quarta-feira, 20 de abril de 2011

De onde vem o Coelho? - Reedição

Eu estava bastante nervoso quando a minha esposa chegou em casa. Fui logo disparando:
- Caímos em contradição.
- Como assim?
- Com o coelho, com a Carol.
- Peraí, te acalma e explica direito essa história.
- Ela me perguntou como que o Coelho da Páscoa chegava até a nossa casa. Com o Papai-Noel é fácil, afinal ele tem um trenó. Por que ninguém nunca pensou nisso para o Coelho da Páscoa?
- E o que você disse?
- Pulando né. Coelho pula.
- Chiiii, vai dar problema.
- Pois é, percebi. Ela disse que você falou que ele vem de avião. Logo avião...
- Achei óbvio, se ele vem de longe deve pegar um avião.
- Grande idéia. Já viu um coelho andando de avião. O que ele apresenta para fazer o check-in? Um passaporte da Coelhândia?
- Engraçadinho. Mas isso não resolve o nosso problema, o que vamos fazer agora?
- Acho que ainda dá para remendar, é só falar que ele vem de avião até Curitiba e dali em diante ele vem pulando.
- Tá bom, então o Coelho pode pegar avião, mas se recusa a pegar um táxi?
- Talvez ele esteja tentando ter uma vida mais saudável, tenha que pular dois quilômetros por dia por orientação médica. Ou simplesmente esteja com medo de pegar táxi, estão roubando muito notebook em táxi hoje em dia.
- Não sei não, se não encontrarmos uma história melhor ela vai desconfiar.

Esse diálogo de fato ocorreu lá em casa. E a minha preocupação, absurda, é de que a minha filha de três anos descubra que o Coelho da Páscoa não existe. No tempo dos meus pais era tudo mais fácil, não tinha essa maldita internet, para se comunicar com o Papai Noel só por carta e o Coelho da páscoa nem isso tinha. Aposto que no ano que vem minha filha já estará "Googoling" Coelho e Papai-Noel e desmascarando essa farsa toda. Ou pior ainda, seguindo os dois no Twitter.

Um colega que tem uma filha de cinco anos me contou que a abordagem da menina é um pouco diferente. 
- Papai, podemos ir à loja comprar os ovos de páscoa que o Coelho vai entregar?
Óbvio, em um mundo cada vez mais plano o Coelho não é mais responsável por produzir ou mesmo vender os ovos. Ele simplesmente entrega. Como a Nike ele apenas coloca a sua marca nos ovos, que são produzidos em qualquer lugar, provavelmente na China ou no Vietnã. 

O que mais me assusta nessa história é o impacto da tecnologia nas atividades banais do dia-a-dia, como a entrega dos ovos de páscoa. É impossível negar o impacto da era da informação na diminuição da fantasia. Sinceramente, espero que ainda estejamos fazendo isso daqui a cinquenta anos, mas se não inventarem um coelho robô num futuro próximo a fantasia da Páscoa está seriamente ameaçada.

[]s
Jack DelaVega