quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Avaliação = Percepção

José me contactou esses dias. Estava muito triste. Sua equipe anterior lhe havia avaliado mal, mesmo ele achando que havia feito o melhor pelo time, em todos os momentos que via isso possível.

- José, se isso for realmente verdade, você tem que trabalhar na percepção do seu time, disse-lhe em nossa reunião por telefone.
- Mas aí é que está. A diferença de percepção é muito grande! Conheço outros gerentes que não estão nem aí para o seu time, só vendem que estão fazendo o bem, e foram muito melhores.
- É triste, mas em avaliação, as percepções valem muito mais do que a realidade.

O papo seguiu um rumo razoavelmente bom, onde tentei explicar o que havia aprendido a duras penas: que a percepção do time era responsabilidade dele. Portanto, culpa dele do resultado ter saído ruim. Além do mais, se a percepção foi tão ruim, provavelmente existe um ou mais itens que realmente ele estava deixando a desejar. Culpar só a percepção não resolve nada.

Embora muita gente não goste de usar a palavra "culpa", uso-a de propósito em momentos como esse: ressaltam e resumem muito mais do que palavras "politicamente corretas". Aliás, esse movimento do politicamente correto às vezes além de chato é non-sense. Já vi vice-presidentes usando termos como "centro de alto-custo e de alto-valor" ao invés de usar "centros de alto-custo e de baixo-custo". Ora, se é centro de baixo-custo mesmo, que problema tem em falar isso? E causa confusão, pois algumas pessoas vieram me perguntar o que eram os centro de alto-valor. Tive que explicar que era um sinônimo para centro de baixo-custo.

Mas minha frase "em avaliações, a percepção vale mais do que a realidade" voltou à minha cabeça alguns dias mais tarde. Fiquei pensando se era realmente sempre verdade. E o ruim é que não consegui achar nenhum caso onde não fosse. Afinal, quando você avalia alguém, avalia com os dados que você possui na sua cabeça naquele momento, ou seja, com a sua percepção.

Algumas pessoas usam isso a seu favor e, com o pensamento de "os fins justificam os meios", usam a percepção única e exclusivamente para se promoverem, fazendo muitas vezes um trabalho mediocre em relação ao time. Algumas vezes são bastante anti-éticos, mas ao passar uma idéia distorcida que estão fazendo o melhor para o time, conseguem manipular o time e tirar proveito disso para si.

José fez diferente, acreditava piamente estar fazendo o correto e sendo o mais justo para o time. Como o conheço pessoalmente, sei que sempre trabalhou da forma mais justa que julgava. Mas isso de nada adiantou na avaliação porque seu time tinha outra percepção do seu trabalho. E como disse anteriormente, isso não absolve José, pois tudo o que se passa em seu time é responsabilidade dele.

É fácil se desvirtuar em discussões como essa e achar então que a melhor maneira é trabalhar exclusivamente na percepção. Lula é o mestre disso. Com uma roubalheira indiscriminada à sua volta continua sempre dizendo que não sabe de nada e indo contra as pessoas que são pegas, mesmo que sejam antigos aliados de partido e de golpe. E continua sendo muito bem avaliado pelo povo.

E é isso que ficou na minha cabeça aquele dia. Será que pesquisas como essa forçam as pessoas a se distanciar do time e começar a se focar na política das organizações?

Não tenho resposta nem uma amostragem grande o suficiente para ter uma opinião formada, mas, infelizmente, tenho muitos exemplos a favor disso.

Sinceramente, espero que não, senão as pessoas próximas do time e honestas sempre terão uma avaliação pior do que os políticos. Como todos sabem, todo mundo, quando olhado bem de perto, tem muitos defeitos.

Espero que os conselhos que dei a José não o levem para esse caminho. Espero que eu também nunca siga essa trajetória. Na verdade, espero que isso seja fruto apenas da minha percepção errada do assunto...

Dr. Zambol
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P.S.: A imagem acima não está se movendo. É só sua percepção!

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