sexta-feira, 3 de abril de 2009

Esforço, Fracasso, Sucesso e Hockey

João é um rapaz muito ativo. Mora no Canadá com seu pai, seu Benedito, e sua Mãe, a dona Maria. Está com dez anos de idade, recém feitos agora em dezembro, e ansioso por uma vaga no time de juniores de Hockey do seu colégio, jogo pelo qual é fanático. A idade máxima permitida para ingressar nesse time é 10 anos.

Todo janeiro de cada ano a história se repete. As inscrições, que são aceitas até esse mês, decidem o futuro de muitos jovens: só os melhores são escolhidos.

João pode até estar eufórico, mas Benedito, seu pai, está pronto para consolá-lo. Não porque ele não jogue bem para sua idade – realmente tem orgulho do quão bem seu filho joga. Mesmo assim, sabe que seu filho praticamente não tem chances de ser escolhido para o time. Estatisticamente, seu Benedito sabe que quem nasce nos últimos meses do ano, tem pouquíssimas chances de ser aceito.

Não é mandinga nem nada, mas um fator lógico: quando uma pessoa tem 10 anos – 11 meses fazem toda a diferença. Tanto é que, olhando o time de Hockey Júnior do Canadá nos últimos 10 anos, veremos a mesma tendência: uma concentração de 40% a 50% do time são pessoas nascidas em Janeiro, Fevereiro e Março, com a presença quase nula de pessoas nascidas nos últimos meses do ano. Um menino de 10 anos e 11 meses tem muito mais força do que um de 10 anos recém completados.

O pior é que, como os que são escolhidos para o time júnior recebem treinamento profissional e intensivo, essa diferença permanece e se intensifica até a idade adulta. No time profissional de Hockey do Canadá, a grande maioria dos jogadores nasceu nos 4 primeiros meses do ano.
Dados já de 2001 (http://www.jstor.org/pss/3552374) comprovavam esse fato e já se encontram diversos artigos tentando solucionar esse problema, embora persista até hoje. Esse caso, citado no livro de Malcolm Gladwell – Outliers - me chamou muita atenção.

Pode parecer ridículo, e passar desapercebido (aliás, passou desapercebido por mais de 10 anos), mas a diferença para se ter sucesso ou não no Hockey do Canadá é o mês que sua mãe decidiu parar de tomar a pílula anticoncepcional e que teve o óvulo fecundado pelo espermatozóide incansável do seu pai – fato que certamente você não teve influência alguma.

A única coisa que podemos fazer é estar 100% prontos para os desafios que esperamos enfrentar, correto? Devemos fazer cursos, estudar bastante e tentar nos desenvolver o máximo que podemos naquela área. Será isso mesmo?

Não. Certamente não.

Esses e outros exemplos claros em nosso dia-a-dia demonstram que muitas vezes se você não estiver na área certa para você, não estiver se dedicando no lugar onde você realmente pode ter sucesso, o resultado é que você será apenas uma pessoa mediana ou terá que fazer um esforço fora do comum para se destacar naquela área.

Parece que muitas vezes vemos esse alarme tocar e não nos damos conta: pessoas na área de contabilidade que deveriam estar estudando economia; pessoas programando sistemas que deveriam ser analistas de negócio; advogados criminalistas que deveriam ser advogados trabalhistas. O sintoma é o mesmo: demorar muito para sair do lugar, dificuldade e desmotivação.

Siga o seu coração. Não adianta insistir onde não dá certo. Encontre seu talento e a oportunidade para usá-lo. Não dê murro em ponta de faca. Isso é um suicídio profissional.

Uma coisa é certa: apostando na área errada, você nunca entrará no time profissional de Hockey.

Dr. Zambol
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