das adversidades. Em uma das cenas mais tocantes do filme, ele faz um show para os pacientes do hospital de Brasília, onde a meses fazia fisioterapia buscando a recuperação. Minha conclusão é simples: Pode-se tirar tudo de um homem, as pernas, a memória, talvez até seus amores, mas jamais suas paixões.

[]s
Jack DelaVega