terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quem precisa de uma carreira? (Reedição)

Maria tem 36 anos, é casada com Marcos e tem três filhos, um de 9 anos, outro com 6 e o mais novo com 1 ano e meio. Maria é arquiteta de formação mas desde que ficou grávida do primeiro filho acabou largando a profissão. Durante praticamente os últimos 10 anos, ocupa seu tempo (e bem) com as crianças, seja cuidando do mais novo, levando os outros no colégio ou correndo atrás dos outros afazeres da casa para garantir que eles tenham tudo do bom e do melhor.

Outro dia o de 6 anos apareceu na cozinha de tarde e falou para ela:

- Mãe, a escola pediu que convidássemos nossos pais para a Feira de Profissões. Tem como você ir lá e falar sobre a sua?
- Humm, deixa eu ver... vou consultar a minha secretária e te dou uma resposta, OK? - brincou Maria.
- Pois é mãe... qual a sua profissão? Afinal todo mundo tem mãe... acho que mãe não é uma profissão.

Maria enrolou o pequeno, mas ficou pensando naquela conversa enquanto fazia a lista de compras para a semana. Sim, não tinha uma profissão já há alguns anos. Não tinha mais uma carreira. Mas e daí? Quem precisa de uma carreira? Quem disse que todo mundo tem que ter uma profissão?

Maria era uma pessoa feliz, extramente realizada. Amava seu marido, tinha os filhos mais lindos do mundo, e não se importava de ter largado a carreira de arquiteta há alguns anos atrás. Felizmente seu marido tinha um emprego bom e eles viviam dignamente - as crianças tinham tudo o que queriam e precisavam. Ela tinha enorme prazer em investir seu tempo criando os filhos e ajudando uma ONG local que trabalhava com projetos de sustentabilidade.

Mas volta e meia apareciam essas ocasiões em que o seu estilo de vida era questionado. Era como se o valor de uma pessoa estivesse unicamente relacionado ao sucesso de sua carreira ou à importância de sua profissão. Não gostava dessa pressão que a escola e a sociedade colocava em seus filhos: ou você começa a pensar no que quer fazer quando crescer quando tem 6 anos ou será um Zé-ninguém. "Infeliz daqueles que se prestam a viver conforme o que os outros pensam deles", pensava. Ainda outro dia tinha lido uma citação de Ralph Waldo Emerson que dizia mais ou menos assim:

"O que devo fazer da minha vida é problema meu, não das outras pessoas... você sempre encontrará aqueles que acham que sabem o que você tem que fazer, mais do que você mesmo. É fácil viver em sociedade segundo as opiniões dos outros. É fácil viver na solidão segundo as suas próprias opiniões. Porém, o grande homem é aquele que, em meio à multidão, mantém-se fiel à sua independência e às suas próprias opiniões."

- Paulinho, chamou Maria da cozinha.
- Sim mãe, gritou ele do quarto.
- Avisa lá na escola que eu posso ir falar na Feira de Profissões sim. Mamãe tem umas coisas bem importantes para falar.

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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