segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Lenda do Pampeador de Projetos

O técnico veio do centro do país para fazer o upgrade do link de fibra óptica. Mas, em função do mau tempo do inverno gaúcho, o vôo atrasou. Ele chegou no escritório somente no final da tarde. Como o trabalho tinha que ficar pronto na manhã seguinte a solução foi varar a noite para completar o serviço. Junto com ele ficou também um engenheiro local, que entendia do sistema da empresa. Foi por volta das onze e meia da noite, quando o uivo do vendo soprava alto lá fora, que entraram no assunto:
- Caramba o vento é forte por aqui né?
- Pois é, no inverno é assim, o vento Minuano sopra forte por essas bandas. - E emendou. - É em noites como essa que o pessoal costuma ouvir o PP.
O técnico estranhou a sigla.
- PP, Que diabo é isso? Eu conheço GP, que é Gerente de Projetos, mas PP eu nunca ouvi.
- É parecido, PP é como a gente chama o Pampeador de Projetos. Vai dizer que tu não conhece a história?
Ele balançou a cabeça já curioso.
- O Pampeador era um índio meio bugre, daqueles de pêlo duro mesmo. Parece que veio lá dos prados de Quaraí. Diziam que a mãe era argentina, e, por conta disso, ele chegou a lutar na guerra das Malvinas. Mas a verdade é que não se sabe muito do passado dele, alguns dizem que até no DOPS ele trabalhou. O nome era Erci Gomez se eu não me engano. Mas todos o conheciam como o Pampeador.
- Pampeador?
- Ninguém sabe também como ele começou nessa história de gerenciar projetos, mas logo logo ganhou o apelido de Pampeador. O Pampeador de Projetos. Porque ele tocava os projetos com a facilidade de quem pampeia, de quem toca o gado nos pampas.
O sujeito agora não tirava os olhos do Engenheiro, que prosseguiu com a história.
- Pois então, ele era um baita gerente de projetos, mas era mais grosso que dedo destroncado. Por isso tinha gente que não gostava dele. Ele cobrava as tarefas do projeto de todo mundo, e cobrava mesmo. Claro que os projetos andavam que é uma beleza, também, ninguém tinha coragem de atrasar tarefa no projeto do Pampeador. E quando um bugre do tamanho dele, feio e barbudo te cobra alguma coisa, ai de ti se não entregar.
- Não enrola rapaz, conta logo o que houve com ele.
- O problema foi com o Tobias, que normalmente atrasava as tarefas. O Tobias era meio louco, um daqueles louco silencioso que quando menos se vê sai matando todo mundo. E foi isso que ele fez, pelo menos com o Pampeador.
- Matou o Pampeador?
- Envenenado. Um dia, sem mais nem menos, cansado de ouvir o Pampeador cobrar as tarefas atrasadas, ele colocou veneno de rato no mate do vivente. Mas o Pampeador era forte que nem um touro, ainda conseguiu enforcar o Tobias com a cordita do mouse antes de se estrebuchar e bater as botas de vez.
- Caramba, que história sinistra.
- Mas te acalma que a história não acabou aí. Dizem que nas noites de inverno como essa, o pessoal que vem fazer serão para tocar o trabalho atrasado, escuta a voz do Pampeador cobrando as tarefas. O que se conta é que a alma dele ficou empenada por aqui.
Foi só ele terminar a frase e a luz se apagou no escritório inteiro.
- A meu deus!! - Exclamou o técnico, apavorado.
- Te acalma rapaz, o gerador desliga sempre a meia-noite, eu vou até lá ligar ele de novo.
E se foi, deixando o técnico sozinho no breu da sala.
Poucos minutos depois o técnico ouviu passos, mas assumiu que não era o engenheiro uma vez que a luz ainda não havia voltado.
- Quem tá aí? Quem tá aí?
Nenhuma resposta. Mas os passos continuaram e foram ficando mais próximos, até que finalmente ele ouviu a voz grossa com sotaque carregado:
- E tu vivente? Já entregou a tua tarefa de hoje?

[]s
Jack DelaVega