terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mitos em Empreendedorismo: O Plano de Negócios

Continuando a minha série de posts sobre Empreendedorismo que começou com Verdades sobre Empreendedorismo no Brasil, hoje vou falar sobre um dos mitos da área: os planos de negócio.

Vocês devem saber, eu moro na Irlanda. E na Irlanda, não sei se vocês sabem, existem duendes. Bom, na verdade trata-se de um tipo específico de duendes, são conhecidos como Leprechauns. Eu tenho um pouco de medo dessas coisas, mas se encontrasse um deles pela frente tomaria coragem e perguntaria qual é o modelo de negócio dos Leprechauns, afinal eles possuem vários tesouros. Eu tenho interesse em saber se o negócio deles é tão inovador quanto o dos duendes que vi no South Park esses tempos.

Explico.

Há um tempo atrás eu estava assistindo um episódio do South Park (episódio 217) em que os meninos percebem que duendes estão roubando cuecas de seus armários (soa familiar?). Eles seguem os duendes até uma caverna e então começam a conversar sobre o modelo de negócio deles. Querem saber o que os duendes fazem com todas aquelas cuecas. Os duendes explicam que roubar cuecas é apenas a fase 1.

- E qual a fase 2 - pergunta Kyle.
- Humm, fase 1 é roubar cuecas. Qual a fase 2 - o duende pergunta para o colega ao lado.
- Fase 1 é roubar cuecas. Fase 2 é... Ah, e fase 3 é colher os lucros.
- Isso, fase 3 são os lucros - responde o primeiro duende.

Me lembro que essa passagem do episódio me marcou. Acho que um dos tópicos mais ensinados quando se fala em empreendedorismo é como elaborar um plano de negócios. Me lembro da minha época de faculdade quando assisti às aulas do grande Prof. Newton Braga Rosa, e o assunto vinha à tona frequentemente. Quando fiz alguns cursos para formação de empreendedores no Sebrae o foco também era grande em planos de negócio. Mas e a execução? Sobre isso muito pouco se falava, e aquilo sempre me angustiou. Eu entendia a parte de roubar cuecas e colher os lucros, mas e a fase 2?

A verdade é que fala-se demais em plano de negócios, e a sua importância é totalmente super-estimada. Para mim trata-se de um dos mitos do empreendedorismo. Há alguns anos atrás o Prof. José Dornelas estudou um grupo de 399 empreendedores de sucesso no Brasil, e descobriu que cerca de 43% dos entrevistados afirmava não ter planejado o seu negócio, e sim ter seguido sua intuição. Outros 20% afirmavam ter trabalhado com um nível de planejamento bastante informal. De maneira semelhante, um estudo do Babson College comparou 116 empreedimentos e não encontrou diferenças significativas em termos de sucesso (faturamento, número de empregados, lucro) entre aqueles que haviam usado um plano de negócios formal e aqueles que não haviam usado.

Muitos estudiosos da área afirmam que o importante não é necessariamente o documento em si, mas sim o exercício de planejamento por trás. Obviamente que tal exercício é proveitoso, mas nem mesmo isso às vezes têm importância fundamental. O professor William Bygrave do Babson College, por exemplo, acredita que um plano de negócios é importante, mas que não aconselha ninguém investir 6 meses planejando um negócio sem nem mesmo saber se os clientes existem. Eu na verdade vou mais longe. Especialmente quando se trata de inovação - o tipo de empreendimento que realmente me interessa - não faz nem sentido pensar se os clientes existem. Na maioria dos casos eles não vão existir.

Imagine como seria o plano de negócios do Twitter em 2006 se eles seguissem a linha convencional de raciocínio. Com certeza não existiam pessoas (potenciais clientes) com o seguinte problema: "eu quero escrever um post, mas não quero usar mais do que 140 caracteres". Não, óbvio. Os fundadores do Twitter inovaram, e os "clientes" vieram depois. OK, mas os céticos dirão que o Twitter não é um exemplo válido já que não fatura nada. Tudo bem, que tal a Ford? Nas palavras de Henry Ford: "se eu perguntasse aos meus clientes o que eles desejavam na época, provavelmente eles teriam dito um cavalo mais rápido". O meu ponto é que nesse tipo de cenário não é possível prever o futuro. E não ajuda nada tentar escrever em papel, ele vai continuar imprevisível igual.

O que vem à tona quando se olha com mais cuidado os números na área de empreendedorismo é que oportunidade, idéias simples e execução perfeita são reis. Planejamento é importante, principalmente a atividade de planejar, não o documento ou documentos resultantes do processo. Mas a importância do planejamento é altamente super-estimada. Entre planejar e fazer, escolha fazer.

Do contrário você ficará roubando cuecas, sempre se perguntando como chegar na fase 3.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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