segunda-feira, 30 de junho de 2008

Gerenciando para Cima

Miguel não cabia em si. Depois de meses de trabalho duro, finalmente veio a recompensa, uma merecida promoção. Iria gerenciar agora grande parte dos seus antigos colegas, responsabilidade que se sentia pronto para assumir. Sua liderança natural sobre a equipe facilitava as coisas e, verdade seja dita, tinha uma boa aceitação do pessoal.

Os primeiros dias na nova função foram de ajustes, afinal, era esperado dele uma mudança de postura. Chefe tem que agir como chefe. Deixou de lado o almoço com os colegas para almoçar com os demais gerentes. Passou a se vestir melhor, abandonando o jeans e a camisa pólo. Seu uniforme agora era calça cáqui e camisa social. Nem mesmo ao “Casual Friday” resolveu aderir, melhor não facilitar nessa hora. Ah, e deixou de usar o crachá no pescoço, gerente que se preza quando usa crachá, usa na cintura.

Mas, para o seu Diretor, continuou a mostrar a mesma postura profissional que o levara a promoção. A palavra do Diretor era lei, e não havia impossível para um sujeito como Miguel. Aos poucos Miguel começou a se comprometer além do limite, simplesmente para atender os desejos do seu chefe, e, quando a pressão apertava, ele simplesmente repassava a bola para o time. Foi então que Carlos o procurou para discutir os problemas com seu último projeto.

- Miguel, posso falar contigo um pouquinho?

- Oi Carlos, qual o problema?

- Cara é o seguinte. É simplesmente impossível a gente entregar o projeto na data que você nos passou. Existem muitas dependências com outros projetos e nem mesmo o fornecedor tem condições de atingir essa data.

Miguel endureceu a face.

- Carlos não tem jeito. O Diretor pediu, a gente tem que fazer. É para isso que a gente está aqui, para fazer acontecer. Dá um jeito rapaz, dá um jeito. Eu é que não vou voltar para o Diretor e dizer que não dá depois de ter me comprometido com uma data.

- Pois é Miguel, mas esse é o problema. Como é que você foi se comprometer com o homem sem falar com a gente antes, sem contra-argumentar?

Carlos estava tranqüilo, falando com o chefe como amigo, mas Miguel não parecia aceitar o feedback.

- Olha Carlos, acho que está na hora de você começar a pensar diferente, senão nunca vai chegar ao cargo de Gerente.

Que paulada! Mas Carlos encarou Miguel com serenidade e falou:

- Bom, se virar gerente significa trair os meus ideais e esquecer o que é certo, eu certamente não estou preparado. Aqui está o meu relatório com uma análise técnica detalhada, explicando porque não podemos entregar na data acordada. Se você não se sentir “confortável” de enviar para o Diretor, eu mesmo posso enviar. O Miguel que eu conhecia teria feito as coisas de maneira diferente.

E deixou a sala.

Miguel ficou parado por alguns minutos apenas olhando para o relatório em cima da mesa. O que iria dizer para o Diretor? Talvez o que o tenha levado até ali não fosse suficiente para levá-lo adiante. Com certeza para ser gerente era preciso mais do que simplesmente colocar o crachá na cintura.

[]s

Jack DelaVega