sexta-feira, 20 de junho de 2008

O Cara que Ganhava Mais que o Gerente

Joe estava na empresa fazia pouco mais de 1 ano. Havia sido contratado em um período de plena expansão da área de TI na sua cidade. Haviam mais ofertas do que candidatos e obviamente trabalho não faltava. Joe trabalhava nessa pequena empresa de desenvolvimento de software que estava dando todo o gás para comer o almoço de algumas empresas grandes.

Mas esse "gás" todo havia cobrado o seu preço. Apesar de trabalhar apenas há 1 ano na empresa, Joe sentia como se fossem 5. Lembrava que com apenas um mês de empresa já virado o seu primeiro final-de-semana trabalhando. Depois de 3 meses, havia perdido a conta de quantas noites havia virado por causa do projeto. O ambiente nesses casos expele os mais fracos rapidamente. Joe já era um dos funcionários mais antigos no projeto, e por causa disso estava valorizado. Mas ele estava no seu limite e férias não existiam nessa empresa. Não durante um projeto. Não aguentava mais. Olhava para o futuro próximo, sedento por descanso, por calmaria. E não via possibilidade das coisas mudarem.

Decidiu então que iria colocar o plano "terrorismo" em prática.

O plano "terrorismo" é muito famoso, principalmente na área de TI. Ele funciona da seguinte maneira: o funcionário exausto, porém consciente do seu valor, diz ao empregador que recebeu uma "oferta". As duas saídas possíveis para essa situação são: ou o funcionário deixa a empresa e goza de merecido descanso ou recebe um aumento de salário para compensar a "oferta", e aguenta a carga de stress por mais algum tempo.

Joe procurou então Carlos, seu gerente, e aplicou o plano seguindo todas as regras.

- "Carlos, recebi uma oferta, de fora do estado, não tem como deixar de aceitar."
- "Peraí Joe, vamos conversar. Me deixa tentar negociar ao menos."
- "Não tem como Carlos. Me ofereceram 8 mil reais por mês. É quase o dobro do que ganho aqui. Você entende que fica difícil né."
- "Puxa vida. Assim você me quebra as pernas. Mas preciso muito de você aqui. Me dê uns dias, vou ver o que consigo com a diretoria".

Joe saiu da reunião com Carlos aliviado. Tinha certeza que não teriam como cobrir a proposta e em poucos dias estaria na praia, curtindo umas merecidas férias.

Dali dois dias Carlos o chamou de volta.

- "Grande Joe, acho que consegui algo para você."
- "Olha Carlos, a oferta lá é muito boa..."
- "Sei, sei, tá aqui o que a diretoria me autorizou a negociar. Aumentamos o teu salário para 7 mil nos dois próximos meses, e depois passamos a 8 mil em definitivo. O que tu acha?"

Joe suou frio. Aquilo era um salário irreal para o mercado. Ele havia chutado aquele valor estratosférico, quase o dobro do seu já bom salário exatamente para extinguir qualquer possibilidade de negociação. E não é que os caras cobriram? Obviamente que o um lado de Joe ficou extremamente tentado a aceitar. E Joe fraquejou. Um dia depois, aceitou a oferta.

E vibrou quando no mês seguinte viu toda aquela bolada em sua conta.

Mas as coisas na empresa mudavam rapidamente. E Joe ficou sabendo que Carlos estava saindo. No seu lugar, como gerente de Joe, entrou Paulo.

Ao final do terceiro mês após a negociação, quando Joe teria o seu salário aumentado para os 8 mil reais, surpresa. Não havia recebido o aumento como combinado com Carlos. Joe procurou Paulo e explicou a situação. Mas Paulo estava claramente desconfortável com aquilo tudo.

- "Paulo, provavelmente com a saída de Carlos alguém esqueceu de colocar a segunda parte do acordo em prática. Só temos que acertar isso e tudo bem", disse Joe.
- "Mas Joe, 8 mil reais?"
- "Bom, foi o acordo que fizemos na época. Voce pode confirmar com a diretoria, o Carlos disse que havia falado com eles."
- "Não se preocupe, vou confirmar sim. Não sabia nem que você ganhava 7 mil reais, menos ainda que iam aumentar para 8. Isso é bem mais do que eu ganho!"

Aquilo tomou Joe de surpresa. Paulo tinha um problema em lhe confirmar aquele aumento. E o problema era que Joe ganhava mais do que ele.

O tempo passou, Joe recebeu o tal aumento e tudo seguiu o seu rumo. Mas as notícias se espalharam. E Joe passou a ser encarado de forma diferente por seus colegas na empresa. Os mais novatos o olhavam com respeito. Os mais experientes com um pouco de inveja. Tudo porque ele era "o cara".

O cara que ganhava mais do que o gerente.

Reggie, the Engineer.
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