segunda-feira, 21 de julho de 2008

Educação se Aprende em Casa

Em vários aspectos somos reflexo de nossos pais e da educação que recebemos em casa. Acredito em determinismo do meio, principalmente no que diz respeito aos valores. O fato de ainda lembrar de algumas das lições de meu pai reforça a minha tese.


Uma vez, ele me contou que quando estava no primário foi pego colando. O professor recebeu duas provas iguais e indagou quem havia copiado do outro. Meu pai assumiu a culpa, dando um passo à frente e confessando o delito. O professor, surpreso com a honestidade, resolveu manter a nota como uma recompensa pela atitude, contanto que ele prometesse não fazer isso novamente. Analisando essa história hoje, tenho lá minhas dúvidas se foi realmente verdade, mas o fato é que ela teve uma consequência direta no meu comportamento. De uma tacada só, ele me ensinou que assumir os erros é a coisa certa a se fazer e explicou como é desonesto colar na escola.


Anos mais tarde, tive a oportunidade de exercitar esses ensinamentos. Durante a faculdade fazia Kempo, uma arte marcial japonesa. Sempre gostei de artes marciais, pela filosofia e disciplina, apesar de nunca ter praticado por muito tempo. O Kempo possuía uma banca de instrutores bastante rígida. Os exames de faixa eram verdadeiros vestibulares onde grande parte dos alunos era reprovada. Eu estava fazendo um desses exames de faixa quando essa história aconteceu.


Durante o exame os instrutores bradavam os golpes a serem demonstrados e os alunos em linha executavam, todos ao mesmo tempo, o movimento em questão. Em um determinado golpe eu terminei com perna esquerda à frente, enquanto o sujeito ao meu lado terminou com a perna direita. Era óbvio que um de nós estava errado.
O instrutor perguntou incisivo:
- Qual de vocês está errado?
Mesmo sem ter certeza, até porque nessas horas é difícil ter certeza de alguma coisa, afirmei com convicção:
- É ele.
Meu colega nada respondeu.
Não era.
- Você está errado, vou descontar dez pontos de você por isso, é dez pontos dele por não ter contestado.
Fiquei arrasado. Até esse momento estava indo muito bem no exame, mas a partir daí, comecei a errar constantemente. Terminado o exame a banca perguntou se alguém tinha alguma coisa a dizer. Ergui o braço e pedi permissão para falar:
- Acho errado vocês tirarem dez pontos do meu colega, o erro foi meu. Podem tirar vinte pontos de mim se esse for o caso.
Democracia realmente não é o forte da filosofia Japonesa e a resposta veio à altura.
- Podemos tirar pontos de quem quisermos, essa banca é soberana para isso. Me surpreende você não confiar no senso de justiça dos seus instrutores e acreditar que realmente iríamos punir o seu colega por um erro seu.
Saí dali me sentindo mal, mas com a sensação do dever cumprido, passar no exame já não era mais tão importante.


Tenho acompanhado as prisões da Operação Satiagraha, que prendeu a quadrilha do banqueiro Daniel Dantas, e um fato em particular me chamou a atenção. Pelo menos dois dos acusados foram presos com seus filhos. Definitivamente, educação se aprende em casa.


[]s
Jack DelaVega