segunda-feira, 20 de abril de 2009

Novas Cartas no Jogo do Poder

As regras do jogo do poder estão mudando. Não é de hoje, já vem de alguns anos, mas o uso crescente de algumas ferramentas da Web está intensificando uma mudança nas tradicionais fontes de poder. Falo de blogs, Twitter, redes sociais e por aí vai.

Fiquei um pouco alarmado esse final de semana com duas coisas que aconteceram ao redor do Twitter. A primeira foi que realmente o Ashton Kutcher tornou-se o primeiro usuário a ter mais de 1 milhão de seguidores. A segunda foi que a Oprah divulgou o já famoso serviço de micro-blogging em seu show na sexta-feira e se fala sobre algo em torno de 1.2 milhões de novos usuários no Twitter desde então.

Bom, mas o que isso tem a ver com poder? Explico.

A teoria do poder é muito interessante, e sugiro a qualquer um que queria ter um pouco menos de frustrações na vida pessoal e profissional estudar um pouquinho dela. Existe uma vasta lista de livros sobre o assunto, eu particularmente gosto das definições do economista J.K. Galbraith em "A Anatomia do Poder", embora seja um livro já bem defasado (1983). Basicamente ele define que existem 3 tipos de poder e 3 fontes de poder. Os três tipos de poder seriam:

1 - Poder compensatório - em que a submissão da outra parte é 'comprada' de alguma forma.
2 - Poder condigno - em que a submissão é obtida pelo simples fato das alternativas serem suficientemente 'dolorosas'.
3 - Poder condicionado - em que a submissão é obtida através da persuasão.

As três fontes de poder seriam:


1 - Personalidade (ou liderança)
2 - Propriedade (ou riqueza)
3 - Organização

Essas três formas de poder, e da mesma forma as três fontes de poder, regeram as organizações por muitos anos. Se você pensar bem, praticamente qualquer grupo social, seja ele um estado, uma igreja, uma empresa ou um exército, poderia ter seu funcionamento perfeitamente explicado segundo essas regras. Entretanto, com o surgimento da sociedade da informação, claramente uma outra fonte de poder passou a ter muita importância: o conhecimento. Não se trata necessariamente de uma nova fonte de poder, afinal conhecimento é algo que sempre existiu, mas a maneira como ela é utilizada mudou totalmente as nossas vidas, especialmente em ambientes organizacionais.

Enquanto as fontes de poder tradicionalmente eram usadas no sentido de acumulação, o conhecimento vai no caminho inverso. Não se sabe ao certo quem é o autor da frase, mas a idéia já é bem aceita de que o poder hoje em dia reside no compartilhamento de conhecimento.

Nesse sentido, as novas ferramentas da Web têm um papel fundamental nisso. Eu me lembro de por alguns anos trabalhar com a idéia de comunidades de prática dentro de ambientes organizacionais. A idéia seria reunir pessoas com o mesmo tipo de interesse ou função e "forçá-las" de certa forma a compartilharem seu conhecimento. Quem sairia ganhando obviamente seria a empresa, em virtude dos novos canais de comunicação estabelecidos. Mas sempre enfrentamos obstáculos, entre eles principalmente a questão do poder. Que poder podemos oferecer às pessoas para que compartilhem seu conhecimento? Ou de que forma podemos exercer um poder para fazer as pessoas seguirem esse caminho? Nunca cheguei em uma resposta satisfatória. Parece que agora temos ferramentas para isso.

Os blogs, as redes sociais, o Twitter, todos eles estão recheados de números que nos permitem colocar novas cartas no jogo do poder. Quantos leitores tem seu blog? Quantos amigos você têm no LinkedIn ou no Facebook? Quantos seguidores você tem no Twitter? Ou quantos updates você publica por dia?

Enfim, são todas métricas que vão nos ajudar a caminhar no sentido de melhor entender o papel do compartilhamento de conhecimento na nossa vida pessoal e profissional. Porque claramente já está havendo um ajuste. Por exemplo, o fato do Ashton Kutcher ter sido a primeira pessoa a ter 1 milhão de seguidores no Twitter não quer dizer absolutamente nada. Ou melhor, quer dizer uma coisa: que a quantidade de seguidores que você tem no Twitter não deve ter muita relevância em termos de poder daqui para a frente. Por quê? Ora, porque o Ashton Kutcher não é o melhor ator da atualidade, nem o mais famoso, nem o mais engraçado (embora eu seja fã de "Punk'd!"), nem qualquer outra coisa assim. Ou seja, a tradução do número de seguidores que ele tem para alguma forma de poder que ele possa exercer (seja relacionado a conhecimento ou não) é nula.

Já o fato do Twitter ter ganho mais de 1 milhão de novos usuários após o show da Oprah mostra que essa nova fase da sociedade, com essas novas regras de poder, provavelmente tende a ser mais igualitária, onde as ferramentas são acessíveis a um número maior de indivíduos. Claro que existe um caminho absurdamente longo a ser trilhado, basta pensarmos em quantas pessoas no Brasil não tem sequer acesso à Internet, que dirá a qualquer tipo de poder exercido por suas ferramentas. Mas já é um começo.

Façam suas apostas.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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