segunda-feira, 7 de abril de 2008

Indústria da Vergonha

Lembro como se fosse hoje. Encontrei o sujeito na frente da Biblioteca da PUC. Chegamos a fazer algumas disciplinas juntos no Instituto de Matemática, mas não nos encontramos mais durante o curso porque ele fazia Engenharia e eu Computação. Se bem me recordo, eu estava na PUC em busca do meu histórico acadêmico para entrar no Mestrado.
O papo foi totalmente informal, algo do tipo:
- E aí, como está? O que anda fazendo da vida?
Ele me disse que ainda não havia se formado.
- Pois é rapaz, ainda estou por aqui. Lutando para me formar. Ainda faltam quatro disciplinas, mas estou fazendo aos poucos. Quem sabe no fim do ano que vem. Mas também, nem estou tão preocupado assim em me formar. É melhor para os negócios que eu fique mais um tempo aqui na PUC.
Não entendi o comentário e perguntei:
- Como assim?
- É que estou vendendo trabalhos de conclusão de curso. Faço em média quatro trabalhos por semestre. Cara isso dá uma grana muito boa.

- Caramba! - Exclamei perplexo. - E tem gente que compra isso é?
- Tu nem imagina, é um mercado em expansão. Eu só pergunto quem é que vai estar na banca, porque tem um professor que não pode ver o meu traço que descobre na hora que o trabalho é meu.

Eu vivi essa conversa a aproximadamente dez anos atrás. E se você está se perguntando a área, ele vendia trabalhos de Engenharia Civil. Provavelmente para alguns dos Engenheiros que hoje assinam os prédios que vivemos. De lá pra cá o quadro piorou exponencialmente, e, é claro que a venda de trabalhos não se restringe apenas a Engenharia. A internet foi um verdadeiro catalizador para esse tipo de negócio, juntando compradores e prestadores de serviço. O jornal Zero Hora publicou uma notícia na semana passada cobrindo o tópico. De acordo com os dados da reportagem, é possível comprar um trabalho de conclusão de 40 laudas por meros R$480,00. As empresas, que se auto-intitulam "Consultorias Acadêmicas", alegam não estar fazendo nada de errado, uma vez que o aluno fica responsável pela revisão do material. Ah, vale ressaltar que elas garantem a qualidade do trabalho, enfatizando que não se trata de plágio. Uma delas, com mais de 18 anos nesse mercado, se orgulha de vender monografias, dissertações e teses, para o mercado nacional e internacional. Mas minha indignação e perplexidade é voltada principalmente para os consumidores desse tipo de serviço. Eu simplesmente não consigo compreender.

Que tipo de pessoa compra um trabalho de conclusão?

Sempre fui um aluno média 7. Para ser preciso 7.7 é a média estampada no meu histórico acadêmico. Prometo desenvolver o meu racional para ser média 7 em um outro post, mas por hora tenho o orgulho de dizer que esse 7.7 é a nota que conquistei com o esforço do meu trabalho. Lembro ainda na graduação de pessoas muito mais preocupadas com as notas do que eu, que lançavam mão de qualquer recurso para atingir esse objetivo. O economista Eduardo Giannetti costuma dizer que "O Brasileiro sempre acha que o Brasileiro é o outro". Condenamos nossos políticos por roubar, mas aceitamos nossos pequenos pecados como subornar um policial para não receber uma multa. O problema é que mais e mais a consequência desses comportamentos nos afeta diretamente. O sujeito que compra trabalhos de conclusão é o mesmo que vai te passar a perna no emprego. É aquele que colhe os louros por trabalhos que não fez. É o chefe, infelizmente esses caras chegam a chefe pois a vida nem sempre é justa, que inferniza o time porque não entende o que eles fazem.

Em nossos exercícios de futurologia no blog adoramos ressaltar o que está mudando no mundo dos negócios e nas relações de trabalho. Porém é importante lembrar também que algumas coisas não saem de moda, como por exemplo a Ética.

[]s
Jack DelaVega