quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cotas

Tenho um amigo que costumava comentar sempre que a gente encontrava um sujeito que era bom programador:
- Tá vendo, se formou na Federal.
Na opinião dele um atestado de competência. Realmente, a Federal do Rio Grande do Sul tem um dos melhores cursos de Ciências da Computação do Brasil. E estatisticamente eu não posso reclamar, alguns dos melhores profissionais com os quais já trabalhei se formaram pela Federal, dentre eles o Zambol e o Reggie.

A minha teoria sobre o assunto, como um bom filho da PUC, é a seguinte: Não é exatamente o curso de computação da federal que faz dos profissionais lá formados, tão competentes. Pelo menos, não exclusivamente o curso.  O vestibular para computação da federal do Rio grande do Sul tem uma das maiores médias do Brasil. Ou seja, antes de ter um dos melhores cursos a UFRGS seleciona os alunos mais capacitados para cursá-lo. A equação Alunos Top de Linha + Curso de Alto Nível só pode gerar profissionais altamente qualificados. Até aí nada de novo.

Para tristeza minha e desse meu colega, esse argumento está prestes a deixar de fazer sentido. O novo sistema de Cotas pretende, entre outras coisas, acabar com a meritocracia nas universidades federais. A despeito de reparar um problema histórico o projeto, que já foi aprovado na Câmara e aguarda a aprovação do senado, reserva metade das vagas nas universidades federais para alunos cotistas, dentre as quais até 50% para negros, pardos e índios. Estima-se que os cotistas entrariam com notas até 25% mais baixas do que os aprovados apenas pelo mérito, o que pode afetar diretamente o seu desempenho ao longo do curso.

Tudo bem que nosso modelo de ensino tem inúmeros problemas. Gasta-se muito e mal o dinheiro com as Universidades públicas. Elas ainda trazem pouco retorno à sociedade em pesquisa aplicada quando comparadas com outros países. Mas querer resolver na base do decreto um problema social que vem desde o ensino básico é no mínimo ingênuo, para não dizer populista. Ora, o que a população negra, e mais que isso, a população de baixa renda desse país precisa é de um ensino fundamental de qualidade para que cheguem à faculdade em condições de competir. O programa de revitalização do ensino técnico é uma boa saída para preparar esses alunos para o mercado de trabalho e posteriormente para o ensino superior.

Finalmente, meu temor é de que esse programa transforme o nosso racismo velado em um racismo explícito, sem realmente resolver o problema.

[]s
Jack DelaVega